—– Original Message —–
From: EX-PASTOR CARENTE
Sent: Tuesday, January 30, 2007 7:57 PM
Subject: Sexo, Religião e Casamento
Caio,
Graça e paz.
Tenho muito respeito e admiração pelo dom de Deus em sua vida.
Meu querido, eu estou quase a sucumbir. Sou um homem de 41 anos, vivendo uma fase de minha vida como se estivesse num barco à deriva.
Perdi minha mãe quando bebê. Meu pai, pela sua estrutura cultural e psicológica, era muito ausente. Vivia em casa de tios… Meu pai se casou por duas vezes após a morte de minha mãe. Logo, tive duas madrastas.
Ainda muito pequeno desenvolvi interesses e trejeitos femininos. Cedo entendi que deveria disfarçar esta faceta em minha vida. Tive um grande amigo homossexual. Desenvolvemos uma linda amizade. E, embora as pessoas duvidassem, nunca tivemos sequer um momento de intimidade.
Apenas compartilhávamos nossos desejos e sonhos de forma totalmente escondida, pois, naquela época, ser gay era extremamente chocante. Ele se assumia como gay, e eu, do meu lado, oscilava entre o desejo de ser mulher e ao mesmo tempo querendo ser um homem normal.
Sofri abusos sexuais…
Até certo tempo, embora tivesse uma dose forte de trejeitos femininos, eu não sentia atração física por homens. Mas quando com 15 anos minha sexualidade se definiu, então percebi uma ardente atração por homens.
O tempo passou… E durante muito tempo vivi ocultando esta realidade em minha vida, muito embora, pelo meu jeito esquisito, não convencesse muito…
Meu lar sempre muito conturbado pela presença do álcool, muita violência, necessidades…
De repente aparece a igreja evangélica… Passei por todas as etapas, comum nestes ambientes.
Com o tempo os meus trejeitos diminuíram, devido a minha convivência com homens no trabalho e na igreja; e também em razão de um constante “policiamento próprio”… Até que chegou o tempo de casar.
Casei. Tivemos quatro filhos… Tive alguns momentos de dificuldade na área sexual, mas tudo contornável… Vigiava qualquer sinal de atração por homens. Contudo, às vezes, ocorressem recaídas internas, e eu sucumbia… Mas, entre as culpas e os “arrependimentos”, seguidos de reincidência, fui levando vida…
Meu casamento foi um desastre…
A mulher com quem vivi até o ano passado (por 19 anos), a melhor forma de descrevê-la seria um texto seu que se não estou enganado é: “Pessoas Mal Assombradas”. Quando li o seu texto parecia vê-la em minha frente.
Naquele ambiente de neuroses sexuais, culpas, casamento doente… — vieram os vícios religiosos, a fachada, a hipocrisia, etc.
Mas, mesmo com tantos distúrbios psicológicos, via dentro de mim uma sinceridade para com Jesus.
Certo tempo comecei a ser influenciado pelos seus ensinos e também pela Valnice Milhomens. Ou seja: eu misturava a sua coerência com os ensinos da Valnice…
Começou um processo dentro de mim… E com as coisas que eu julgava boas do que ouvia de você e da Valnice, comecei a desenvolver alguns conceitos que eu, de forma dissimulada, procurava aplicar em minhas pregações.
Isto causava admiração na liderança da Igreja. E, por minha postura e eloqüência, fui levado ao ministério… Colocaram-me para pastorear igrejas naquele ambiente que você sabe melhor que eu.
Mas o que acontece Caio, é que o processo dentro de mim continuou… Comecei a desejar cada vez mais o Evangelho de Jesus, mas com muita dificuldade de romper com a instituição religiosa.
Vivia um casamento insuportável… Não suportava mais a vida religiosa e a convivência com os elementos da igreja. Minha sexualidade borbulhava… E, do ano passado para cá, decidi romper com tudo e viver a minha verdade.
Rompi com a igreja como instituição e ousei abraçar o Evangelho de Jesus.
O teu site tem me ajudado muito.
