COMO POSSO ESQUECER A LEI?

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: COMO POSSO ESQUECER A LEI?

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Sent: Wednesday, September 19, 2007 16:57

Subject: o que Deus não explicou

 

Prezado Caio Fabio,

 

Estou há algum tempo afastada da instituição igreja, por uma série de razões, especialmente por não entender porque razão o que foi revelado aos pequeninos, que Jesus exaltou, quer dizer. Será que aqueles mais humildes, ignorantes e manipuláveis, com pouco senso crítico, são os únicos a quem Jesus realmente falou? Digo isto porque nós os entendidos, letrados (é defeito ser culto?) estudiosos da verdade (a qual busco sem cessar), precisamos de pastores que revelem o que realmente Jesus quis dizer nos poucos 3 anos em que esteve na Terra e isto os pastores não sabem transmitir.

 

Meu marido é espírita kardecista e após assistir algumas palestras deles, percebi que o lado filosófico e científico do espiritismo elucida muitas coisas sobre o evangelho.

 

Tenho pensado muito sobre a psicopedagogia de Deus, que durou milhares de anos e ficou marcada em nossas mentes, em comparação com os 3 anos de mensagem de Cristo, sem maiores delongas, nem posterior relacionamento individual com os homens em seus casuísmos.

 

É uma verdadeira covardia! O modo como fomos tratados por Deus em séculos de legalismo não pode ser apagado de nossas mentes por 3 anos de parábolas!

 

Os cristãos, leia-se pastores, recorrem frequentemente ao velho testamento, onde a relação era do tipo “escreveu, não leu, pau comeu”. O rigor imperava e a punição também. Se Deus se mostrou a nós desta forma, ficou marcado em nossa psique o seu exemplo, como que os inimigos devem ser mortos, que o perdão é condicional, assim como o amor, que quem sair dos trilhos deve ser punido, sem perdão. Não dá para concorrer com o novo testamento, que não traz em sua narrativa estórias de comunicação com Deus após a ressurreição de Cristo. Então quando alguém pergunta o que fazer com relação a qualquer tema, recorre-se ao velho testamento, vez que não temos nada no novo.

 

Assim estão as igrejas se portando, e por isso o cristianismo no Brasil não faz diferença, pois não tem em si nenhuma boa-nova.

 

Os gentios são mais benevolentes e os cristãos intimidam a cumprirem a lei através do medo.

 

Ora, assim não dá, pelo medo não! Se há uma lei devemos entender qual a razão dela, porque ela diz tal coisa e aí cada um vai fazer seu julgamento  próprio e decidir qual o caminho que tomará, levando à verdadeira liberdade. É mais ou menos assim que os espíritas estudam o evangelho,ou seja, ensinar a pessoa a agir de tal maneira, ciente das conseqüências de seus atos, educando, não impondo pelo medo, vez que crêem no inferno, porém em reencarnação para posterior continuação do aprendizado. Será que não é possível que os pastores também preguem nos púlpitos de maneira mais inteligente, explicando, p.ex. por que não se deve fazer sexo antes do casamento? Porque tem que ser assim: o fiel deve obedecer a lei que diz: “não farás sexo antes do casamento”, sem entender porque Deus recomendou isto? Por que não dizem: olha meus irmãos a escolha é sua, mas é melhor não fazer sexo antes do casamento porque a jovem pode engravidar antes do tempo, o que vai comprometer todo o relacionamento, ou porque é importante honrar o principio da fidelidade, da pureza, do compromisso que espera, pois é amor…e assim por diante…; e não simplesmente obrigar o crente a seguir a lei na escuridão.

 

Creio que o esclarecimento de tudo é importante e que o livre-arbítrio é assumir cada um suas decisões, o que só é possível se formos bem orientados e não coagidos ou aterrorizados.

