BATUQUE SEM NEXO NO ÁTRIO DO MEU CORAÇÃO: fibrilação!

 

 

 

 

 

BATUQUE SEM NEXO NO ÁTRIO DO MEU CORAÇÃO: fibrilação!

 

 

 

 

Estou fibrilando…

 

Tenho isto (ou sinto) desde que tinha 27 anos.

 

Uma jovem da Ig. Presb. Betânia, a Elisa, estava morrendo de câncer, e eu me afeiçoara muito a ela e a seus pais; e, um dia, voltando de um Encontro de Evangelização no Rio Vermelho, em Goiânia, fui informado de que ela estava mal, e, fui direto do aeroporto visitá-la. Ao ver a dor dela e de seus pais e irmã, não me contive e liberei minha dor de amizade e impotência.

 

Ao chegar em casa fui tomar um banho. Então fui chamado pelos filhos, ainda crianças, para espantar uns marimbondos que estavam perturbando dentro da sala. Quando dei a primeira “mãozada”, senti o coração entrar em estado de descontrole total.

 

Eu sabia que não era taquicardia. Não era apenas uma hiper-aceleração. Não! Era diferente. Era como se meu coração tivesse virado uma gelatina em curto circuito, toda eletrificada e sem qualquer compasso, nem que fosse o da taquicardia, que é acelerada, mas é ainda compassada em seu exagero.

 

Chamaram o Dr. Romeu. Presbítero querido. Foi à minha casa e fez os procedimentos de praxe. Mas como eu não parava de fibrilar, ele decidiu chamar a ambulância do hospital do coração.

 

Foi a primeira de uma sucessão incontável de vezes em que fibrilei. De lá para cá só não morri de fibrilação, mas tive a chance de conhecê-la de todos os modos possíveis e em todas as situações. Em meio às circunstâncias mais impensáveis e improváveis eu já fibrilei. E demora umas duas ou três horas para passar, quando passa; do contrário, tenho que ir ao hospital, para que a revertam por meios mais radicais.

 

Nunca fui assustado por ela. Nem na 1ª vez. De fato, achei que iria morrer, mas não senti nada, além de preocupação pelos filhos, à época pequenos. Então, fui informado que raramente a fibrilação atrial mata alguém, embora a ventricular seja fulminante. A minha é atrial. Uma é no átrio do “templo-cardíaco”. A outra é no “santo-dos-santos” do coração.

 

Com os anos fui desenvolvendo uma escala de intensidades. Por exemplo: até o nível 5 dá pra eu suportar sozinho ou em casa. Mas se for do nível seis pra lá, a sensação de morte, de desmaio, e de falta de ar… — são tão fortes que não dá para ficar esperando passar, sabe Deus quando. Então vou ao hospital.

 

Meu problema quanto a ir ao hospital é que se você entra, meu Deus, para sair é um problema. E se os médicos forem amigos, além do pernoite, eles querem você lá no mínimo 24 horas, e alguns demandam 48. Então, pra mim não dá. Entretanto, já dormi muitas noites nas clinicas do coração.

 

Aqui em Brasília eu já tive algumas crises fortes, mas em nenhum dos casos eu fui internado. Entretanto, de domingo para cá essa é a segunda crise; e, como não é de todo raro, essa bichinha ataca quando estou também muito relaxado; ou seja: descansado.

 

Domingo eu tive uma crise a manhã toda. E ela veio quando eu estava tranquilão, alimentando os passarinhos. Hoje acordei com ela. Aliás, fui acordado pelo curto-circuito em meu coração.

 

A sensação é a de vários cavalos correndo em direções quase-opostas puxando uma carruagem sem cocheiro.

 

E fica uma coisa pesada no meio do peito. Um arrocho. De fato é um peso arrochado. Quase uma dor. E cansa. E você fica frio. E dá a sensação de que há um motor de centro dentro de você batendo de maneira louca e desconexa, e, além disso, sem estar preso à nada; assim, treme tudo.

 

Por vezes parece que órgãos como o fígado, fibrilam também. Mas a sensação mais bizarra é a de estar morrendo… Vai apagando… E você tem que ficar bem tranqüilo.

 

Já faz três horas que ela veio. Fiquei na cama, quieto, esperando ela passar. Na minha escala essa foi fraca. Provavelmente entre 2 e 3. Agora já está em 1.5. Daí eu estar escrevendo.

 

O pior de tudo é que depois dela o dia meio que acaba. Os médicos me dizem que é como ter corrido a maratona. Você fica sem energia. Eu, entretanto, dou um tempo, mas não fico na cama até o dia seguinte. De fato, na maioria das vezes, dou uma sossegada de umas seis ou sete horas, e, depois, tento fazer o que tenho de fazer, só que de modo muito calmo.

 

Hoje, por exemplo, devo pregar à noite na Casa do Caminho.

 

Assim, quando você ouvir dizer que eu fibrilei, saiba: é isso aqui. Dá uma grande sensação de morte, mas, até aqui, não foi ela. E, segundo os médicos, essa minha é do “átrio”, é do povão; não é uma fibrilação sacerdotal, aquela que mata, a do santos dos santos do coração: a ventricular.

 

Um beijo a todos!

 

 

Nele, que entrou no Santo dos Santos Celestial e que intercede por nós,

 

 

Caio

 

13/03/07

Lago Norte

Brasília