PREGAÇÃO REV. CAIO FÁBIO – 25 DE MAIO DE 2004
TEMA: A parábola dos trabalhadores da vinha
TEXTO: Mateus 20: 1 a 16
“Porque o reino do céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para sua vinha. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha. Saindo pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados e disse-lhes (isto aí por volta das 9 da manhã): Ide vós também para a vinha e vos darei o que for justo. E eles foram. Tendo saído outra vez, perto do meio dia e depois das 3 da tarde, procedeu ainda da mesma forma; e saindo por volta da hora undécima, ou seja, por volta das 5 da tarde, encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha. Ao cair da tarde disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos e indo até aos primeiros. Vindo os da hora undécima, os que tinham trabalhado só uma hora, ás 5 da tarde, recebeu cada um deles um denário .Ao chegarem os primeiros, os que tinham começado às 6 da manhã no trabalho pesado, pensaram que receberiam mais, porém também estes receberam um denário cada um. Mas tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora, contudo os igualastes a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia. Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles (era o chefe do sindicato): Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Assim, os últimos serão primeiros e os primeiros serão últimos (porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos)”.
Existem muitas maneiras diferente de se olhar para esta parábola. Ela poderia ser a parábola do Reino de Deus na civilização humana, começando desde a mais longínqua história até o último cenário apocalíptico. Sempre com a seguinte convergência: os que chegaram antes, os que viram antes, os que ouviram antes, os que souberam antes, os que se afadigaram mais e os que tiveram que despender mais energia na tarefa, sempre carregam dentro de si esse sentimento de que lhes cabe uma primazia sobre o que não lhes pertence.
Ora, se a gente fizesse uma leitura, por exemplo, que começasse lá em Gênesis e nós fôssemos não até o Apocalipse, mas AO NOSSO apocalipse—porque o livro do Apocalipse é uma revelação, nós estamos vivendo a história dessa revelação—, até a última hora, nós iríamos ver que a questão humana é sempre essa: os que estão chegando depois parecem não carregar a autenticidade para qualquer tipo de remuneração, seja ela qual for, porque os que chegaram antes vão sempre se comparar com estes que estão chegando agora.
A aplicação imediata dessa parábola no Evangelho, nos dias de Jesus, é absoluta; e não está de modo algum solta no tempo e no espaço. O que Jesus está dizendo, contando essa parábola do REINO, é que o reino de Deus estava presente ali entre eles só que o significado da presença só poderia ser entendido de uma maneira parabólica.
O que estava acontecendo ali?—é a questão que vem ANTES da gente ler a história. O que estava acontecendo é que havia fariseus zelosos da lei e que haviam se tornado, praticamente, os responsáveis pela cura da idolatria que se materializava em adoração de ídolos em Israel, porque foi no cativeiro em Babilônia que os judeus ficaram libertos da idolatria que se materializava na construção de ÍDOLOS; notem que eu estou falado de uma coisa muito específica e muito básica—a idolatria habita o coração humano, e é outra coisa. Sem dúvida os rabinos, cujo movimento ganhou existência e poder no Exílio em Babilônia, fizeram essa faxina na idolatria. Isto porque com a destruição do templo em Jerusalém—destruição feita pelos Babilônios—, eles não tinham mais nem um núcleo nem um vértice de agregamento para eles; e ai surge a sinagoga no exílio. Então, eles que antes cultuavam no templo, agora têm que se reunir em torno da Torah, da Escritura, para lê-la, e ai constroem casas para lê-las, surgem os rabinos, e dentro desse movimento aparece a seita dos fariseus, que era a mais zelosa de todas, pois cumpria a lei ao pé da letra, ao pé da testa, ao pé do punho, ao pé de qualquer coisa… Se se dizia que era para se guarda a palavra no coração, eles iam colar um couro com versículo bíblico no peito. Ora, justamente aqueles que libertaram Israel da idolatria da materialidade do ídolo, eles mesmos transformaram a Torah num ídolo.
