MORRENDO DE ALEGRIA DE SAUDADE

 

 

 

 

   

MORRENDO DE ALEGRIA DE SAUDADE

 

 

Tudo está bom quando se sente saudades. Sobra pouco tempo com que se preocupar. Posso relaxar e deixar ser levado ou posso lutar e ver se consigo“.  

 

(Escrito na agenda do Lukas em 9/1/03, nos Estados Unidos)

 

 

 

Pode saudade ser alegria?

 

É possível alguém ficar cheio de alegria de saudade?

 

Como seria isto possível? Afinal, saudade confessa um desejo não realizado pela ausência do objeto do desejo: o ausente.

 

Sente-se saudade do que não está ou já não é, mesmo que esteja.

 

Sente-se saudade de nós em outro lugar, em outro tempo, em outra situação, com outras pessoas — pois, hoje tudo isto pode até estar presente, mas vazios do que um dia foram.

 

Assim, a saudade é de momentos mágicos, encantados, verdadeiros, puros, intensos, vivos e únicos.

 

É por tal razão que nós,pais que temos filhos adultos, sentimos imensa saudade deles, mas, se eles chegam à nossa casa, e, cansados da viagem dizem que vão dormir, ou excitados com a chegada e com os encontros com amigos locais, dizem que vão sair — nós, os pais, ficamos felizes; mesmo que eles continuem ausentes de nossa vista, mas felizes à nossa volta.

 

Ora, isto nos basta.

 

A felicidade dos filhos é a recompensa dos pais. Pois, para os pais, a felicidade dos filhos, mesmo ausentes da vista, é estado de realização. Visto que é sempre assim para quem amou, ama, e amará.

 

Comecei a escrever isto porque a foto com meus netinhos, Hellena e Mateus, está na tela do meu computar; e eu fico olhando o tempo todo, e fico rasgado de saudades. Bate aquela vontade de devorá-los por inteiro…

 

Então, como tenho sentido saudade demais deles, decidi mudar a foto da tela para sofrer menos; e, no processo, caí em cima de uma foto do Lukas, com mais ou menos 10 anos, esquiando na neve, e me debulhei em lagrimas e saudades.

 

Entretanto, de súbito, comecei a sentir grande alegria. Saudade e alegria. Doía feliz. Fazia feliz com dor.

 

Foi quando como que ouvi uma voz que era como se fosse a dele: “Você realmente gostaria que eu estivesse aí e não aqui?” Tive que responder: “Não, meu filho! Não quero você aqui. Sinto saudades de nós todos, juntos, aí!”.

 

E assim me alegrei de saudades!

 

E assim me gloria nas saudades antecipadas da glória de Deus. E quem ama gente que lá já está, sente cada vez mais saudade de lá estar também.

 

Tal saudade, todavia, carrega o paradoxo de doer de felicidade!

 

 

Nele, que é nosso contentamento,

 

 

Caio

 

18/05/07