—– Original Message —–
From: É PRA ACABAR 30 DIAS ANTES?
Sent: Wednesday, August 29, 2007 11:11
Subject: Socorro
Prezado Caio,
Não sei se vai lembrar de mim, sou a noiva do A. A.
Em 2004/2005 passamos por uma crise e foram suas palavras que nos ajudaram bastante.
Hoje venho aqui te contar o meu pior pesadelo…
Dia 15/09 seria nosso casamento, ontem dia 26/08 ele desmarcou tudo.
Não disse uma razão palpável, não me deu um motivo…
A cerimônia iria ser como sempre sonhei — com o amor da minha vida, e abençoada por Aquele que sempre nos confortou.
Peço sua ajuda para não transformar tanto amor no mais puro ódio.
Um abraço,
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Resposta:
Amada amiga: Graça e Paz!
Só posso agradecer a Deus por ter dado ao moço a coragem de não magoar você o resto da vida, tendo tido a bravura de fazer um “vexame” agora do que fazer uma “tragédia” amanhã — que é o que certamente aconteceria.
“You have got to be cruel in order to be good!” — diz o ditado inglês.
É obvio que ele não queria ser cruel com você para poder ser bom para você.
O que aconteceu é que ele acabou por fazer uma crueldade antes que um dia fizesse uma perversidade; a qual seria, depois de vários filhos, dizer que casou por qualquer razão que não tivesse sido amor da cabeça aos pés.
É claro também que ele não chegou aonde chegou — tanto para quase casar como também para terminar antes de casar — sem certeza e dúvida.
Foi certamente pela admiração, pelo carinho, pela fé, pela amizade e pelo desejo que ele quis casar. Mas certamente foi por ter verificado que carinho não banca casamento; que admiração é fundamental, mas não é o essencial; que amizade é essencial, embora ainda não seja a essência; e que sem desejo todo casamento é uma sala de estar [quando é bom] ou uma UTI [quando é ruim]; mas que, por outro lado, casamento tem que ter bem mais do que apenas desejo — Sim! provavelmente [quase certamente] ele terminou agora por todas essas razões [ou por qualquer que seja a razão], aquilo que já nasceria acabado se ele não tivesse parado antes…
Agora, sua descrição me angustiou. Veja:
“A cerimônia iria ser como sempre sonhei — com o amor da minha vida, e abençoada por Aquele que sempre nos confortou.”
Ora, ao fim você diz:
“Peço sua ajuda para não transformar tanto amor no mais puro ódio.”
O que você me transmitiu para além das palavras foi o seguinte:
1. Ele era mais seu sonho do que seu amor. Por isso o ódio pode ser “puro” e o amor foi apenas “tanto”.
2. Seu sonho o incluiu porque ele era perfeitamente incluível.
3. Seu grande amor é o seu sonho.
4. A “cerimônia” [com a ênfase que você deu a ela] mostra o nível de fantasia de sua alma.
5. Para você a fonte do ódio é dupla: o sonho acabado [por hora] e o que as pessoas dizem: o vexame.
6. Esse ódio puro ou puro ódio é sentimento de menina apaixonada pelo Castelo, pela corte e pelo Príncipe — nesta ordem.
7. Seu grande casamento seria com o “seu casamento”, do qual ele [o quase marido] faria parte.
Assim, dou Graças a Deus mais uma vez!
Ora, embora o ideal seja que ninguém chegue tão perto de algo já tão falado e arranjado, a fim de dizer “Eu estava enganado”; ou: “Não vai dar!” — mas ainda é melhor do que jamais.
Entretanto, como diziam os antigos, “antes tarde do que nunca”; pois, se ele não tivesse feito o que fez…, o relacionamento de vocês que já vinha sendo “salvo pela pregação”, não sobreviveria muito tempo [pois, casamento não deve ter que ser salvo por mensagens de outros] —; e, sendo assim, casando, em pouco tempo, você estaria me escrevendo se queixando dele; depois dizendo que ele estava grosso; depois que ele estava estranho; depois que ele já não procurava você na cama; depois escreveria dizendo que achava que ele estava tendo um caso; e, por fim, que ele estava tendo um caso; então, que ele era um cretino, um canalha, que enganou você tantos anos, e que deveria ter terminado antes de casar, se era para cometer uma calamidade assim.
Então, me diga:
O que você prefere: a verdade mais verdadeira ou a mentira mais cerimoniosa e bela?
O que você prefere: um marido estátua e troféu, que trata você com carinho, respeito e admiração devidos a todo outro ser humano que nos trate bem; ou um homem apaixonado por você, e que casaria com você embaixo da ponte, e alguém com quem você nem sonharia com cerimônias [elas seriam naturais…] tamanha seria a sua vontade de casar com ele sozinha embaixo de uma Jabuticabeira?
Veja bem. Se você o amasse mesmo, você estaria triste, muito triste mesmo, mas amando a honestidade dele para com você, e, mesmo em dor, abençoando-o de coração.
Qualquer coisa diferente disso não é amor!
Assim, unamo-nos em oração de gratidão a Deus por menos um equivoco cometido em nome da Etiqueta, da ética, e da sociedade já informada de que o que não era, iria ser… — mas apenas para inglês ver.
Você me compreende com o coração?
Se tivesse sido com minha filha eu agradeceria ao rapaz!
Receba meu carinho e a certeza de que tudo isto vai fazer você melhor, mais madura e mais amante da verdade.
Portanto, nem queira saber por que ele decidiu não casar. O silencio dele é a resposta. Contente-se em Deus; e coma no “pratinho” da vontade Dele.
E mais: enxugue as lagrimas e olhe para frente. Você ainda não viu nada…
Nele, que nos salva de muitos dos nossos sonhos,
Caio
30/08/07
Manaus
AM