Esta é uma seqüência de textos que escrevi assim que o site começou em 2003. Hoje as ponho em ordem apenas para facilitar quem quer que se interesse nessa viagem do Centrauro: eu.
Escolhi o Centauro da mitologia cretense apenas porque tive, durante anos, até 1998, sonhos recorrentes e idênticos acerca de minha luta com o Centauro; o qual, ao mesmo tempo em que tentava me destruir como uma besta hostil, perseguindo-me e tentando destruir tudo o que eu construía; ao mesmo tempo em que, eu mesmo, no sonho, embora fugisse do bicho, sabia que ele era, também, eu mesmo.
Ora, isto posto, creio que fica mais claro o fato de eu ter escolhido a figura do Centauro para caracterizar a lutas de nossas naturezas, conforme Paulo ensina em Romanos 6,7,8.
Assim, o que foi escrito com pequenos intervalos de dias, aqui você lerá, agora, de uma só vez.
Escrito em 2003:
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Leia Rm 7 — todo o capítulo.
O bicho é humano. Ele é o centro, o centro-auro!
Esta é a luta de sempre —; ou melhor: desde que a consciência-de-si apareceu no ser humano como conflito, na Queda.
Paulo declara em Romanos 7 que essa é a luta essencial.
O instinto milita contra a consciência profunda. O querer é da consciência. O realizar é do instinto. A consciência sabe que sabe. O instinto sabe que precisa.
A Queda estabeleceu a ruptura essencial — e esta veio a crescer com as produções secundárias da culpa, condicionadas por tabus, fobias, controle, poder, crença, cultura.
Depois da Queda o que um dia estava alinhado, desalinhou-se.
Pendeu.
Perdeu o prumo, o equilíbrio — errou o alvo.
Antes havia uma consciência no instinto e um instinto na consciência.
Depois passou a haver uma divisão, uma guerra, um antagonismo.
Daí Paulo usar a linguagem da guerra: milita contra…
Assim, o instinto cresceu para virar pulsão, compulsão, comichão, vício, obsessão, tara, loucura — tudo dependendo do nível de escravidão que gere no instituado.
Já a consciência se estabeleceu como dever. Assim, quando pensa que sabe é porque já sabe que deve.
Esse encontro entre o instinto adoecido e a consciência enferma é a combinação de elementos que nos aniquilam ao mesmo tempo em que constituem nosso ser hoje.
Somente o trabalho do Espírito, mediante a consciência em fé na obra consumada por Jesus na Cruz e na Ressurreição, é que pode deflagrar o processo de rejunção pacificada desses estados irreconciliáveis pela própria natureza.
Esse será o tema de Paulo no capítulo 8 de Romanos.
Enquanto isto creia que já não há mais nenhuma condenação para aquele que está em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Falaremos sobre isto depois.
Caio
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Rm 8—todo o capítulo.
No texto anterior a este eu falei do conflito que se instalou entre o instinto e a consciência — digo: instalou-se com a Queda.
Assim nasceram os Centrauros! Ou seja: os centro-auros… O ser narciso!
Paulo trata desse estado em Romanos 7 e foi acerca disso que também falamos no texto anterior.
Aqui continuo de onde parei e prossigo para onde prometi. Portanto, leia Romanos 8.
Uma vez que Paulo identificou e estabeleceu a incurabilidade dessa guerra entre a consciência e o instinto, o que fica em nós é uma profunda tristeza.
“Desventurado homem que sou!” — clamou Paulo.
A verdade é estranha. Primeiro ela faz o diagnóstico do pior de todos os males e que é doença de todos na Terra. Depois de assim fazer, surge então não um indicador para que se siga determinada regra a fim de se curar o ser desse estado de divisão básica. Não é isto que acontece. Paulo começa tão somente dizendo que “Agora… já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus”.
A seqüência nos afirma basicamente duas coisas:
1. Deus, em Cristo, pelo amor do Pai e mediante a obra do Espírito Santo, realizou tudo aquilo que se pode esperar em favor de nós, os Centrauros. Agora os bichos de si-para-si-mesmos poderem ser salvos de sua catividade. “Já não resta condenação para os que estão em Cristo Jesus”.
