—– Original Message —–
From: ESTOU PERDENDO A SANIDADE, ME AJUDE!
Sent: Tuesday, October 28, 2008 11:01 AM
Subject: Vivo como um louco!
Meu querido amigo Caio, graça e paz sejam contigo sempre, por meio de nosso senhor, salvador e amigo JESUS CRISTO.
Imprimi grande parte do seu site, que acho de extrema importância, e abriu minha mente para várias questões.
Mas apesar dos pesares tenho um problema grande amigo.
Sempre fui um caro legal, simpático e inteligente, querido por todos e tal, mas desde que saí de casa à cerca de três anos atrás, venho tendo pensamentos estranhos, vozes interiores e desde então fui entrando num buraco sem fundo, tornando-me uma pessoa depressiva, perturbada, por vir em minha consciência pensamentos ruins, estranhos e por meu corpo se tornar cansado, velho, mesmo na tenra idade. Passei por várias Igrejas com promessas de cura, vários psiquiatras que me diagnosticavam com os mais variados males mentais, como TOC, TDAH, Depressão Bipolar, DOC, TAG, Depressão severa, Síndrome do pensamento acelerado e assim fui aprendendo com cada remédio que passavam à dor de efeitos colaterais horríveis e que prometiam cura, mas nada meu amigo, só um paliativo que duraria no máximo alguns dias até a volta da desgraça.
A simples expectativa de voltar ao meu estado depressivo, me assustava, porque de fato é uma coisa infernal.
Ultimamente tranquei a faculdade, fui demitido do emprego (porque não conseguia sair da cama), larguei a Igreja, não leio mais a Bíblia, estou “estudando” para um concurso público.
Mas não consigo me concentrar, fico inquieto e minha mente cria ou fica a procura de problemas.
Sou um homem mau, meu amigo?
No que me transformei, Caio?
Não controlo meus pensamentos. Minhas alterações de humor me levam do céu ao inferno em questão de minutos. Vivo entrega à minha disposição mental reprovável e isso ta me levando para um inferno AQUI.
Minha família acha que está tudo bem, pois estou me tratando e não quero reclamar ou dizer nada, pois a ajuda que me dão comprando os remédios já é de grande valia e nessa de contar sobre meus pensamentos já me fizeram ser alvo de muito preconceito e teve gente que até ficou com medo de mim, por isso não compartilho com quase ninguém essas dores.
Depois de tanto tempo sendo jogado de um lado para outro, parecendo rato de laboratório, tomando tudo quanto é tipo de remédios (Rivotril, Carbamazepina, Trileptal, Depakote, Depakene, Ritalina, Carbolitium, Anafranil, Fluoxetina, Bupropiona, Valpakine, entre outros), não consigo mais me ver “bem”, “saudável”, “produtivo” e fico observando as outras pessoas e me impressiono com suas energias de todos os dias e por não se importarem com certas questões mentais, Invejo-as por isso.
Quanto a mim Caio, fico preso.
Tenho o sonho de ajudar muitas pessoas como eu a alcançar a paz, no entanto, eu mesmo não sei o que é isso.
Escrever livros, criar uma fundação para amparar tais pessoas, mas preciso sair vivo, lúcido da experiência pela qual estou a passando, e ao invés de ganhar força, parece que estou ganhando dores e colecionando fracassos.
São três anos meu amigo, de consultórios, conselhos, diagnósticos, promessas não cumpridas e a sensação de invalidez, de ver os sonhos sendo destruídos.
Parece uma constante guerra onde sempre minha idealização perde para a naturalidade do meu organismo, pré-condições mentais-orgânicas-espirituais.
Parece impossível ganhar a paz, e a tranqüilidade, Caio.
As pessoas dizem “não pense nisso, não imagine aquilo”; contudo , minha mente pensa, questiona, duvida, imagina, me testa, cria valores, são processos inevitáveis e que não posso evitar independente do que seja o conteúdo a ser evitado como “pensamento”.
Não quero ficar louco, meu amigo; nem virar um criminoso ou uma má pessoa (pelos maus pensamentos que o TOC gera e minhas próprias dúvidas); pois sempre fui um cara legal, pacífico; então, por que tanto tempo lutando contra algo que parece nunca ter fim e que me põe os mais variados medos e dúvidas?