Os interesses desse grupo são muito fortes, eles se sentem os patronos da verdade, os deuses das certezas, os senhores da devoção, os obedientes em todas as meticulosidades; eles se sentem como se eles fossem uma boa nova para Deus; e que sem a existência deles na terra Deus não teria FIÉIS.
Eles são os mais fortes em presença do evangelho, em presença que hostiliza a Jesus, que provoca, que persegue, que vai a trás; há outros grupos, mas cujos interesses se manifestavam por outros meios e outras mídias. Os saduceus, por exemplo, tudo estava muito bom desde que não se chegasse perto do templo, porque eles eram da classe sacerdotal; então o que interessava para eles era a gerência administrativa do lugar sagrado. Os zelotes estavam nas esquinas, como um movimento religioso de extrema esquerda. Mas quem está presente mesmo, fustigando com vara o tempo todo a Jesus, são os fariseus. São esses caras que olham para si mesmos, e dizem: “Nós seguramos a onda. Destruíram o templo, mas a gente criou a sinagoga; nos exilaram, mas a gente leu a palavra; houve dominação grega com processo de helenização, mas nós resistimos firmes e estamos aqui; e hoje se temos esse outro templo construído por Herodes, o grande, é porque nós somos os fiéis dessa balança. Somos os trabalhadores da primeira hora, é da nossa linhagem que vem o benefício que qualquer um tem agora porque nós estamos aqui desde o princípio”.
E eles não se conformavam de ver como Jesus não dava nenhuma bola para esse pedigree, para essa genealogia, se Jesus fosse dar bola para genealogia, meu Deus, ele iria se esconder, porque a genealogia de Jesus é um horror. Leia Mateus 4 que você vai ver a moçada que está presente na genealogia Dele.
Então os fariseus achavam que Jesus iria se impressionar com o esforço deles; e que quem quer que fosse de Deus haveria de cultuar o culto deles a si mesmos, em nome de Deus.
Mas Jesus passa batido; essa é uma moçada que tem que correr atrás Dele, esse é um pessoal que Ele não procura, esse é um pessoal em cujas casas está escrito: Cuidado com o cão Rex!
E Jesus vai no caminho.
Eles é que não agüentam, eles ficavam como aqueles cães enlouquecidos que correm para atropelar carros. Já encontraram uns cachorros doidos desses? Cachorro com fixação obsesssivo-compulsiva em pneu de carro?
Paulo foi, por exemplo, um genuíno representante dessa atitude existencial durante muito tempo. E ele diz: “… quanto ao zelo, eu era perseguidor da igreja; e era da seita dos fariseus; e da tribo de Benjamim; e era perseguidor da igreja”.
Esse é o espírito, esse é o pessoal das 6 horas da manhã; esse pessoal está ali com Jesus. Eles toleram a moçada das 9 horas da manhã; mas eles olham para a moçada das 9 horas da manhã como quem diz: segundo escalão. Tem o pessoal do meio dia, legal, é gente do “meio expediente”. Tem o pessoal das 3 horas da tarde, é “prestador de serviço”. Mas quando chega o sujeito das 5 da tarde, ou ele é o faxineiro ou ele é o consultor…
“Uma hora de serviço, o que é que vem fazer aqui? Não está pegando na enxada como eu, não foi posto em nenhuma situação hierarquicamente superior, deve ganhar, portanto, o meu dízimo.”
Sim, eles fizeram as contas!
O que eles não entendiam é como Jesus dava tanta atenção a publicanos, pecadores, meretrizes, ateus, centuriões, siro-fenícios, gadarenos, lunáticos, amalucados, coxos, paralíticos, cegos, viúvas impotentes. Sim, não entendem como a agenda Dele muda toda, se alvoroça o tempo todo, como aquele que está na praça procurando gente. Mas não se importa e não legitima essa consciência de primazia que se instalara nos fariseus, e eles não suportam isso.
João Batista já tinha sido uma agonia, já tinha causado uma subversão horrorosa, já tinha deslocado o eixo do poder do templo para o deserto, é a primeira voz profética em 400 anos; literalmente: VOZ DO QUE CLAMA NO DESERTO!
Agora chega o CORDEIRO DE DEUS QUE TIRA O PECADO DO MUNDO e passa batido por eles, embora haja gente da primeira hora, um deles é Nicodemus, que era membro desses núcleos; ou José de Arimatéia, acerca dos quais o evangelho diz era discípulos de Jesus, ainda que ocultamente. Mas Jesus está chamando publicanos e pecadores; enquanto os fariseus e religiosos vão assistindo o derrame, a orgia, a extravagância horrorosa, inconcebível, de graça, de misericórdia, de sabedoria, de ensino, de liberdade, de autoridade em Jesus.
A grande questão dos fariseus é: E nós? O Senhor não está olhando para gente… a gente está ralando aqui há muito tempo . Quem são esses caras? O que eles fizeram?
Essa é a história, esse é o cenário, esse é o quadro circundante a Jesus no Evangelho, esse é o espírito, essa é a atitude.
Aí vem a parábola: O Reino de Deus é semelhante a um dono de uma casa que levantou de madrugada e saiu para contratar trabalhadores para sua vinha no fundo do quintal. Às 6 da manhã ele encontrou um grupo e lhes disse: Vão trabalhar na minha vinha e pela jornada do dia eu lhes darei um denário . Às 9 da manhã ele viu que ainda havia espaço para mais gente trabalhando; saiu e disse: querem trabalhar na minha vinha? Podem ir que eu vos pagarei o que for justo. Aí eles foram. Ao meio-dia e às 3 da tarde ele faz isso outra vez, e diz: Ide e vos pagarei o que for justo. E às 5 da tarde ele sai e encontra o último grupo, e disse: o que vocês estão fazendo aqui? Eles disseram: ninguém nos contratou. E ele disse: Ide. E eles foram.
Quando chega a hora de pagar, ele manda que o seu administrador chame a cada um e faça os pagamentos, a começar dos últimos. Os últimos serão os primeiros. A começar dos últimos, publicanos, pecadores, meretrizes, prostitutas, marginalizados, castas insuportáveis, gente que não fez nada, gente que só confessou, gente que só chegou, e disse: Ó, eu não sou nem digno de que Tu entres na minha casa, mas manda uma palavra, só uma palavra tua, e o meu ser ficará curado. Sim, gente que diz: Olha, nem como fetiche eu estou te vendo, fala uma palavra que o milagre acontecerá. Gente que nunca matou pombinha, nem imolou sacrifício, nem fez jejum: era um centurião romano.
Acerca dele Jesus disse: “Em verdade vos digo que nem em Israel eu vi uma fé como esta.”
É gente como a sírio-fenícia, que provoca Nele a exclamação: Ó mulher, grande é a tua fé!
É gente como o rico Zaqueu, publicano; e não o jovem rico com qual Jesus tinha encontrado um pouco antes, que veio com uma questão filosófica ou teológica: O que farei para herdar a vida eterna? Não, com Zaqueu não há nada disso; só há uma vontade de ver, de subir numa árvore, de pagar o mico; e de repente, alguém grita e diz: “Olha, desce daí porque hoje eu vou jantar na tua casa!” E o cara abre a porta, acolhe, recebe, e fica tão tocado e impressionado que do nada simplesmente diz: “Resolvo dar metade dos meus bens aos pobres, e se em alguma coisa eu tenho defraudado alguém, eu pagarei quatro vezes mais”. E ai Jesus diz: “Hoje entrou salvação nesta casa, porque este cara ai é um filho de Abraão.”
Vai explicar… Se os ricos não entram no reino dos céus, o problema não tem nada a ver com a riqueza, tem a ver com esta atitude de auto-enriquecimento, seja com grana ou seja com justiça própria, seja com que capital for. Assim, se você for um capitalista na alma, um ser que diz “tenho em estoque para mim mesmo, me basto”; então, meu querido, o CAMELO passa, você fica!
