AMOR: O JAZZ E O QUE JAZ…

 

 

 

 

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From: AMOR: O JAZZ E O QUE JAZ…

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Sent: Wednesday, July 04, 2007 5:06 PM

Subject: O amor… jazz ou jaz?

 

Caio, meu irmão:

 

 

Lindo (e triste [e alegre]), verdadeiro “nó emocional”, seu texto sobre “Amargura”… Complementando seu anterior, sobre a geleira que se abate sobre os corações (enquanto a calota polar derrete).

 

O amor… jazz (na banda de Jesus); o amor… jaz (na banda “cover” do maligno).

 

Na dicotomia manifesta fica fácil (no mundo dos pólos opostos, do maniqueísmo): bom x mau; paz x guerra; luz x trevas…

 

Mas… e a “guerra pela paz”? E a “luz artificial”? E o “lobo travestido de cordeiro” (pêlo branquinho, sangrando pela boca)?

 

Aí, jaz… a música do amor e nasce… o ruído do maligno (frontal opositor da simplicidade harmônica do sim e do não; amicíssimo do dissonante “talvez quem sabe porventura”…).

 

 

“-Pedro, tu me amas?”

 

Ele (consciente de sua própria pequenez): -SIM; … Sim; …Sim… ou melhor (a bem da verdade; a verdade é sempre o melhor); eu sei que, no íntimo, tu o sabes “se e quanto” o amo… Mas, não te assumo de fato.

 

Adiante, o galo canta, canta e canta: arrependimento, choro… amargo… assume-se (a condição de discípulo).

 

“-Judas, tu me amas?” (a pergunta nem foi feita)

 

Ele, gritando a plenos pulmões (para que todos – menos ele – ouvissem), responderia: – MIL VEZES, SIM ! (crendo que esconderia seu íntimo) Mas na verdade, não; eu lhe dou um beijo ácido… tu morres e ressuscitas… eu, assumindo minha condição de anti-discípulo, morro [vou, em um átimo, da mesa da ceia para o campo de sangue]). E ainda que o galo cantasse mil vezes… eu… que apenas ouvira o tilintar das trinta moedas, faria (tudo) de novo e de novo!

 

O amor é quente, quente como a lágrima do arrependimento e como o abraço acolhedor que perdoa. Frio, frio é o beijo da traição (que mata [o corpo de uns, a alma de tantos])!

 

  

E o cristão “morno” (corpo à caminho; alma de sinagoga)… dá calafrios (-Afasta-te de mim, “Judas Barjonas”, simulacro de discípulo!).

 

Abração.

 

Habib.

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Resposta:

 

Amado Habib: Graça e Paz!

 

Sim, meu mano-amigo, no amor de Deus o jazz é o da banda que tocou na volta do Filho Pródigo. Já o “jaz” é o réquiem dos que preferem ver o homem no buraco a de lá tirá-lo, mesmo em dia de “sábado”.

 

Há um livreto meu chamado “O Deus que não desiste se amar”, que é todo sobre o encontro de Pedro com Jesus na praia de Tiberíades. Além disso, você também pode pegar com o Edvaldo o documentário “Jesus, o companheiro de todos os momentos”, gravado na Galiléia em 86, e que trata também, entre outras coisas, desse encontro de vida entre Pedro e o Senhor.  

 

Deixo com você este texto de minhas devoções:

 

Pedro havia negado Jesus três vezes…

 

No entanto, para Jesus, a questão daquela manhã de sol nascente das alturas na quieta praia de Tiberíades era apenas uma: “Tu me amas?”

 

Até na hora de lidar com a negação e com a traição, Jesus é completamente diferente de tudo e todos, e completamente coerente com Seu próprio Ser-Ensino.

 

O Verbo se fez carne, por isso o Ser-Ensino de Jesus são um.

 

O que diriam as nossas lógicas de amor?

 

“Se ele amasse, jamais teria feito o que fez” — e, assim, se atribui impecabilidade ao amor humano.

 

“Ama, mas não tem raízes em si mesmo”—diria a sofisticação psicológica.

 

“É egoísta demais para amar”—diria uma voz moral piedosa e certa.

 

“É cedo demais para perdoar você. O que fazes aqui entre os outros?” — diria o Mestre das Disciplinas.

 

“Nunca mais será a mesma coisa. Como poderei confiar em você outras vezes?”—diria a razão mais humana e ressentida.

 

“Pode ser que ainda dê, um dia… quem sabe? Mas você terá que fazer um longo caminho de volta!”—diria um piedoso e quase esperançoso pastor de almas.

 

“Já que você insiste, verei do que você é feito. Colocarei um diretor espiritual para supervisionar você” — diria um ser crente na fabricação de caráter e de fidelidade.

 

“Sinto muito, Pedro, mas já não é possível. Você jogou fora a sua chance, embora eu o tenha advertido várias vezes” — diria a razão fria e justa.

 

“Você está perdoado, sem ressentimentos, vá em paz; pois não há mais clima para a gente prosseguir”—diria o melhor do homens.

 

“Logo você, em quem tanto confiei! Como pode fazer isso? Explique-me suas razões” — diria o bondoso justo.

 

“Meu Deus! E pensar que amei tanto você. Eu sou um santo idiota mesmo!” — diria um Deus com alma de esposa ou de marido.

