A CONVERSÃO DE UM QUASE-ANJO

(retirado do livro Nephilim)



A noite estava calma. Aqui e ali ouvia-se movimento de caravanas que chegavam do deserto, enquanto outros saíam. Por fim, Abellardo e Ayal adormeceram. Algum tempo depois Ayal despertou de seu sono e olhou em volta, por achar que tinha ouvido vozes em tom mais elevado. Em volta, tudo o mais estava quieto. Apenas aquelas vozes interrompiam o silêncio, especialmente porque o timbre de uma delas era extremamente grave. Ela despertou Abellardo e pediu que ele prestasse atenção. Mas impetuoso do jeito que era, Abellardo pulou e saiu andando na direção daquela conversa na madrugada.
Ayal chegava correndo logo atrás dele, apenas para aturdida se deixar fascinar pela cena que já impactara Abellardo profundamente.
Assentado num dos pátios do Templo estava um imenso Nephilim, com as pernas postas sobre os degraus da escada de pedras lisas, maciças e monolíticas que passava ao lado desse pátio.
Em frente do gigante estava Enoque, pregando-lhe uma mensagem para a qual não havia resposta que a tornasse menos final e grave nos seus resultados. Basicamente, ele recitava os juízos de Deus sobre os Vigilantes e os Nephilims.
O gigante era lindo e assustador. Quase cinco metros de altura. Cabelos enormes, amarrados em centenas de tranças. Do queixo lhe saía uma barba pontiaguda, longa, que lhe chegava até ao peito. A pele era morena, mas os olhos carregavam a luz de uma fogueira. E a voz era poderosa, fazendo pensar que aquele ser estava em permanente estado de guerra, pois falava como que atormentado pela força de um conflito eterno.
– Quem és tu bela jovem que te escondes nas sombras? Indagou o gigante olhando na direção de Ayal.
Ayal perdeu o fôlego. Tentou responder mas não achava voz.
– Ela é Ayal, e me acompanha. Respondeu Enoque com a voz dos que estendem um manto de proteção a favor de quem falam.
Abellardo havia esquecido que sem certas incidências de luz, seu corpo não tinha qualquer visibilidade para os Nephilims. Então andou e chegou bem perto do guerreiro.
– Sinto cheiro dos que como eu comem carne de animal e bebem sangue. Sinto o cheiro, mas a ninguém vejo.
– Tu não podes me ver.
O gigante ouviu aquela voz vinda de lugar nenhum e perguntou a Enoque que mágica era aquela. E acrescentou que seus pais podiam ficar invisíveis aos olhos humanos, mas não havia na voz que ouvira a força das angústias da eternidade que os Vigilantes expressavam quando falavam.
– Diga-me quem tu és? Disse ele, voltado para o lado de onde a voz se fizera ouvir antes.
– Sou Abellardo Ramez e venho do futuro. Venho de onde já se sabe o que aconteceu com vocês e onde sua condenação aguarda a punição final.
– E o que fazes aqui?
– Vim ao encontro de Enoque, o sétimo depois de Adão, que viverá para não ver a morte, pois Deus o tomará para si.
– Mas se vens do futuro, como chegaste aqui?
– Viajei num coração de mulher, que se uniu às angústias de um homem, que se apaixonou por um livro, que descobriu na doença uma porta, e na fraqueza encontrou espaço para viajar para outros mundos.
– Ninguém faz nada na fraqueza. É com a força e inteligência que se conquista este ou qualquer outro mundo.
– É que tu não sabes o poder da força que reside na fraqueza e não sabes qual é a última mágica, a que transforma a derrota em vitória.
– Abellardo, meu jovem, ele só conhece o mundo da inteligência usada para dominar, e da força usada para possuir.
– E por que é que não posso ver-te, mas eles podem?
– Não sei ao certo. Mas acho que é porque vocês, os Nephilims, são seres do meio do caminho, que existem na Terra entre duas dimensões, e por isto, não sabem discernir o que é ambíguo, pois para distinguir a ambigüidade, tem-se que ser algo inteiro na sua própria natureza. Note: inteiro, mesmo que sem integridade absoluta.
