FILO-SOFIA quase nunca é META-NÓIA!

 

 

 

 

   

—– Original Message —–

From: FILOSOFIA quase nunca é METANÓIA!

To: [email protected]

Sent: Friday, August 03, 2007 10:00 AM

Subject: Essa tal “filosofia”… quase nunca é “metanóia”.

 

Caio, meu irmão!

 

Li a (rica) troca de correspondência sua com o Juliano (que não é – de modo algum – “luxo inócuo”; enseja, aliás, muitas reflexões).

 

Filosofar é um troço gostoso e enriquecedor; reconfortante até (por vezes, me parece, contudo [tenho interesse no assunto, que só superficialmente conheço], quando chega ao nível “histórico-acadêmico-organizacional”, uma tentativa de sistematizar a poesia [intelectualizar intuições {-Até o nome dos filósofos é complicado; não há um João ou uma Maria… risos… é de Anaximenes e Anaximandro para lá…”}]).

 

Assim como causam deslumbramento as grandes obras da engenharia, que, todavia, são nada diante das obras da divina natureza, também as catedrais de pensamentos humanos (ainda que belos e/ou densos sejam) são… nada diante de Deus  (não o fortalecem, nem o esmaecem). Corretissimo seu texto (o anterior [transcrito] também, que já conhecia pelo site).

Todas as pessoas que conheço que começaram a “pensar” demais em “explicar” Deus (em vez de “viver” [como Jesus viveu]) findaram transmudando-se de “simples crentes” em “teólogos” (e derivativos [perderam o poder espiritual de, pela graça, levarem paz, cura e libertação aos outros; levam – de regra – dúvida e julgamento aos outros, decorrentes de suas próprias elucubrações…]).

 

Por vezes, a filosofia – é o que vejo aqui e acolá – vira um escudo social para a fé: um “eu creio, mas não sou – como os demais – ignorante” (sou crente “chique” [“penso, logo, Deus existe”]).

 

Jesus falou por “parábolas”, jamais por “argumentação filosófica” (acho que para que a verdade atingisse – por intuição, pouco-a-pouco – o centro total do ser e não a mera razão lógica consciente [limitada no tempo e no espaço]). Aquela cantiga de roda: “sei por que creio ou creio porque sei?”.

 

Jesus diz: “-Eu sou“. Ele não diz: “-Haja vista isso e aquilo e tendo em consideração este e aquele aspecto, resta provado o que digo; então, à luz de tais colocações, “data vênia”, eu, como antes afirmei… sou. Assim, em lógica cartesiana, seguramente, creia em mim e em Deus.”.

 

A fé (não “fanática”, claro) demanda reflexão permanente no sentido de aferir se o que nos apresenta como sinal de Deus corresponde ou não ao amor como pregado na carne (história) por Jesus (só um campo pronto – alma de Pedro [e no momento certo e instantâneo]  – recebe a semente da revelação acerca da natureza de Deus).

 

Quem vê Jesus, vê o Pai; quem crê em Jesus, crê no Pai; Jesus é, Deus é. Jesus e o Pai são um só. Jesus disse a Filipe que ele não o via (e ao Pai), embora há três anos convivessem; ora…Ele já nos foi revelado há 2007 anos…e…estamos no “como”, “por quê” e “onde”? Jesus pergunta (aqui sem parábola nem filosofia): “– És mestre em Israel e não sabes destas coisas?

Você diz: Deus não “existe”, ele “é” (dura essa palavra; quem de nós a poderá receber?).

 

Os humildes de espírito, lançando folhas de palmeira ao solo, entoam (convictos [pela revelação]): “-Hosana nas alturas àquele que é…“.

 

Deus responde: “-Seja feito conforme a sua fé!“.

 

Os soberbos de espírito, dedos em riste (como palmeiras imperiais), ponderam (alicerçados na razão): “-Explique-nos quem e como és, seja lá você quem seja, esteja lá onde estiver… mostra-nos em nossa razão um sinal (assimilável pelos sentidos); prova-nos que és Deus!”.

 

Deus responde: “-Nenhum outro sinal lhes será mostrado, pois crêem na baleia (pura forma), mas não crêem no espírito que havia em Jonas“.

 

Recado de Mário Quintana para mim (tomando seu chope diário):

 

“-Esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove – não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo…“.

 

Abração,

 

Habib Fraxe.
 

 

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Resposta:

 

 

 

Amigo amado Habib: Graça e Paz!

 

 

 

 

FILO-SOFIA é a sabedoria das palavras. E só isto; pois, não vai além disso! — Posto que – para além de tal ponto – pela filo-sofia não se pode ir; visto que a palavra que crea, não é filo, mas Logos; e Logos não se presta à filo-sofia, pela simples razão de que filo decorre de Logos, e não Logos de Filo.  

 

Se mesmo em Jesus a linguagem e a forma de dizer fossem elubrativas, Ele não seria quem era; pois, se sendo Deus, filosofasse…, Deus Ele mesmo já não seria.

 

Assim, Jesus trata a Deus como Deus É.