 

No entanto, Jesus apenas pergunta: “Tu me amas?”

 

E com isso Ele admite que o amor peca, trai, nega, se engana, enfraquece, pode ser egoísta, é capaz do impensável, é passível de repetir o mesmo erro, não apenas três vezes, mas até setenta vezes sete.

 

Jesus não estava buscando perfeição, mas apenas um amor que pudesse ser aperfeiçoado no próprio amor… no Caminho.

 

“Tu me amas?” — pergunta Ele três vezes.

 

Ao que Pedro responde, dizendo, humilhadamente, um “sim” cheio de vergonha, e até se sentindo um sem caráter por ainda ter a coragem de confessar amor tendo negado.

 

Pedro diz “sim, sim, sim”… mas não o faz sem a angústia de quem não quer ser visto como cínico!

 

Pedro ama. Ama com amor que é dele, com o amor que lutava para ser amor no chão raso de sua alma. Mas era amor, e isso ele não podia negar. Ele admitia que negara Jesus, só não podia admitir que não amava Jesus.

 

Jesus sabe que às vezes se ama apesar de…

 

Jesus sabe que o único amor que ama sem nenhum apesar de… é o Seu próprio amor, de mais ninguém.

 

Jesus ama os nossos amores, apesar de… Pois Ele sabe que quem não ama apesar de… esse deve se oferecer para ser o Salvador dos homens.

 

“Tu me amas?”

 

Pedro não tem mais o que dizer. Provar amor? Meu Deus! Levaria o resto de sua vida, e teria que demonstrar isso não apenas com ações, nem com palavras apenas, e, se fosse o caso, deveria provar tal amor com dores de alma até a morte.

 

Pedro não tem meios de provar nada. Não tem o poder de reverter quadros e nem de apagar memórias. E também não suportaria ficar gemendo o resto da vida num canto de sua casa a fim de provar a Jesus que o amava apesar de…

 

Provar que se ama pode ser o inferno!

 

Pedro está perdido. Quem o ajudará? Quem testemunhará em seu favor? Quem terá garantias a oferecer em seu nome? Quem seria o fiador de seu fracassado amor?

 

A esperança de Pedro quanto a provar a Jesus que ele O amava era o próprio Jesus.

 

“Senhor, tu sabes todas as coisas… e se as sabes, certamente tu sabes que eu te amo!”

 

Assim, Pedro não tem argumentos, nem explicações, nem mesmo se oferece para padecer como prova eterna de seu amor …no inferno do amor…

 

Pedro não quer o inferno do amor… ele quer ser salvo do inferno de sua alma pelo amor… e só Jesus poderia fazer isso, pois somente Jesus sabia o que existia no coração dele.

 

Assim, ele está tão certo de sua total incapacidade de vencer os fatos esmagadores com argumentos ou mesmo com penitências, que ele apenas recorre a uma certeza: Jesus conhece meu coração!

 

“Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que eu te amo!”

 

Chega uma hora quando todos os argumentos cessam, quando não há explicações a serem dadas, quando toda fala é cinismo, quando todo gesto parece compensatório e auto-justificatório, e quando toda e qualquer promessa de fidelidade e lealdade apenas cerram sobre a alma a porta da masmorra das infindáveis penitências.

 

Pedro amava, mas não queria que seu amor fosse sepultado vivo na morte!

 

A resposta de Jesus é de confiança!

 

Sim, Ele sabe que Pedro o ama apesar de Pedro, de seu egoísmo, de sua vacilação, de sua pusilanimidade, de seus ímpetos inconseqüentes, de suas coragens pouco resistentes, de seus vícios de fuga…

 

“Pastoreia as minhas ovelhas”… os meus cordeirinhos… esse povo que me ama como tu… que ama e que trai…

Tu, que agora sabes quem és, pastoreia nesse amor esses que são como tu mesmo”.

 

E conclui: “Agora, vem, e segue-me…”

 

Jesus não bota o amor de castigo, parado no ponto e na esquina da negação, frizado na vitrine do espetáculo da fraqueza, preso para sempre aos seus próprios pecados.

 

Jesus sabe que a cura para a traição e a fraqueza só acontece no caminho, enquanto se O segue, e no chão da vida, onde o amor terá a chance de ser amor, e não negação.

 

Trai-se na vida. Ama-se na Vida. Nega-se na vida. Se é curado na Vida. Somente na vida o que é, é; e pode se manifestar!

 

Sem que seja assim o que resta é deixar Pedro em Tiberíades para sempre, envolto nas malhas de suas angústias, pescando os peixes que fogem dele, existindo numa seqüência de dias que já lhe são o próprio inferno.

 

Nossa salvação é uma só: O Senhor sabe todas as coisas, e quem sabe que ama apesar de… não tem outra chance se não confiar no que Jesus sabe em nós e acerca de nós, pois se o que há em nós é verdade, Ele em nós aproveitará toda verdade de amor para o nosso próprio bem.

 

Confie. Ele conhece você!

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Continuando:

 

Portanto, meu mano-amigo, receba esta minha mensagem como demonstração de carinho meu pela sua alegria dirigida a mim!

 

 

Nele, em Quem, para nossa alegria, todos somos Pedros feitos de seixo e carne, porém coberto pelo sangue do amor de Deus,

 

 

 

Caio

 

05/07/07

Lago Norte

Brasília

 

 

 

 

Caio