– Ambíguo? Já ouvi sobre isto antes? Entre nós, os Nephilims, esse estado é tratado como um mistério. Muitos de nós dizem que só seremos salvos quando nos tornarmos ambíguos. Mas eu não compreendo o que é isto?
– Ambigüidade é a capacidade de chorar pelo que se é, e a esperança de ser o que se sabe se precisa ser. Ambigüidade é o estado de existência entre o bem e o mal, é a consciência de perdição e redenção que habita os humanos. Ambigüidade é como nossa alma se percebe e percebe os outros. Eu sei que sou ambíguo como ser humano. Mas sou humano, e isto em mim não é ambíguo. Você, entretanto, pertence à uma realidade que não é nem anjo e nem homem por inteiro. Por isto, você é a ambigüidade, e a ambigüidade não discerne a si mesma, porque para ela ser percebida pelo ser que é ambíguo, ela tem que ser vista por uma outra banda desse mesmo ser, que enxerga a outra parte que está sob o juízo da critica.
– E o que isto tem a ver com a pergunta que te fiz?
– E que eu creio que a gente enxerga com a alma. Os olhos são apenas ilusões. E a alma é o aparelho com o qual os humanos enxergam a sua própria ambigüidade e a dos outros. E, aqui, neste tempo e mundo, eu sou ambigüidade pura, em estado absoluto, pois deixei para trás as ilusões de minha imagem física. Meu corpo ficou no futuro. Certamente que os humanos, aqui, me vêem porque me vêem, enxergam não meu corpo físico, mas o corpo de minha alma.
A resposta de Abellardo deixou Ayal espantada, talvez porque não tivesse entendido tudo, mas, sobretudo, pela ousadia e coragem que sentiu nele ao dirigir-se ao Nephilim.
– É que os Nephilims não tem alma, só corpo, que herdaram de suas mães, humanas; e possuem espírito, que vem de seus pais, os anjos Vigilantes. E até onde me foi dado saber, é a alma que nos faz olhar entre esses dois mundos. Sem alma, o corpo sente apenas o corpo; e o espírito sente somente o espírito. É alma que vê um e outro. Talvez por isto, tu e teus iguais, não enxerguem a Abellardo, que está aqui mais para ser visto por quem tem alma.
– Sobre isto, mestre, tem uma coisa que quero dizer ao nosso amigo.
– Então fale, meu filho. Fale ao nosso amigo.
– Alma, é algo que se pode aprender ou desaprender. Uma alma, no sentido real, é o hálito de Quem nos fez. Mas mesmo entre os que herdaram alma, no nascimento, há muitos que a matam, e se tornam des-almados. Você não tem uma alma porque nasceu de um ato sem a participação do Criador. Mas se o hálito do Eterno soprar sobre você, alma vivente serás. Aí, então, terás que desenvolvê-la, faze-la aprender a ser uma alma.
Havia algo fascinantemente assustador naquele filho de anjos. Havia uma irrecuperabilidade dolorida. Era uma espécie de arrependimento sem esperança. Os seus olhos ardiam com intensidade. Mas o olhar, para além do fogo, era triste.
– Enoque, se tu nos falas as verdades do Altíssimo, por que o fazes? Se não há esperança para nós, se teu Memorial de Súplicas não foi aceito em nosso favor, se somos os que nasceram sob a condenação de sermos o que não deveríamos ser, então, por que nos falas?
– Falo porque o Eterno me ordenou que o fizesse!
– Mas, para quê, diga-me, Enoque? Qual o propósito dessa pregação? Queres nos atormentar antes da hora? Ou será que tiras algum prazer pessoal em fazer tal anuncio?
– Talvez porque bem dentro de mim eu quisesse ver a condenação dos Nephilims mudar, por isto, falo. Talvez eu queira, bem nos abismos de meu coração, que algo em minha profecia mude o coração dos Nephilims, e assim, arrependidos, mesmo que ainda para a condenação, pudessem, no último momento, mover as ternas misericórdias do coração do Eterno.
– Foi então por isto que escreveste orações a nosso favor, conforme te pediram os nossos pais, os Vigilantes?
– Sim. Eu cria que talvez houvesse remissão para os seus pecados. Mas então vi que não poderia haver remissão, pois que o pecado de vossos pais foi o desejo realizado de quem conhecia todas as conseqüências.
– Então não pregas para os Vigilantes, mas ainda assim o fazes para os seus filhos?
– É que creio que a situação de vocês é um pouco diferente, pois, já nascestes sendo os seres de dois mundos. Então, às vezes, me surpreendo desejando que pelo menos alguns de vocês, tivessem outro destino.
– Então percebes que há diferenças entre nós? Indagou surpreso o Nephilim.
– Sim, percebo. Vejo que há Nephilims perversos. E vejo que há Nephilims valentes. Também conheço alguns que se deleitam em possuir. Mas há outros que se satisfazem em impressionar. Mas a maioria é má, e parece não sentir nada que os aproxime do caminho do arrependimento.
– Eu não conheço esse sentimento. Sinto tristeza, às vezes, quando imagino que existo num estado que não muda. Pelo menos, não há nada que eu faça que venha a alterar meu destino. E que possível desejo de mudança poderia prevalecer num coração que sabe que seu destino continuará inalterado, mesmo que ele mude para sempre?
– Eu creio que nós não saberemos nunca o porque dos desígnios de Deus. Mas devemos saber que Ele é justo e não fará nada que, uma vez revelado, não deixe até mesmo o condenado convencido da justiça daquela punição. E talvez a mais profunda expressão de dor e arrependimento, seja a de mudar, mesmo que a pena não mude. Disse Abellardo, falando do nada, mas fazendo sua voz ouvida pelo Nephilim.
– Sim. Penso que você deveria fazer isto, deveria explorar todo o seu lado humano, porque você é mais humano que anjo, afinal, você vive na Terra. Foram os seus pais que caíram, você nunca subiu aos céus. Por isto, seja humano, e deixe que o Eterno veja seus caminhos na Terra.
A declaração de Enoque, fizeram com que Abellardo se enchesse de ternura pela bondade de suas palavras e pela generosidade de suas esperanças. O Nephilim, por seu turno, olhava para Enoque como se tivesse sido atingido por um raio, seu rosto mudou e seus olhos mostraram mais luz que fogo, e o tom da luz era esverdeado, como se esses fossem seus olhos, como se por baixo daquelas chamas, houvesse um homem de olhos verdes.
– Mas como posso saber o quão humano eu posso ser?
– Tenho um teste a fazer com você. Vou lhe falar de um sentimento humano sem mencionar a palavra que as frases definem. Você vai achá-la dentro de você. Ouça-a com o coração.
E após assim falar, Abellardo começou a recitar as frases com voz pausada, saída da escuridão da madrugada, e cheia da densidade de sua própria emoção.
… é um buraco negro no espírito
… é casamento sem amor
… é vitória sem platéia
… é alegria sem estréia.
… é o gozo dos que não existem
… é a festa dos abortados
… é o enterro dos que não morreram
… é o nascimento dos não desejados.
… é um por de sol em companhia de cegos
… é uma ilha deserta sem amante
… é uma tormenta sem abrigo
… é a angustia sem amigo.
… é saber sem poder compartilhar
… é arder de amor sem poder falar
… é ter prazer pra dar e ninguém pra receber
… é rolar na cama e não achar alguém pra abraçar
… é fazer amor com a própria mão
… é nascer em casa de muitos e não ter irmão.

O Nephilim ouvira tudo com os olhos fechados, olhando para dentro, procurando algo dentro, em si. Então Abellardo indagou do gigante qual era a palavra faltando no inicio daquelas frases. O Nephilim inspirou fundo, então expirou. Seu hálito era doce como de murtas floridas.
– Sou eu. É assim que sou.
– Mas você pode dizer qual a palavra que falta?
– Meus pais, os Vigilantes Universais, me falaram de buracos negros no universo. Sei que é o Lugar dos Não Lugares, onde tudo o que se vê no mundo, quando cai ali, passa para o mundo do avesso. Nesse outro mundo, do lado de lá do buraco negro, meus pais dizem que tudo é ao contrario. O que aqui se vê, lá ninguém vê. E o que aqui se não vê, lá isso se pode enxergar. Pois é assim que me sinto. É como se toda a grandeza que tenho aqui fora, fosse nada do lado de dentro, e como se do lado de dentro, eu veja outra pessoa, fraca e só. Disse o gigante, olhando fundo na direção dos olhos de Abellardo, e fitando-o com tal convicção, que ele sentiu seu corpo tremer de alto a baixo, reverenciando a dignidade da afirmação daquele ser preso entre o tempo e a eternidade.
– Solidão é a palavra que faltava, e sei que você não a encontrou dentro de você como palavra, mas a achou como sentimento, o que é muito mais profundo ainda, sabe por que? Porque nem tudo o que se define em palavras, aquele que define, sente com o coração.
– Desculpe, mas estamos conversando a tanto tempo, e ainda não sei seu nome. Disse Ayal com singeleza e ternura.
– Meu nome é Barakibeel. Sou filho de Akibeel, o Vigilante Universal que ensinou os humanos a arte dos sinais e dos prodígios. Sei tudo o mais que os outros Vigilantes ensinaram sobre feitiçaria, e as raízes da terra; sobre as soluções e poções de encanto; sobre as posições dos astros nos céus, e sua influência na Terra; e sei tudo sobre os movimentos da lua. Também conheço as ciências dos números e das pedras, especialmente o poder do silício. Mas, como meu pai ensinou a arte dos sinais e prodígios, sinto que essa é a parte mais forte em mim.
– O que tenho a lhe dizer, filho de Akibeel, é que você pode decidir hoje que vai viver para explorar seu lado humano, e não vai mais participar da exploração do gênero humano, conforme fazem os de sua geração. Disse Enoque com o olhar cheio de firme generosidade.
– Eu venho do futuro. E de onde eu venho, conta-se a história de um gigante que visitou o hemisfério sul do ocidente da Terra. O lugar hoje, eu digo, daqui a muitos milhares de anos, será conhecido como Peru. Nesse país há tradições que vem de milhares de anos, e que falam de um homem de grande estatura, que visitou os Nazca, e lhes ensinou muitas coisas boas, curou os seus doentes, educou-os sobre as estrelas, as estações da Terra, os ciclos dos sol e da lua, e lhes ensinou a construir grandes coisas como aqui no Egito se faz. Mas, acima de tudo, se diz que ele os tirou do caos das guerras e da tirania da violência, e os ensinou o caminho da paz e da prosperidade. E também lhes disse que o Único a ser adorado era Aquele que está acima de todos os sóis do universo.
– E o que isto tem a ver comigo?
– É que se ele vem do futuro, então é porque houve um Nephilim que quebrou o Pacto das Execrações de seus pais, e decidiu viver para mostrar arrependimento, mesmo que nada mudasse. Disse Ayal, para então completar: “Quem sabe esse gigante não é você?”
Barakibeel nada disse. Apenas olhou para o alto, para então suspirar forte, exalando outra vez aquele cheiro, cada vez mais doce de murta em flores.
– E o que é arrependimento? Sempre pensei que fosse algo ruim, um mal que só acomete os fracos e sem valentia? Assim é que me ensinaram.
– Veja, Barakibeel, arrependimento é virtude divina. Não nasce no coração dos humanos se o Eterno não a fizer nascer no coração.
– Mestre Enoque, se me permite, gostaria de dizer que arrependimento também significa mudança de mente, de rumo e de disposição na vida. No futuro se desenvolverá uma língua que será chamada de grego. Nessa língua, arrependimento é metanóia, que significa conversão dos pensamentos e da mente. É como deixar a mente nascer de novo, mas com as memórias do passado e as novas decisões do presente. E essa disposição é mais forte que a morte e só os bravos são capazes dela.
– Entendi. Mas Abellardo, diga-me como os povos do futuro chamarão esse gigante que virou um grande homem?
– Barakibeel, eles o chamarão de Viracouchas, pois o nome significa aquele que veio e se foi com as espumas do mar.
– Ainda temos mais algumas horas para o nascer do sol. Por que então não contas sobre Viracouchas? Preciso saber quem posso ser.
Assentaram enquanto Abellardo dizia a eles tudo o que lembrava a respeito do assunto.
– Viracouchas era um gigante, diziam os Nazca, que disseram aos Incas, e esses aos espanhóis e as histórias chegaram até o tempo onde vivo, algumas como canções, outras em escritos dos Incas e dos espanhóis. O que dizem é que ele chegou vindo com as ondas do mar. Tinha barba como a sua, e era imenso, como você. O mundo que ele encontrou estava em guerra, e doenças e mortes estavam em toda parte. Ele ensinou os homens a se respeitarem e também curou os seus doentes. Organizou-os e educou-os em todas as ciências que não afrontavam ao Criador. Construiu grandes fortificações, cujas ruínas ainda podem ser achadas no meu tempo. Fez tudo isto com a ajuda de dois assistentes, conhecidos como Huaminca, que significa “soldado fiel”, e de um outro chamado Hayhuaypanti, que significa aquele que brilha. Os trabalhos de Viracouchas foram tantos, que há nos meus dias até quem pense que os seres que fizeram isto eram habitantes de outros planetas. Viracouchas realizou todas essas coisas e partiu com as ondas do mar, para outros povos, antes que o grande diluvio chegasse. Pois todas aquelas nações foram avisadas sobre o dilúvio das Grandes Águas. Mas ele nunca usou seus poderes do outro mundo para matar os humanos ou enganá-los a fim de ser adorado como se fosse um deus.
– Estou com minha decisão formada. Levantar-me-ei e irei buscar ser ouvido pelo Eterno, e lhe direi: Pai dos espíritos, meus pais pecaram contra os céus e contra a Terra, por isto, não sou digno de ser chamado teu filho; aceita-me, ao menos, como um dos teus mensageiros, mesmo que a mensagem que eu fale, acuse a mim mesmo.
– Isto é metanóia! Isto muda tudo! Exclamou Abellardo com extrema euforia.
– Que as misericórdias do Altíssimo te alcancem, filho de Akibeel. Proclamou Enoque com as duas mãos estendidas na direção do Nephilim, que para ele olhou com a reverência dos crentes verdadeiros.
Ayal derramava lágrimas. O mesmo fazia Abellardo. Barakibeel não o podia ver, mas ouvia os suspiros de emoção que de sua direção estavam vindo.
– O que tens de fazer, faze depressa, pois a noite vem e nela ninguém pode trabalhar. Disse Enoque, que de tão ansioso estava para ver o que aconteceria, que praticamente colocou Barakibeel em posição de partir para outros mundos, buscando viver sua dor com a decisão de fazer bem aos humanos, mesmo que isso não trouxesse nem um bem a ele.
– Antes que você se vá, deixe-me contar o mistério dos mistérios. Disse Abellardo, para logo em seguida lhe falar do Nome. E acrescentou: “Hoje, só uns poucos sabem de Sua vinda, um dia, no futuro. Mas é nesse Nome que todos esperam, mesmo sem saber. E até onde nada sobre Ele foi dito, ainda assim, Sua luz visita as almas em sonhos e inspirações. E quando você for ameaçado, mencione o Nome. Todos tremem diante Dele. Mesmo os mais valentes entre os seres dos céus. E quando tentarem resistir, diga: Eu creio que o Cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo. E, assim, não haverá poderes que possam lhe vencer nem no céu e nem na Terra.
– Agora vá. Não perca mais tempo.
Ao ouvir a ordem de Enoque o Nephilim se ergueu. Olhou para eles, respirou o cheiro de Abellardo, e partiu andando com a solenidade dos deuses, na direção do deserto.
No horizonte, nas costas do gigante, o sol nascia no oriente. Ele, porém, andavam na direção do ocidente. Era para o lugar da morada do sol que ele se dirigia. E, provavelmente, aquele seria um dos dias mais importantes de toda a sua existência.
Enoque também andou em outra direção. E Abellardo e Ayal o seguiram…

Caio