UMA ÁRVORE PARA A FOLHA DE NERUDA…
“Eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi; não soube
que ias comigo
Até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
Falaram pela minha boca,
floresceram comigo”
(Pablo Neruda)
Tudo o que concerne ao amor é assim…
Seja o amor que ama a mulher que é ou que se foi…; o filho que chegou sem avisar…; o pai que se descobriu paterno já bem depois…, a mãe que fez tudo e nossos olhos somente perceberam quando os dela já não mais viam…
Tudo o que concerne ao amor é assim…
Seja uma semente, uma raiz, um raminho, um galho, um renovo, um broto, um susto da vida entre as pedras…
Tudo o que concerne ao amor é assim…
Seja a voz fraca que ninguém ouve e que mexe os céus…; seja a semente de um sonho que mudou as decisões de um tirano apavorado pela verdade noturna; seja um vento que fez olhar em outra direção e divisar um horizonte de salvação que morava nas nossas costas… e não víamos…
Tudo o que concerne ao amor é assim…
Seja a menor semente, como de mostarda; seja o sêmen do semeador dos sêmens da graça; seja o vento sem endereço; seja o amor sem agenda; seja o serviço sem patrão; seja o amor que dá a vida; sim, quando é de Deus, tudo é assim…, sutil e poderoso, esmagador e imperceptível, claro como a luz, porém sem explicação…
Tudo o que concerne ao amor é assim…
Sim, é!… E ninguém o mudará!… E ninguém o vencerá!…
Ah, sim, amigo Neruda, tal poder não é apenas do amor das mulheres que são amadas de volta… ou não…; mas, sobretudo, nesse amor/ mistério, nesse amor/metástase, nesse amor/vida contra a morte — tudo é assim…
É mesmo!… Claro, mas sem explicação…
E mais: essa folha que era […] sem que se soubesse…, anuncia uma outra folhagem, a qual será Para a Cura dos Povos: as folhas da Árvore da Vida…
Nele, que disse: “O vento sopra onde quer…; ouves a sua voz; mas não sabes de onde vem e para onde vai”…
Caio
11 de outubro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF