QUE LUGAR TEM UM BIPOLAR NO REINO DE DEUS?

 

 

 

 

 

 

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From: QUE LUGAR TEM UM BIPOLAR NO REINO DE DEUS?

To: [email protected]

Sent: Tuesday, May 22, 2007 9:23 PM

Subject: sou bipolar e estou com vergonha…

 

 

Reverendo Caio:

 

 

Isto parece um filme surreal!

 

Como estou com medo de mim, penso que os outros também estão.


Fui diagnosticada como bipolar. Isto tudo é muito novo e fora de meu entendimento.

 

A gente pensa que cristão não tem estes problemas…

 

Reverendo, minha cabeça está a mil!!!

 

Amanhã tenho psicólogo e esta semana tenho psiquiatra de novo.

 

Está difícil lidar com esta coisa de bipolaridade. Estou com vergonha e me sinto como um tomate podre dentro da igreja.

 

Como fica meu ministério e meu convívio com a sociedade, e meus relacionamentos? 

 

Algumas pessoas estão assustadas, assim como eu estou.

Estou tentando tratar das coisas da maneira mais racional possível — sem misticismo e sem “diabolismos”.

 

Estava levando tudo pro lado da “guerra espiritual”… Foi quando decidi reler seu livro. Vejo o senhor como um homem de Deus centrado no mundo real (tanto físico quanto espiritual). A leitura do livro me ajudou a parar de ficar expulsando demônio a cada variação de humor.

 

A leitura de alguns artigos me fez ver que a ajuda especializada era necessária e decidi busca-la.

No entanto, minha auto-estima está em frangalhos e tenho medo da rejeição.

 

Não fui ao culto por vergonha.

 

Cristãos não deveriam ter problemas psiquiátricos ou psicológicos, mas somos de carne e osso.

 

Estou precisando de cura interior e equilíbrio. Nada de exageros, apenas Palavra pura e pastor de 1ª qualidade. E o senhor é a pessoa que tem meu respeito por sua historia e sua vida.

 

Mas será que é justo ter uma ovelha bipolar? Que mal um bipolar pode causar num rebanho?


Preciso aprender a viver com esta descoberta e superá-la, mas só Jesus na causa!!!


O que o senhor me aconselha?

 

Desculpa tanto trabalho reverendo Caio.


Tenho pensado em estabilizar o humor e aí sim visitar O Caminho. Eu me sentiria melhor em não chegar por lá com uma cara triste… Será que isto é hipocrisia?


Como Deus pode usar minha bipolaridade para o Reino?

Abraços

 

Em Cristo,

 

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Resposta:

 

 

 

Minha amada amiga: Graça e Paz em todos os pólos da Vida!

 

 

Sua carta me ensejaria um livro, tão farto é o material que se deriva de muitas de suas perguntas, e as implicações disso sobre uma gama de outros temas e questões. Por isto, tentarei ser objetivo.

 

Olhando não para as questões técnicas da bipolaridade, mas exclusivamente para a sua alminha, digo a você o seguinte:

 

1.                  Que discípulos de Jesus nunca receberam a promessa de ficarem livres dos males e dores deste mundo. Entretanto, uma coisa é ter Deus na dor, e outra e vivê-la sem a consciência da Graça de Deus. Pensar que temos de Deus a promessa da ausência da dor ou de certas formas de dor, é engano criado pela “igreja”; especialmente pelos grupos de cura divina pentecostais ou neo-pentecostais.

 

2.                  Que muita gente boa da Bíblia seria diagnosticada como bipolar. Outros cairiam em categorias psicológicas mais graves, como Sansão. Os profetas, no entanto, quase todos, sofreriam algum tipo de enquadramento em alguma classificação diagnóstica moderna. Quem disse a você que Graça e fraqueza humana são auto-excludentes? Ou você nunca leu que o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza?

