SALVAÇÃO ATÉ PARA CAMELOS

Lucas 17 a 19; Mateus 22 Quem lê o Evangelho sem lhe discernir o espírito, não entende certas arbitrariedades de Jesus. Coisas como: Por que o CONVITE do reino de Deus não entende a recusa de recém casados que não aceitam o convite porque desejam ter um tempo para gozar amores? Ou por que pede a um filho que não perca tempo sepultando o próprio pai? Ou por que quem comprou um campo não possa nem mais vê-lo se a razão for seguir e atender o convite do Reino? De fato, há decisões arbitrárias nas parábolas de Jesus. O filho que desperdiçou tudo foi recebido com uma festa; um administrador infiel, que foi esperto e sábio na administração de seu próprio erro, é elogiado; sem falar nas Duas Bodas parabólicas, em Mateus e Lucas, nas quais a decisão do Rei é não desperdiçar a festa, e nem perdoar os que mataram os que foram convidar os convidados que se negaram a vir ao Banquete das Bodas; e, decido a “encher a casa”, o Rei manda convidar a todos, mesmo que fossem mendigos, cegos, coxos e paralíticos; ou gente de qualquer esquina ou beco; qualquer um, bom ou mal; sim, toda gente poderia vir e comer e beber; pois está foi a Sua decisão. Porém, se o Rei entrar e encontrar na Festa do Filho uma única pessoa e que não esteja vestida de traje nupcial—o tal pode ser mendigo, coxo, pobre ou quem quer que seja—, infalivelmente esse convidado será eleito para ser lançado fora. Assim, para Ele, não interessa quem é a pessoa, mas o que a cobre. E como explicar que dificilmente os ricos entrarão no reino dos céus? Só por que um jovem rico recebeu como premio por seus esforços de perfeição ouvir o decreto de Jesus que lhe disse “uma só coisa te falta”, assim, pelo meio da testa? Para depois prosseguir ouvindo: ”Vai, vende tudo o que tens, dá tudo aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem e segui-me.” Seria por essa razão tão estranhamente arbitrária que os ricos dificilmente herdarão o Reino? Mas, se é assim, como então Jesus age diferente quando logo a seguir Ele encontra um outro rico, cujas riquezas não eram fruto do trabalho mais dignificado na época—para ser irônico—, um publicano; e, de graça e por nada, o chama e pede para ir jantar em sua casa? E, ao fim do banquete diz que a salvação entrou na casa daquele homem rico de Jericó, chamado Zaqueu? Sim, que lógica há em que um homem que ora em voz alta, e agradece a Deus por ser obediente à Lei, e cumpridor dos deveres religiosos, sempre entregue a grandes sacrifícios, e que não é como os demais pecadores da terra, é visto como um homem que Deus não aceita a oração? Sim, enquanto ao lado dele um pecador assumido e confesso, e que tem até vergonha de estar ali, e que ali só vai porque deseja fazer a catarse de suas culpa, sendo ele um desprezível publicano, justamente a pessoa que Jesus diz que sai da oração e volta para casa justificado e perdoado? Não há lógica moral, ética, religiosa, filosófica, psicológica ou de qualquer outra natureza no Evangelho. Quem nele busca construir uma moral, alguma lógica, ou algum sentido que possa se valer de um mínimo de lógica humana a fim de determinar os resultados das decisões de Jesus nos Evangelhos, jamais conseguirá entendê-lo. Ele pode simplesmente não entrar numa questão de justiça, apenas com uma pergunta: “Quem me constituiu juiz e partidor entre vós?” E por que Ele que é a Verdade não responde acerca do tema quando Pilatos Lhe levantou a bola, perguntando: “O que é a Verdade?” O que há nos Evangelhos é o diagnóstico divino de que única verdade humana é que ele é um ser caído, e carece de Deus, sem outra escolha; e é a tomada dessa consciência em fé por parte do homem justamente o que faz com que ele seja aceito por Deus; visto que o tal homem, apesar de si mesmo, acreditou na Graça de Deus em seu favor, sem explicações; exceto uma: todos creram que Deus é misericordioso. E isto desencadeia o maior milagre; pois a salvação começa quando se toma a consciência, em fé, da nossa total impotência humana quanto a barganhar com Deus. Quando esse milagre acontece, até o camelo pode passar pelo fundo da agulha. Mesmo que o nome do camelo seja Zaqueu. Somente quando o homem vem a Deus sem barganha, é que mesmo sendo ele um grande camelo, ele passa pelo fundo da agulha. E pior, ele pode ser até um camelo muito rico, pois esse “impossível para os homens” termina na hora em que o camelo admite que não pode passar. Essa é a coisa impossível para o homem, e que é possível para Deus. Ninguém se salva, a menos que desista da salvação, e veja tal tarefa assim…tão caricatamente impossível para ele quanto fazer um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Nesse dia de consciência total da impossibilidade absoluta de sua salvação, em confessando que se sabe disso, pela própria consciência da impossibilidade humana, o tal camelo passa para o outro lado; visto que Deus aciona a Graça da fé, que remete o camelo para o outro lado da agulha… Assim, o camelo passa, não as riquezas que carrega em sua caravana de vaidades; mas ele mesmo passa… Isto porque esta é decisão de Deus: operar a salvação em favor dos que desistem dela; e se abandonam na fé, como o publicano Zaqueu; mas não a libera como certeza na Graça em favor do rico penitente, que pensava que poderia “alcançar a vida eterna” por seus próprios méritos religiosos; portanto, sem a Graça. Caio