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From: QUANTAS LÍNGUAS VOCÊ FALA?
Sent: Monday, July 07, 2008 11:04 AM
Subject: Quantas línguas vc fala?
Caio,
Li uma pequenina reportagem, divulgada pela agência de notícias “Reuters” (24/06/2008), com o título “Quem fala mais de um idioma muda de personalidade“; fundamentada em estudo da Universidade de Wisconsin-Milwaukee (EUA): viu-se que ao falarmos este ou aquele idioma, tendemos a, sob alguns aspectos, mudarmos a nossa personalidade, e que tal mudança é mais “rápida e perceptível” em quem, além de falar dois idiomas, “vivencia” duas culturas (bi-cultural, além de bilingue).
Achei interessante porque, embora a reportagem não diga, as pessoas, ao falarem tal ou qual idioma, findam evocando “arquétipos ou paradigmas” (midiáticos, no mais das vezes) representativos da cultura relativa ao idioma e respectivos rótulos e “pré ou pró conceitos”: japonês é mais contemplativo; americano é consumista; italiano é sedutor; as mulheres inglesas só pensam em trabalho; indianos isso, brasileiros aquilo…coisas assim; conforme o nível de “conhecimento informativo (ou desinfomativo…risos)” do modo rotulado de viver de dado povo.
Aí, quando, além de a pessoa “falar” dois idiomas, ela “vivencia” duas culturas (um brasileiro que vive entre brasileiros e que trabalhe e estuda com americanos…), a mudança de “personalidade” seria mais veloz/imediata.
Claro, embora a reportagem não fale, ela não considerou o nível de “consciência de si mesmo e da realidade” (maturidade espiritual e psíquica) das pessoas que falam mais de um idioma: certamente, quanto mais “maduro” (“hebreu maratonista”) alguém for, mais imperceptível a alteração de personalidade será, pois ela apenas se “comunicará” em outra língua (muda a forma, permanece o conteúdo).
No contexto, é inevitável não pensar no idioma do evangelho (o amor) e no fato de que, enquanto ele for apenas “informação re-mixada pelo gueto religioso”, nossa “transformação” apenas temporal e exterior, ocorrerá só no cultos e ambientes correlativos; e se limitará a aspectos morais ou comportamentais daquilo que apreendemos ser a cultura associada (maneirismos, palavras de ordem e emoções).
A pluri-culturalidade de quem fala (melhor: de quem “VIVE”) a linguagem do amor nos capacita a não sermos notados enquanto iluminamos e temperamos os ambientes, sejam quais eles forem (sendo nós “mudos” ou “poliglotas”…).
A fé, a esperança, a mansidão, o amor, a caridade, a compaixão, o perdão, a misericórdia não têm “limitações idiomáticas” (as “religiões”, as “igrejas”, têm…), e, quando exercitadas, todas elas, ativam – como um “idioma – áreas de cultura específica no ser (eis a grandeza e a profundidade das parábola, estórias e vivências de Jesus…ABC eterno, palavra encarnada da linguagem do amor).
Estou aprendendo (…risos): “– Vc. aí no fundão, atenção na lousa de Marcos, de Mateus, de Lucas e de João; “B” com “A”…”BÁ”“.
Abção,
Habib
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Resposta:
Mano muito amado, Habib! Graça e paz sejam sempre com você, a Nat e os filhos!
Mano, aprendendo? Sim! Sempre! Mas o que você expôs em palavras é o que eu vejo em sua vida desde antes de você dizer em palavras.
A encarnação sempre precede o dizer!
Nietzsche disse que examinou os evangelhos e não viu “uma gota de alma”
Jesus não tinha “uma alma”. Se tivesse, seria apenas profundamente sentido e entendido pelos “judeus naturais”. E mais: identificar-se-ia apenas com os seus iguais.
Jesus, todavia, poderia ser Asteca e, ainda assim, seria exatamente Ele mesmo!
E por quê? Ora, você respondeu em outras palavras que a linguagem do amor é universal e seus modos não mudam: sempre vendo o bem do próximo e de todos!
Onde Nietzsche não viu “uma alma” eu vejo “todas as almas”. Por isto, vejo Jesus sempre amando a todos até quando os confronta. É o caso do Jovem Rico que foi embora triste sem saber que era muito amado. Mas Jesus ama ao ponto de deixar ir. Ora, era em tal amor purificado de ter apenas “uma alma” que Jesus amava a todos.
As almas são muitas. Mas o amor é um. Assim, o amor é também espírito, pois Deus, que é espírito, é amor.
O que realmente altera a personalidade é amor ou ódio ou, ainda, as formas mais difusas do último, como indiferença, arrogância ou o oposto: complexo de inferioridade.
Entretanto, a experiência “transcultural” tem sua força justamente em razão de como as pessoas sejam ou estejam.
Aos 33 anos decidi aprender inglês que me facultasse pregar pelo mundo afora. Mudei para a Califórnia. Comecei como um imbecil. Tímido. Gago. Pequeno. Me sentindo de calças curtas. Mas querendo aprender. E me submeti a tudo o que fosse aprendizado. Meses depois pregava
Para mim o inglês se tornou uma espécie de Jiu-Jitsu lingüístico. Sim! Assim como o Jiu-Jitsu me deu segurança física relativa, o inglês me deu segurança de comunicação universal relativa. Alterou alguma coisa no meu dia a dia? Não! Mas me deu passos mais firmes mundo afora.
Aprender outra língua é como aprender a nadar num rio, no mar ou no oceano — dependendo do alcance universal do idioma.
Certamente dá mais liberdade à pessoa, sem falar que abre muitos outros mundos e alternativas.
Desse modo, concordo com você em tudo, como sempre. Afinal, você fala a língua na qual não há equívocos: a do amor!
Um beijo carinhoso e amigo!
Nele, que fala a todos,
Caio
8 de julho de 08
Lago Norte
Brasília-DF