DESISTINDO DAS COISAS DE MENINO

 
 
DESISTINDO DAS COISAS DE MENINO
(Mensagem Transcrita)
 
 
 
 
AINDA que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
 
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
 
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
 
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
 
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
 
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
 
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
 
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
 
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
 
1 Coríntios 13 
 
 
Oração:
 
Pai, nós te invocamos. Cada um de nós carece da tua graça. Queremos que a tua palavra nos alcance; queremos que ela nos revele quem nós somos; que ela nos revele mais da graça de quem tu és e que ela nos seja um propulsor que faça com que a gente, dia a dia, dê um passo além da direção de nos tornarmos aquilo para o qual nós fomos chamados a ser.
 
Nós pedimos que seja assim, que haja paz no coração de todos. Que a tua palavra, quando nos molestar, nos moleste na direção da tua paz profunda. Quando ela nos perturbar, que ela nos perturbe na direção daquela lucidez que traz consciência da graça e faz o coração descansar em Ti.
 
Dá-nos que o resultado disso seja que cada um de nós encontre uma estatura cada dia um pouquinho maior e não menor do que a do dia seguinte.
 
Em nome de Jesus, para a glória de Jesus, amém.
 
 
* * *
 
 
Eu queria dizer a vocês para a gente não fazer aquelas divagações teológicas cansativas, que eu já não tenho muita paciência para elas (que “a natureza desse amor é Ágape” e tudo mais).
 
 
Mas o que Paulo está dizendo aqui não é para anjos nem é para Deus. Ele não está dando um conselho para Deus, dizendo: “Olha, Deus! O amor de Deus é assim…” Nem está chamando anjos e dizendo: “Olhai, anjos! O amor de Deus é assim…”
 
 
O que ele está dizendo é pra gente, que não tem nada a ver com isso aqui, cuja natureza caminha em direção diametralmente oposta. Gente que, desde o nível celular, carrega dentro de si uma ansiedade famigerada por se alimentar do outro, numa escala onde o superior usa o inferior, de tal modo que a vaca que come capim e gordura e tem licença para o fazer, nós nos sentimos já licenciados há muito tempo pra nos apropriarmos daquelas coisas que, na escala da criação, tem valor inferior a nós. Por isso, a gente come —  os mais generosos, erva; os menos generosos, picanha, cupim e outras coisas.
 
 
Mas é uma apropriação constante do superior sobre o inferior. E o resto inteiro da organização da vida, indo das relações de sobrevivência básica à construção dos sistemas sociais, econômicos, relacionais, familiares… Em todos os níveis, as hierarquias de apropriação se estabelecem, ou pela via do poder, ou pela via do saber, ou do dinheiro, ou de uma mágica, ou seja do que for, o que possui o que falta ao outro, apropria-se dele.
 
 
Aí vem essa história desse amor que inverte essa cultura existencial radicalmente, e que, quando a gente olha em volta de nós, no mundo, é mais raro do que qualquer coisa rara possa rara considerada ser; e a gente olha pra dentro de nós e mesmo quando compara o melhor de nós concentrado na direção dAquele a quem a gente ama mais, a gente ainda descobre que nem aí nós saímos da estatura daqueles que balbuciam pro nível daqueles que articulam as primeiras palavras na lógica desse amor.
 
 
E aí o que acontece?
 
 
A gente tenta santificar alguém, a gente começa a achar que ouve santos que viveram isso aqui em plenitude.
 
 
Só quero lhe dar uma notícia horrorosa: nem Paulo, que escreveu isto aqui, conseguiu durante uma única semana seguida da existência dele, encarnar de modo absoluto a verdade que ele conhecia, na qual ele cria, e mais que cria, cria a ponto de fazer poesia!
 
