O “MEU” FILHO NÃO É MEU… O que faço?

 

 

 

—-Mensagem original—–
De: O “MEU” FILHO NÃO É MEU… O que faço?
Enviada em: Wednesday, January 24, 2007 5:58 PM
Para: [email protected] 
Assunto: É POSSÍVEL PERDOAR UMA TRAIÇÃO?

 

 

Descobri que meu filho de 10 anos não é meu filho biológico….

 

E agora, o que fazer????

 


Acho que na verdade ela (minha esposa) nunca me amou. Casou-se comigo só pra sair de casa (o pai dela era horrível, autocrata, déspota). Eu estava apaixonado e, movido  de grande compaixão, resolvi que me casando com ela a ajudaria.

 

Eu nem precisava me casar, minha família é ótima. O nosso relacionamento foi uma droga. Cheio de momentos ruins e pouquíssimos momentos bons, mas eu achava que dava pra levar, afinal um casamento não se desfaz assim, à toa…

 

Sempre brigávamos. O sexo era uma droga. Eu traí duas vezes em 18 anos de casamento.

 

Não percebi mudança no seu comportamento em relação a ela porque, na verdade, ela nunca me amou mesmo….

 


Tenho que informar que mantive a “situação de casamento” porque também era confortável pra mim. Afinal ela sempre me deu boa vida. Tipo: roupa lavada, toalha no banheiro, cuecas na mão, comidinha quentinha, boa mãe, boa amiga, boa dona de casa… Péssima mulher… Terrível amante…

 

Por fim, eu também já não era grande coisa como amante…

 

Veja bem, você procura, procura e não acha carinho e afeto; e aí começa a fazer tudo meio que robotizado só pra satisfazer uma necessidade carnal.

 


Tudo isso dá pra suportar, mas a traição…; e ainda por cima ter que criar “o filho do amante” (eu amo a criança como meu filho) que ela mentiu o tempo todo; e que eu só descobri por que resolvi fazer o DNA….

 

Aí tá complicado!!!


Ela se diz extremamente arrependida e que quer provar pra mim que vai me fazer o homem mais feliz do mundo, que não quer se separar e que quer viver uma nova vida comigo. Tem se humilhado e, devo confessar, neste último mês, tivemos tórridas relações sexuais; e ela tem se demonstrado a amante que nunca foi, tem procurado ser submissa; e, nos outros quesitos positivos que eu mencionei antes, nada se perdeu.

 

Só que eu não estou conseguindo me livrar dessa mágoa.

 

Há um lado que diz que eu devo dar nova oportunidade, mas existe um outro implacável, machista que me permite perdoar, pois sou Cristão; porém, não me permite conviver sob o mesmo teto.


Existem muitas interrogações na minha cabeça…

 

Ajude-me por favor!!!!

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Resposta:

 

 

Meu querido amigo: Graça e Paz!

 

 

 

Entendo o tamanho do susto, da dor, da aflição, da maligna surpresa, e do choque, beirando à total perda de chão que você teve.

 

Uma coisa é adotar um filho, como escolha do casal, ainda que um deles, às vezes, deseje mais isto que o outro.

 

Outra é ver a mulher ficar grávida, e, em razão disso, você acalentar a alegria da paternidade; estar com ela durante toda a gravidez; esperar o filho com toda alegria; leva-lo aos pais como sendo o neto; apresentar a todos como rebento; acordar à noite para ajudar; embalar, trocar fraudas, falar besteira com o bebê no bercinho, chupar os dedinhos, lamber as cochas, cheirar o xixi, limpar o bumbum, dar banho, dar de comer, alegrar-se com os primeiros gesto, com o engatinhar, com as primeiras palavras, com todos os progressos, com cada fase, com todos as realizações da criança, sentindo o amor paternal crescer como entrega e gratidão, como esforço, como dádiva ao filho, e, de repente, ficar sabendo que o filho não é seu… — é uma barra que em profundidade só Deus conhece. Sim! Porque nem mesmo Oséias, o pai das crianças de Gomer, jamais pôde discernir em totalidade, mesmo em meio à sua própria dor, qual fosse o significado de ver e sentir tal coisa.

 

De fato, ela jamais deveria ter deixado você viver nesse engano todo esse tempo e acerca de algo tão visceral — num certo sentido, bem mais visceral do que o próprio casamento.

 

Todavia, perdoe-a!

 

Todavia, ame o seu filho!

 

“Meu filho?” — você indaga.

 

Sim! Mano! Seu filho!

 

Do contrário, me responda:

 

Você tem a capacidade de ‘dês – amar’ assim? Você consegue dês – lembrar o amor que uniu você a ele até hoje? Você tem o poder de dês – paternizar sua alma? Você conhece em você a força para ir adiante e deixar o filho que você amou para trás, por que ele seja filho de uma relação sexual entre a sua mulher e outro homem?

 

Eu não tenho a menor idéia de como reagiria ante tal situação no que viesse a ser concernente à minha mulher.

 

Realmente não sei…

 

Mas com certeza a perdoaria conforme o Evangelho.

 

Não sei, entretanto, se desejaria tê-la como esposa, todavia. Não sei…

 

Nessa hora, quando se anda na Graça, tudo é possível, inclusive o perdão que vai além de si mesmo, e se torna acolhimento da pessoa na mesma qualidade de vínculo que se julgava ter antes da informação trágica.

 

Ora, em meio a tudo isto, muitas coisas não ficaram claras em sua carta. Exemplo: o que levou você, com um filho de 10 anos (e não um recém nascido), a desejar fazer um exame de DNA? Qual era já ‘o seu grilo’, se, o que de ruim havia entre vocês, segundo você mesmo, era apenas aquilo que concernia ao leito conjugal e ao afeto da parte dela, e nada mais?

 

Seja como for, saiba: a criança jamais deverá ser o problema. Criança nunca é problema. Problema somos nós.

 

Sim! Por que alguém que, na ignorância, tenha amada um filho que não gerou, mesmo sendo informado disso posteriormente (a menos que seja um ser de natureza biologicamente ariana em sua fixação reprodutiva), haverá de deixar de amar o filho em razão dos genitores; no caso: sua mulher e o amante?

 

O que esta criança, seu filho, tem a ver com isto?

 

Ora, se a mãe de meus filhos me dissesse hoje que não sou o pai biológico de nenhum deles, me pergunto: em que isso mudaria meu amor, compromisso visceral e alegria na vidinha deles? Minha resposta mais que consciente é uma só: NADA!

 

Afinal, que engano teria o poder de desfazer a verdade de meu amor por eles?

 

Em Cristo a biologia perde muito, ou mesmo, totalmente o seu significado animal. Em Cristo o que se institui não é o biológico, mas o vinculo espiritual e psicológico do amor. Em Cristo a genética é feita exclusivamente de amor. Em Cristo, pai é aquele que ama, que cuida, que dá afeto, e que se importa até às vísceras do ser…

 

Você ama seu filhinho? Sim, eu pergunto: ama? Mesmo? Pra valer? De verdade? Ou você era um pai assim…, tipo: “meio barro, meio tijolo”?

 

Portanto, no amor e segundo o Evangelho, o filho tem que ser amado, cuidado, acolhido, protegido, guardado, e criado com todo amor que um homem tem para dar a seu filho, ao filho de seu ventre espiritual.

 

Portanto, mesmo que você venha a decidir separar-se de sua esposa, saiba: seu divórcio em relação a ela, jamais implicará em seu divórcio dele; pois, caso você se divorciasse dele também, eu perguntaria: onde em você está o amor de Deus?

 

Meu mano, quantos meios e modos você acha que Deus tem de nos fazer pais?

 

De fato, na maioria das vezes, o que vejo são homens que, uma vez separados, são capazes até mesmo de esquecerem-se dos próprios filhos, deixando a tarefa com a mãe; ou, quem sabe, já com raiva antecipada, por ela em relação ao seu ainda futuro e hipotético companheiro, largam os filhos…

 

Ora, o vinculo que une um homem a uma mulher, que deve ser amor, não é feito da mesma qualidade de amor que o une aos seus filhos.

 

O Evangelho não conhece separação dos filhos por traição!

 

Jesus abriu precedentes para o divórcio ser um remédio para o que não tem solução, mas não escancarou a porteira a fim de que ele, o divórcio, aconteça por qualquer motivo, a fim de não banalizar o vínculo e nem deixar em desamparo os filhos.

 

Aliás, o que você julga que seja a diferença entre as duas vezes que você a traiu nesses 18 anos, e a traição dela a você?

 

De fato, meu mano, não tem diferença; exceto duas coisas: ela nunca soube; e, a segunda: você não gerou um filho…

 

Mas e se fosse o contrário?

 

Sim! Se na sua ‘pulada de cerca’ você tivesse gerado um filho na outra mulher; e sua esposa só soubesse hoje que aquele menino que ela criara como filho, pensando que era uma criança filha de alguém a quem você desejara ajudar; pois, morrera no parto, razão pela qual você adotara a criança — era, de fato, sua filha com uma garota de programa; a qual, uma vez tendo o filho, o deu a você e desaparecu do mapa?


 

Ora, provavelmente hoje você estivesse implorando o perdão dela!

 

Portanto, não ponha a criança no meio dessa confusão!

 

E mais: seja qual for o resultado de seus entendimentos com sua esposa, tome o compromisso de que a criança é sua filha, e que este não é o problema.

 

Quanto ao mais, somente você pode decidir se continua casado com ela ou não. Eu, todavia, sugiro a você que dê uma chance a vocês, desde que ela não esteja assim, tão gostosa e dada, apenas porque, na culpa, deseja segurar você de qualquer modo… Agora, por outros interesses; ou seja: para não sair de casa; ou para não se sentir desamparada…

 

Assim, se ela está de fato arrependida, se você a ama, e se ela vier a amar você de verdade, por que não dar uma chance a vocês, fazendo a Graça mais que abundante do Evangelho ganhar carne na vida de vocês?

 

Isso tudo, entretanto, só vale se houver amor, respeito, carinho, afeto, desejo, e muita verdade entre vocês!

 

Do contrário, apenas se estará prolongando uma dor… E mais: se estará apenas adiando algo inadiável, com ou sem a questão do filho!

 

Desse modo, perdoe-a, sendo ou não para continuar o casamento. Mas perdoe-a a fim de continuar o seu casamento com a Graça de Deus e com o Evangelho.


Casais podem se separar perdoados. Não é o ódio o que deve separar pessoas, muitos menos casais. Basta que não se amem na qualidade de amor que é própria ao vínculo, visto que existem muitas formas de amar, e nem todas
elas são suficientes para manter um casamento como casamento.

 

O amor no casamento demanda outros encontros que o amor pelo próximo, qualquer próximo que não durma com a gente, e nem beije a gente, e nem divida a existência com a gente, demanda.


Assim, sempre aconselho a todos os que estão se separando, quando não consigo evitar a separação por razões verdadeiras, que o façam em amor, não em ódio; pois, até para se separar, tem-se que fazê-lo em amor; ainda que reconhecendo que esse amor que sobreviverá, não é aquele que justifica a existência de um vínculo sem “amor conjugal”, o qual é feito de material de desejo, carinho físico e emocional, e certeza de pertencimento mútuo, no coração.

 

Pense no que lhe falei e me escreva outra vez.

 

Estou orando por você! E por ela. E, sobretudo, por “elezinho”.

 

 

Nele, em Quem todos são filhos a fim de que todos saibam ser pais,

 

 

Caio

 

25/01/07
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