 

Por favor, querido irmão, conte-me o que você acha desta questão da pedagogia que Deus usou no princípio para nos educar (não conhecia ele nossa psique?) e que depois deveria mudar, inclusive em nossas mentes e em relação ao nosso próximo, com a nova aliança, mas que ficou sem peso de comparação. Faltou ao novo testamento peso histórico para mudar toda a mente humana na forma de ver Deus e o que ele realmente quer. Afinal, dizem hoje em dia que é melhor educar do que reprimir, mas se o exemplo que tivemos de Deus foi na base do olho por olho, dente por dente… O que você pensa? Recorro a você que é um homem de mente aberta e inteligente, pois vá perguntar isto a um pastor da assembléia de Deus, p.ex…

 

Um abraço,

 

C.L.

RJ, capital.  

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Resposta:

 

 

 

Minha amiga querida: Graça e Paz!

 

 

Cada um tem com “Deus” a história que com “Deus” teve.

 

Por exemplo: eu nasci ouvindo tudo o que você ouviu e lendo tudo o que um cristão evangélico de origem presbiteriana lê, e nunca tive sequer por um momento e impressão traumática que você teve.

 

Pergunta:

 

Será por que três anos de Jesus não podem competir com os 1000 anos de Moisés antes?

 

Mas e quanto tempo faz que o trauma histórico da Cruz do amor de Deus aconteceu?

 

Não faz historicamente dois mil anos?

 

Ora, então, Moisés teria menos poder traumático do que o trauma positivo do amor da Cruz!

 

E por que não é assim?

 

A resposta, portanto, nada tem a ver com as tolas linearidades históricas, mas sim com a não absorção do trauma do amor, conforme o Evangelho de Jesus.

 

Sim! A questão é apenas de natureza existencial. Afinal, o trauma de Moisés continua vivo em você porque você cresceu não sob o Evangelho, mas sob a Lei dos Evangélicos.

 

Seu problema, portanto, nada tem a ver com ser inteligente ou não, ou, tampouco, em se categorizar entre os cultos e entendidos… Tudo isso é parte das tolices nas quais você foi ensinada; e é sua reação tola a elas; e nada além disso.

 

Portanto, aqui não falamos de cultura, mas de psicologia e de trauma.

 

Eu, por exemplo, não tenho a ver apenas com os três anos de Jesus na Palestina, mas com os 53 anos Dele comigo e dos meus 35 com Ele!

 

Sua alusão final à Assembléia de Deus mostra qual é seu background. E mais: explica seu trauma.

 

O que é uma pena é ver você na ilusão de que isso tem alguma coisa a ver com Deus, sem ver que isso tem apenas tudo a ver com “Deus”.

 

Foi uma pena que você me escreveu pelo meu e-mail que circula por aí, sem ter jamais se dedicado a ler o que penso, e que está tão claramente explicitado no meu site. Pois, caso tivesse lido, não teria me escrito a carta de hoje, mas uma outra, na qual você diria:

 

Caio, como eu faço para ficar livre da “Potestade do Deus da Religião”, a qual [a potestade] me oprime a mente, e me tira da alma toda e qualquer possível ternura na fé, pois, fui educada sob um Alá que atendia pelo nome Jesus, o que até hoje me deixa perdida e confusa, a ponto e de eu estar quase me tornando Kardecista?

 

Sim! Veja que seu problema é tão psicológico que até seu coração se inclina para o “Deus Kardecista”, o qual é ainda uma versão menos light de “Deus” do que aquela que o Evangelho de Jesus ensina; pois, no Evangelho é Graça e no Kardecismo é a Lei da Reencarnação. O que algo interminável e cruel; posto que põe sempre o individuo no reciclo da existência sem memória alguma de nada anterior, supostamente para evoluir do nada consciente…

 

Portanto, seu problema não é presença do peso do V.Testamento em você [se eu cresse na reencarnação, para mim isso sim seria um peso], é o vazio de Evangelho em sua alma e em seu espírito.

 

Afinal, quem pode em tais ambientes de “pedagogia evangélico-islâmico” encontrar inspiração para andar em paz e confiança?

 

Assim, minha resposta a você é simples: leia este site todo, e, se ao final você continuar com as mesmas questões, então me escreva; pois, eu sei que suas questões não vêm de sua mente, mas de sua alma traumatizada pela presença da Lei.

 

 

 

Nele, acerca de quem se diz: Pois o fim da Lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que crê,

 

 

 

Caio

 

18/09/07

Manaus

AM