Oração ao Deus que ouve por meu filho:
Senhor Jesus, Tu és meu refúgio e minha alegria. Vêm de Ti também todas as minhas consolações.
Vês meu coração. Ando nu de mim mesmo diante de Ti. Minhas vestes são a Tua justiça, e nada mais.
Hoje vês e comigo sentes minhas dores de saudade e de boas lembranças pelo filho que tomaste em Teus braços.
Ah, como sinto falta do filho que me deste e que para Ti levaste de súbito. Contento-me em Teu amor, e no mistério de Tua sabedoria.
Dói-me a alma. Minha mente está intoxicada de imagens. Sorrisos, boca bela, larga e cheia de expressão. Olhos profundos, intensos, que diziam sem falar.
Ah, meu filho, como eu amava a tua face!
Ah, como sinto saudade de teus cheiros, de tua cabeça, mesmo adulta, deitada entre minhas pernas para ver televisão.
“Pai, chega pra lá!”
Como sinto falta desse pedido-ordem que me davas, mesmo muito maior e mais alto do que eu, quando me pedias um lugar na cama para assistir um filme comigo.
Ontem, sim, ontem! Foi o dia da Hellena, seu quinto aniversário, e como senti falta daquele meu imenso menino, meu amigo, e minha mais constante companhia.
Choro sozinho, beijo teus olhares, aspiro teus perfumes, visto tuas roupas, e te vejo o dia todo diante de meus olhos, especialmente quando vejo o que gostavas de ver, ou ouço as musicas que te faziam dançar.
Danço tuas músicas em solidão, balanço na melodia das canções que te animavam.
Ontem, se pudesses ver, terias visto como nosso amor por ti não pára de crescer, e também verias como as memórias de tua existência entre nós desabrocham como árvore de vida todos os dias, e as suas folhas saram nossas almas.
Ah, meu filho, não é contigo que falo, pois, tu já não ouves as vozes desse chão de morte, neste planeta de nossas existências. Mas falo contigo em Deus, confesso como se fosse a ti minha saudade, mas é com o Pai, em cuja presença tu te satisfizeste com Sua semelhança que confesso o que sinto, pois, Ele sente comigo o que sinto por ti.
Terias amado a noite de ontem. Estávamos todos lá. Sim, todos nós de teu sangue, e todos aqueles que a ti se irmanaram pela alma.
Ninguém houve que não abraçasse tua memória como um bem da vida!
Ah, meu filho, tu me precedeste na Glória. E muito me alegro que tenha sido assim, pois esta era a tua vontade.
“Pai, eu não quero ficar na terra se você e mamãe não estiverem aqui”.
Foste ouvido, meu Luk-Luk!
Entraste na Glória. Eu me contento com tua eterna alegria, e sofro doce saudade de um amor sem igual.
Não sei quanto tempo mais terei na Terra, mas sei que é um nada o percurso de minha vereda. Enquanto não vou, meu filho, entrego-me a cada dia mais ao Evangelho, minha paixão maior, como tu sempre soubeste.
Como gostaria que aqui estivesses quando a chuva do amor de Deus se derramar sobre os homens.
Ah, meu filho! Sinais há de que algo novo está para acontecer, e mexerá com toda esta nação; quem sabe, filho, com o próprio mundo.
Sim, carrego no peito a certeza, filho amado, que o melhor de meus dias no serviço da fé ainda está por vir. Disto, creio, me tem falado o Senhor!
Teus irmãos vêem o que Deus está fazendo e se alegram.
Eu, teu pai, vou andando e chorando enquanto semeio. Do mesmo modo como andei e chorei ao teu lado nos dois anos de tuas agonias de alma. E voltarei com alegria trazendo os feixes da Graça, do mesmo modo como fui em prantos contigo, e voltamos abraçados e esperançosos quando retornamos em alegria, quando o Senhor restaurou a tua sorte.
Como disse, filho, falo com o Pai, pois, tem sido Nele que tenho derramado a saudade indizível que de ti sinto todos os dias.
Enquanto isto, filho de minha alma, sigo o mandamento da alegria, e me alegro no Senhor. Fui visitado pela paz que excede a todo entendimento.
Hoje, com tua partida, e depois de tantas outras partidas, perdas, separações, opressões, julgamentos, perseguições, e, sobretudo, alvejado pelas setas da inveja e da calúnia, sei que tudo posso Naquele que me fortalece.
Tua partida me enfraqueceu tanto que nunca estive tão forte.
Filho, a Graça me basta, pois não fora a Graça e seu poder que se aperfeiçoa na fraqueza, eu me inundaria no mar de minhas lágrimas.
Dormiste sem saber, e acordaste para a face do Pai, e sei que tu ti satisfizeste na beleza de Sua semelhança.
Como será lindo te reencontrar e ver a plenitude do Eterno dando luz de vida ao teu novo rosto, e, anseio por saber qual é teu novo nome.
Quão bela deve ser a tua pedrinha branca!
Caio, teu paizinho de sempre!
Madrugada de 3 de novembro de 2004