FÁBRICA DE DEUSES
A alma humana demanda um plano para existir. Pode ser o cumprir de ritos simples da vida, como nascer, crescer, passar estações, procriar, produzir, e morrer. Mas todos precisam de algum roteiro, nem que seja apenas o biológico, como acontece com muitas tribos primitivas, e, também com muita gente da cidade. Isto porque mesmo em circunstâncias existenciais de primitividade, a alma demanda ritos e estações de sentido. Ora, esta necessidade, diz o Gênesis, surge com as estrelas, com o firmamento, com o nascer dos dias e noites, e com o chamado à existência de estações naturais, como a primavera, o verão, o outono e o inverno. Diz-se que eles foram “dados para” produzir marcos psicológicos e históricos, tanto imprimindo sentimentos na memória, quanto também ordenando a cronologia da existência, tanto dos humanos, quanto dos animais, os quais, instintivamente, também se servem deles a fim de cumprirem seus ciclos naturais. Não é à toa que a Grande Visita tenha sido marcada por uma estrela no firmamento. Afinal, aquele era o marco dos marcos; e não apenas para a História Humana, mas, sobretudo, para a existência individual de cada pessoa. Aqui, no entanto, eu já expresso a minha fé. A maioria, todavia, quer saber a razão da existência, e que propósitos Deus tem em relação à vida humana, e a tudo o mais que existe. Sim, nessa busca por mapas, agendas, significados, estações e propósitos para o Universo e para a existência humana, nasceram todas as religiões, todas as filosofias, e todas as ciências. Mapeamos os céus com signos que só existem para nós; os quais, após terem sido “estabelecidos”, agora se deixam ver nas formas nas quais os enxergamos; e isto apenas porque nos foram mostrados os desenhos de cada um deles; e como se encontrou semelhança com peixes, touros, escorpiões, libras, leão, e outros seres da Terra, então, seu significado nasceu de nossas próprias projeções. Assim, os homens inventaram os signos dos céus! Todavia, assim como inventamos os signos, também inventamos os deuses. Sim, todos os deuses são invenção nossa, até o “Deus” das nossas melhores religiões. Todo “Deus” que tem plano conhecido é invenção do homem, mesmo que o homem seja um teólogo, ou mesmo que os inventores tenham feito parte do mais digno e elevado Concílio de Pais da Fé. O Deus verdadeiro não tem Conselheiros e Seus Caminhos nos são todos estranhos! O Deus verdadeiro, mesmo quando faz revelação aos profetas, não os deixa saber de tudo, só de partes, as quais, muitas vezes, nem eles mesmos entenderam. Deus explicável não é Deus; é um apenas “Deus”. E o mais intrigante é que a Revelação de Deus entre os homens também não explicou nada. O mundo era caído, e continuou caído. As pessoas sofriam, e continuaram sofrendo. Atrocidades aconteciam, e continuaram a acontecer. Injustiças eram praticadas, e continuaram a ser. A Religião matava em nome de Deus, e continua a matar. Mas nenhum plano foi divisado e nenhuma explicação acerca das coisas serem como são, nos foi dada. Parece que para Jesus qualquer outra conversa era algo como doença da própria Queda. Sua fala mais metafísica apenas diz: “… não foi assim desde o principio”. Todavia, Ele fala de moradas com o Pai, de Banquetes Eternos, de alegrias sem fim, de consolação eterna, de recompensas, de tesouros de amor, e de viver no Peito do Pai. A impressão que dá é dupla. A primeira é que o que “Houve”, está ainda Presente; portanto, passível de verificação pessoal, bastando que se veja o Hoje a fim de que se entenda o Ontem. A segunda impressão é que a grande energia da vida não deve ser gasta na especulação, mas na ação; e, sobretudo, nas projeções da esperança que já se tornam vida Hoje. Na hora de fazer a grande revelação, quando perguntado acerca de Quem era o Pai; ou melhor: “Mostra-nos o Pai, e isto nos basta”—, Ele apenas disse: “Há tanto tempo estou convosco e não me tendes conhecido? Quem me vê a mim, vê o Pai!” Assim, outra vez, Ele não chama os discípulos para nada que não seja uma percepção do que é, matando de cara as especulações. Em Jesus não há defesa de Deus e nem da fé, e, menos ainda “explicações sobre o sentido filosófico da vida”. Nele, no entanto, há todas as demonstrações de Deus e da fé. Também, Nele, não há discussões; e Suas lógicas não são conforme as lógicas humanas quando Ele argumenta qualquer coisa. Ele fez questão de dizer que o que é da Terra é da Terra, e que o que é dos Céus, é dos Céus. E isto sem dicotomia, pois também manda que oremos no sentido de que Céu e Terra se fundam no Reino de Deus. Digo isto porque há quem se satisfaça com os esqueminhas. Com o famoso plano de Deus. E, sobretudo, com o Cronograma dos acontecimentos de Deus na Terra. Esses têm mentalidade de seita; e seu “Deus” nada mais é que uma produção humana. Daí eles mesmos chamarem isto de “escola”. Tipo: “Sou da escola milenista; ou pré-milenista; ou pós-tribulacionista”. Tenho a liberdade de especular à vontade, e gosto. Mas, ao fazer isto, mesmo que seja acerca de Deus, não posso chamar a “coisa” de nada que não seja “cogitação”. Quanto a Deus, sinceramente, Ele é Deus suficiente para explicar o que quiser. Eu, de minha parte, apenas creio Nele. “Bem-aventurados os que não viram e creram”, é algo que Jesus diz para todo aquele que crê apenas porque lhe foi revelado pela fé. O resto é apenas fábricas de “Deuses”, ainda que o artesão teológico pertença à tradição judaico-cristã. Mas o que digo é “espírito demais”, dizem alguns; ou é deveras existencial, afirmam outros; todos esquecidos de que Deus é espírito; ou seja: de que a experiência do espírito só pode ser existencial. Nele, que é Quem é; e que diz: “Eu Sou Quem Eu Sou!” Caio