 
Isso é chocante, porque todos os verbos desse texto, usados por Paulo, são inclusivos da pessoa dele. Ele não está dizendo nada sobre “vocês”. Ele diz: “Eu passo a mostrar-vos um caminho sobremodo excelente…”. E o resto da descrição toda tem a ver com “em parte conhecemos, em parte profetizamos, em parte vemos, em parte sentimos” porque ele está dizendo: “O caminho eu sei qual é, mas nós estamos andando juntos”.
 
 
A revelação do que é isso é absoluta; a nossa compreensão do que é isso é relativa; e a nossa capacidade de realização encarnada disso, mais relativa ainda. E nos remete para um processo, para um projeto de vida, de existência; e nos chama pra algumas lições práticas sobre a vida. Pois eu quero que você preste atenção no seguinte:
 
 
Hoje eu não estou querendo fazer uma exposição bíblica desse texto. Hoje eu só queria que você, que já o sabe “de cor e salteado”, pensasse, de uma maneira um pouquinho mais realista, nas lições simples não poetizadas, porém impregnadas de vida, intoxicadas de um poder que nos falta, e que eu gostaria que a gente, pelo menos, levasse pra casa, porque uma prática se torna prática consistente só muito tempo de uma verdade ter se transformado num valor no nosso coração.
 
 
Então, qual é a primeira lição que aparece aqui?
 
 
A primeira é esta:
 
 
À luz do que Paulo diz aqui, eu aprendo que leva um tempo entre o conhecimento de uma verdade e a sua totalização em nós.
 
Uma das grandes angústias da gente é que parece que todas as vezes que de algum modo a gente não tem mais como dizer que uma determinada verdade, um determinado valor nos penetrou, daí em diante, nós caímos no nível da indesculpabilidade permanente pela sua transgressão e cometemos a pior blasfêmia: transformamos uma verdade em Lei, e Lei escraviza. A Verdade liberta!
 
 
Nenhuma verdade de Deus quer ser lei, porque toda verdade de Deus transformada em lei gera o oposto daquilo que a verdade produz. A gente conhece a verdade, a verdade nos liberta. Mas transforme uma verdade em lei e ela vai matar você pra sempre.
 
 
Então, o que Paulo está dizendo é o seguinte : “Vejam na prática! Como eu sei todo esse valor. Eu consigo trazer pra dentro do meu coração a certeza profunda do ideal desse amor de Deus desse jeito! Essa é a nossa vocação!
Quando vier o que é perfeito, é nessa perfeição que um dia seremos aperfeiçoados”.
 
 
Quando a nossa viagem do estado de infantilismo ao da estatura do varão perfeito em Cristo se concretizar, nós seremos a absolutização disso aí. Eu só quero que você saiba de uma coisa: eu sei disso! Mas eu estou convidando você pra assumir a sua parcialidade de ser e não se tornar cínico e caminhar junto comigo nesse caminho sobremodo excelente, porque existe uma coisa inalienável:
 
 
NENHUMA VERDADE, UMA VEZ APROPRIADA E CRIDA, SE TRANSFORMA EM CONCREÇÃO ABSOLUTA INSTANTÂNEA NA VIDA DA GENTE NA MESMA HORA.
 
 
Ela tem que crescer em nós.
 
 
Às vezes ela atinge a nossa mente.
 
 
Vai levar um tempo pra ela virar emoção.
 
 
Vai durar outro tempo pra ela virar reação.
 
 
Vai levar outro tempo pra ela virar atitude.
 
 
Vai durar outro tempo pra ela se transformar em suor, em naturalidade, em ser que já pode ser sem nem evocar o ser que ele gostaria de ser, porque esse ser já não sabe ser outra coisa, a não ser ser aquilo!
 
 
É o caminho!
 
 
Então, vamos acabar com essa agonia de que “cada verdade que eu aprendi, meu Deus, virou uma lei que vai cair na minha cabeça e vai me destruir, e a minha indesculpabilidade é permanente porque eu agora sei essa verdade!” Ou, então, a gente tem que dizer: “Conhecereis a verdade e a verdade vos ferrará!” Porque até pra conhecer a verdade a gente tem que conhecer a verdade na graça.
 
 
Conhecer uma verdade já é graça! É favor imerecido, é revelação. É luz divina!
 
 
Então, ora… Se eu discerni uma verdade, eu recebi graça, porque se eu discerni em graça uma verdade; se não fosse a graça de Deus, eu por nenhum outro meio a discerniria. Por que, então, no dia seguinte, transformo isso que me foi dado como graça numa lei para me matar?
 
 
É PRA ME LIBERTAR!
 
 
Então, quando Paulo diz “Eu sei o que é isso” e passa o resto do tempo dizendo: “Nós conhecemos em parte, sabemos em parte; não chegou pra todo mundo, nem pra mim; é um caminho perfeito, eu estou chamando você pra andar junto comigo…”, ele está dizendo: “Olhe! Não vamos deixar que a verdade vire uma lei. Se virar, você não dá o passo seguinte, porque o passo seguinte você só dá na graça de Deus, e graça é favor imerecido.”
 
 
É nessa injustiça dolorosamente apaixonada, inexplicável e quase absolutamente indivisível do ponto de vista de qualquer racionalidade, que isto vem da parte de Deus para nós. É a arbitrariedade mais absoluta do absoluto: poder amar, incluir, perdoar e acolher sem precisar dar nenhuma outra explicação para ninguém em lugar nenhum, a não ser a cruz de Cristo e o sangue de Jesus — e daí em diante, silêncio!
 
 
É graça de Deus!
 
 
Na terra, toda plenitude de saber ainda se realiza em parte naquele que sabe.
E uma das angústias e dos espinhos da carne de quem sabe é ter que dizer como Paulo em Romanos 7: “O bem que eu quero nem sempre eu faço, mas o mal que eu não quero, às vezes eu faço.”
 
 
Isso se aplica a outra coisa: o que eu sei nem sempre todo dia eu consigo transformar em prática, mas eu estou andando nessa direção, e me esquecendo das coisas que para trás ficam, eu prossigo para o alvo; não faço voltas pra ressuscitar fantasmas. Eu prossigo para o alvo porque se a verdade não me libertar, no mínimo, do meu passado, ela serve para me libertar de quê?
 
 
Segunda lição: 
 
 
Esse caminho sobremodo excelente é o único caminho capaz de transformar um menino num homem nesta Terra. Não há nenhum outro caminho. Esse caminho sobremodo excelente desse amor inatingível é o único caminho que leva um menino na direção de ser um homem. Sabendo o seguinte:
 
 
Meninos todos nós somos. Homens nós vamos nos tornando.
 
 
A estatura desse homem é do tamanho da não-esquizofrenia entre a verdade sabida e a vida vivida.
 
 
Quanto mais a consciência dessa verdade vai deixando de ter um fosso, um vazio, uma rachadura imensa entre o que eu sei e o que eu vivo, o que eu ajo, o que eu reajo; quanto mais vai aproximando, vai diminuindo a rachadura, a esquizofrenia — ela nunca vai estar completamente unida; só quando vier o que é perfeito, até lá é em parte —; quanto mais aproxima uma coisa da outra, mais o menino está virando homem, mais o homem está virando homem, mais o homem está crescendo. E a lição que ele diz é a seguinte:
 
 
“Quando eu era menino, eu pensava, falava, sentia como menino. Quando eu cheguei a ser homem, eu desisti das coisas próprias de menino.” O que revela outra coisa:
 
Que a gente chega a ser homem, mas um outro passo é você desistir das coisas de menino!
 
Senão, você vive permanentes síndromes de Peter Pan espiritual. Tem dias em que você está homem, tem dias em que você está menino. A ciclotimia fica nessa variedade e nessa mudança, até que você desiste.
 