Porque se o problema fosse dinheiro, Zaqueu não teria passado, especialmente com o dinheiro que ele tinha, e do modo como o ganhara.
O que isto tem a ver com a gente hoje a noite aqui?
Interessante, é a pergunta que o dono da casa faz ao representante do grupo da primeira hora o que é mais importante. Eles foram os últimos a receber, eles vem com uma queixa: “Estes que trabalharam por último, só uma hora, ganharam a mesma coisa que nós que nos afadigamos no calor do dia; é justo?
Aí o dono da casa vira-se para eles e lhes diz: Amigo, não de faço injustiça; não combinaste comigo um denário?
É interessante que você vê que na parábola o único grupo que fez um acordo foi o primeiro grupo. Somente para esses das seis da manhã é que ele disse: “Trabalhem o dia inteiro e eu pagarei um denário”; os outros foram todos na fé. Mas os primeiros tinham um contrato.
Ao grupo das nove horas ele disse: “Eu darei o que for justo.” Aos do meio-dia e ao das três da tarde, também diz a mesma coisa. Para o último grupo, o dos desocupados, os da hora undécima, ele apenas disse: “Ide também vós para a vinha”; e não mencionou nem justiça, nem acordo, nem contrato, nem grana; só mencionou terapia ocupacional: “O que vocês estão fazendo desocupados aqui? Vão para a vinha”. E os caras foram.
No reino de Deus, o pior que você pode esperar, é JUSTIÇA!
Bem-aventurado é aquele que, todavia, não espera por justiça; porque, no mínimo, justiça você terá.
Bem-aventurado é aquele que não viu e creu, é aquele que não fez nenhum contrato com Deus, é aquele que sabe que ele mesmo não tem nenhum pacto a oferecer a Deus e nenhum pacto a honrar com Deus.
Bem-aventurado é aquele que sabe que ele mesmo não é uma boa nova para Deus. Bem-aventurado é aquele que sabe que a boa nova vem de Deus para nós. Bem-aventurado é aquele que sabe que o pacto é feito por Deus, e por nós.
Bem-aventurado é aquele que não tem um contrato com Deus, mas CONFIA na natureza e no amor de Deus. Quem tem um acordo com Deus receberá conforme o acordo; quem não fez nenhum acordo, prepare-se para a surpresa: Ele é chocantemente bom. É tão bom que a justiça dele fica parecendo injusta; porque esses que foram reclamar, receberam JUSTAMENTE. Mas a falta de critérios da graça, da misericórdia, da bondade sempre prevalecem sobre a justiça e o juízo.
E ai Ele resolve, simplesmente, não remunerar como aquele que diz: Eu pagarei o que equivale ao trabalho feito. Ele simplesmente DOA. E o pessoal que não trabalhou com outra motivação que não tenha sido a do salário, se choca profundamente, quando descobre que no reino de Deus justiça é o mínimo que você terá. Mas muito melhor será para você , se você não tiver nenhum acordo com Deus.
O Evangelho não implica numa barganha. Quem faz um acordo vai receber o acordo feito; quem não faz acordo nenhum está nas mãos do Deus da Graça.
É chocante; e numa certa medida extremamente mais chocante ainda do que este texto é o mesmo princípio que Paulo usa de uma maneira extravagante, completamente a-ética, para explicar a grandeza, o escândalo da Graça de Deus sendo praticada sobre mim e sobre qualquer outro ser humano. Em Romanos no capítulo 4, Paulo diz algo que é horrível de ouvir. Ele diz que nós somos aqueles que temos a cara de pau de nos aproximarmos de Deus como quem não trabalhou, mas vem receber o salário da Graça assim mesmo. Pois àquele que trabalhou, o salário lhe é devido, mas o que não trabalhou e se apresenta para receber, acredita na misericórdia de quem paga, de tal modo que a fé lhe é atribuída como justiça.
A radicalidade da Graça de Deus chocou os fariseus, e choca todas as mentalidades que sejam farisaicas.
Justiça você tem, se esse for o seu acordo; agora, eu prefiro não fazer nenhum acordo com Deus. Sabe porque? Porque eu sempre imagino as coisas com meus próprios critérios de juízo. É por isso que eu não devo julgar que para eu não ser julgado; porque com o critério com que eu julgo, esse critério volta sobre mim. Qualquer acordo que eu faça com Deus é contra mim. É contra mim no mínimo, porque Ele faz infinitamente mais do que o que nós pedimos ou pensamos segundo seu poder que opera em nós, se a gente crer na Graça.
É contra nós porque se foi um acordo, vai ficar nos termos da lei!
Você quer o que com Deus? Um contrato? Se você quiser um contrato, o contrato está feito, permaneça nele: é a Lei. E como eu disse outro dia, agarre-se aos Dez Mandamentos porque é muito mais tranqüilo do que o Sermão do Monte; e viva a neurose da sua própria impossibilidade de cumprir a tarefa; e viva a amargura horrorosa de perceber que há gente que chegou na última hora, e levou o que não pediu, e recebeu o que não buscou; pois está escrito: “Eu fui achado por aqueles que não procuravam por mim”.
Agora, a aplicação dessa parábola tem uma dimensão psicológica terrível. O que ela nos mostra é que as nossas grandes questões de natureza espiritual—e que a gente já viu quais são e quais eram as nos dias de Jesus—, nascem todas de um lugar comum. Tudo isso é filho da comparação, da inveja, do ressentimento, tudo milita na carne, todas as nossas guerras, não tem nenhuma outra guerra que milite fora da carne, como diz Tiago.
Tá pensando que a guerra do Bush contra o Iraque milita fora da carne? Na ONU? No pentágono? Não! Milita na carne! Se você for ver lá quais são as razões do cara… me perdoe!
Às vezes um pênis pequeno faz o indivíduo jogar bomba na terra dos outros; cada um aperta o botão que tem na mão.
Uma frustraçãozinha sexual de um pobre coitado, o leva a um terapeuta. Mas o Presidente dos Estados Unidos quer mostrar potência de outro modo…
Eu estou dando um exemplo caricato apenas para mostrar que se você for espremer, é uma tarefa para “cumprir para papai”; é um dever de casa “para a mamãe”; e, mesmo sendo presidente da América, o cara tem coisas a provar aos amigos; ou para a esposa, que sempre o olhou como um otário. Assim, ele diz: “Agora eles vão ver que eu vou fazer história; que eu não sou bonito como Kennedy, mas eu sou o BUSH!!
O resto é panacéia. São só validações de um jogo; são só mentiras de importâncias; são só enganos; são só apelidos para o game, mas estão jogando “purrinha global”; só que ao invés de palitinhos eles estão brincando com bombas. É outro xadrez, mas é o mesmo jogo; e a competição está ali dentro; é a mesma, em todos os lugares, grandes e pequenos. Até mendigos brigam por inveja e ressentimento em relação ao lixo. Assim é na igreja também.
No grupo andando com Jesus ali no caminho era assim também. Quem vai ser o primeiro, quem que senta à direita, quem senta à esquerda…
A mãe de Tiago faz uma intercessão, faz um lobby, quer que o filho se assente ao lado do Senhor no Reino por vir.
Tudo isso gente, não varia do salão de beleza ao monastério!
As temáticas mudam, as batinas também, os vestuários também, mas o que está operando lá em baixo é uma coisa desgraçada: essa madastra da alma que é a inveja; e que reduz a vida da gente a nada. Habita os nossos casamentos, habita os nossos relacionamentos, habita as nossas relações parentais, habita as nossas relações fraternas, habita todas as coisas, de um modo ou de outro, a bichinha está lá!
Você lida com ela sempre. Sim, com a comparação; vive se medindo…
Você faz isto de modo consciente e faz isto de modo inconsciente; mas os resultados são sempre os mesmos: quando você começa a se comparar com outro, quando a gratidão não é pela sua vida, pela chance que você teve, pela oportunidade do trabalho, pela vida que Ele te proporcionou, pela existência e pelo indivíduo que você é—então, inevitavelmente, vem a inveja.
Quando a vida perde essa consciência e se transforma numa relação de comparação, aí a minha gratidão já não é mais por quem eu sou, por quem Ele me fez, pelo que Ele me deu; mas o outro passa a ser a minha referência, pela qual eu me meço; e se ele cresce eu me reduzo; se ele se achata eu cresço; se ele fica do meu tamanho eu começo a sentir a tentação de derrubá-lo; e tudo quanto acontecer com ele facilmente, que comigo só aconteça duramente, se transformará em ressentimento; isso vai gerar dentro de mim muita amargura.
O que essa parábola está nos ensinando também tem aplicabilidade terrível e que tem a ver também com nossas relações imediatas.
Os irmãos mais velhos e os filhos pródigos, são arquétipos presentes em todas as nossas relações, e medições…
Quem é esse, que volta da terra das meretrizes e o pai dá uma festa para recebê-lo? Não entrarei nessa casa!
Essas medições estão presentes o tempo e a gente pensa que elas são banalidades; gente, elas são a vida. É por isso que outro dia eu lhes falei aqui que perdão é perdão. Ora, tais coisas são TÃO a vida que Jesus nos ensinou a orar dizendo: “Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.
Não existe um Evangelho para “cima” e um outro para ser praticado conforme uma etiqueta cristã para o “lado de fora”. Se não aconteceu no coração, não aconteceu em lugar nenhum.
O resultado dessa parábola nos esmaga a todos em relação a algumas perguntas que a gente tem que se fazer. A primeira é de ordem espiritual profunda. A pergunta é: Será que no meu coração eu tenho um acordo com Deus? Porque para quem tem um acordo com Deus, eu tenho uma notícia a dar: esse cara vai ficar ressentido, muito ressentido, muito amargurado, e muito invejoso. Porque Deus faz o que Ele quer com que é Dele, do jeito que Ele bem entende, e Ele é absolutamente despótico na Graça Dele.
Se você tem um acordo, você não vai receber menos do que o acordo, mas também não fique invejoso.
Eu não tenho nenhum acordo com Ele. Eu ando nessa fé do vagabundo. Deus não me deve nada. Deus não me deve absolutamente coisa alguma.
Não tenho questão, não tenho pergunta, não tenho remuneração, não tenho pedido, não tenho galardão, não tenho nada!
Conhecê-lo foi meu privilégio, minha riqueza, minha porção, minha herança… Experimentá-lo, gozá-lo, andar na confiança Dele, é meu grande privilégio. O que Ele me dá, me satisfaz. Fui chamado na última hora, não estou querendo saber o que é. Só não estar desocupado, já é graça.
Agora, eu não quero que meu olhos jamais sejam maus porque Deus é bom; porque isso que acontece quando a gente se compara com o irmão; porque inconscientemente todos nós temos um acordo com Deus; né?
Difícil encontrar um cara que não tem. Eu já tive os meus acordos com Deus. Eu não tenho mais. Nenhum. Mas foi uma longa jornada, discernir que EU NÃO POSSO TER ACORDOS COM DEUS. Pois acordo com Deus só é contra mim.
Agora, o acordo Dele comigo, é sempre infinitamente mais do que eu podia imaginar.
Assim, Ele manda; e eu vou. O que Ele vai fazer, é uma questão Dele!
No entanto, quando você VIVE em função desse acerto tácito, que eu disse a maioria de nós tem, a existência irá nos amargurar.
A maioria de nós desenvolveu alguma coisa, esse espírito do fariseu está presente, do trabalhador da sexta hora, do cara que fez um contrato—sim, esse espírito está presente. Aí nasce o ressentimento e a inveja. Se houver um acidente no meio do teu dia de trabalho, a culpa é de quem te contratou. É assim que você se sente.
