PSIQUIATRA AO ENCONTRO DA PAZ!

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: PSIQUIATRA AO ENCONTRO DA PAZ!

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Sent: Saturday, August 18, 2007 20:00

Subject: Do seu irmão psiquiatra

 

(Esta carta é seqüência da correspondência SOU CRENTE, PSIQUIATRA E GAY – estou pra me matar! )

 

 

Pastor Cáio Fábio,

Agradece-lhe por sua resposta à minha carta.

A idéia obsessiva de morte e suicídio já perdeu força. Fica, entretanto, uma sensação extremamente desconfortável de perdas, de tempo perdido, de “objetos fora de posição”, algo semelhante aos sofrimentos dos que padecem de Transtorno Obsessivo Compulsivo, e que, desesperados, temem não conseguir mais organizar mentalmente seus pensamentos e impulsos. Uma sensação de desorganização mental, afetiva e existencial.
Quantas e quantas vezes eu já busquei esta harmonia! E quando ela vem, tende a durar até a próxima queda. Por isso lhe disse que gostaria de conhecer uma solução definitiva para o problema da homossexualidade. Aliás, suas colocações sobre o assunto me foram muito úteis, pois de modo nenhum faço apologia desta anomalia. Não sou nem gay e nem afeminado. Anomalia esta, aliás, que já me causou perdas enormes, ficando eu em um beco sem saída, pois se peco, a culpa certamente é minha, mas se culpo a anomalia, do mesmo jeito a culpa é minha, pois quem pecou fui eu, embora influenciado pela anomalia, a qual satanás tem procurado explorar ao máximo. A culpa que sinto é enorme!

Minha mente e meu coração estão voltados para Deus, por isso ainda estou vivo, pois a fé que tenho no Senhor Jesus Cristo é a minha salvação.

Fico honrado com o seu convite para ir vê-lo (revê-lo) pessoalmente, e acredito que poderíamos conversar pessoalmente sobre o tópico em questão e sobre o meu caso específico. Que grande alegria e conforto para o meu coração! Quem sabe poderei ajudar outras pessoas neste território específico! O meu “calcanhar de Aquiles”.

Curiosamente, em 20 anos de carreira médica, não me lembro de um só caso de alguém ter me procurado a fim de se ver livre da atração homossexual. Todavia, os outros problemas freqüentes em psiquiatria, estes eu atendo em meu dia a dia, e com uma resolutividade próxima de 100%. Não é curioso? Porém, quem me ajuda, ou quem me ajudou quando mais precisei?

O primeiro pastor da primeira Igreja Evangélica que eu freqüentei me disse, após ouvir o meu relato (após meus 3 anos de celibato, quando fracassei e caí em pecado sexual):

 “Eu estou lhe ajudando não por você ser minha ovelha, mas por você ser ovelha de Cristo.”

Na realidade, ele estava me convidando a me retirar da Igreja que liderava. E assim terminou sendo. A maioria sai correndo quando vê que eu sou um cristão verdadeiro, psiquiatra, e ainda assim, padeço desta anomalia, como você bem colocou.

Estou, ainda, muito fragilizado, mas estou melhor do que estava e desejo escrever-lhe em breve. Creio que Deus ouviu a oração do seu coração a meu favor.

Só posso agradecer a Deus pelo auxílio recebido e pedir-Lhe que te abençoe muito, a você e à sua família. E que grande alegria é poder tê-lo como meu irmão em Cristo!

Obrigado Caio, e até breve!

Deus seja louvado! Sempre e eternamente!

 

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Resposta:

 

Meu querido amigo: Graça e Paz!

 

Creio que agora, antes de tudo, você precisa entender [para você] o sentido da Graça.

 

O mais é detalhe. O que é essencial é compreender o que já Está Feito; depois veremos como você se apropriará do benefício já realizado.

 

Oferto a você parte de um longo texto de um dos meus livros.

 

Leia com atenção e carinho.

 

Ao final sei que sua mente terá encontrado muito do que você tem procurado.

 

Lei com amor!

 

 

Nele, em Quem toda cura vem da Graça,

 

 

Caio

 

20/08/07

Manaus

AM

 

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Estelionato da Graça

 

A questão é, como já vimos, que a Graça é um problema para os cristãos desde o início.[1] Ela é um problema na mesma medida em que por ela a Verdade nos Liberta, conforme o testemunho do Espírito de Deus em nossos corações.[2]

Toda-via, quem, de fato, quer cura e libertação?[3]

O problema da Graça é a liberdade que ela gera. Liberdade é apavorante, nos deixa sem chão, nos obriga a andar com as próprias pernas, concede-nos a benção de pensar, sentir, discernir e nos julgar.[4]

O problema da Graça é que ela nos faz profundamente auto-conscientes e, ao mesmo tempo, nos dá a certeza de que diante de Deus a única voz que se faz ouvir não brota dos meus lábios, mas de minha consciência.[5]

A Graça gera auto-consciência! E quem deseja ter uma? Muito pouca gente!

A maioria não deseja ter que decidir e assumir a responsabilidade de ter exercido a sua própria consciência diante de Deus e dos homens, e, sobretudo, diante de si mesmo. [6]

 

Portanto, quanto mais Moral é um ser, menos consciência pessoal ele tem![7]

 

Consciência pressupõe a pré-existência de liberdade, e, esta só se manifesta em plenitude na Graça, pois, é somente nela que se perde o medo de ser![8]

A questão é que a maioria das pessoas pensa que liberdade induz ao erro.

Nenhum erro poderia ser maior![9]

Paulo nos ensina que quanto mais Lei ou Moral, mais conhecimento do pecado. E, sendo assim, mais a neurose do pecado se instala em nós.[10]

Ou seja, a Lei gera a certeza da culpa e esta nos deita nos braços do pecado. E por quê? Porque a Lei gera neurose, que produz a obsessão de vencer por conta própria “o pecado que habita em mim”, segundo Paulo.

E é Paulo também, como já vimos anteriormente, quem nos diz que a impossibilidade da Lei ser efetiva quanto a nos fazer viver com saúde vem do fato de que o condutor dela, o homem, está em estado terminal; ou seja, a inviabilidade da Lei é que ela se materializa pelo condutor essencialmente adoecido da natureza humana.[11]

O paradoxo acontece quando se descansa em Cristo e em Sua Graça e, assim, pára-se de lutar contra si mesmo.[12]

Jesus já agradou a Deus em meu lugar![13]

E quando sou liberto de todo medo pelo amor de Deus revelado na Cruz pois no perfeito amor não existe medo de nenhuma forma de juízo[14]—, então, a alma encontra o seu ninho e experimenta uma paz que não foi produzida pela justiça-pessoal desse “pseudo-herói-humano das virtudes auto-conquistadas”.[15]

Ao contrário, “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele (Jesus) e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Assim, os doentes já estão sarados para poderem ser curados à medida que descansam no amor que tira da alma toda fobia, toda dívida e toda neurose.[16]

Ora, quando isto acontece o mundo deixa de ser um lugar onde sou tentado, e passa a ser o lugar onde eu vivo. Não sou tirado do mundo, sou livre do mal.[17] E isto só acontece quando se entende que esse “mal” nasce, antes de tudo, dentro daquele para quem todas as coisas são impuras.[18]

Somente a Graça torna todas as coisas puras, para os puros.[19] E é também a Graça que nos liberta dos tabus em relação a tocar coisas, nos salva do poder sedutor dos objetos estéticos de apreciação; e ainda dos gostos, das opções e escolhas de natureza pessoal; pois, é apenas quando a vida é desdemonizada  que se pode experimentar a plenitude dos nossos sentidos, sem nos deixarmos tomar pela sensualidade escravizada pela obsessão da sedução ou da posse.[20]

“Os olhos são a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso”—disse Jesus ·

Desse modo, repito: quanto mais a consciência está livre da culpa e do medo que advêm da fobia gerada pela Lei, mais livre estará o inconsciente humano de ser um projetor de sombras, pois, agora, esse modo luminoso de ver a vida, gerará uma luz interior que procede do inconsciente e reafirma as escolhas da consciência entregue à Justiça da Graça que vem da Cruz!

“Na Tua Luz vemos a luz”, já dissera Davi.[21] E, assim, ele corrobora o fato psico-espiritual que é gritado nos evangelhos e, especialmente, por Paulo.

Todavia, o mais chocante de tudo isto é que Jesus afirmou “aos amigos de Jó” de Seus dias — os religiosos que praticavam a Teologia Moral de Causa e Efeito — que sua cristalização à Lei e seu legalismo exterior, os havia tornado “filhos do diabo”; e, portanto, isto os colocava na posição de “querer satisfazer-lhe os desejos”.[22]

O intrigante é que esse discurso de Jesus não é dirigido aos que “quebravam a Lei”— meretrizes, publicanos e demais pecadores —, mas diretamente aos que se diziam os “mestres de sua observância”. Para Jesus, esses eram os seres com maior poder de corromper e afastar o outro da experiência genuína de Deus.[23]

E pior ainda, no contexto no qual Jesus faz alusão aos “filhos do diabo”, Ele afirma a existência de uma assembléia para tal declaração.

E que “assembléia” era esta?

É justamente aquela que levara a Jesus uma mulher “apanhada em flagrante adultério”, e que deveria, de acordo com o literalismo utilitário com o qual eles liam as Leis de Moisés, ser morta por apedrejamento.[24] A esses é que Jesus faz freqüentes referências à “vossa Lei.[25]·

Ora, era a observância externa daquela Lei aquilo que os fazia “andar em trevas”, pois, o próprio Jesus lhes diria mais tarde:

Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis, nós vemos, subsiste o vosso pecado·

A questão, então, é: de onde procede a declaração de Jesus a esses amantes exteriores do comportamento legal e moral, com suas obsessões de causa e efeito?

