—– Original Message —–
From: ACHO QUE A PAZ ESTÁ ME POSSUINDO…
Sent: Tuesday, September 09, 2008 8:32 PM
Subject: Breve alô.
Querido irmão!
Nem sei bem por onde começar, pois, há muito queria lhe escrever, e vem aumentando a vontade cada vez que o ouço pela rádio e pela TV do site.
Tentarei ser direto.
Acabei de lhe ouvir novamente no texto de Mateus 6 sobre uma das maiores enfermidades que se apodera do crente, a ansiedade. Em um dado momento apenas fechei os olhos e deixei você decodificar a paz que sinto já faz algum tempo, quando veio uma enorme confiança no amor de Deus por mim e pelos homens.
Não tenho tentado explicar para as pessoas, pois, parece mesmo que não passa nada pela razão, e assim ficam apenas olhando sem entender o que se passa com os nossos olhos e ouvidos, que se tornaram bons, e, por isto, todo nossa vida também se tornou.
Eu não sei bem como Deus foi fazendo, mas sei que a partida do pastor Caio ajudou a mexer ou iluminar verdades e realidades por demais singulares e poderosas sobre Jesus, amor, confiança, vida essencial, valores do reino, gente, etc. — que inclusive ele mesmo vinha tentando me ensinar, há muito tempo.
Como ele estava não apenas certo, mas quilômetros na minha frente, e eu nem percebia bem.
Hoje eu sei, pois, entendi. Alias não é bem entendi, mas experimento a bondade de Deus arrebatadora que redimensiona bem todas as coisas.
Mas também estou lhe escrevendo para dizer que quando lhe ouço verifico que o que você extraiu da revelação de Deus passa exatamente por estes valores, sentimentos, amores, simplicidades e prazer da companhia de Jesus, do infinitamente mais digno, só por ser Dele.
Fico tão feliz de ver que você já deve ter esta compreensão no coração há muito tempo. Eu entendo bem o que você quer transmitir, glória a Deus.
Jamais quero sentir um pouquinho de vergonha de você, pelo contrário, sinto, às vezes, vergonha de mim, por não ter confiado mais ainda no grande amor de Jesus por ti; te confiando grande graça e compreensão Dele mesmo; e, assim, lamento não ter te defendido mais, mas eu também não entendia bem sobre a misericórdia, eu acho.
Por enquanto é só, assino totalmente embaixo daquilo que você quis nos ensinar hoje, pois, hoje, eu digo: é exatamente assim. Amem.
Com amor e saudade.
Haroldo
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Resposta:
Meu mano muito amado e, também, filho na fé de minha juventude: Graça e Paz!
“Meu amado amigo e presbítero Haroldo” — como meu pai chamaria você, sem nenhuma formalidade, mas significando cada palavra por ele pronunciada —, saiba:
Sua vida me enche de prazer e alegria desde há trinta e dois anos, quando a Graça encheu você do amor de Deus, ainda em Manaus, fazendo de você desde então o homem que você é, e a cuja constituição o Espírito acrescenta apenas mais do que já é seu em Cristo.
“Excede a todo entendimento”, por isto, é impossível explicar!
Sim! Ninguém sabe o que é até provar. Por isto Ele disse “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não vo-la dou como a dá o mundo”; pois, de fato, o mundo não sabe de tal paz.
De fato, tal paz nasce da falência de nossas presunções.
Enquanto busco a paz como equilíbrio pessoal, autocontrole, poder moral, serenidade psicológica, conduta reta, etc. — ela funciona, porém, apenas porque tudo esteja bem conosco.
Quando, porém, a existência acaba com nossos equilíbrios, desmonta nossos controles, agita nossa alma, arrebenta nossa conduta, ou qualquer outro trunfo moral que tenhamos, o que sobra é nada, é culpa, é medo, é angustia e é falência sem cura.
Então, logo se vê que não se tinha paz, mas apenas conforto psicológico.
É claro que tragédias não precisam acontecer a fim de que, falidos, nos rendamos ao poder que vem do nada; ou seja: que vem apenas da confiança no invisível e no amor que é e não se vê.
Entretanto, poucos são os que, pela própria consciência, em liberdade de entendimento, entregam-se à confiança enquanto tudo está bem. Sim! Na maioria das vezes isso somente acontece quando se perde tudo, e, em desespero, a pessoa se rende, visto já não ter alternativa.
