Normalmente eu não durmo muito; e entalado de emoções, saudades e muito óleo de amor, fica mais difícil ainda simplesmente dizer para a sua própria alma: “É hora de dormir!”
Mas de fato o que me motivou a vir até aqui, e escrever algumas coisas, é uma coisa só: a semente.
Esta palavra da semente de trigo que caindo na terra não morrer, fica só; muito tem falado comigo.
O medo da morte é o que nos impede de deixar a semente morrer, para que não fique só.
A solidão da semente está na sua tentativa de não aceitar o morrer.
Olho para dentro de mim e vejo sementes que precisam morrer, a fim de poderem dar muito fruto.
A morte de meu filho, que se abriu para dar tantos frutos em tão pouco tempo, mais uma vez me levou a cruzar fronteiras.
Eu já disse que ele me provocava da maneira mais instigante possível. E como muitas vezes antes, agora também.
Pois sua imagem de semente que morre para não ficar só, e para poder dar muito fruto, inspira-me e encoraja-me a não temer mais que as sementes de trigo que habitam meu ser, e que se recusam a se entregar à morte, morram; pois sei que de todas elas brotará muito fruto de vida.
Sementes. Cápsulas de vida. Vida em cápsula.
Semente, a vida que pode ser, mas não é; que é, mas ainda não se tornou.
Semente é toda existência que se nega a morrer, para poder se tornar vida.
Semente é útero que não pariu.
Semente é sêmen que não virou gente.
Semente é o que existe entre o ser e o não ser.
Semente é o que existe entre o amor e o possuir.
Semente é o véu sagrado que se rasga, e de cujo santuário sai algo que é maior do que a forma do “templo” apresentava.
Semente são todos os outros ainda presos a único ser ou objeto.
Sementes têm que morrer!
Há sementes que morrem fora, para poder viver dentro.
Há sementes que morrem dentro, para poder viver fora.
Há sementes que se negam a aceitar a transformação, a conversão, e morrem em solidão; pois se o grão não morrer, fica ele só; porém se morrer, produz muito fruto.
Ofereço ao Pai o campo de meu coração, e peço a Ele que toda semente de trigo que há em mim, e que se nega a morrer para poder viver, morra como existência renitente, a fim de que apareça como vida; e também peço que todo joio que possa haver em mim, seja queimado, e lançado ao fogo.
Um dos versículos que mais me impressionaram na adolescência, voltou a me mexer muito ultimamente.
“Ah! Se Israel me escutasse. Se meu povo andasse nos meus caminhos! Eu o sustentaria com o trigo mais fino; e o saciaria com o mel que escorre da rocha”.
Eu quero comer essa comida; e que quero servir esse tipo de comida para meus irmãos.
Por isso, sementes têm que morrer, e trigais de vida têm que aparecer.
Caio