—– Original Message —–
From: ENTRE O DEUS QUE PODE E O DEUS QUE NEM TANTO…
Sent: Tuesday, March 17, 2009 10:50 AM
Subject: Descontrole emocional
Olá pastor Caio,
Preciso de um conselho sincero de quem já passou pelo que o Senhor já passou. Tenho 2 filhos o Henrique de 5 anos e o Gui de 1 e meio. Quando o Gui tinha 6 meses ficou muito doente, muito mesmo, ficou 1 Mês internado e um período na UTI entre a vida e a morte.
Durante este período eu fiquei em suspenso sem saber se aquilo era apenas o fruto de um acaso ou se Deus tinha parte ativa no meu sofrimento. (tipo me imaginando um Jó….)
O Gui melhorou, saiu da UTI e hoje está em casa sem seqüelas, uma criança linda…
Mas eu não sei como agir sempre que ele fica doente (tipo gripe, viroses coisa normal de criança), fico desesperado, perco o controle das minhas emoções, a preocupação me domina.
E não encontro descanso em Deus, pois durante os meus parcos 30 anos de caminhada cristã, já mudei muito as minhas crenças teológicas; eu já achei que TUDO o que acontecia tinha parte na vontade ativa de Deus. Ele quis assim, Ele decidiu, não apenas permitiu… E sempre procurei uma lição em todo o meu sofrimento.
Hoje estou numa encruzilhada entre o Deus Soberano que tem o domínio de Todas as coisas e o Deus que nos permite ser humanos e nos deixa ao sabor dos casos e acasos…
Para você ter idéia, durante a internação do Gui eu fiz até uma promessa de parar de fazer um dos meus hobbies prediletos, beber vinho com minha esposa e tomar uma cerveja de vez
Sei que Deus não se move a chantagem (barganha) de promessas, mas no meu desespero fiz essa promessa… Sei também que Deus não se alegra de voto de Tolos.
Desculpe tocar em um assunto tão caro a você, sei que você passou uma experiência com seu filho Lukas.
Pastor, por favor, me dê um conselho; sou ávido leitor de suas obras… durante muito tempo.
As 2 ultimas que li foi “Sem barganhas com Deus” e “Nephilim”.
Eu lhe considero um homem de carne e osso que serve a Deus da melhor forma possível….
Um grande abraço,
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Resposta:
Meu amado mano no Mano Primogênito e Senhor, Jesus: Graça e Paz!
A maioria dos cristãos está exatamente no mesmo lugar de paranóia que você está, conforme você disse: “Hoje estou numa encruzilhada entre o Deus Soberano que tem o domínio de Todas as coisas e o Deus que nos permite ser humanos e nos deixa ao sabor dos casos e acasos...”
Ora, como você disse também, isto é fruto de muitas “teologias”; ou seja: de muitos retratos artístico-psicológicos de Deus, feitos pelos artesãos do “Deus Ídolo do Lar” de cada “crente, igreja, ou confissão”.
Assim, no Panteão dos Jesuses você está entre [1º] o Jesus que controla tudo, o dono do Vídeo Game Cósmico, [2º] e o Jesus que sabe tudo, mas decidiu por amor não saber quase nada, a fim de ir aprendendo com o homem e com a criação, num exercício de democracia de decisão por parte do homem, enquanto Deus/Jesus se sente menos mal por ser Onipotente, Onisciente e Onipresente. Versão simplificada da teologia do processo, segundo a qual, sendo assim, Deus fica menos mal, menos cruel
O resultado disso é o limbo: a pessoa não quer crer que Deus seja Todo-Tudo apenas para que não tenha que brigar com Ele.
Normalmente essas crises só aparecem ante a dor, a perda ou a insegurança, pois, quando está tudo bem, é uma alegria que Deus seja o que Ele seja ou queira ser; afinal, não está doendo.
Se estivesse tudo bem, se você não se sentisse com essa espada na cabeça, certamente você não estaria me escrevendo e muito menos tendo a crise…
Meu mano:
Por que deveria eu ficar preocupado com qualquer coisa se [em 1º lugar] não tenho poder sobre nada, e [em 2º lugar] não preciso ter medo de nada, pois, seja vivo ou morto, já não morro e já não perco nada; posto que em Jesus vida e morte sejam a mesma coisa; e mais: posto que em Jesus a morte seja apenas uma passagem para o Colo do Pai?
Não ter poder sobre nada e mesmo assim viver como a pessoa pudesse alguma coisa; creia: é a maior perda de energia que se pode ter na vida; sem falar que é a maior de todas as neuras e paranóias que podem sobrevir à mente/alma/humana.
Ora, é porque eu não posso nada que ando cada dia mais tranquilo.
Por outro lado, não me vem a questão de como Deus “concilia” Seus poderes, atributos, vontades e desígnios.
Isto nunca foi uma preocupação minha; pois, de fato, quando encontrei o amor de Deus, ficou claro para mim que a morte morrera e que vida e morte eram apenas alternâncias dimensionais de algo que não matava, no caso da morte, e que não nos privava de nada, no caso de qualquer que fosse a cessação de vida que eu tivesse no corpo; visto que a primeira revelação do Evangelho para mim foi a da certeza total da morte da morte em Cristo, e, também, de que a Vida em Jesus não é apenas essa mera existência terrena abençoada e protegida de doenças e acidentes.
Sua questão só tem resposta mediante a confiança!
A busca de razão na teologia para crer “assim ou assado”, deixa o cara assim… e assado…, mas não consolida nada em seu ser como paz e descanso.
Já disse que se Deus me perguntasse se eu queria que Ele trouxesse meu filho Lukas de volta, eu diria que “não”; pois, tanto jamais desejaria tal retrocesso ao inferno desta Terra ao meu filho, como também, por que haveria eu de desejar mudar qualquer coisa quanto à morte dele, se sei que ele foi para onde eu desejo também estar de todo o coração?
Assim, deixe a teologia e seus ídolos de pensamento acerca de Deus e apenas creia uma coisa:
Deus é amor!
O mais, mano, toda essa conversa de Deus pode e Deus não pode, Deus sabe ou Deus não sabe, é bobagem de quem não quer confessar que teme crer e confiar.
O que de mal pode lhe acontecer se você relaxar e confiar?
Somente coisas boas lhe acontecerão!
Afinal, o seu plantão ante a sua suspeita acerca de como seja Deus em relação ao caso de seu filho, não tem o poder de impedir nada nele, mas tem o poder de criar algo muito ruim, frágil e confuso em sua alma/mente.
Até por mera lógica se deveria confiar, pois, quem sabe que não tem nenhum poder sobre nada, pelo menos por inteligência deveria andar tranquilo.
Sim! Pois a consciência da Impotência Absoluta, de um lado, associada à fé em Jesus, de outro lado — trazem toda paz que se precisa para viver. E será tanto maior a paz quanto maior e mais profunda se torne a fé.
A questão, portanto, é um e é simples:
Você crê que Deus é amor?
Ora, se você crê, então, sabendo-se impotente, descanse; e não julgue a Deus pela vida de aquário que a gente leva, lamentando ou nos alegrando com tudo aquilo que seja apenas sobrevida na Terra.
Há infinitas coisas que não sei nesta e nas outras existências possíveis no mundo visível e invisível. Mas uma coisa eu sei: não preciso me preocupar.
Assim, quanto menos busco entender os caminhos de Deus, e mais busco conhecer o amor de Deus, mais tudo fica tão claro que é impossível explicar, visto que não são coisa passiveis de serem explicadas, porém, tão somente, provadas pela fé que se entrega ao amor de Deus sem questões.
Sua “promessa” é bonitinha, mas é de um santo tolo!
O Senhor perdoou você antes de você fazer a promessa, pois, Deus é Pai, e é melhor do que eu, que sou mal. Portanto, se eu posso entender, saiba: Ele sabe.
Agradeça ao Senhor quantos sejam os dias da vida de seu filho. Faça isto abrindo um bom vinho e convidando os amigos para uma cervejinha com churrasco.
E não olhe mais para o seu filho com esse olhar assustado e paranóico. Faz mal à criança.
Olhe para seu filho considerando o dia chamado Hoje.
Não pense no “passado de dor” e nem tente ver cenários futuros para ele.
Viva Hoje. Ame hoje. Só é possível viver Agora. Portanto, curta seu filho não como quem se despede, mas apenas como quem aproveita tudo de todos; pois, é assim que deve ser sempre.
Quanto às “teorias” sobre Deus “isso e aquilo”, conquanto tivesse muito a dizer, já não agüento mais falar do assunto, tanto pelas razões acima expostas, como também porque aqui no site temos uma variedade enorme de assuntos que variam sobre este tema. Leia com carinho.
Sinto muito meu irmão. Queria ser mais normal, mais cheio de questões e dúvidas; mais inquieto, mais inseguro, mais medroso, mais angustiado, mais incapaz de crer que Deus me ama mesmo…
O problema é que não consigo deixar de crer que o amor de Deus é livre, e que pode se manifestar até pela dor, posto que o negócio de Deus não seja Anestesiar e nem Segurar, mas apenas gerar Vida; seja pelo ato sexual que é feito com prazer; seja pelo parto que é vivido com dor; seja pelas conquistas que produzem alegria; seja pela dor que cria confiança simples e paciência; seja pela morte… que produz sabedoria.
Tudo é nosso, seja a vida, seja a morte, sem as coisas presentes ou as futuras, tudo é nosso, e nós de Cristo, e Cristo de Deus.
Dê um salto no aparente escuro da fé e mergulhe para a luz da confiança.
Receba meu beijo!
Nele, que nos ama e nos chama a cremos nisso,
Caio
17 de março de 2009
Lago Norte
Brasília
DF