—– Original Message —–
From: SEM UM PÚLPITO NÃO SOU NINGUÉM!
Sent: Thursday, February 19, 2009 4:42 PM
Subject: frustração e decepção
Prezado Pastor Caio Fábio!
Recentemente fiquei sabendo do seu site.
E na medida do possível tenho acompanhado e lido suas orientações através das cartas que lhe são enviadas.
Vamos direto ao assunto. Sou um dos pastores de uma comunidade evangélica. Faz alguns anos que cometi adultério; resultando
Atualmente estou integrado no ministério; era muito atuante; hoje sou mais um no meio da multidão…
Ministrava nos cultos, e confesso gostaria de voltar a pregar, mas a sensação que tenho é que não haverá mais esta oportunidade.
Bem sei que a pregação não é tudo, mas esta minha ociosidade (digo geladeira) tem levado a comunidade a não reconhecer meu ministério.
Algumas vezes tenho ministrado em um curso teológico em nossa igreja, mas sinceramente desejaria voltar a pregar; ou seja: ser mais atuante.
Desculpe pela minha ousadia e pretensão, e diria carnalidade em me julgar superior e melhor que os demais pastores que ministram.
Diante desta situação o que vc me sugere que faça, até porque estou muito decepcionado com tudo com o que tenho me deparado no meio evangélico; digo: facilidades apresentadas…; tipo: a partir do momento que me torno um cristão serei próspero e estou livre das lutas e etc…
Outrossim, amo a igreja e os irmãos. Diante desta situação como proceder?
Um abraço
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Resposta:
Meu irmão amado: Graça e Paz!
“hoje sou mais um no meio da multidão…”
Sua ansiedade não é espiritual, é psicológica; e é semelhante ao que sente um deputado que perdeu o mandato, e sofre com saudades do tempo em que era levado no andor do reconhecimento público.
Digo isto porque o que você sente é o que sente todo aposentado. Mas não é o que sente um pregador do Evangelho.
Tanto o político quanto o aposentado são enquanto estão nos seus postos, mas um pregador só deixa de ser pregador se deixar de ser e de pregar.
Ora, Jesus não disse:
“Eis que vos darei púlpitos e platéias, e, assim, com emprego ou oportunidade atrás do santo púlpito, vós vos realizareis pregando o evangelho, e, havendo chance, batizando os novos prosélitos e fazendo seus casamentos e enterros”.
Digo isto porque a sua carta soa algo coerente com o que acima propus como uma não-fala de Jesus.
Mano, quem tem o que pregar — não quem aprendeu a falar de Jesus na frente dos crentes —, prega; e prega sempre; e prega mesmo quando nada diz; e, nunca consegue não pregar, posto que a Palavra o inunde e nele transborde.
De tal modo que a pessoa não tem o seu conflito enquanto existir gente andando na rua, na praça, no bar, na praia, no trabalho, no ônibus, no táxi, na festa, e, creia: até no ambiente físico da “igreja-templo”.
O problema é que vocação evangélica fala de ir pregar na China, desde que lá haja um púlpito.
Parece até que o que se diz é:
“No Principio era o Púlpito, e o Púlpito estava com Deus, e o Púlpito era o único lugar de onde se poderia pronunciar a Palavra de Deus!”
Nunca entendi essa necessidade de receber esse suposto imantamento do poder e da autoridade que procede do “santo púlpito”.
Comecei a pregar nas ruas, aos amigos, aos malucos, aos zangados pais de ex-namoradas, aos que antes me temiam, aos que eu havia dado surras, aos que um dia tinham me amado, aos que eu amava como parentes e gente importante para mim, etc.
Quando todos reconheciam que eu pregava porque pregava, então, passaram a também me convidar para pregar, mas apenas porque eu pregava com ou sem eles.
Essa fixação no púlpito chega a ser fetichista!
Assim, mano amado, se você ama pregar, viva e pregue; e não há porque se frustrar, pois, neste país há pelo menos 160 milhões de não-evangélicos, e também todos os evangélicos — e creia: todo mundo precisando conhecer a Palavra.
Assim, não sei qual é o seu problema. Afinal, você tem tudo: a mensagem, a vontade, o mundo carente, e está vivo.
Portanto, mano querido, comece a pregar. Só depende de você.
No entanto, se você só pensa em pregação como algo que aconteça atrás de um púlpito — então, sugiro que você não pregue; posto que sendo este o caso, você não é um pregador da Palavra, mas apenas um ator de púlpito, e que anda com saudades do andor.
Espero que você não me ache duro. É que não tenho como ser objetivo sem ser objetivo.
Penso no que lhe disse e sonde diante de Deus as motivações.
Púlpito e platéia [com tudo o que daí decorre] viciam mais que heroína.
De fato, para quem considera tais coisas essenciais, creia: platéia e púlpito se tornam drogas das mais sérias.
Receba meu carinho e meu amor sincero.
Nele, que pregava enquanto ia… — e que ordenou que conosco fosse igual: “Indo por todo o mundo, preguem o Evangelho…”
Caio
19 de fevereiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF