Por João, irmão de Tiago e filho de Zebedeu, discípulo e apóstolo de Jesus. Sim, do velho na esperança ao amado Gaio, a quem eu amo em verdade, escrevo esta carta.
É pela razão de te amar que desejo que tudo de bom venha sobre ti, e que tua saúde física acompanhe a excelência da saúde da tua alma.
O discernimento que tenho do bem que habita a tua alma em mim se expressa como alegria. E essa alegria é fruto do que de bom e prático ouço de outros a teu respeito, especialmente os que contigo conviveram e que afirmam que tu és um homem da verdade, tanto pelo que crês como pelo que demonstras em teu caminhar. Nada pode me fazer bem maior do que saber que meus filhos caminham sobre o sólido chão da verdade.
Amado Gaio, devo afirmar que teu procedimento é bom e justo em tudo o que fazes para com os irmãos na fé, especialmente pelo fato de não temeres as novas faces daqueles que chegam sem serem ainda conhecidos. Sim, querido Gaio, esses são os que chegaram em tua presença sentindo-se estrangeiros e voltaram sentindo-se irmãos! E são justamente esses os que hoje falam aos que aqui se reúnem acerca da genuinidade do amor que tens pela verdade como expressão de vida. E eles viram isso evidenciado no modo como tu os trataste, tão muito mais que bem!
E foste além disso quando dispuseste teu coração para os encaminhar no restante da viagem que fizerem, de tal modo que prossigam sentindo-se amparados pelas provisões que tu vieres a fazer, acerca das quais já te digo que se as efetivares, serão de fato boas para eles. Ora, este teu gesto afirma no coração deles a dignidade de filhos de Deus de que necessitam no chão desse mundo. Portanto, se assim o fizeres, bem estarás fazendo outra vez.
Ora, tu sabes que tais irmãos não chegaram aí a passeio, nem tampouco buscando interesse próprio. Ao contrário, chegaram até aí apenas por amor ao Nome, sem nada aceitar das igrejas dos não israelitas, a fim de poderem servir os gentios em graça e de graça. Portanto, gente assim é que devemos sempre acolher, para darmos a nós mesmos a chance e o privilégio de nos tornarmos cooperadores daquilo que é verdade prática para a vida, conforme o evangelho.
Eu havia anteriormente escrito alguma coisa à igreja que aí se reúne, e por tais mensageiros encaminhei minha carta, mas Diótrefes, que sente necessidade de buscar sempre a primazia entre os irmãos na fé, impede que tal comunicação se efetive, visto que nunca acolhe ninguém. E além de não os receber não os deixa ser recebidos, e ainda expulsa da comunhão todo aquele que, não obedecendo a ele, tenta acolher esses irmãos.
Por essa razão, amado Gaio, quero deixar bem claro que se eu tiver que ir até aí em razão dessa “rolha” chamada Diótrefes, que é um bloqueio para o fluir do bem em vossa comunidade, não o pouparei. Pelo contrário, se eu aí for, trarei à memória dele as obras ruins que ele realiza, usando de palavras maliciosas a fim de tentar sabotar a minha autoridade na verdade. E faz isso impedindo aqueles aos quais recomendo a fim de serem acolhidos entre vós.
Pior ainda: não contente com isso, ele não somente deixa de receber os irmãos que envio, mas proíbe de fazê-lo aqueles que querem acolhê-los espontaneamente. E não contente ainda, ele mesmo se mostra como um obstáculo para que quem quer que seja possa se sentir em casa entre vós, e todos aqueles que expressam outra atitude — de acolhimento do próximo —, ele mesmo os exclui da comunidade!
Amado, não imites o que é mau, mas tão-somente aquilo que realiza o bem em nós e nos irmãos.
Diferentemente de Diótrefes, tenho que dizer a todos coisas muito excelentes acerca desse amado irmão que atende pelo nome de Demétrio. Demetrio é um bom exemplo do que é bom. Já Diótrefes é um contundente exemplo do “espírito” daquilo que se manifesta como mal. Quem pratica o que é bom, esse é do bem e sabe quem Deus é. Do mesmo modo, quem faz o mal jamais conheceu nada da essência de Deus.
Mas de fato vi que nem se faz necessário que eu mesmo recomende Demétrio pessoalmente, visto que tenho observado que todos — e até a própria verdade — dão testemunho bom acerca dele e de sua ações. Mas a tais irmãos, como também a Demétrio, unimos a nossa própria voz, e também damos o nosso próprio testemunho de que praticam o que é bom. E me conhecendo, tu sabes de antemão que não tenho compromissos que não sejam com a afirmação da verdade.
Bem, meu amado, devo dizer que eu até tinha muitas outras coisas a te escrever, mas não o desejei fazer agora, apenas usando tinta e pena. De fato, minha esperança é que nos encontremos em breve, pois prefiro tratar das demais questões importantes não através da escrita, mas com o calor da voz e da franqueza de rostos que se olham e não se escondem.
Desse modo, te digo: Paz seja contigo! E mais: Todos os amigos comuns te saúdam. Faze tu o mesmo, enviando nossas saudações aos demais amigos, e peço-te que o faça de modo bem pessoal, nome por nome.
João, pela terceira vez.