São tantas as perguntas, Caio. Já me isolei, já larguei os estudos e vivo parte do meu tempo numa realidade interior, onde me julgo, exijo de mim, imagino-me nas mais estranhas formas e situações, perdendo o controle, machucando pessoas, virando coisas que não sou…
Não há como evitar, é minha mente, sou EU.
Continuo tomando os remédios e me arrastando como posso, mas espero em DEUS, pois acredito que ele está vendo o que estou passando e que quero sair disso, por mais que não consiga. Sei que ELE pode me ajudar e por isso não paro de clamar.
O que faço, amigo Caio?
Já não tenho mais dinheiro pra “doar” a medicina; perdi a fé depois de me drogar durante esses anos e participar de terapias cada vez mais inusitadas e que sinceramente não ajudavam em NADA; só frustravam mais pelo fato de não me sentir como eles diziam que eu deveria me sentir.
Sinto-me perdido, perigoso, sozinho, miserável; por mais que minha mente esteja lúcida e nunca eu tenha feito algo mal, nem desrespeitado as leis.
“Quando se tem uma doença mental, ser um doente mental é tudo que se faz o tempo todo” Sylvia Plant
Quero renovar minha mente, amigo; ter bons pensamentos e ocupar minha consciência com boas coisas; quero que DEUS purifique essa alma cansada de alimentar tantos monstros, mesmo que involuntariamente.
O que fazer para pelo menos começar a caminhar na estrada que JESUS se referiu como paz, descanso?
Um forte abraço e que DEUS continue abençoando essa maravilhosa obra que é teu site e o maravilhoso homem que você tem sido, Caio.
Ps: Desculpe pelo tamanho do e-mail, mas não dava para resumir mais que isso meu amigo.
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Resposta:
Meu amado amigo e irmão de dores na alma e na mente: Graça e Paz!
Quando era jovem, desde a adolescência que sofri dores de alma e angustias mentais tão intensas, que cheguei a buscar a morte aos dezoito anos, antes de vir a conhecer a Jesus em mim e para mim.
Depois de muitos anos, após traumas para os quais não tenho palavras para descrevê-los, provei dores tão intensas e diversas, que, por pouco, não perdi a mente; posto que o equilíbrio eu havia perdido um pouco antes de tudo.
Assim, às vezes, um elemento que nos tire o equilíbrio, subitamente abre espaço para que um surto nos acometa; e, depois de um tempo, aquilo que era um surto, se torna um padrão mental.
Ora, um padrão mental que se fixe, muda nosso cérebro; e, assim, altera muitas conexões neurais no cérebro, pondo-nos, de repente, em uma condição que se torna insuportável para a pessoa.
Vivi uma vida estressada desde os 10 anos de idade. Muito estressada mesmo. Subitamente aos 17 anos comecei a sentir que minha mente estava mudando, ficando paranóica.
A conversão mudou tudo!
No entanto, o “ministério” foi um estresse total, pondo-me numa espécie de modo de vida equivalente ao de uma “campanha presidencial”.
Viagens e viagens. Pregações até 13 vezes ao dia. Gente. Gente. Gente. Encontros. Decisões. Pressa. Peso. Responsabilidades. Cobranças. Estado de vigilância permanente. Neurose. Paz de consciência, mas sem quietude na mente.
Quando o Dilúvio veio, o stress foi sem tamanho!
Eu já era experimentado nos muitos embates e confrontos. Mas aquele Dilúvio era infinitamente maior do que tudo o que eu provara antes.
Então, caí
Vivia
Depois, meu filho, Lukas, partiu. Era já 2004. Mais dores. O padrão da dor vai se fixando…
O fato é depois de um tempo, quando as dores externas foram cessando, fui me dando conta de que eu havia mudado química e neuralmente.
Além disso, alguns hábitos da dor haviam se tornado padrões mentais para mim.
Ora, depois de descobrir isso, fui me enfrentando todos os dias, o dia todo, e me pondo intencionalmente nas situações que me faziam mal naquele estado, a fim de não fixar ainda mais o padrão como comportamento.
Devagar, bem devagar, fui sentindo os padrões irem voltando ao normal.
Ora, bem acima eu disse o seguinte de mim:
Depois de muitos anos, após traumas para os quais não tenho palavras para descrevê-los, provei dores tão intensas e diversas, que, por pouco, não perdi a mente; posto que o equilíbrio eu havia perdido desde um pouco antes de tudo.
