—– Original Message —–
From: APÓLOGO DO CAIO: segundo turno…
Sent: Friday, September 29, 2006 12:44 PM
Subject: Apólogo do Caio
Caio amigo!
Nem Diogo Mainardi, o mais ostensivo acusador desse vácuo presidencial que tivemos nos quatro últimos anos, escreveria algo assim. Aliás, quem é Diogo Mainardi!?
Os leitores de VEJA não têm um “Caio qualquer” com a argúcia e a agudeza do
Caio. Afinal, eles não têm dinheiro para te comprar.
Mas nós do CAMINHO recebemos de graça sem nem precisarmos ir às bancas comprar a VEJA (que eu leio toda a semana, diga-se de passagem), pois há entre nós um que apenas nos aponta e simplesmente nos diz: VEJAM!
Gosto de ler o Diogo Mainardi e o Roberto Pompeu, não nego isso. Mas sempre o faço cético, pois, como você mesmo disse um dia, a mídia vive pela e para a mídia.
Entretanto, mesmo que a VEJA tivesse dinheiro para te comprar, ela não aceitaria o contrato que você exigiria de falar somente o que você QUISESSE.
A VEJA não tem tutano para isso.
Destarte, nós todos do CAMINHO temos, de graça, o “Caio qualquer” que para nós todos não é nenhum QUALQUER, e nos deliciamos e embriagamos com uma literatura de altíssimo nível, com apólogos que, sinceramente (a meu ver) nem mesmo ESOPO consegue exceder em primazia; e, acima de tudo, nos ajuda sempre a discernir entre a ESTRADA e o CAMINHO; e nos aponta sempre: VEJAM!
Eis aí o Cordeiro de Deus!
Seu amigo.
Fonseca
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Resposta:
Amigo Fonseca: Graça e Paz; e muito obrigado pelo carinho!
Sei que você aludia a tudo, mas especialmente ao “Apólogo do Caio Qualquer”. E aqui há uma pequena história que desejo contar.
Não tenho ressentimentos pessoais em relação ao Lula. Prova disso é que mesmo “sateneado” por ele e outros, que eu julgava amigos, e que acabaram me empurrando para um grande abismo, do qual o Senhor me salvou — ainda assim votei nele na eleição anterior a esta. E mais: quando o Roberto Jefferson fez aquelas acusações acerca do Dirceu, poupando inicialmente o Lula, ainda assim eu escrevi aqui no site o que julgava que ele deveria fazer; e concluí que, caso ele ouvisse tais coisas, eu voltaria nele. Está escrito aqui.
Isto porque, ainda que tivesse visto antes o que não gostei, e provado o sabor de algo que era amargo e covarde da parte dele em 1998, meu desejo de ver o bem era grande; e, portanto, julguei o melhor; ou seja: que ele procedera comigo daquele modo por fraqueza e por ter ainda a esperança de candidatar-se e eleger-se; pois pensava: “Não é possível que ele seja sempre assim!” — como havia sido comigo no caso do tal dossiê Cayman.
Quando, entretanto, as comportas do abismo foram se abrindo, e vi que aquilo era o comum, e que uma cultura de sindicalismo perverso e camuflado estava presente nele e nos demais, cansei-me de vez. Foi daí em diante que escrevi que de mim ele teria sempre orações, porém, voto, jamais. Está também escrito.
Então passei a torcer para que Lula perdesse. Entretanto, nada fiz nesse sentido. Você, que convive comigo, jamais sentiu em mim qualquer coisa; é ou não é? Falava apenas com a Adriana e com os filhos.
Aquela matéria do Estadão da semana retrasada, nada teve a ver com o que eu disse acima, tendo os meus motivos sido explicitados na introdução que fiz a ela (ampliada) aqui no site (a entrevista era um requentado de 22 de março deste ano). Prova de que a minha intenção não era participar de nada (contra ele) é que o pessoal do Alckmin ficou atrás de mim querendo que eu falasse; ou que ao menos autorizasse o uso de minha imagem; e eu disse “não”. Não estou aqui para isto. A Malu testemunhou tal fato (ele falaram com ela); e minha mulher e filhos também.
Entretanto, na quinta-feira passada, dia 28, quando o Lula não apareceu para o debate, e deixou a cadeira do jeito que deixou o país: no ‘vazio’ e no ‘não sei’ — me irritei demais; ao mesmo tempo em que me alegrei com a educação, a gentileza, a fineza, e com o bom espírito do Cristovam.
Hoje o Brasil precisa apenas de coisas muito simples, como verdade, sinceridade, honestidade, diligencia e gentileza! — o resto, vai. Entretanto, deixar tudo como está, tudo “lulaláláládo”, é como permitir que uma metástase siga seu curso, corroendo todo o tecido social, e estimulando o povo ao cinismo e às mesmas práticas. Afinal, parafraseando Oséias, “assim como é o presidente, assim é o povo” (Oséias da fala do “sacerdote”).