2. Estou livre da morte, mas agora preciso ser curado. Ou seja: em Cristo a assunto acerca da morte do Centrauro ficou afastado para sempre. Agora, livre do medo da morte — e que é a força motriz de desalinhamento entre o instinto de sobrevivência e consciência da vida—nós podemos começar a buscar o caminho do pendor para a escolha da consciência, sem a culpa de se abandonar o instinto; bem como se pode admitir o instinto, mas colocando-o na intensidade apropriada.
De acordo com Paulo esse bem já está definitivamente conquistado.
O que nos resta é crescer na apropriação desamedrontada do bem já realizado em nosso favor, ainda que, na pratica, todos nós vejamos os sintomas da presença da desordem ainda nos habitando.
A questão é que a culpa da doença era a doença da culpa. Assim, livres da doença da culpa podemos prosseguir para buscar a cura da culpa da doença.
A pior doença não é mais a doença da culpa, mas a culpa da doença.
E quanto mais nos sentimos tomados pela culpa da doença, mas crescem em nós—outra vez—os sintomas da doença da culpa.
Enquanto a guerra é essa, mesmo que você diga que crê em Jesus, tudo continuará igual—podendo até mesmo piorar, como em muitos casos acontece.
A doença da culpa já foi debelada.
Não há mais risco de morte.
Jesus garantiu isto para cada um dos Centrauros.
“Agora, pois, já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”.
A cura agora é um processo de pacificação que dura o resto da existência.
Não há, na Terra, um único Centrauro que esteja livre de experimentar alguma forma de culpa da doença como se fosse ainda a doença da culpa.
Toda vez que a doença da culpa volta como sintoma, a maioria dos Centrauros pensa que está morrendo e, assim, entregam-se à culpa da doença e passam mal, muitas vezes achando que o que Jesus fez não resolveu nada.
Resolveu tudo!
Os Centrauros é que não desejam descansar no bem que já lhes pertence. E como não estão mais sob o risco da morte, mas ainda experimentam os sintomas, freqüentemente, ao prová-los como fato, desistem da esperança e abandonam-se ao domínio dos sintomas.
Paulo diz em Romanos 8 que o caminho agora é o de buscar novas inclinações.
Enquanto a primeira interpretação da culpa da doença for “morte”, o coração do Centrauro sofrerá as fobias da morte e pensará que está morrendo.
Somente quando o Centrauro crê que não sofre mais desse mal para a morte, é que pode iniciar-se dentro dele o benefício do bem já conquistado por Jesus.
O Centrauro tem que andar em fé a fim de se apropriar do bem que já é seu.
A fé põe o Centrauro no caminho da inclinação para o outro centro—não o seu mesmo. A doença do Centrauro está no seu próprio centro, que virou um campo de batalha entre ele e ele mesmo.
A inclinação do Centrauro agora tem que se mudar para outro eixo: o da paz que está em Cristo—pois, somente nesse estado é que ele pode começar a usufruir o bem que já é dele.
Mas não há mágicas!
Trata-se de um longo caminho de fé e consciência—aonde o instinto e a consciência vão se reconciliando pela ausência da doença da culpa e da culpa da doença.
Caio
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Leia Rm 7 e 8
Já vimos quem é o Centrauro nos dois textos que precederam a este.
A leitura deles é obrigatória a fim de que você possa entender este.
O Centrauro sofre porque é Centrauro.
Sofre dores diferentes.
Cada Centrauro tem sua própria dor e vive sua batalha interior de modo diferente.
O Centrauro que eu mais conheço sofre de variadas dores.
Sofre pelo excesso de energia que parece existir nele.
Sofre pela incapacidade de ser calmo frente a seus próprios impulsos.
Sofre a tristeza pelas coisas que já não têm remédio.
Sofre a culpa de decisões.
Sofre a certeza de que sua existência histórica carrega um espinho maior que a carne onde ele se instalou.
Sofre o retardo de seu ser na apropriação dos bens de sua consciência.
Sofre a canseira de ver como vê e de saber que as coisas que ele vê, não deixarão de ser como são nunca na Terra.
Sofre por ter que amar em meio a tanta conturbação.
Sofre a conturbação do amor — em suas mais variadas formas.
Sofre por misturar as causas de sua dor com o efeito dela — e assim, sofre por ser injusto na expressão até mesmo de seu sofrimento.
Sofre juntamente com a criação pelo dia da redenção de seu corpo de morte.
Sofre ao se sentir entregue à morte o dia todo.
Sofre… o próprio sofrimento.
O Centrauro é apenas um homem. Um homem entre outros homens e sentindo aquilo que nenhum outro homem pode saber o que é: a dor maior do Centrauro é sua solidão.
Assim, o Centrauro olha para cima e diz: “Aba, Pai!”.
É tudo o que diz.
E na sua impotência crê numa intercessão maior por si mesmo.
Pede Àquele que sonda os corações que interceda por ele, sobremaneira, com gemidos inexprimíveis.
O Centrauro… bem, ele é quem achar que é um.
O Centrauro já não sofre de condenação divina. Ele ainda sofre a sua própria condenação humana.
O pior inimigo do Centrauro é ele mesmo.
Sua salvação na Terra é deixar seu próprio centro livre para ser ocupado com a paz que já é dele, mas que ele precisa se apropriar dela.
Deus salvou o Centrauro!
Agora o Centrauro tem que descansar nisto.
O Centrauro viverá pela fé.
Caio
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Leia Rm 7-8
Você já sabe que o Centrauro vive uma guerra permanente entre o instinto e a consciência. Já conheceu suas crise de ser, sua saída garantida na Graça, seu sofrimento quando mergulha apenas em si mesmo — e agora saberá da libertação Centrauro.
O Centrauro é tanto mais Centrauro tanto mais instintual ele for.
Quando se deixa tomar pela instintualidade o Centrauro mergulha em toda sorte de animalizações de sentimento: tristezas terrenas, saudades históricas, perdas e prejuízos pessoais, descrédito ou insucesso, são coisas que centraurizam terrivelmente.
A entrega ao instinto é entrega à necessidade — mesmo quando é psicológica.
Daí Paulo dizer que o caminho da cura para o Centrauro é o pendor para o Espírito, de onde procedem a alegria, justiça e paz.
As forças do instinto operam baseadas na morte como referência, tipo: tenho que aproveitar agora se não o tempo não vai permitir.
O nome da oportunidade é tempo; e o tempo é o tirano da necessidade, pois empresta a ela a sua urgência.
Esse pendor do instinto dá para a morte — afinal, está escravizado pela necessidade que só se realiza no tempo.
E a referencia do tempo é a morte.
O Centrauro começa a viver como gente quando sua instintualidade começa a ser subordinada pela sua consciência.
E essa consciência é mídia do Espírito em nós.
Assim, quanto mais as inclinações do Centrauro forem para as coisas do Espírito, mais ele estará alimentando a consciência com o poder que subordina o instinto.
A questão que é isto não é uma formula a ser praticada como disciplina.
Tal tentativa adoece e produz neurose.
“A lei do Espírito e da Vida em Cristo Jesus, te libertou da lei do pecado e da morte” — é a certeza de Paulo sobre o assunto.
Tudo começa com a certeza em fé que garante ao Centrauro que ele está salvo de seu inferno interior — a doença da culpa e a culpa da doença — e que isto foi realizado por Jesus — está pago —, e que a apropriação do benefício é pela fé.
Depois é que vêm os nutrientes do ser.
Alimente o instinto e ele crescerá e sobrepujará a consciência.
Alimente a consciência e ela não satisfará as concupiscências do instinto.
A releitura de Romanos 8 — todo o capítulo — mostrará a você como acontece esse crescendo de certezas, intimidades, penhores, juramentos, vínculos, afirmação de amor incondicional — tudo da parte de Deus para conosco!
E é essa escada de invisíveis degraus que nos leva em fé até aquele lugar de ser onde a consciência pacificada convive harmoniosamente com o instinto, pois, este foi subordinado e agora se expressa com o melhor de si.
É para lá que estou caminhando e pedindo a Deus para crescer nessa graça todos os dias.
Quem acha que já alcançou, ainda não entendeu nada.
Isto aqui não é blábláblá.
É o alfa e o Omega do trajeto humano na Terra — no caminho de ir do puro instinto à consciência harmonizada ao instinto e este dócil amigo de vontades mais vinculadas ao amor.
Caio