Se aqueles que chegaram bem depois, de repente, recebem o que você nem imaginava—porque você não recebeu menos do que o prometido, mas eles receberam infinitamente mais do que você pelas leis da proporcionalidade—, seu coração vai se amargurar e vai se tornar invejoso. Mas se você não estiver tendo no seu irmão essa referência e a sua relação com Deus não estiver baseada num contrato de trabalho, mas na graça; aí a benção de Deus sobre a vida do seu irmão nunca vai fazer mal a você; aí o espírito dos fariseus nunca vai te dominar; aí o espírito de Satanás, o do acusador, nunca vai te possuir; e você vai caminhar liberto de uma desgraça horrorosa chamada inveja.
“Porque eu estou bem certo de que nem morte e nem vida nem coisas do presente, nem do porvir, nem altura, nem profundidade e nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus o Nosso Senhor.”—esse é um contrato Dele comigo.
Se fosse o contrário, eu teria que dizer porque eu estou mais do que certo de que tanto a morte quanto a vida, tanto as coisas do presente quanto as do porvir, tanto as elevadas quanto as profundas e abismais, os anjos, os principados, o diabo e os poderes, e qualquer outra criatura, poderá ter o poder de me separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus.
O único caminho de perfeição diante de Deus é a confissão de nossa mais radical imperfeição, meu irmão.
O único caminho de fidelidade para com Deus é o da confissão da sua infidelidade.
O único caminho na Graça de Deus é aquele que se expressa como gratidão por ter sido chamado; não importa a hora do dia, não importa contrato, nem salário; o privilégio foi ser tirado do ócio, do vazio, da vida sem significado, da falta de propósito.
Ele me chamou, e eu fui. E Ele faz comigo o que Ele quiser. Se me mandar no fim do dia para casa, eu vou feliz, porque pelo amor de Deus, eu pago na academia para suar e me sentir bem. Porque que é tão ruim assim fazer ginástica de graça? Vamos parar de besteira!
O Evangelho do Reino de Deus é como um dono de casa que saiu contratando. Dele você pode, com certeza, esperar justiça. Mas se você não tiver um acordo, se você não tiver regras, se você não tiver barganhas, se você não tiver negociações, se você não tiver trocas, se você não estabelecer referências do tipo “abençoa-me assim, e assim serei para ti”; ao contrário, se você O servir por nada e por Ele; e somente por isso… Então você vai no vento, no espírito, deixa-se levar, sem contrato. Sim, você comete a irresponsabilidade de confiar no vento do amor de Deus.
O justo anda pela fé; e no fim do dia, meu irmão, você vai conhecer o fato desproporcional do amor e da graça de Deus.
Mas isso é para quem anda na confiança!
Também nesse dia você vai conhecer a libertação de ressentimentos, de invejas e de comparações. Nesse dia acabam todos os curriculum vitae. Nesse dia são entregues e rasgadas todas as carteiras de trabalho. Nesse dia Ele é Ele, é soberano.
A mim Ele nunca vai me dar menos do que é justo. Mas eu não quero ter contrato com Ele até por esperteza. Eu prefiro ser surpreendido pelo escândalo da Sua graça. E que a minha justiça seja, confiar na graça Dele!
Ora, isso não te põe no caminho da vagabundagem. Lembre, na própria parábola, o sujeito é salvo da vagabundagem para poder trabalhar sem salário e receber mais do que um salário.
O chamado já é graça!
O que vem depois disso, é escândalo do amor de Deus!
Agora, eu queria pedir para você pensar nestas perguntas: Amigo não te cometi injustiça. Porventura não te dei conforme tu havias contratado? Os teus olhos são maus, porque eu sou bom? Ou não posso eu fazer o que eu quiser do que é meu?
Eu espero que hoje, aqui, não haja ninguém magoado com a graça de Deus; porque no fim é isso que Jesus está ensinando.
O Reino de Deus quer ser alegria, quer ser recebido como surpresa de um amor inesperado, de um perdão inconcebível, de uma graça incompartilhável.