 

Sim! Não explica, apenas afirma; não expande, apenas mostra; não diz “ali” acerca de Deus, mas apenas “aqui” (Emanuel – Deus conosco!); não o projeta para um além-além, mas sim para um além-em-mim; posto que o reino não vem com visível aparência, visto que existe em mim, em nós. Portanto, quem o vê e acha, só o percebe porque nasceu de novo, porque a mente morreu para a presunção do saber – lógico acerca de Deus, o qual diz: “Mestre, sabemos que és vindo de Deus porque os sinais que fazes nos dizem isso…!” Ante a isto Ele diz que se não houver o abandono da lógica dos “mestres de Israel” não há a intuição-revelação que segue o vento, como acontece com todo aquele que nasceu do espírito…: simplesmente segue.

 

Se Jesus argumentasse sobre qualquer que fosse a lógica da existência divina, teria que argumentar (e tolamente buscar provar) Sua própria existência. Portanto, apenas diz que o Pai É; que o Pai ama; e que o Pai e Ele são Um.

 

E assim como Ele trata o Pai (sem explicações), Ele também trata a existência, apenas mostrando como ela é-sendo.

 

Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” — querem os homens saber sobre os mistérios da dor e das anomalias no mundo.

 

Nem ele e nem seus pais pecaram, mas foi para que se manifestem as obras de Deus!” — e cura o cego de nascença, mas não produz um único argumento satisfatório, oferecendo como satisfação apenas o milagre de tirar o cego da escuridão trazendo-o para a luz do dia.

 

Em Jesus o tema da “prova de Deus” soa como pecado. É algo que apenas interessa aos Nicodemos, pois, as Marias e os Josés sabem-conhecem no coração, e nem assim acham que sabem.

 

Desse modo, quando argüido acerca da Verdade por Pilatos, Jesus nada diz; pois, dizer ou explicar equivaleria a colocar Sua própria existência histórica em cheque, já que Ele é a Verdade; e a Verdade para Ele não é passível de explicações, mas apenas de experiência em fé.

 

Fé é constatação não provada.  

 

Assim, não é quem “entende” a necessidade de nascer de novo aquele que e entra no reino de Deus, mas sim aquele que nasce de novo.

 

Imagine que “Caio” (ou Habib) equivalesse, como termo, a Verdade. Então Pilatos me perguntaria: “O que é Caio?” Ora, se eu mesmo (que nada sou além de criado-existente) dissesse “o Caio é…”- e começasse a explicar o “Caio”; nessa mesma hora, eu, Caio, morreria em significado; pois, se sou passível de me contar como história-conteúdo da Verdade, eu mesmo deixaria de ser o Caio-Verdade, posto que passaria a ser apenas um tema de discussão.

 

Assim, se “Caio” fosse o mesmo que Verdade (como era no caso de Jesus), o explanar sobre “Caio” seria o mesmo que negar minha existência em-si-mesma. Sim! Em tal caso, dizer qualquer coisa além de ‘Eu Sou”, ou simplesmente deixar de dizer ‘nada’ (como Jesus fez diante de Pilatos) – e, ao contrário, partir para uma explicação sobre o Eu – Verdade, seria o mesmo que negar a Verdade; pois, a tentativa de explicá-la (a Verdade), de fato a destrói, e apenas porque ela habita além das lógicas.  

 

Não! Jesus não fez assim. Ele apenas disse “Eu sou”; ou ainda: “Antes que Abraão existisse, Eu sou!”.

 

E para àqueles que desejavam saber sobre Ele e Sua “doutrina”, Ele apenas diz: “Vem e vê!”; ou ainda: “Quem quiser fazer a vontade de meu Pai, esse conhecerá...”.

 

Para Jesus, assim como o Pai não era explicável, Ele, Jesus, também não o era. Por isso, apenas diz Quem Ele é, mas não tenta dizer por que ou como.

 

Nesse sentido o que Jesus diz é totalmente anti-filosófico; posto que a filosofia não conhece o silencio de explicações, e, menos ainda, a satisfação que tal silencio gera; posto que tal alegria só decorre da fé que provou e experimentou o sabor de Deus como relacionamento.

 

A filosofia de Jesus é a negação de toda filosofia.

 

Ora, nestes dois mil anos de elucubrações, a meu ver o único que filosofou perto do sentido…, foi aquele que negou que se pudesse criar um sentido para Deus.

 

Daí eu gostar tanto de Soren Kierkegaard, pois, ele foi um dos raros a entender que a filosofia morria em Deus; e que qualquer outra tentava não só era louca como também blasfema.

 

No fim ficam apenas as coisas eternas no que Ele diz. E quanto ao caminhar humano com Deus, Ele tão somente diz que é como seguir o vento.

 

Dói-me ver que tudo isto parece tão estranho aos cristãos, os quais, ou têm Deus como criado, ou o têm como explicável — acabando com Deus em suas vidas, e dando lugar ao “Deus possível”.

 

Deus, todavia, é impossível. E só o conhece de fato quem sabe disso porque conhece a Deus sem explicações.

 

O “Deus possível” é a desgraça da fé que já não é fé, mas apenas um conjunto de idéias abstratas supostamente acerca de Deus.

 

Quanto ao mais, Quintana neles! Pois, de fato, o tempo está bom apenas para quem não vive para discutir “clima” na terra, e menos ainda acerca do clima do céu.

 

Um beijo carinhoso, mano; e até a Ceia de domingo no La Salle.

 

 

Nele, cujos vestígios são inegáveis, porém imensuráveis,

 

 

Caio

 

04/08/07

Lago Norte

Brasília

 

 

 

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