A SAÚDE DA FÉ: tem que ser histórico-existencial
Acho estranho como pessoas que dizem que crêem na Encarnação, no nascimento virginal de Jesus, na sua divindade, em sua morte vicária pela humanidade e todo ser vivo; e que também confessam que crêem que Ele ressuscitou dos mortos, no corpo de glória; e que, além disso, quase possuem o ânimo de matar fazendo a apologia da inerrância literal da Bíblia e em defesa do Cristianismo Histórico ou do “clã” ao qual pertencem nesse grupo —, possam, todavia, não manifestar a mesma intensidade de fervor quando o assunto é a Volta de Jesus, ou quando tem a ver com o espírito e prática do ensino do Evangelho, como bem expresso, por exemplo, no Sermão do Monte.
Dentre muitas razões que podem explicar o fenômeno, há duas que quero aqui apresentar de modo sucinto.
Eles confessam tudo o que confessam porque já não há mais riscos na confissão, pois, virou passado sagrado, frisado no tempo, fixado em dogmas, congelado em doutrinas, e feito tábua da lei na tradição universalmente aceita. Portanto, aceitam as crenças que não demandam hoje nenhum risco de natureza de fé pública e FUTURA.
Sim, porque há a fé que vem do PASSADO e há a fé que vem do FUTURO. A fé que vem do passado é aquela que nas Escrituras são mencionadas como exemplo de disciplina e consolação, e aparecem mediante a afirmação do exemplo de fé dos que nos antecederam. É a tal nuvem de testemunhas e testemunhos acerca dos quais nos fala a carta aos Hebreus. Porém, na própria carta mencionada, se define a fé propositiva e que se realiza no Hoje-Amanhã, como sendo “a certeza das coisas que se esperam e a firme convicção de fatos que se não vêem”.
Portanto, há uma dimensão histórica da fé, e que tem seu fundamento nos exemplos e consolações do passado; e há a fé existencial, a qual se fundamenta em material invisível e imponderável, e que demanda de nós o risco de confessar o que não se vê e chamar o futuro do vento, de minha certeza de Promessa.
É aqui que a passagem da fé é difícil para a maioria. Sim, porque fazer coro com quase um bilhão de pessoas acerca da dignidade de nossas crenças fundadas no PASSADO é algo seguro, e que se faz acompanhar, se insanidade não é, pela maioria dos demais seres humanos, cada grupo confessando suas certezas do que já foi, o passado.
É obvio, portanto, como não poderia deixar de ser, que essa História da Fé só tem PASSADO, pois não tem a coragem existencial de ser-fé Hoje-Amanhã. Para esses, o Hoje é dia de possibilidade de queda, não de salvação. E também para esses mesmos, o Amanhã e sua total imponderabilidade, é arriscado demais. Por isto ancoram-se no que já foi, até quando o que já foi é de natureza imutável, como a Encarnação; porém, não têm a coragem existencial de serem tão definidos quanto ao fato de que Jesus virá outra vez, como são inquisitorialmente definidos quanto ao fato de que Ele veio.
Esse tipo de fé, a Histórica, tem orgulho do PASSADO e sempre imagina que o que houve de melhor e de superior na percepção de Deus e da fé, também ficou no PASSADO.
No entanto, a fé apenas Histórica, não cria um olhar propositivo, mas no máximo repetitivo. Afinal, ela vive do PASSADO apenas porque tem pavor do Hoje-Amanhã. Isto porque o Hoje-Amanhã nos deixa no chão da genuína fé, que é aquela que é anterior à História, posto que se Hoje há uma História da fé, é apenas porque, antes de haver uma História com “H” maiúsculo, houve a história existencial de alguém sem História, e que apenas seguiu a subjetividade da fé que sai sem saber para onde vai…
O equilíbrio está em manter as duas dimensões presentes, sem que o Passado seja a camisa de força da existência, mas apenas seu farol de trás, e suas referencias de exemplo, consolação, coragem e perseverança. Isto porque viver sem Passado é danoso ao ser. Nossa existência só faz boa síntese quando o Passado é discernido, o Presente é crido, e o Futuro habita o chão da confiança em nosso coração.
Nele, que só é porque É,
Caio