Ora, a minha perda de equilíbrio não foi igual ao que pode ter acontecido a você. Entretanto, observei que você disse: “… mas desde que saí de casa à cerca de três anos atrás, que venho tendo pensamentos estranhos”.
O que fez você sair de casa?
Como é a sua família?
Há algum histórico de confusão mental em sua família?
Qual a carga moral e religiosa que você carrega?
Pense nessas coisas, e, depois, me diga qual o significado de cada uma delas para você.
Pela leitura de sua carta vejo o seguinte:
1. Sua criação deve ter sido severa;
2. Sua família é do tipo que prefere uma boa ilusão à verdade dos fatos;
3. Você reflete esse significado familiar. Por isto, guarda o mal para si, e mostra apenas o que se quer ver. Daí seu conflito permanente, pois, você é leal a você na denuncia dessa esquizofrenia familiar tão “ordeira”.
Pela sua carta também vejo que você assumiu como EU o seu estado.
Ora, sua lucidez está intacta, mas seu pressuposto é falso; posto que se baseie em uma noção dividida de EU.
Por isto é que você diz que “isso é você” ao mesmo tempo em que diz que não é.
Ora, é ou não é você?
Claro que você sente tudo isto, mas seu EU é bem mais do que isso que você sente.
Nossa tendência natural é incorporarmos nossas sensações ao nosso EU. E, assim fazendo, fixamos a sensação como definitiva, pois, chamamos o nosso sentir de EU.
Assim inicia-se o Império da Subjetividade, o qual, nesse estado, é um Inferno.
EU, porém, não sou o que sinto; e nem o que em um estado alterado, penso.
Quando eu fixo as sensações e pensamentos que EU mesmo julgo como estranhos ao que EU SOU, meu EU enfraquece; e, assolado pelos invasores psicológicos, os quais emergem ou de nossa produção psíquica ou de traumas que possam nos acometer, gerando mudanças químicas e neurais, as quais impressionam tanto, que, depois de um tempo, EU começo a dizer que sou o que sinto e penso, mesmo que EU mesmo saiba que EU não sou aquilo — conforme você repetiu algumas vezes nesta carta.
De fato, não adianta fugir dizendo “não pense, não sinta”. Porém, adianta sim dizer “não se ponha a imaginar e a produzir”.
E mais:
Agora que você sabe de você contra você, use isso em seu favor; pois, de fato, você agora sabe que você não é o que você anda sentindo e pensando.
Ora, sabendo disso, você pode descansar, posto que o maior peso desse conflito seja seu próprio julgamento moral acerca de sua produção subjetiva compulsiva.
Sim! Você se julga e se condena por sentir o que detesta e por pensar o que odeia. E mais: faz isso de modo a se por no pior inferno em razão de dizer EU sou assim.
Assim, leia Romanos 7 e 8; e creia.
Você também pode ir ao meu site e baixar meu livro “Sem Barganha com Deus”.
Faça isto com esse novo prisma.
Mas saiba:
Não pare a medicação a menos que haja uma recomendação médica, pois, nesta fase, uma parada súbita poderia fixar mais profundamente alguns padrões mentais, em razão da incorporação de um volume maior de “sentires” que você teria em tal caso — sempre lembrando que a tendência é assimilar o sentir como EU; o que é muito ruim para o processo da cura.
Sim! Pois a cura começa a vir quando a gente assume que somos o que julgamos sobre o bem e o mal, e não o que sentimos ou, angustiadamente, pensamos.
Ora, a expressão “julgamos” usada acima carrega apenas o sentido de discernir. E você tem excelente discernimento, e, certamente, entenderá o que estou dizendo.
Havendo bom ânimo, no entanto, você não apenas discernirá, mas praticará o que pensa como discernimento, e não como emoção falsificada por distúrbios.
Saiba e creia: você não é e nem ficará louco!
Quando você discernir a grandeza do amor de Deus e nele viver exclusivamente pela fé, então, será maior do que os seus sentimentos, e, assim, eles haverão de se pacificar em você.
Todavia, DECIDA pensar o que você sabe que é bom; e, vigie-se nas viagens que você tem feito, pois, creia: elas são passaportes para viagens que adoecem ainda muito mais. Portanto, pare com esses processos mentais, visto que você tanto os odeia quanto está neles viciado.
Estou orando por você agora!
Nele, que guarda a nossa mente em paz se andarmos mentalmente apenas na fé, e não nas fantasias e nas emoções falsificadas por traumas,
Caio
28 de outubro de 2008
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