O livro de Eclesiastes é chocantemente real. Nele a verdade aparece como desnudamento da realidade.
Eis aqui uma de suas porções mais simples e belas:
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.
A vida acontece nessas estações, invariavelmente. Mudam as faces das coisas, mas em si elas são as mesmas.
Nasce-se muitas vezes depois de nascido, e morre-se muitas vezes antes de morrer.
É assim com cada uma das demais coisas descritas como parte desta existência debaixo do sol.
As experiências, entretanto, é que acontecem em camadas diferentes da vida. Às vezes é literal, mas na maioria das vezes os valores das perdas e ganhos são de valor de natureza imponderável, pois são coisas do coração.
No entanto, não há humano que exista e não experimente, de algum modo, todas aquelas estações. E neste mundo caído a gente tem que vivê-las pra poder entrar na vida.
A questão é apenas uma: o que a gente faz com cada uma dessas estações da vida? No que as transformamos, ou no que elas nos transformaram?
Isto porque a gente pode sair doce, sadio e lúcido de todas elas, e levá-las como Palavra de vida na consciência, e viver melhor. Ou, então, você pode prová-las como arrogância quando é “agradável”, e como amargura quando “dói”.
No fim de tudo a existência terrena tem a ver com o que nós fazemos de tudo o que a nós e a todos acontece, em todos os todos e tudos diferentes, porém sempre os mesmos, para todos.
O antídoto do Evangelho de Jesus para a propensão do coração humano para abraçar a amargura e mágoa ao invés de ser aquilo que gera vida e contentamento grato, diz aos Seus discípulos: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.
Há uns vinte anos eu me dei ao trabalho de conferir o máximo de experiências históricas simbólicas, psicológicas, e espirituais que Jesus teria vivido e como as teria experimentado, e que tivessem o significado de tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz—e verifiquei que Ele as provou todas, e que os evangelhos as apresentam a nós.
Pois Ele diz: “Bom ânimo, eu venci a existência debaixo do sol, com todas as suas contradições. Eu sou o sacerdote de cada experiência existencial. E eu venci a existência.”
Crer nisto é carregar Graça no peito o dia todo, todo dia, e em qualquer situação. Especialmente porque não estamos falando apenas de uma maneira positiva de viver, mas da experiência da fé como relação indissolúvel com Deus, em Cristo.
Isto é estar em Cristo no existir!
Paulo é um discípulo explicito dessa experiência existencial. Veja o que ele diz, escrevendo de dentro de uma prisão:
“Alegrai-vos sempre no Senhor… Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.”
Olhar a existência em Cristo nos dá esse olhar do Eclesiastes, ao mesmo tempo em que nos faz transcendê-lo sem negá-lo.
Então, tanto o pólo da humilhação quanto o da honra são visitados com consciência, a abundância e a escassez não são estranhos, e em nenhum deles nada nos falta; isto quando o que em nós é valor, é a benção de ter uma consciência grata e crescente em contentamento, pois sabe que todas as estações da vida contribuem para o bem daqueles que amam a Deus.
Caio