Acho que na experiência humana, com a maioria de nós houve momentos em que você desistiu de coisas de menino. Ou será que ninguém aqui jamais desistiu de ser menino — um dia acordou e disse: “Não! Isto aqui é coisa de menino!”?
 
Isso nunca aconteceu com você? Pelo amor de Deus! Quantas vezes eu acordei, adulto, e disse: “Isso aqui é coisa de menino.” Eu estou longe de ficar cometendo as gafes de falar coisas de menino ou de fazer coisas de menino, mas sentir coisas de menino é o mais difícil porque habita a interioridade. Então, às vezes você fica “homenzinho” pra fora, fala tudo direitinho pra fora, faz tudo bonitinho pra fora, mas, do lado de dentro, você e alguém mais sabem que você não deixou de sentir coisas de menino.
Não que haja aqui a morte da criança linda; o discurso não é esse, não leve para esse lado. Porque Jesus glorifica o estado de infância no coração dizendo: “Se você não se fizer como um pequenino, você não entra no reino de Deus.”
 
 
O que Paulo está denunciando é um estado de imbecilidade. Então, desistir das coisas próprias de menino dói. É como desistir de uma doença crônica; é um horror. O cara fica viciado em dores, nos tratamentos, nos clubes de solidariedade que se formam em volta, nas histórias que não pára nunca de contar…  Existe uma população imensa no planeta para quem a pior coisa que poderia lhes acontecer seria uma cura. Iria acabar o casamento. Acabaria um monte de coisas. Por isso é que Jesus encontrou aquele cara em João 5, que estava ao lado do poço de Betesda havia 38 anos, esperando um anjo mover a água para ele dar um pulinho para ver se a superstição se cumpria a favor dele e ele ficava curado. Mas Jesus não achou que a espera era óbvia, que a espera era sintoma de alguém que queria ser curado. Jesus levou em consideração a possibilidade de que aqueles 38 anos fossem o vício de alguém que sabia que o outro ia pular sempre na frente e que não poderia sobreviver sem ver a sua doença nossa de cada dia. E aí ele se encontra com o homem e faz a pergunta mais idiota que alguém poderia fazer: “Tu queres ser curado?”
 
 
Então, desistir das coisas de menino equivale a querer ser curado. É um des-insistir. E não é só um des-insistir. Você primeiro des-insiste para depois saber, dentro de você, que quando você desiste, aquilo des-existe. Só que dói.
 
 
E tem um problema: em velhos, a insistência nessas coisas de menino imbeciliza o cara e torna-o inaproveitável. Porque Paulo diz: “Olhe, vai ser como bronze que soa, como címbalo que retine; pode fazer e acontecer, mas se você não tiver se transformando da motivação do menino para a motivação do homem, nada disso aproveitará.”
 
 
 
Terceira lição:
 
 
Só a desistência das reações performáticas do mundo dos imaturos e o mergulho na alegria de ser e de continuar a crescer é o que nos capacita a pensar em causa e efeito no mundo espiritual.
 
 
A gente toda hora diz assim: “Aquilo que o homem semear, isso também ceifará.”
 
 
Ceifa nada!
 
 
Meu Deus, se a gente fosse ceifar o que a gente semeia, você pode ter certeza: não ficava nada! Até isso é um exagero de Deus. “Semeou vento, colheu tempestade” foi pouco! Se mexer na ordem cósmica do mundo de Deus, vai colher uma tempestadezinha! Você deveria ser chupado pro buraco negro! Então, até na maldade das coisas só tem bondade, porque o que é impressionante é que só a desistência das nossas reações performáticas (“Ele me provocou, eu vou revidar!”), próprias da religião (religião é coisa de criança), é que nos dá aquele direito de morrer numa ilha deserta, sem sepultura, sem cruz e sem epitáfio, sabendo que o cosmo inteiro está aplaudindo a tua chegada! Porque você existe o tempo todo para Deus, que sabe que existe!
 
