Como um cavalo cansado da longa viagem anseia pelas águas frescas, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus!
A minha alma tem sede de Deus, do Deus que é vivo!
Quando beberei de Deus e me saciarei em Sua presença?
Tenho bebido minhas próprias lágrimas e tenho comido minhas próprias dores de dia e de noite…porquanto me sinto só…enquanto sou provocado constantemente por aqueles que perversamente indagam de mim: Onde está o teu Deus?
Por isso em mim derramo a minha alma como águas de saudade, ao lembrar-me de como era a minha vida com a multidão do povo que ama a Deus, e de como era bom guiá-los em procissão à casa do Louvor, com brados de alegria e com a emoção daquele que festejava entre irmãos!
Então, me indago: Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?
Consolo a mim mesmo dizendo à minha alma: Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na Sua presença!
Minha aflição solitária vai dando lugar ao encontro, percebo que enquanto falo com minha alma, Deus está onde pensei que não estivesse…
Então, onde havia solidão, descubro Presença, e falo: Ó Deus meu, Tu vês que dentro de mim a minha alma está abatida!
Estou agora viajando em pensamentos pelas terras do norte…no lugar onde o rio e o monte se fazem cúmplices da vida…mas isso não me basta.
Posso estar diante do Rio do Jordão ou no só-pé do Monte Hermom, mas ainda assim o rio e a montanha apenas me fazem recordar de como rios e montes não me satisfazem…
Lembrei-me, então, da queda que conheci nas terras do norte…Escorreguei enquanto passava pelas corredeiras do Jordão, que nasce ao pé do Hermom…e fui caindo…um abismo me remetia a outro abismo…e o ruído das águas era como o das catadupas do furor de Deus…todas as ondas e vagas do mar de Deus têm passado sobre mim…
Contudo, eu sei que de dia o Senhor ordena a Sua bondade e que de noite Ele envia a Sua canção, que comigo estará.
Sei que nascera em mim uma oração ao Deus da minha vida…
Digo a Deus, que é a Rocha da Fundação de meu ser:
Por que te esqueceste de mim? por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo?
Como com câncer nos meus ossos, assim me é a afronta dos meus adversários, que continuamente me provocam, dizendo com sarcasmo: Onde está o teu Deus?
Minha alma está cansada…mas não me entrego. Provoco eu mesmo a minha alma e estimulo-a a viver e a crer.
Dela indago: Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?
Ela faz silencio, mas eu a incito à esperança, dizendo-lhe: Espera em Deus, minha alma…eu ainda o louvarei, pois Ele é o meu socorro, e o Deus de minha vida.
Minha alma anda de luto e nada sabe responder…sente as saudades que não criam esperança.
Eu, todavia, luto contra ela e recuso-me a unir-me ao seu luto…
Repreendo-a outra vez e digo: Minha alma, Deus vive…eu é que estou cansado.
E o eco de minha própria voz me reanima, pois sei que quem ainda luta contra si mesmo… já está no caminho da vitória, e do encontro de uma manhã que dará lugar ao frescor da brisa de Deus e que se alegrará com a luz branda do alvorecer e que prenuncia um dia alegre de esperanças renovadas.
Espera em Deus, ó minha alma, ainda o louvarei; sim, louvarei a Deus, que é o meu auxílio e Deus meu!
Minha alma aceita a esperança…eu prossigo…sei que vou chegar…Deus não está distante…eu sei que caminho Nele…mesmo quando todas as Suas ondas e vagas passam como torrentes sobre a minha cabeça…ou mesmo quando sou como o cavalo que cansado da viagem anseia pelas frescas águas do rio.
Assim, quando me perguntam: Onde está o teu Deus? –eu mesmo respondo: Olhem para mim…não podem ver, ó cegos?