“…é Ele quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia” (Salmo 103:5).
Tenho uma caneca. Uma dessas de beber chocolate quente. Nela está escrito: “Youth is wasted in the young”.
Meus filhos me deram a tal caneca quando passávamos dois anos na Califórnia, do final de 1988 até o meio de 1990.
“A juventude é desperdiçada no jovem”—diz a sabedoria na caneca!
À época, lembrei-me de quanta energia eu havia jogado fora na juventude mais tenra. Naquele tempo, aos trinta e dois anos, totalmente dedicado ao ministério e me sentindo um senhor idoso em minhas responsabilidades, eu olhava para a minha ainda não deixada juventude como se a pobrezinha já fosse coisa de Yesterday.
Assim, julgava ter entendido a sabedoria na caneca!
Uma outra década viria. Intensa. Cheia de realizações. Cercada de prestígio. Exitosa. Energeticamente vivida também com as emoções de um potro!
Então, BUM!
A juventude estava sendo desperdiçada no jovem. Não no jovem libertino e nem jovem piedoso!
Minha juventude foi desperdiçada no envelhecimento emocional precoce e auto-imposto, de modo que ela não foi um desperdício para milhões, mas foi um desperdício, em muitos aspectos, para mim mesmo!
Há tempo para tudo!
E há tempo para se ser jovem, mesmo quando se carrega um vulcão de paixões por Deus no coração!
Nesse tempo eu quis que “ninguém desprezasse a minha mocidade”; por isso, me tornei um senhor-jovem-velho-de-Deus!
Então, desperdicei minha mocidade!
O conselho é para que ninguém despreze a mocidade do outro, não para que o jovem, a fim de não ser desprezado por ser jovem, envelheça antes da hora!
Quando nós nos submetemos ao auto-envelhecimento, um dia a juventude volta para cobrar os sorrisos sonegados, as alegrias evitadas, as levezas feitas pesadas, as gravidades antecipadas, as responsabilidades assumidas de modo antinatural, os prazeres tratados com descaso, e a energia usada somente para animar a mente e o corpo de um jovem que se sentia como um velho nas suas afetividades!
A meia-idade é o lugar da passagem. Nela as contas são cobradas!
É só na meia-idade que se começa a entender a razão de a juventude ser desperdiçada no jovem, tanto para o bem quanto para o mal.
É também na meia-idade que outro ditado começa ser construído dentro de você: “A maturidade é desperdiçada na velhice”.
Que horror!
Num mundo caído há tempo para tudo, mas em cada tempo falta ao ser aquilo de que ele só fará apropriação pelo desperdício!
Então vem o Salmo 103 e diz que Deus farta de bens a velhice para que a mocidade se renove como a da águia. Dito como acabei de dizer, significaria que os idosos se enriquecem a fim de fartar os moços. Mas não é isso que o salmo quer dizer. É a minha velhice que é farta de bens para que a minha mocidade se renove como a da águia. Ou seja: não se está falando de idade, mas de estado de espírito. Os bens de minha velhice podem remoçar meu ser!
O exemplo é a águia. Para ela chega o tempo no qual, pelo instinto, arranca suas próprias unhas e quebra o bico. Perde as penas e se torna completamente vulnerável. Na águia o tempo da muda é também auto-infligido!
De dentro dessa águia quebrada nasce uma outra: com garras afiadas, penas novas e bico mortal!
A águia se remoça na meia-idade!
Seus vôos serão mais longos e mais altos. Sua força agora corresponderá à sua sabedoria!
A promessa de Deus é que os “bens” da maturidade “remocem” o ser, mesmo que, cronologicamente, já não se seja um jovem!
É isto que faz voar por muito mais tempo!
A questão é saber quais são os “bens da tua velhice” a fim de que o teu remoçar seja como o da águia.
A maioria das pessoas vive de Yesterday na velhice:
“I’m half the man I used to be…”
“There is a shadow hanging over me…”
“Love was such an easy game to play…”
“Now I need a place to hide away…”
Com Yesterday a velhice não se renova como a da águia, apenas enfarta de nostalgia!
Os “bens da velhice”, e que remoçam o ser, são os conteúdos das lições que só são aprendidas vivendo, e que só nos são úteis se, por mais duras e trágicas que tenham sido, forem apropriadas sem amargura por aquele que as viveu, mesmo que na juventude tenha sido um desperdício.
É a doçura da sabedoria que não se deixou amargurar pela experiência da dor aquilo que remoça os velhos!
Esse princípio opera até em velhos. Mas ele é verdade para qualquer idade. O que remoça a alma de um jovem também é a experiência que se deixa processar sem amargor para o espírito!
Os bens da velhice são a maturidade doce e sábia!
Deus quer fartar de bens a tua velhice, para que sejas remoçado como a águia!
Preparado para outro vôo?
Vamos lá!
Caio
(Escrito em julho de 2003)