Meu casamento que, desde há muito, não existia, resolvi assumir isto e me separei…
Quanto a minha sexualidade, não assumi de público… Mas, dentro de mim, confessei diante de Deus a minha homossexualidade, embora eu desejasse não sentir atração por homens… Gostaria de sentir atração por mulheres com a mesma intensidade que sinto por homens. Parece que às vezes isto acontece… Mas logo retornam os desejos homossexuais.
Caio me sinto muito só, discriminado; às vezes, culpado. Mas também me sinto mais verdadeiro.
Hoje tenho bem definido o que não quero e o que não sou. Sofro por não ter meus filhos comigo. Eu preciso muito de ajuda para não sucumbir neste deserto que atravesso.
Caio, desculpe se fui desconexo.
Por favor me ajude.
Grande abraço.
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Resposta:
Querido amigo e irmão: Graça e Paz!
Como tenho dito com muita repetição aqui no site, um gay-gay mesmo, não sofre atrações por mulheres jamais; assim como um heterossexual não sente jamais atração por homens.
A manifestação dessas oscilações, em geral são expressões de traumas e de vícios psicológicos.
Ora, você falou da mãe falecida precocemente, do pai ausente, e dos abusos sexuais (embora não tenha dito como e por quem…).
Assim, o que tenho a dizer é o seguinte:
1. Não se assuma gay. Sim! Não sem antes buscar entender o que lhe acontece de fato. Pois, sua gayzice está muito mais para desestruturas e vícios psicológicos do que para a realidade em si, no que diz respeito a você mesmo.
2. Procure ajuda psicológica. Pois, você pode ainda descobrir que não é bem quem com certeza pensa ser. Não sem luta, é claro!
3. Não repita seu pai ficando longe dos filhos. Nenhuma separação tem que ter tal poder. Portanto, reaproxime-se deles enquanto é tempo.
Percebi também que você relacionou o Evangelho a sua opção sexual.
Veja:
“Minha sexualidade borbulhava… E, do ano passado para cá, decidi romper com tudo e viver a minha verdade. Rompi com a igreja como instituição e ousei abraçar o Evangelho de Jesus.”
Ora, pelo Evangelho, o que você faria como um mal menor para você e para todos, seria parar de ensinar, estando vivendo em tanta irresolução interior e pessoal.
Portanto, pare e trate de você mesmo!
Saiba entretanto que o Evangelho não é um “Let It Be”. Não é uma entrega carmica a nada. Não é licença para matar. Não é a aceitação passiva da “verdade” apenas como um diagnostico; e não uma proposta para a vida — como se o conhecimento de quem somos em nossas irresoluções, fosse a verdade de Deus para a nossa vida. Não é assim!
Existem verdades em mim que, uma vez por mim percebidas, têm que ser assumidas como verdade-realidade. Outras, todavia, são verdades-mentiras. Ou seja: são realidades que, detectadas em nós, precisam ser entendidas e sempre mudadas (Leia meu livro “Enigma da Graça; pois, nele, esses diferenciações entre verdade, mentira, verdade-mentira e verdade-verdade, estão bem expressas para a sua melhor compreensão).
Portanto, não associe o Evangelho a qualquer forma de condescendência nossa com aquilo que a gente chama de “nossa verdade” apenas para não abrir tal coisa diante da Verdade de Deus.
Entre no site e escreva em “Busca” as palavras “gay” ou “homossexual”; e você terá todos esses conceitos bastante expandidos em sua mente — digo: em relação ao que julgo (como opinião) ser a Palavra do Evangelho para quem vive em situações da mesma natureza.
De fato, tudo o que eu tenho a dizer sobre o tema já está bem definido aqui no site. E, além disso, sua situação é a mais comum entre aquelas que apresentam certo “complexo gay”. Portanto, leia e você compreenderá muita coisa sobre você mesmo.
Leia o que lhe sugeri e depois me escreva.
Receba meu carinho e minhas orações por você!
Nele, em Quem a verdade liberta e trás paz,
Caio
30/01/07
Lago Norte
Brasília