—– Original Message —–
From: PSICOLOGIA E DIREITO
Sent: Tuesday, October 30, 2007 08:12
Subject: Sei que és muito ocupado, mas…
Oi Caio!
Eu já estive em contato com vc através de e-mail.
Sei que vc é muito ocupado, mas pensei que com a sua profundidade de pensamento e sua visão ampla inclusive da ciência – percebo isso em vários textos que vc escreve – e também por você ser um profundo conhecedor da alma humana e Psicanalista, pensei que seria uma pessoa a quem eu não poderia deixar de me dirigir nesse momento.
Depois de muitos percalços, finalmente decidi tentar um mestrado, só que não na área de que realmente gosto, Psicologia, mas na que sou formada – Direito. Como não poderia deixar de ser, cá estou eu tentando fazer um projeto de pesquisa que envolva as duas, para ver se torno a coisa mais interessante e “pesquisável” para mim.
Pra não tomar muito o seu tempo, lhe pergunto: você teria algum tema interessante para me dar como dica, que envolvesse as duas áreas?
Já mandei mensagens para professores de mestrado de Direito e de Psicologia, mas ninguém me retornou. Estou no Orkut tentando localizar pessoas na área. Sei que a UFPR tem um núcleo de psicanálise e direito e já enviei mensagem.
Mas eu gostaria muito de ouvir vc nesse momento. Por que sei que o seu pensamento é inovador e eu gostaria muito que esse trabalho fosse algo novo, não apenas pelo fato da novidade em si, mas para ser uma nova maneira de pensar o Direito.
Pensei na Psicanálise como um novo paradigma para o Direito, pois ela revolucionou o “penso, logo existo” de Descartes para inserir o conceito de Inconsciente. A meu ver, isso alterou a própria noção de livre-arbítrio, e, conseqüentemente, vai afetar a noção de responsabilidade tão necessária ao Direito.
Esse é apenas um ponto a ser questionado dentre milhares.
Mas pra ser sincera estou pensando tanto que minha mente já está ficando cansada. Ainda não consegui escolher o tema e caso eu passe na prova terei que apresentá-lo já em dezembro.
Se tiver alguma idéia que puder compartilhar, me ajude.
Um abraço e muita PAZ.
Marise.
___________________________________
Resposta:
Querida Marise: Graça e Paz!
Seu projeto é interessante. E deve ser perseguido com todo carinho e cuidado. Carinho porque o tema é delicado. Cuidado pela mesma razão.
Aqui mesmo no site você pode ler textos e mais textos do tipo dos que listo abaixo:
Meu modo de ver as coisas não tem nem na Psicanálise e nem na Filosofia – nem mesmo na filosofia teológica – seu embasamento. Minha percepção da alma humana vem da Escritura, de Jesus, de mim mesmo e da intensa observação à qual me dedico há anos.
Se eu tivesse que dar um nome ao tipo de “psicologia” que pratico, a chamaria de Psicoterapia Interparticipativa e Confrontacional, pois ela se baseia no modo do Evangelho, que era participativo e confrontacional ou neutético, conforme a palavra que Paulo mais usa a fim de caracterizar os mandamentos da mutualidade – os tais “uns aos outros”.
Se eu tivesse que lhe propor uma imagem bíblica como parábola para o desenvolvimento de sua tese, ou se eu mesmo a fosse escrever, certamente elegeria o episódio de Jesus crucificado ao lado de dois malfeitores, sendo que um deles segue até o fim como malfeitor até quando interpreta o final da própria existência, enquanto o outro paga o que seus feitos deviam à justiça social e legal, embora fique isento da culpa de tais atos pelo perdão que existe, e ele nele crê, e, por isso, o recebe.
Aqui está o vértice mais decisivo a demarcar o ponto de encontro entre a Psicologia e o Direito, pois pela Psicologia o homem foi curado, e pelo Direito ele foi punido.
O Subjetivo (que acontece entre o homem e Jesus) pertence à Psicologia. Já o Objetivo (a Cruz e a pena) pertencem a César e ao Direito Romano.
No mundo do Direito, entender tais distinções será útil apenas no que tange – e já é muito! – a oferecer “punições” ou “penas” em “ambientes adequados” e de modo a visar atingir o objetivo da cura ou reabilitação. Ou, em alguns casos, na determinação de um tipo de reclusão – ainda que perpétua -, porém, adequada ao nível de necessidade de tratamento que o tal apenado teria.
Na Cruz, Jesus não aceitou o pedido do malfeitor que queria isenção total, pois aquele que não vê seus erros não pode andar livre, visto ser um psicopata.
Entretanto, o pedido do malfeitor culpado, e, portanto, perdoado pelo reconhecimento arrependido (metanóia), recebe perdão subjetivo, mas, mesmo assim, cumpre a pena até o fim.
Com isso, parece ficar claro que o maior benefício de tal discernimento e distinção é mais de natureza psicológica do que legal, posto que a sociedade não tem muitos meios de avaliação da subjetividade e nem poderia se regulamentar por ela. Porém, como disse acima, o só discernir tais diferenciações e fazer encaminhamentos para tratamentos ou aprisionamentos adequados ao nível de problema já é um imenso avanço.
Além disso, partindo da imagem-parábola que lhe sugeri, você pode fazer toda sorte de viagem, pois o episódio é rico em suas inúmeras variações e leques de conexão com assuntos decorrentes do mesmo tema.
Lamento a pressa, mas estou aqui me preparando para ir a Israel e ainda tenho que gravar umas 4 horas de televisão.
Receba meu carinho e meus votos de todo sucesso em seu trabalho.
NEle, em Quem estão todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento,
Caio
30/10/07
Lago Norte
Brasília
DF