 
Porque o amor genuíno se paga com vida em Deus. Assim, como o salário do pecado é a morte, o salário da prática disso tudo é vida, cada vez mais vida, no princípio da graça em operação.
 
 
Em 1 Coríntios 13, vejam o que os versos de 4 a 8 nos dizem a respeito:
 
 
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
 
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
 
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá.
 
 
Veja o que de bom pode acontecer com a gente, se a gente conseguir a cada dia ir chegando mais perto disso tudo. Olhe como faz bem ao corpo, à alma, ao espírito, a qualquer coisa que seja você.
 
 
1) O amor é paciente: A impaciência gera doença em nós.
 
 
2) É benigno: No filme “O Morro dos Ventos Uivantes”, você vê o que, na alma de um homem, a não-benignidade vai fazendo com ele. Vai monstrificando-o…
 
 
3) O amor não arde em ciúmes: Meu Deus! O que o ciúme faz mal ao fígado… Sem falar na alma, nas desestruturações todas, nas falsificações da realidade, nas ressurreições dos inexistentes, nas tentativas de bordelizações de almas santas…
 
 
4) Não se ufana: A ufania é a mãe de todos os idiotas do planeta.
 
 
5) Não se ensoberbece.
 
 
6) Não se conduz inconvenientemente: Tiraria você de cada fria!
 
7) Não procura os seus interesses: Só para lhe dar a liberdade de enxergar o melhor, porque quem procura os seus interesses o tempo todo, freqüentemente perde a melhor oportunidade, que passa longe por causa do seu egoísmo e capricho.
 
 
8) Não se exaspera: Basta passar de 44 graus que essa virtude não habita o meu ser.
 
 
9) Não se ressente do mal: Ou seja, não torna a sua própria alma uma câmara de ecos e monstros, não é um labirinto de Creta!
 
 
10) Não se alegra com a injustiça: O que é a única coisa que o põe no caminho mínimo de uma humanidade básica. Regozija-se com a verdade. Liberta você de preceitos, pré-conceitos, compromissos com aparência e o remete para a celebração da verdade no peito de quem ela esteja. Ainda que seja um inimigo falando a verdade!
 
 
11) Tudo sofre: Aí você pode perguntar: “Como é que isso pode fazer bem?” Mas esse sofrimento aqui faz muito menos mal do que aqueles sofrimentos nos quais a gente se mete por causa do ódio; esses são os que matam.
 
 
12) Tudo crê: A gente diz: “É otário!” Mas otário é o que engana, não é o que botou esperança de que o outro fosse bom.
 
 
13) Tudo espera.
 
14) Tudo suporta.
 
15) Jamais acaba.
 
 
Aí vem Paulo e diz que só a desistência das nossas reações performáticas (respondendo ao ciúme com performance ou exasperação e entrada em todas as propostas da morte) e o mergulho na alegria de crescer se auto-remunera, não com a aprovação ou com o poder conquistado na briga, mas na conquista de si mesmo; então o mundo espiritual passa a ter causa e efeito, porque o amor sempre resulta numa vida melhor.
 
 
Quarta lição: 
 
 
O reconhecimento da nossa parcialidade é o único caminho para que o ideal de consciência que o amor gera não seja perseguido de modo moral. Porque a maior blasfêmia que fizeram com esse texto foi transformá-lo numa coisa moral. Esse texto não tem nada a ver com moral. Se tiver a ver com moral se transforma em Lei, e se for lei, mata.
 
 
O reconhecimento da nossa parcialidade faz a gente dizer como Paulo: “Eu sou parcial, porque o que é perfeito não veio ainda para nenhum de nós. Mas quando vier nós vamos ser como Ele é; por enquanto, nós estamos vendo como em espelho, obscuramente.”
 
 
É tudo parcial:
 
 
Eu sei em parte. Eu pratico em parte. Eu amo em parte.
 
 
Tudo é parcial!
 
