DE MENINOS À HOMENS EM CRISTO

DE MENINOS À HOMENS EM CRISTO

 

Ef 4: 1-16

 

Peço de todo o meu coração, eu, o prisioneiro no Senhor, que por causa de tudo o que lhes disse, andeis de modo digno da vocação com a qual fostes chamados. Andando, portanto, com toda a humildade, mansidão e bondade paciente; e sendo capazes de vos suportardes uns aos outros em amor; desse modo procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz.

Digo isto, meus irmãos, porque há um só Corpo e um só Espírito; assim como também fostes chamados em uma só esperança de vocação. Isto porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, é por todos, e age por meio de todos.

Saibamos, pois, que a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo.

Por isso foi dito: Quando Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e derramou dons sobre os homens.

Ora, quanto a dizer que Ele subiu, é inerente a conclusão de que Ele também desceu às dimensões inferiores à terra. Assim, Aquele que desceu é também o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, para plenificar todas as coisas.

E foi também para plenificar a Igreja que Ele deu à sua fundação dela os apóstolos e os profetas; assim também como foi Ele quem enviou graciosos anunciadores das Boas Novas, e outros com o coração acolhedor e cuidadoso de um pastor; e ainda aqueles que são mestres em sabedoria conforme a Palavra da Vida.

Ora, tudo isto Ele fez tendo em vista o aperfeiçoamento dos que em Cristo foram feitos santos, para o bem desempenho do serviço a Deus e aos homens; e para a edificação do Corpo de Cristo.

E assim será até que todos nós cheguemos à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, à estatura de um homem feito; à medida da vocação de nossa humanidade e sua plenitude em Cristo.

Quando assim for… já não seremos como meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia e maquinação dos que seduzem para o erro.

Ao contrário, somente deixando de ser meninos e nos tornando homens conforme a mente de Cristo, é que estaremos seguindo a verdade em amor, para que desse modo cresçamos em tudo naquele que é o Cabeça do Corpo, Cristo; em quem todo Corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas; segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.

 

 

Quem já leu toda a carta aos Efésios percebeu que todo o contexto que antecede o texto acima transcrito está repleto de uma coisa só: a alegria de Paulo quanto a ter recebido a revelação do “mistério de Deus, outrora oculto das gerações, porém agora revelado aos santos Apóstolos e Profetas no Espírito”. A saber: que em Cristo todos os bens convergiram, e que pela Graça de Deus nos foram doados; e de tal modo nos foram concedidos gratuitamente, que até a fé com a qual se faz apropriação deles—e de tudo o mais—, é também um favor imerecido; ou seja: pura Graça. Aquele que crê, crê porque lhe foi dado crer.

 

Desse modo, o desejo de Paulo é que essa revelação ilumine o coração, mude o entendimento, e promova uma Nova maneira de ser, ver, discernir, avaliar, pesar, medir, viver e servir.

 

Por isso ele começa o texto acima transcrito com um pedido encarecido, e que se baseava em tudo quanto ele antes havia dito.

 

Para Paulo aquela compreensão em fé deveria produzir uma ética existencial, e, de certa forma, também psicológica.

 

Daí ele falar não de condutas mensuráveis (mais tarde ele falará delas no capítulo 5), mas de atitudes.

 

Desse modo ele dz que a Dignidade do existir em Cristo deve gerar um coração aberto para aprender…uma alma que tenha “humus”…que seja humilde; ou seja: um solo fértil para toda boa semente. O humilde é ensinável, e acolhe o que é vida e verdade.

 

Ele prossegue falando de mansidão, que é a virtude do forte e potente, e que domina sua energia e seu poder, não o liberando para fora do curso da natureza da Graça. Ora, isto gera uma bondade paciente; ou seja: longânime.

 

Desse modo aprende-se a lidar com as diferenças, e o coração cresce em misericórdia e tolerância, pois o amor tanto dá suporte ao fraco, como também suporta as fraquezas dos mais fracos.

 

Ora, essa ética existencial é filha da compreensão da Graça (4-6). A Graça especial nos é comum, pois que comum, agora, é a Graça.

 

Isto porque a Graça que nos fez Corpo de Cristo é o resultado da obra da Redenção (7). O Cristo encarnado, morto e ressuscitado dentre os mortos… visitante de todas as dimensões inferiores…Ele mesmo levou “cativo o cativeiro”—todo o cativeiro, visto ter Ele vencido a morte!

 

Desse modo, sai o cativeiro e vem a Graça: dons são concedidos aos homens…sem mérito, mas por pura e inexplicável Graça (8).

 

Agora até abismo e elevação cumprem um papel na Graça. Não há mais dimensão alguma onde a Graça não possa se manifestar (9-10).

 

Para Paulo esse “derrame de Graça” tinha que produzir algo em nós…além de um leve alívio.

 

Esse derramar da Graça deveria nos tornar gente boa de Deus. Por isto Deus mesmo concedeu alguns dons para serem o Fundamento da Edificação da Igreja (apóstolos e profetas), e os dons que fazem os aplicativos da Palavra sobre o Fundamento Imutável, do qual Cristo Jesus é a Pedra de Esquina.

 

Os apóstolos e profetas aos quais Paulo fazia referencia já não se “repetem entre nós”. São como os pais das doze tribos de Israel. Hoje há apóstolos apenas quando alguém chega como “enviado” num lugar nunca antes visitado pela Palavra; e os profetas, ainda que alguns profetizem acerca do intimo e do futuro, a maioria é feita daqueles que consolam, exortam e edificam o povo de Deus na Palavra.

 

Sobre os demais dons mencionados pelo apóstolo, creio bastar o texto da paráfrase que fiz acima:”… foi Ele quem enviou graciosos anunciadores das Boas Novas, e outros com o coração acolhedor e cuidadoso de um pastor; e ainda aqueles que são mestres em sabedoria conforme a Palavra da Vida.”

 

O exercício sadio desses dons…especialmente os que Paulo mencionou…devem produzir aperfeiçoamento…melhor desempenho dos dons…serviço misericordioso…e edificação; ou seja: crescimento na consciência e no entendimento espiritual da vida. Daí tem que nascer o Novo Homem existencial e comunal (13).

 

A evidencia de que se está crescendo nesta direção de maturidade é que os meninos viram homens (14); a verdade e o amor se casam…e o ser ou a comunidade que experimenta esse casamento, então, cresce (15); pois que tal consciência na Graça gera a clara percepção de nosso “chamado”, de nossa “vocação”, tanto individual como também comunal.

 

E mais: essa consciência carrega o crescimento em si mesmo…pois é tal qual um corpo: em havendo saúde, sempre cresce (16).

 

A saúde do Corpo de Cristo é o amor. Sem amor não há saúde!

 

Assim, Paulo nos diz o seguinte:

 

Somente a consciência do mistério revelado e da Graça que nos foi concedida em Cristo, é que pode nos converter de um ajuntamento de meninos em uma Igreja adulta, madura e que cresce com naturalidade—conforme o corpo cresce: naturalmente; e a naturalidade desse crescimento só é alimentada pelo amor prático e efetivo!

 

 

Caio