 

 

3.                  Que até bem pouco tempo atrás você estaria sofrendo de bipolaridade sem nem mesmo se importar ou saber disso — e a vida continuaria. Com isso digo que bipolaridade não é nenhum bicho de sete cabeças, mas apenas mais uma das classificações da moda psicológica. É quase como TPM. Toda mulher tinha, não sabia, e vivia bem. Hoje, toda mulher tem, sabe, e, por isso, quando vai chegando a época, já se prepara para ter TPM. E, assim, as auto-indulgências produzidas pelo diagnóstico de ‘deficiente’ no “período”, já induz muita gente a se comportar, se sentir, se ver, e se assistir como tendo que cumprir o carma do diagnóstico. Ou seja: estou dizendo que você está sofrendo mais de diagnóstico do que da coisa em si. A coisa em si existe, mas está longe de ser o que ela se torna quando é alimentada pelo nosso medo. Seja natural com a bipolaridade. Entenda o processo e ponha-o sob seu controle de consciência — e com medicação suave, sem exageros.

 

4.                  Que sua maior dor na bipolaridade é moral e se deriva da “igreja”. É a dor de ser crente e ser bipolar (“Pode?”, pergunta você). É a dor de pertencer a um grupo (a “igreja”) que anuncia que nela há lugar para todos os que estão fora, desde que dentro eles se apresentem de modo normal, conforme a normalidade da “igreja” e suas morais. É a dor de pensar que agora é você vista como uma anormal pela comunidade. É a dor de imaginar que para você tal estado significa ser crente de segunda ou terceira… É a dor latente de atribuir ao diabo tudo quanto diga respeito ao cérebro ou à mente em termos de disfunção. É a dor de precisar de médico, que é a dor que crente mais detesta, à semelhança dos fariseus. É dor da fraqueza que para os crentes é dor de incrédulo. A prova de que é assim (mesmo que agora seu padrão mental de entendimento esteja começando a mudar) está no fato de que você levanta questões de quem ainda carrega toda a influência dos cultos e das crenças evangélicas; conforme até bem pouco tempo, quando você recorreu à “batalha espiritual” (que é “exorcismo de e para crentes”) a fim de enfrentar a bipolaridade. Assim, saiba que sua maior dor é a dor “classificatória”. É a dor de ser vista na “igreja” como “aquela irmãzinha bipolar”. É a dor de pensar que os outros possam vê-la do modo como você mesma veria uma outra pessoa em sua situação (você está sendo julgada pelo seu próprio padrão de julgamento e interpretação). É a dor do “crente” que tem que ser crente contra o juízo dos “crentes”, mas que no processo se julga com as categorias dos próprios “crentes”. Ora, saber disso já pode curar a maior parte de sua dor bipolar.

 

5.                  Que sua dor suicida é dor de crente sem perfeição num mundo de crentes imperfeitos que demandam perfeição. Assim, saiba: sua melhor ajuda está em não se entregar a qualquer que seja a “atenção” de “crentes” sobre você.

 

 

6.                  Que você labora em grande erro quando pensa que o “Caminho da Graça” vê as pessoas com tais categorias de “crente”. Não! Nós nos vemos todos como doentes procurando, buscando e recebendo cura na Graça. E esse é um processo incessante. Assim, aceite meu convite e venha para o encontro dos cegos, coxos, paralíticos, aleijados, aflitos, angustiados, traídos, sentidos, doloridos, enlutados… — que nós temos no “Caminho da Graça”.    

 

Tome a medicação sem grilos. Vá ao terapeuta sem humilhação. E venha ao Caminho sem temor. Pois, todos esses três, até aqui, são meios de Graça para ajudar você!

 

Se você desejar falar comigo aqui em Brasília, além de ir ao La Salle no domingo, ou vir à Casa do Caminho durante a semana, você também pode escrever para [email protected] e marcar um atendimento. Creio que pessoalmente eu posso ajudar você bem mais.

 

Leia o site. Há muita coisa aqui sobre o tema ou sobre temas correlatos ao seu. Leia. Vá em Busca e escreva a palavra de seu interesse…

 


Receba meu carinho e toda a minha tranqüilidade em relação ao seu futuro. Sim! Não seja seu próprio problema!

 

 

Nele, em Quem o Caminho Santo não é errado nem pelo louco, quanto mais pelo bipolar,

 

 

 

Caio

 

23/05/07

Lago Norte

Brasília