CAIO, NÃO NOS PONHA NESSE BOLO!…

 

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From: CAIO, NÃO NOS PONHA NESSE BOLO!…

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Sent: Friday, July 31, 2009 10:31 PM

Subject: Será que estamos nesse bolo?

 

Oi Caio,

 

Tenho visto muito você ultimamente pelo youtube… Deu saudade de ver você por todo Brasil como na minha adolescência quando vi você por alguns congressos. 

Em um desses vídeos vi você colocar o neo-pentecostalismo como derradeiro movimento reconhecido. Não sei se para o mal ou para o bem, mas reconhecido…

Pareceu-me você colocar no bolo todas as Comunidades.

Sou Pastor de uma Comunidade que nada tem a ver com G12 nem com neo-pentecostalismo. Trabalhamos com discipulado, mas não como subproduto de alguma espécie de modelo de dominação, nem como endeusamento episcopal, ou para formar papas e cardeais disfarçados. Temos grupos familiares que não são máquinas de formação de liderança, mas como única forma de, nessa conjuntura atual, se viver I Cor. 14. Não lidamos com gritos e lamúrias como formas necessariamente genuínas de demonstração de espiritualidade, se é que espiritualidade se demonstra ou alguém deve desenvolver vontade de demonstrar. Aposto que rodando pelo Brasil você deve ter encontrado muita gente como a gente… Será que não?…

Fato é que, entendo ter havido na década de 60 por parte de alguns irmãos do Sul e alguns da Argentina forte desejo de se viver a Palavra sem os grilhões estruturais da instituição. Este movimento cresceu bastante no Brasil, de onde sobrevieram muitas Comunidades como a que me reúno na Bahia. Reconhecemos a validade do pentecostalismo, mas vimos que em nada este movimento colaborou para um retorno fidedigno ao padrão Bíblico de Igreja. Vimos que este trouxe despertamento, porém serviu de distração para problemas graves como o não desenvolvimento prático do sacerdócio universal, da vida cristã como resultado de se perceber uma testemunha viva do evangelho. Serviu para a Igreja não se perceber em total desconhecimento a respeito dos Mestres, Profetas e Evangelistas como parte integrante da obra do ministério dentre outras coisas as quais você mesmo critica. Enquanto a Igreja se renovava… [entendamos], uns se preparavam para se debandarem nos impérios pessoais, mas outros para perceberem que existe sim uma forma bíblica de se fazer as coisas.

Pergunto por conseguinte:

O que será o neo-pentecostalismo uma desclassificação da atualidade, assim como o termo pós-modernidade o é?

Por que essa é a sua escolha terminológica para classificar as Igrejas da atualidade tornando a Assembléia de Deus a última dentre as que surgiram com algo que mereça referência?

Será que os seus olhos não se tornaram exaustos pelo pessimismo?

Essa minha escrita é para te pedir meu querido, que não nos coloque no bolo dessa verdadeira panacéia de indefinições chamada neo-pentecostalismo. Digo com a humildade de quem sabe não ter inventado a roda.

Meu texto é para que você saiba que suas palavras ainda me inquietam o coração e os neurônios.

Beijo grande!

Deus te abençõe!

 

Álvaro 

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Resposta:

 

Mano amado: Graça e Paz!

 

Não tenho o poder de “colocar” ninguém em “bolo” algum. As pessoas é que se colocam ou não.

Para mim tudo é muito simples:

O que é, é; o que não é, não é!

Ora, isto é assim do ponto de vista existencial, mas não é assim que as coisas são do ponto de vista de suas “identificações históricas”.

Existencialmente falando quem é, é… Mas historicamente falando quem é deve se manifestar; do contrário, por omissão, será identificado com o “lugar/ambiente” no qual esteja; ou será definido pelas conotações que os termos que a ele se vinculem tiverem ganhado historicamente naquela geração…

É assim que mesmo sendo Evangélico segundo Paulo [existencialmente falando], não posso mais ser “evangélico” segundo a história desta geração…; posto que nesta geração ser evangélico se tornou a antítese do que o Novo Testamento define como tal.

Desse modo, a fim de Ser Evangélico segundo a Palavra, tive que deixar de ser “evangélico” segundo este tempo histórico no qual o termo se tornou a negação de seu próprio sentido original e bíblico.

Isto dito, explico a você o seguinte:

1.    Quando dei aquela entrevista eu falava do fenômeno histórico, não existencial;

2.    Quando dei aquela entrevista eu me referia aos movimentos históricos mais amplos, e não a todo e qualquer movimento comunitário da fé;

Isto dito…, creio que não preciso explicar muita coisa mais, exceto o seguinte:

Para mim todo e qualquer “ismo”… [ movimental ou sistêmico] é perversão de qualquer coisa que um dia tenha sido boa, genuína e verdadeira; no mínimo.

Digo isso do Cristianismo, assim como digo do Protestantismo, do Pentecostalismo, do Neo-pentecostalismo; ou do Islamismo e do Espiritismo; ou do Marxismo e do Capitalismo; ou do Humanismo; ou do Feminismo e do Machismo; ou de qualquer outro ismo…

Todo ismo é apenas uma Ilha…; nunca um Continente…; e muito menos ainda será um Universo… ou Multiversos…

Todo ismo é um sistema fechado…

Ora, ninguém que ande no Evangelho e segundo a mente de Cristo, terá qualquer sistema fechado; posto que somente em Jesus, o Cristo Eterno de Deus, é que todas as coisas têm sua síntese e convergência total.

Digo isto porque o próprio conceito de comunidade se tornou um conceito ideológico, e que anda segundo algum ismo; posto que os dons de Apóstolo, Profeta ou Evangelista…; ou ainda: até mesmo I Corintios 14 e seus dons comunitários — se tornam sempre um problema em razão de serem praticados segundo a ideologia de algum grupo [você citou os irmãos da Argentina, e que eu conheço muito bem], e não conforme a leveza e a tranqüilidade indefinida que se vê no envio de Jesus aos Seus discípulos.

Também para mim o Modelo de Atos 2-4 é uma furada… se o desejo é instituir aquilo para a continuidade da vida.

E mais:

Digo que aquele “modelo” trabalhou contra o sentido hebreu e desinstalado do Evangelho ensinado e praticado por Jesus.

Sim, não olho para o que aconteceu em Atos 2-4 como algo bom para a saúde da Igreja se a pretensão é a continuidade… Antes o vejo como o promotor da “1ª Igreja Cristã”…; posto que foi do hibrido que se criou em Jerusalém [cristãos e judeus em simbiose, conforme nos diz Tiago ao afirmar tal coisa a Paulo mais adiante…] que veio a surgir o Modelo do Cristianismo controlador e paroquial…

Ou seja:

Vejo o que houve em Jerusalém como aquilo que, sendo perpetuado, gera “igreja” e não Igreja; e isto por mais comunitária que seja a experiência…

Esta foi a razão de o Espírito Santo os haver semeado [dispersado é a palavra de nossa versão, quando no grego é semeados] pela via da perseguição; do contrário não teriam saído de lá…

Os que lá ficaram, todavia, sentiram-se como sendo o 1º Corpo; o Grupo Original; a Igreja Validadora dos demais…

Ora, onde quer que haja tal espírito aí já há um ismo

Reajo a estes ismos assim como Paulo o fez…

E mais:

Para mim tudo o que interessa ao Evangelho é o que no Evangelho se vê como ênfase de Jesus e de Seu ensino e prática.

O mais é sempre circunstancial…

Serve enquanto serve…

Apenas isto…

No geral, entretanto, historicamente falando, o tal espírito comunitário quase sempre produziu grupos fechados em si mesmos e muita alienação…

O sal da terra de Jesus é sal na Terra.

A luz do mundo de Jesus é luz no Mundo.

Ou seja:

O grande chamado do discípulo é para se dissolver como sal na Comunidade Humana e para ser luz no Mundo que jaz no maligno.

O espírito comunitário, no entanto, quase nunca trabalha o que possa ser comum [ajuda mutua, bens, etc…]; e, ao invés disso, faz ser comum a todos o fato de que eles não são comuns como o mundo; e, por isto, não se dissolvem no mundo, preferindo antes a vida no saleiro ou sob o cesto, que é a “comunidade”.

Com isto não sou absolutamente contra a reunião dos irmãos. Sou, sim, contra todo comunistarismo alienante que em razão disso surja…

Os 36 mandamentos de Mutualidade que enxergo no Novo Testamento não remetem para uma vida “em comunidade”, mas em unidade e diversidade no mundo; não em um ambiente fechado e controlado, até porque a Igreja no 1º Século não teve os “privilégios” de liberdade que em geral propiciam o “luxo” de se ter uma comunidade com tempo para convívio comunitário dentro da Comunidade Humana.

A verdadeira comunidade do Evangelho se reúne em torno do nome de Jesus para adorar e encontrar, e se dissolve no mundo para ser…

Quanto à legitimidade de movimentos por mim citados na entrevista que você viu no Youtube, digo apenas que não vejo legitimidade do Evangelho em nada que não carregue o Evangelho; e a meu ver tais grupos nada têm a ver com o Evangelho.

Ora, em meio a esses incluo hoje as Assembléias de Deus, que se um dia foram desejosos do Evangelho de Poder, hoje apenas ambicionam o Poder que possam auferir do “evangelho” que falsificaram…

Portanto, digo apenas o que penso, mas não sou legitimador de nada, exceto para mim mesmo.

Aconselho você a deixar o Youtube… e que passe a assistir a Vem e Vê TV; onde você não terá “fagulhas” do que eu tenha dito, mas a totalidade do que falei…

O Youtube já é um ismo; pois, lá, nos 8 a 10 minutos que se tem para postar algo em termos de duração, se tem que fazer um ismo; ou seja: uma edição.

Receba meu amor. E creia: amo a todos os que amam a Jesus! Amo até os que não o amam, quanto mais os que o amam!

Um grande e carinhoso beijo!

 

 

Nele, que é o Cabeça; e em torno de Quem somos Corpo,

 

Caio

1 de agosto de 2009

Lago Norte

Brasília

DF