 
Reconhecer isso é o único caminho para o qual o ideal da consciência que o amor maduro gera não seja perseguido por nós de modo moral, mas como uma rendição ativa a um processo infindável, no qual tudo nos aumenta sem jamais nos completar.
 
 
A moral lhe dá uma falsa idéia de que você se completa na Terra! Então, digamos a partir de hoje: “EU SOU PARCIAL. MAS O MEU IDEAL — NÃO POR CAUSA DA MORAL, MAS PELA ALEGRIA DE CRESCER E DE FICAR PACIFICADO NESTA VIDA — EU PERSIGO.”
 
 
Desistir das coisas de menino é uma rendição ativa a um processo infindável que não tem colação de grau, no qual tudo nos aumenta sem jamais nos completar, para que sempre cresçamos até chegar o que é perfeito; até chegar o dia final.
 
 
Vejamos os versos 10 a 12:
 
 
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
 
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
 
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
 
 
 
Quinta lição:
 
 
Paulo nos diz que o descaso para com esses princípios espirituais nos remete a três doenças básicas.
 
Primeira: A doença do covarde que acabou sendo o que era sem ser o que poderia ter sido.
 
 
Anedota para ilustração:
 
Um cara com tendências homossexuais queria muito ser pianista, mas o pai batia nele quando o via tocando piano, pois achava que ser pianista era “coisa de gay, de homossexual”. O menino, então, abandonou a arte. Um dia ele se encontrava triste, em uma academia de musculação. Então seu amigo lhe perguntou:
— Por que você está triste?
— É que meu pai me proibiu de ser pianista porque tinha medo que eu virasse gay, e hoje eu sou gay, mas não sou pianista!
 
 
Lição (moral da estória): Talvez se ele tivesse sido pianista, ele não tivesse virado gay. Talvez a energia que vazou para a homossexualidade foi a que o idiota do pai entupiu para a arte. Ninguém sabe! Em todo caso, eu quero dizer, com toda honestidade, que é melhor um gay pianista do que um gay sem melodia nenhuma.
 
 
Por que eu estou falando isso?
 
 
Porque 1Coríntios 13 nos diz o seguinte:
 
 
VENHA COMO VOCÊ VIER, O CAMINHO É EXCELENTE. PORQUE PARCIAIS TODOS NÓS SOMOS.
 
 
Em um sobra macheza, mas falta alma.
 
 
Em outro sobra inteligência, mas a sensibilidade é como a de uma ameba.
 
 
Outro tem uma capacidade assustadora de processar intelectualmente, mas não pratica nada do que sabe.
 
 
Ora, TODO MUNDO É PARCIAL!
 
 
Somos seres inacabados. Mas há esperança para todos os que põem o pé na graça, dizendo: “EU SEI QUE SOU PARCIAL E RELATIVO, MAS O AMOR DE DEUS É ABSOLUTO. Eu sei que o que eu sei é em parte e que, da parte que eu sei, eu não pratico nem uma mínima parte, mas o que eu sei é que Ele sabe tudo, e eu vou andar na graça dEle pela fé todo dia!”
 
 
Se você não consegue mudar sua natureza, Deus vai cuidar da sua alma com graça e misericórdia. Contudo, o que você pode fazer pela sua vida, ELE VAI ESPERAR QUE VOCÊ FAÇA.
 
 
Segunda: A doença do auto-enganado, que amou tanto uma virtude sua, que acabou virando um monstro em outras áreas da vida.
 
 
Anedota para ilustração:
 
 
Dois caras se encontraram na praia e começaram a conversar. Um corcunda e o outro não. Em meio à conversa, o outro começou a elogiar o pé do corcundinha:
— Cara! Que belos pés você tem! Como são bonitos os seu pés. Eu, com pés assim, não precisaria de mais nada! Eu mesmo me bastaria!
 
Depois de meia hora olhando e elogiando os pés do amigo, este respondeu:
 
— E como você acha que eu fiquei corcunda assim, companheiro?
 