De um equívoco no entendimento do significado da Lei, pois, como diria Paulo, a “Lei foi dada para que avultasse” a consciência de pecado, e, portanto, para que pudesse haver uma consciência-consciente de sua irredimibilidade pelos instrumentos da Lei ou da Moral[26].

Então, quais são esses “desejos do diabo” que aqueles que estavam diante de Jesus desejavam realizar, sem o saberem e mesmo enquanto exaltavam sua filiação a Abraão?

Ora, tratava-se da “obsessão” de ser de Deus pela via da justiça própria e mediante o uso da Lei para poderem se tornar “homicidas” em relação ao próximo que não sabia, não queria, não se estimulava ou não cria naquela observância.[27] A esses, eles desejam matar. Era uma “plebe maldita”, tornaram-se “párias” da religião, e foram sempre percebidos como os “perdidos da terra”.

Pois foi justamente entre esses que Jesus se sentiu melhor na terra e foi do meio deles que Ele recrutou os seus primeiros seguidores, tendo sido acusado, por causa disso, de ser “amigo de pecadores”.[28]

Que desejo do diabo, então, era esse que os “filhos de Abraão”, a todo o custo, desejavam “satisfazer”?

Jesus diz claramente que era o da Teologia Moral de Causa e Efeito!

Era isto que gerava aquela compulsão homicida neles. E que era dirigida não apenas à “mulher adúltera”— que quebrara esse princípio e agora deveria experimentar o efeito como morte por apedrejamento —, mas, também, dirigia-se a Jesus, que não observava tal “mandamento”, no que tangia à sua aplicabilidade: “que tais mulheres sejam apedrejadas”— conforme vaticinavam os senhores do saber e da verdade. [29]

Jesus se sentia perdendo menos tempo escrevendo um compêndio de verdades no “chão da terra”— mesmo que o vento apagasse em horas o que Ele escrevera no chão — do que dando atenção a pedradas-reflexões desses seres adoecidos pela Moral e pela presunção da verdade.[30]

Não há compulsão satânica mais forte na alma que aquela gerada pelo fanatismo à Teologia Moral de Causa e Efeito!

Esse é o “desejo do diabo” a ser satisfeito pela Lei e seus discípulos!

E quando vemos sua prática de modo grotesco, nos chocamos, como, por exemplo, quando homens-bomba, pilotos suicidas, terroristas jovens e outros fanáticos, crendo nessa Teologia, punem seus “opressores” com a morte e entregam-se a ela por uma razão: a teologia deles também é uma Teologia Moral de Causa e Efeito![31]

E, assim, voltamos ao princípio outra vez:

Sempre que o consciente humano se deixa intoxicar dessa “Teologia Moral”, o inconsciente humano se enche de juízos, homicídios, taras, compulsões, e, também, por campos imensos de sombras, habitadas pelo monstro maligno que cresce nos labirintos da alma daquele que troca a verdade no íntimo pelas performances exteriores, praticadas em nome de Deus, contra o próximo, porém, realizando, de maneira dissimulada ou inconsciente, o desejo do “pai-diabo”, que sempre vem para “matar, roubar e destruir”.[32]

Desse modo, devo outra vez afirmar que quanto mais Moral for o consciente, mais pagão será o inconsciente humano. E Paulo, melhor que ninguém, expressa esse fato da alma:

 

“Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem toda a sua vida? Ora, a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias. Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus”.[33]

 

Paulo diz que na Cruz todos nós, que um dia estivemos casados com a Lei, nos tornamos viúvos desse ex-marido tirânico e despótico, que foi executado em Cristo e no cumprimento de toda justiça por Ele realizada a nosso favor, a fim de que agora possamos nos casar sem culpa e sem nada além da chance de um novo amor: o amor de Cristo que nos constrange e ser Dele por nada que não seja uma consciência grata e satisfeita.[34]

Em Cristo fiquei viúvo da Lei para sempre!

E Paulo prossegue dizendo como o consciente-moral exacerba o paganismo do inconsciente:

“Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte. Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra”.

Que diremos, pois? É a lei pecado?

De modo nenhum!

Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado.

Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte. Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou. Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom.

Acaso o bom se me tornou em morte?

De modo nenhum!

Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado.”

 

E neste ponto, Paulo mostra o nível dessa composição adoecedora: quanto mais Lei no consciente, mais desordem, caos e erupções compulsivas derramam suas lavas do fundo do inconsciente humano.

E mais, ele diz que essa não é uma “produção da Lei”, sendo antes disso uma geração do “pecado que habita em mim”, mas que ganha sua superlativação pela observância externa, moral e auto-justificatória que se deriva de todas as formas de tentativa de ser de Deus pela via de algum Código de Observância Legal:

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto”.

Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.