TRAUMA SEXUAL: tentaram me abusar na “igreja”…

 

 


—– Original Message —–
From: TRUMA SEXUAL: tentaram me abusar na “igreja”… 
To: [email protected]
Sent: Wednesday, October 04, 2006 10:52 AM
Subject: Jovem com problemas no desenvolvimento sexual


Olá Pastor,


Quero cumprimentá-lo pelo excelente trabalho que acompanho desde muito pequena. Hoje estou com 19 anos, mas assisto às suas pregações desde os 4/5 anos, pois meus pais sempre gostaram muito de ouvir seus sermões.

Além disso, gostaria de pedir ajuda.
 
Pelo que podes perceber sempre fui criada no evangelho tendo por regra familiar seguir todos aqueles padrões de conduta de uma moça cristã. Mas a verdade é que até hoje minha vida foi às avessas. Fiz tudo o que não devia. Fui uma filha má. Não por maltratar meus pais, mas por manter sempre comportamento contrário.

Comecei a beber desde pequena (11/12 anos). Usei “bolinhas” durante nove anos e também usei outras drogas (se é que posso chamar assim) mais pesadas. Não me considerava rebelde, mas simplesmente alguém que criava e vivia numa realidade feita para si.

Saía muito. Deixava minha mãe louca. No entanto, meu maior espelho era ela. Principalmente no que dizia e diz respeito a sexo. Eu a olhava e sentia muita vergonha de mim.

Namorei um rapaz por mais de cinco anos e nossa vida foi muito atribulada. Eu estava desviada e ele não dava a mínima para igreja.

Nós nunca dormimos juntos, mas a verdade é que “rolavam” muitas intimidades. E depois de cada situação que passávamos, eu me sentia muito mal, envergonhada apesar de conhecê-lo há tanto tempo. Passava dias me sentindo mal e não conseguia olhar meus pais de frente. É contraditório e pode parecer até ridículo, mas no meu entender usar drogas, sumir por uns dias, nada disso era pecado, com exceção de sexo.

Sexo para mim tinha um peso avassalador. Como conseqüência de tanto ódio e arrependimento que eu sentia, eu me punia. Mutilava meu corpo. Cortava meus braços, escrevendo que eu me sentia como um lixo de tristeza. De forma que sentindo a dor e olhando as cicatrizes eu me lembrasse do meu erro.
 
Hoje, depois de ter terminado com esse rapaz, vejo que nunca o “quis” de verdade. Acho que tu me entendes, certo?
 
Essa questão do sexo é um problema para mim. Lembro de um ocorrido quando eu tinha cinco anos. Foi na igreja. Um homem quase abusou de mim. Ele não chegou a me tocar, mas começou a se achegar e a falar coisas que na época eu entendia como “feias”. Corri e falei com meus pais. Quando cheguei em casa levei uma surra por ter falado com estranhos. Tudo como se a culpa fosse minha!

Atualmente namoro um rapaz há quase um ano; e tenho me sentido à vontade com ele. Mas não sei o que faço. Acho que tenho que mudar primeiro. Só não sei por onde começar. Já me disseram que esse é um problema que provavelmente eu levarei para o meu casamento. Não quero que isso ocorra. Por esse motivo peço ajuda.

 

Grata pela atenção,

Jovem angustiada 

___________________________________________________________________________________

Resposta:

 

Minha querida filha: Graça e Paz!


O passado tem poder maior do que qualquer outra coisa na experiência humana. Sim, é pior do que o diabo!

Mas de onde vem o poder do passado?

Ora, vem de muitas fontes. A mais comum delas, entretanto, é a culpa, especialmente quando se mistura ao sentimento de injustiça perpetrado contra nós.

Assim nascem os monstros, os fantasmas, os assombradores da alma.

Ser objeto de um quase-abuso físico-sexual dentro da “igreja” (que deveria ser lugar de “proteção” no imaginário de uma criança); e ainda ser punida por isto — pode deixar marcas profundas; e, em tal caso, quase sempre os sintomas dessa dor se manifestam do modo como em você têm se manifestado. Ou seja: com repúdio ao sexo, na mesma medida em que é um repudio apaixonado, cheio de desejo, de fixação temática e de atos auto-destrutivos.

Enquanto lia sua carta, bem no começo dela, quando você falava em “drogas”, e antes havia falado que nunca havia transado — me perguntei: “Qual será o problema sexual dela?” Pois quem se entrega ao uso de drogas, quem sai de casa, etc. — não tem, supostamente, problemas com sexo, posto que sexo passa a ser um mosquito perto das outras coisas. 

Você também mencionou o fato de que sua mãe e sexo são, psicologicamente, para você a mesma coisa. Por quê? Foi ela quem deu a tal surra em você? Ela é sexualmente reprimida e isto é perceptível? Ou ela é enojada de sexo, e expressa isto de modo bem explicito?

Suas tentativas de “autopunição” são graves. De fato, o sensato a fazer é pedir que você busque ajuda psicológica já. Sem tempo a perder.

O que posso lhe dizer agora é simples, porém, se der crédito, poderá fazer toda a diferença.

1º Busque ajuda psicológica de um terapeuta sério.

2º Saiba que sexo é bom e normal, especialmente na idade certa, com a pessoa que a gente ama, e visando um vínculo permanente e estável.

3º Sua emoção sexual nada tem a ver com Deus. Jesus veio para que tivéssemos vida, não para que cortássemos o pulso em razão de culpas sexuais; ou de qualquer natureza.

4º Seus arrependimentos após intimidades sexuais resultam de duas, ou, no máximo, de três coisas — a) seu trauma infantil na igreja (o quase-abuso físico-sexual); b) sua relação com sua mãe, e da associação que você faz entre sexo e ela; c) estar se relacionando com gente que você não gosta.

Ninguém permanece cinco anos tendo intimidade com um namorado e não transa; especialmente quando sai de casa por aí…

E o namorado de hoje foi apenas descrito como alguém ante quem você fica “à vontade”. Portanto, até agora, você não encontrou ninguém que amasse. E como existe o trauma, ele passa a ser álibi para outra coisa — ou seja: por ele (pelo trauma) você se desculpa de não querer transar; quando, de fato, você não quer transar mesmo. Não com esses namorados que você tem tido.

Veja minha filha: Você não tem que transar por transar. Isto é um mito pós-moderno e muito do babaca.

Você é jovem. Tem apenas 19 anos. E não tem que se mutilar sexualmente, transando com alguém apenas pra mostrar sinais de uma “normalidade” que de fato, quando praticada em razão do “fluxo dos tempos” ( suas modas), vira doença e desmembramento da própria alma.

O que você tem que fazer é, entre outras coisas, entrar de cabeça aqui na leitura do site; pois, é perceptível que você não conhece o significado da Graça de Deus como benefício para a sua alma — e especialmente para o seu passado traumático. Aqui no site você lerá, entenderá, e ficará liberta dos aspectos traumáticos e neuróticos de sua relação com o sexo.

Além disso, me escreva dizendo por que a sua mãe tem esse papel de simbolização da sua própria sexualidade. É importante saber.

Entretanto, não esqueça: procurar ajuda presencial de um (a) terapeuta é fundamental. Mas se for difícil, aqui no site, no “Divã do Site”, você encontrará ajuda.

Fico aguardando sua resposta. Seja clara.

Um beijo carinhoso e paterno!

 

Nele, que levou sobre Si nossas dores; todas elas,

 

Caio