Não dá para crer que um governo ambíguo e corrupto estimule o país à honestidade e à cidadania!
Sobre o Cristovam…
Conheci o Cristovam quando ele era Governador do Distrito Federal. Ele me chamou duas vezes para conversar sobre o Brasil e sobre a pobreza aí pelos anos de 96 e 97, na casa dele, em almoços. Depois disso ele apareceu mais de uma vez em lugares onde eu estava pregando, sempre espontânea e discretamente. Gostei dele. Havia gente ali. Os méritos do governo dele nunca estiveram sob meu juízo. Apenas celebrei a não perda de humanidade naquele pequeno homem.
Durante o debate Adriana foi dizendo: “Esse senhorzinho é que deveria ser o presidente!” — entre outras coisas. Enquanto aquilo… — eu lembrava dos papos de apenas duas tardes com o Cristovam e do convívio de 9 anos com o Lula. Convívio que ambos tivéramos com o Lula. Ele, Cristovam, de um modo; e eu de outro… Então vi e ouvi a Heloísa Helena dizer que fora expulsa do PT; e lembrei-me que o Cristovam saíra por conta própria. Quem exerceu ato maior e mais consciente de vontade? Ele ou ela? A expulsa ou o que saiu por conta própria?
Mas a cadeira vazia gritava mais que tudo!
Lula temera o confronto. Ele não teria o que dizer; pois, dizer o que tinha lhe era impossível e suicida. E, a essa altura, eu já sabia que o que ele fizera comigo era um “padrão de comportamento”; e que se havia repetido inúmeras vezes.
Quando acabou o debate escrevi aquele “Apólogo do Caio” — como disse, inspirado no de Jotão, no livro de Juízes. Mas foi a doçura do Cristovam para com todos, enquanto pedia votos para o Brasil e não para si mesmo, o que me emocionou deveras.
A meu ver o Lula foi para o 2º turno, podendo perder a presidência, por várias razões; entre elas os consecutivos “não sei”; “não sabia”; “nunca me disseram”; “de que isto me adiantaria (o dossiê contra Serra) se estou na frente?”— e, por último, o “são uns aloprados” — referendo-se aos seus “colegas e prestadores de serviço”.
Então, lá estava a cadeira vazia, gritando as mesmas coisas em sua própria ausência. Era como o sangue de Abel ao contrário: mesmo o Lula ausente ainda fala contra si mesmo!
Sim, foi o que o Lula disse que não sabia, seguido de um desfile de corrupções de boteco (mensalões), porém do tamanho a-ético de um Everest político; mais o dossiê das Sanguessugas; a gritante ausência no debate; e mais a fala mansa de estadista do Cristovam — os elementos que determinaram o resultado de ontem.
Mais do que tudo Lula perdeu de si mesmo!
Veja que ele só ganhou onde abundou o programa “Bolsa Família”. Nas outras regiões, ele perdeu feio. Agora é ver se a população que votou na Heloísa Helena votará com as categorias da ideologia da burrice ou se votará em novas possibilidades humanas. Afinal, quem votou no Cristovam tende a votar em-não-Lula.
Já que o Lula diz sempre que não viu e não sabe, e deixou o banco do debate vazio como deixou o da Presidência (sem falar em outros Bancos) — prefiro a alternativa; ainda que não fosse a minha preferência cidadã. Mas neste mundo caído frequentemente a escolha é um mal menor; e, hoje, entre as alternativas, infelizmente, mais quatro anos de Lula trarão uma imensa corrosão à alma nacional, com aumento de todas as roubalheiras e com a instalação de um espírito de cinismo e irresponsabilidade na nação.
Lula deveria adotar como mascote de campanha o Avestruz, o qual, enfia a cabeça no buraco em meio ao tiroteio, e diz avestruzescamente para si mesmo: “Como não estou vendo nada, nada está acontecendo…”
O Brasil não pode perder mais tempo. O Lula teve a sua própria chance — mas resolveu governar da África; dos salões de discurso politicamente correto da Europa; e motivado por um surto de estadista mundial; enquanto escolheu dizer que não sabia o que acontecia no seu próprio quintal.
O mais, querido Fonseca, digo que aqui não faço política partidária de nenhuma natureza (de fato tenho quase asco disso) — mas apenas exerço o direito e a responsabilidade cidadã que tenho e devo praticar com isenção e bom senso; especialmente num tempo tão caótico quanto este.
Enquanto isto, oro a Deus. E peço ao Senhor da História que ponha Sua mão soberana sobre este país.
Soube que a reunião de ontem foi muito boa, e que sua palavra foi ótima e cheia de graça.
Com saudade, e voltando na quinta-feira, beijo-lhe a face!
Nele, que é Senhor de todos os homens e da História,
Caio
Ps: quem desejar pode enviar pra quem quiser, até para o Lula.