Mas há quem sofra com a chegada do reino. Há quem se zangue, há quem se nega a entrar, há quem não queira conciliação, há quem tenha memórias amargas acerca “desse teu filho, ó Pai”; ou “desse meu irmão”; ou há aqueles que dizem: “Nós nos afadigamos desde a primeira hora do dia, e esses chegaram agora…”
Que o reino de Deus nunca chegue para você como amargura, nem como ressentimento, nem como inveja.
Lembrai-vos da mulher de Ló. Ela voltou para Sodoma como os israelitas voltaram para o Egito sem sair do lugar. Virou estátua de sal.
A gente se torna aquilo no que e onde o nosso coração está. Você pode estar na geografia da salvação, mas se teu coração estiver com a saudade do lugar do juízo, você vai ser cristalizado e petrificado com o bafo de Sodoma.
E eu só estou dizendo isto a você porque tudo isto acontece no coração. É no coração onde todas as histórias acontecem, todas as que são histórias para Deus; é daí também que procedem os maus desígnios; e, também daí, procedem as fontes da vida.
O que a gente faz do lado de fora é a encenação, que às vezes acontece até para encobrir o coração, para falsificar quem ele é. Mas o reino de Deus puxa as vísceras da gente para fora; o Reino de Deus é salvação. Todavia, o Reino de Deus é tentação para alguns; é provação para outros; é exumação para outros; é autopsia para outros; mas alguns é cheiro de vida para a vida; e para outros é cheiro de morte; para uns é alegria e festa; para outros é ressentimento, é inveja, é amargura.
Que você não seja desses para quem o Reino chega trazendo contrariedades. Se você estava contrariado, rasgue hoje os seus contratos e celebre o cálice da nova aliança que não foi derramado só para você, mas foi derramado por Ele para resgate de muitos.
E saiba: o Reino de Deus é injusto mesmo. Ele não pratica uma injustiça sequer; mas ele é injusto porque ele não guarda nenhuma relação de proporcionalidade, nenhuma injustiça aritmética, matemática, ética ou da verdade; mas profundas são as injustiças praticadas pela misericórdia. A misericórdia é profundamente injusta, excessiva, por isso é que ela triunfa sobre o juízo. O juízo determina a morte, a misericórdia quando peca, peca em favor da vida.
Decida hoje o que o Reino significa para você: se é ressentimento, inveja, amargura, contrato, cobrança, barganha; ou se é privilégio, uma chance de sair do nada, do vazio, de ganhar sentido para a vida, de se ocupar com algo maior do que sua a própria vida; confiando. E quando a hora chegar, se Ele cometer injustiça, vai ser em nosso favor, porque onde abundou o pecado, aí superabundou a graça.
Eu queria orar por gente que sofre de inveja. Inveja. É duro admitir isso, é duro. Inveja. Inveja é uma coisa que está dentro de ti; você luta contra, você sofre, você se compara, o progresso do outro o perturba; parece que você está sendo deixado para trás; você está sempre sofrendo e se comparando.
Eu queria também orar pelos ressentidos, por aqueles que acham que a vida não lhes foi boa nem justa; vêem a existência como uma coisa perversa. Podem até falar em soberania de Deus, mas aqui no fundo do coração não sabem ainda o que significa amá-la; e o dia que souberem, perdoarão o mundo, perdoarão a vida, perdoarão o pai, perdoarão a mãe, perdoarão o país, perdoarão a história, perdoarão; e vão caminhar sem amargura e libertos.
Enquanto isso, cabe-lhes a masmorra, o verdugo, o cárcere, essa maratona de agonias infindas, essa corrida de obstáculo; sempre competindo, e sempre cansando; e sempre se amargurando; e sempre se frustrando.
Se você não tiver coragem de dizer que sente inveja e ressentimento, responda pelo menos uma coisa: Qual o tamanho da sua frustração? Ela pode ser com você mesmo; mas em geral, apesar de ser com você mesmo, só é assim porque você se compara a outros; e se isso vem estado dentro de você nas horas mais diversas da sua vida.
Essa parábola é um convite para a gente também se libertar disso; não deixar os olhos da gente ficarem maus porque Deus é bom; é sarar os olhos, sarar a visão, sarar o coração.
Caio