O caminho de Deus, no entanto, é outro; e, apenas usa as dores e perdas desta vida a fim de curar da ansiedade e da incredulidade quando nosso coração se recusa a confiar antes de tudo perder.
O convite que Jesus faz aos homens é no sentido de que abracem sua falência; e, assim, se rendam a Ele, a fim de terem a paz e a mansidão existencial que nos vêm apenas Daquele que é manso e humilde de coração.
Ora, somente assim se encontra “descanso” para as nossas almas, pois, então, se aprenderá que o Seu jugo é suave e Seu fardo é leve!
Jesus manda tomar o Seu jugo e descansar. Pedro manda que sobre Ele sejam lançadas todas as nossas ansiedades. E Paulo diz aos Filipenses que o segredo está
Negar a si mesmo, conforme Jesus mandou, significa também desistir de toda argumentação de valor que nos envolva. Sim! Significa estar em pé apenas porque Jesus está!
Ora, quando desisto de ser meu próprio argumento para Deus e para a existência, e exclusivamente me fio no que Jesus já fez de modo irrevogável, então, estranhamente, essa paz que a toda explicação transcende, vem me habitar; aliás, vem fazer morada em mim; e mais: faz isto me mostrando que a paz não é minha, nem foi gerada por mim, pois, ela mesma me surpreende quando vejo que a paz é muito maior do que eu.
Daqui a mais quatro dias fará 1 ano da partida de papai para o Pai.
O interessante é que cada dia mais ele não vai, mas fica mais presente ainda em mim.
Toda hora me apanho ouvindo a voz dele me aconselhando como sei que ele diria de tudo.
É lindo sentir que ele se deixou aqui, em vida, em amor, em sabedoria, em fé, em exemplo, em confiança, em alegria e esperança imortal!
Papai nasceu sob o signo das perdas que são ganhos!
Nasceu aleijado, cresceu limitado, sofreu esperas impensáveis para fazer tudo, perdeu tudo, ganhou Graça, creu no amor de Jesus, viveu por Ele, embora, no processo, tenha sofrido todas as perdas: viveu com pouco, deu tudo; sofreu a perda da vista sem perder a visão; perdeu amores de modo impensável, sem perder a doçura; foi traído de modo horrível sem perder a esperança; sepultou filho sem perder a alegria da paternidade; e, sobretudo, sempre escolheu para si o que ninguém mais queria, o que deu a ele a capacidade linda de saber parar, se retirar, e ver com os cuidados da oração com confia aquilo pelo que ele havia vivido.
E mais:
Quando, depois de 1998, eu ouvia o que alguns filhos na fé e amigos da juventude, em Manaus, estavam falando de mim, e com ele eu reclamava, dizendo que não entendia, pois, na minha angustia, pensava: “Eles me conhecem” —; papai sempre dizia: “Eles são bons, meu filho, só estão perdidos, mas depois enxergarão tudo!”
Entretanto, vejo em mim mesmo que jamais teria chegado à paz de agora, sem que eu tivesse sido dês-vestido de todas as falsas seguranças e importâncias.
Somente o homem nu pode ser vestido pelas vestes que Deus faz!
Tem muita gente me ouvindo, e, do que ouvem, apenas se beneficiam da retirada de pesos mortos, mas não se apropriam do legado, que não é apenas um retirar, mas, sobretudo, trata-se de um receber, de um possuir; o que, inevitavelmente, somente acontece quando a gente morre.
Sem o morrer em Cristo para tudo aquilo que, em nossa arrogância, a gente chama de minha reputação, meu nome, minha dignidade, meu direito, minha força, meu ministério, meu dom, minha existência — nada do bem do Evangelho se manifesta em mim.
De fato, a vida de Cristo começa a se manifestar em mim somente depois que, em vida, morro; e, assim, passo a provar a paz que excede a todo entendimento, mas nunca antes disso.
Meu filho, mano e amigo na fé e na caminhada da esperança no Evangelho: receba todo meu amor, carinho e gratidão ao Pai pela sua vida!
Receba meu amor e o transmita à sua amada Elaine, também minha filha na fé em Jesus!
Nele, que nos chama às coisas excelentes,
Caio
10 de setembro de 2008
Lago Norte
Brasília
DF