 
No mundo espiritual também é assim. Eu conheço pessoas que ficaram “corcundas” pelo fato de terem amado muito uma virtude sua. Elegeram a sua virtude pra ser o seu emblema, o seu brasão! A pessoa fica “de caso” com aquilo e vira um corcundinha! Fica todo doentão porque fugiu da verdade.
 
 
Pelo amor de Deus!
 
 
Uma das maiores ilusões malignas que podem assaltar a alma de um homem é a crença no culto da sua própria virtude.
 
 
Não há nada que nos afaste mais da possibilidade de crescer do que o culto a uma virtude. Isso nos torna paralisados e adoecidos.
 
 
Aquele que cresce é aquele que enche o peito e diz: “EU SOU PARCIAL! Sei em parte, conheço em parte, entendo em parte, profetizo em parte… Tudo meu é em parte, mas eu sei qual é o meu chamado e a minha vocação, e eu estou andando pra lá. Eu quero que todo dia Ele me aumente e que em dia nenhum eu me sinta completo, até aquele dia em que eu vou deixar a relatividade dessa existência e eu vou vê-lo como Ele é. E eu vou me tornar como Ele é.”
 
 
Até lá, sou gente em processo de crescimento e não vou parar, porque só há um caminho sobremodo excelente, e é esse!
 
 
Até o fim, eu sou gente em processo de crescimento.
 
 
Só há um caminho para se andar: o da PARCIALIDADE.
 
 
Terceira: A doença do irrealismo sobre a existência que faz da vida um monte de excremento.
 
 
Quando você cai no irrealismo sobre a existência, o choque com a verdade de suas impotências, capacidades e fragilidades o leva a um pessimismo crônico, e qualquer coisa na vida vira excremento.
 
 
 
Anedota para ilustração:
 
 
 
Dois irmãos que moravam na mesma casa. Um dia, encontraram um cocô na sala. O mais novo, que viu, o cocô primeiro, falou:
 
— Que droga! Que porcaria é essa? Estragou meu dia!
 
O mais velho, que chegou um pouquinho mais tarde, viu o mesmo cocô e exclamou:
 
— Que maravilha! Temos um cavalo puro sangue aqui?
 
 
 
Comentário: Irrealismo: auto-engano de que não somos parciais, pecadores. O cara vira Poliana-moça, beata, carola.
 
O primeiro irmão é pessimista, um cara com mania de limpeza: vê o cocô e reclama.
 
O outro é realista, um cara mais “largado”: “Que beleza! Temos um puro sangue aqui!”
 
 
 
LIÇÃO MAIOR:
 
 
Enxergar uma verdade que arrebenta você hoje pode ser a maior certeza de cura para a sua alma amanhã.
 
 
Guarde isto no coração:
 
 
Todos nós sabemos mais do que conseguimos praticar, e o nosso chamado é para que a gente vá praticando cada vez mais tudo aquilo que a gente sabe que é bom. Faça o bem que você pode, viva a vida e acredite que a graça de Deus implantou em você uma semente de vida. Se a semente é de Cristo, ela vai crescer em você para a vida.
 
 
Meninos é que praticam mais do que sabem. O nosso infantilismo é adoecedor! Nossa salvação é graça. Graça para servirmos aos outros e não a nós mesmos. O que é bom é o que sai de mim sem sacrifícios. Faz de todos os ofícios algo sacro. Isso só acontece na paz que vem da graça.
 
 
Oração:
 
Senhor, salva-nos da fachada, de julgar os outros, de ver o outro e pensar do outro coisas erradas baseadas no nosso auto-engano. O caminho da tua graça é sobremodo excelente. Amém.
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Mensagem: “Desistindo das Coisas de Menino” — Caio Fábio
Transcrição: José Abdon Luna Accioly
Revisão: Fausto R.Castelo Branco
05/NOV/08