O MANDAMENTO E OS CÓDIGOS DO CORAÇÃO
Quando Jesus diz as coisas, sempre o faz de modo final. Não há “talvez” em Suas palavras. Até quando Ele “relativiza” algo, como por exemplo no “caso do adultério”, Ele relativiza o mandamento externo apenas para absolutizá-lo na subjetividade: “…Se alguém olhar com intenção impura, no coração adulterou” (Mt 5). De todos os mandamentos talvez o que mais me impacte seja o mandamento para não julgar. Digo isto apenas porque nele vejo a medida exata do significado dos Códigos do Coração, os quais Deus implantou no ser de todo ser humano. “Não julgueis para que não sejais julgados; ‘pois com’ a medida com que medirdes, vos medirão; e com o critério com o qual julgardes, vos julgarão”. De fato é esse “pois com…” que me assusta… Jesus estabelece a inescapabilidade humana perante a verdade do mandamento. Não há apelação. Não há homem que desse absoluto escape. Não há paz possível na transgressão. Não existe fuga desse vero-dito. E o pior de tudo: está estabelecido que nós mesmo fazemos todas as coisas, para o bem e para o mal. É verdade que há agentes externos sendo mencionados, e são esses que “vos medirão” e que “vos julgarão”. No entanto, independentemente desses agentes externos, o mandamento se faz verdadeiro mesmo quando ninguém tem nem o conhecimento e ou nem mesmo o desejo de nos julgar de volta. Isto porque se nós damos a medida e o critério do juízo, nós mesmos somos os que nos julgamos, uma vez que são esses referenciais que haverão de nos julgar. Aqui, como em poucos lugares, aparece o papel sacramental do inconsciente humano na sua conexão com a Palavra Eterna, quer o homem queira ou não, quer ele saiba ou não. Portanto, o que está estabelecido é que não há ninguém que possa viver longe do inferno do juízo se existe em transgressão contra a verdade, e que está posta em cada um de nós. É apenas porque a verdade está posta em cada um de nós, que a sua transgressão carrega juízo imediato para o coração. E tal juízo se manifesta nas proporções da transgressão do mandamento, de modo que o indivíduo viverá dês-sossegado na mesma medida de sua transgressão. Quem não o deseja, então que não o faça. Pois Jesus diz: “Não … para que não…” Se não quer, não faça. E é assim apenas porque é assim. Muitos de nós—se não todos nós—um dia ou outro, numa coisa ou noutra, julgamos que podemos transgredir e controlar as conseqüências desta vida. Às vezes nos julgamos capazes de manobrar, de gerenciar, de fazer gestão, de suportar, de se escudar, de se fazer curtir… de tal modo…, que julgamos que pela criação de algum poder pessoal nós poderemos suplantar o mandamento nas suas conseqüências existenciais e psicológicas em nós. Mas não é possível. Ninguém vence o mandamento. Nenhum coração tem paz enquanto o transgride. Nenhuma criatura jamais foi feliz na transgressão. E assim tem sido apenas porque assim é. Hoje, meu filho, Ciro, me dizia que a ciência pode explicar a “causa fenomenológica” de muitas coisas, só não pode é dar a razão da causa ser aquela. Afinal, poderia ser de outra forma. Ou seja: é assim, e posso saber como é esse “assim”, só não sei é o por quê de ser assim, e não descansarei até que aceite que é assim por decisão do Criador. O mesmo se dá com o mandamento! Como diz minha mulher, Adriana: “Ninguém tem paz enquanto não dá razão a Deus, e enquanto não vive conforme a razão divina”. Obviamente que isto nada tem a ver com Moral, mas sim com Verdade. Sim, com essa Verdade que entrega o critério e a medida em nossa própria mão, e apenas nos diz que será conforme o intento de nosso coração. Ou seja: a Verdade nos diz que será conforme a verdade que há em nós! Assim, Jesus inverte aqui o mandamento do “o que quereis que os homens vos façam, fazei isto vós antes a eles”. O que Ele está dizendo é ainda mais básico. “Não faça, não deseje, e não categorize ninguém, pois serão tais coisas que haverão de julgar você para sempre”. Com isto Jesus não nos impede de ter opinião e de evitarmos aquilo que de tão obviamente mal não se pode esconder. Discernir é preciso, julgar não é preciso, é o ensino de Jesus. Ou seja: posso discernir e, por esta razão, não devo lançar pérolas aos porcos. O que não posso é mandar o cara para o chiqueiro. E como eu disse: Não adianta fugir do mandamento, pois ele vive em você. Se você quiser ter paz, siga-o com perseverança, e o que se pede nada mais é que fazer para os outros o que se quer que seja feito a nós, e não fazer ou designar para os outros o que não se quer que volte sobre a nossa própria cabeça. Aqui ouço a simplicidade da Voz de Deus a Caim: “O pecado jaz à porta. Domina-o”. Caio 19/03/2005