AMAZONAFRICA: a savanização da Amazônia

 

 

 

AMAZONAFRICA: a savanização da Amazônia

  

 

 

Estou no Monte Sião com minha mulher. Papai e mamãe estavam aqui, mas como eu tinha que voltar à Manaus para pregar na Confraria da Graça (irmã do Caminho da Graça na cidade), e meu pai tinha que tirar os pontos internos da cirurgia no olho que fez na quinta-feira passada — retornamos todos.

 

Ontem, entretanto, Adriana eu voltamos para cá.

 

O Monte Sião é o acampamento da Igreja Presbiteriana Central de Manaus, da qual meu pai é pastor emérito, e onde fui ordenado e iniciei meu ministério em 1973.

 

Distante de Manaus 180 km, o lugar é de fácil acesso, pois, chega-se até a porta pelo asfalto. Através da BR-AM 010.

 

Uma vez aqui tudo muda.

 

A área é imensa. Cheia de mata preservada por meu pai, que não permite que se tire madeira alguma do lugar ou que nele se cace ou pesque.

 

O lugar é aquilo que como “lugar comum” se chama de “santuário natural”.

 

O Rio Urubu banha as praias da propriedade.

 

Lindo, calmo, moderado em tamanho, abraçável como rio — o Urubu é do tamanho certo para se ter uma boa relação com um rio.

 

Não é um rio longo. Nasce nas águas do Negro e termina dando-se por inteiro ao Amazonas.

 

Tem partes estreitas e cheias de pedra. Pedras cor-de-rosa como as do Negro. Mas na maior parte o rio é da largura média de uns 400 metros de águas escuras e limpas, as quais singram a floresta de um lado e outro dele. De vez em quando surge uma ilha, ou então um lago aparece aqui e ali insinuando boa pesca e bons lugares para dormir. Às vezes o rio cresce na largura. Fica amplo e largo como um quase-grande-rio. Depois estreita. Mas sempre anda nesse sanfonamento entre o quase estreito, o médio e o largo.   

 

Marcado por uma sucessão de quedas d’água, o Urubu serve ao Monte Sião com uma das mais gostosas e belas de suas cachoeirinhas, e que fica bem em frente da propriedade, do outro lado do rio.

 

No meu livro “Nephilim” eu apelidei a queda d’água de “Cachoeira da Grace”. Vai-se para lá numa voadeira, que é um pequeno barco. O lugar é um deslumbre.

 

A região está cheia de igarapés. Que maravilha. Eles são gelados, mansos, arenosos, e de coloração que pode ir de um tom de chá-mate um amarelinho cristalino, de tão transparente que é a água. O chão é sempre de areia limpa e geladinha.

 

Ontem dormimos muito cedo. Hoje, aí pelas 4 da manhã eu já estava sem sono. Fiquei da cama vendo o sol nascer. E a vista aqui é maravilhosa. Dormimos sempre no alto da torre de cinco andares que meu pai construiu nas imediações do rio, a qual tem um apartamento por andar, toda feita de estrutura de Aquaricuara e fechada em madeira de lei tosca e rústica.

  

 

 

É divino de tão lindo e agradável…

 

Pelo fim da madrugada o rio vai trocando “o prata da lua cheia” com o qual se vestiu a noite toda, e lentamente vai se cobrindo de dourado suave. Depois as cores se tornam mais fortes, mais graves, mais para o agressivo — pois as águas escuras do rio e o verde abundante da floresta criam no céu imagens, formas e tons os mais belos e surreais à medida que o sol se impõe.

  

 

 

E a passarada? Ah! Esses meus amigos são lindos! Hoje de madrugadinha eles voaram à volta da torre aos bandos, e os saudei com alegria.

 

Há umas três noites um coral de macacos-prego cantou forte, gutural, harmônica e agressivamente aqui perto, enchendo a noite de vida e mistério.

 

Quem vê daqui não vê desgraça. Não hoje. Não agora. Não neste período do ano. O rio está cheio, graças a Deus. Mas nos últimos três anos a seca tem rondado lugares dos quais ela jamais antes nem sentira o cheiro.

 

Minha mana, Suely (que é ambientalista e secretária adjunta de limpeza urbana da cidade de Manaus, e que se dedica à questão “ecológica” faz anos), me disse que o processo de “Savanização da Amazônia” em razão do Efeito Estufa (alterações de temperatura de ventos e águas atlânticas; e a dês-construção sistêmica que tais alterações estão provocando no meio ambiente), em continuando a crescer na mesma progressão mais 15 a 20 anos, pode nos levar até lá a termos uma Amazônia Africana em seu aspecto.

 

Aqui, olhando de cima da torre a floresta e o rio lá em baixo, lembro de muitas coisas de minha infância.

 

 

 

Lembro do tempo em que lugares como este (então ainda quase dentro da cidade), tinham tucanos, araras, papagaios, anus imensos, garças, curicas e toda sorte de pássaros de porte, e muita caça.

 

Meu pai atropelou uma onça em 1961 há oito quilômetros do centro da cidade de Manaus.

 

Lembro de como entrávamos na mata e víamos a bicharada com facilidade.

 

Lembro que os igarapés eram todos limpos e a cidade era bela e antiga.

 

Lembro que chamava minha atenção o fato que a terra abaixo dos meus pés era quase toda areia, ou barro arenoso.

 

Lembro que a primeira pedra-pedra que vi na vida já foi no Rio em 1964, o Pão de Açúcar, pois, no Amazonas quase não há pedra; e as do Rio Negro são cor-de-rosa e arenosas.

 

Lembro que ao tomar nas mãos aquela areia fina e molhada que há em baixo da floresta, meus sentidos eram sempre remetidos para tempos primitivos, como se aquele chão estivesse impoluto desde a criação.

 

 

 

Hoje sabemos que o Amazonas já foi o Saara, antes da separação dos continentes conforme hoje os conhecemos. Amazonas e Nilo podem já ter sido uma coisa só. A Bacia Amazônica e o Norte da África podem já ter sido a mesma coisa. Mesma areia. Mas a “daqui” foi regada… Regada pelas chuvas mais densas que o planeta provavelmente já conheceu. E, bem regada, qualquer parte da Terra, até o deserto, vira Amazonas.

 

Mas esse gigante pós-Africano, o Amazonas, é mantido pelo poder da delicadeza.

 

Sim! Ele é filho de temperaturas.

 

Filho de águas que não podem ter febre.

 

Filho de ventos que precisam ser frescos.

 

Filho de encontros entre os ventos e o gelo andino.

 

Filho de temperaturas que não podem dançar fora de seis graus de variação, sob pena de quebrarem a magia dos ventos e das águas…

 

O Amazonas é filho de um viajar de ventos até ao gelo; e que se tornam neblina como aquela que o Gênesis diz que molhava o Éden, a qual se adensa para derramar-se em chuvas diluvianas sobre um antigo deserto…

 

Deserto que se tornou a grande profecia de Deus na natureza, declarando que havendo equilíbrio na temperatura, água em abundancia, e vento educado, todo deserto vira Amazonas.

 

Quero vir aqui sempre. Quero trazer pessoas para conhecerem enquanto está aqui. Quero ajudar o anjo que brada no meio do céu, no Livro do Apocalipse, advertindo os homens acerca do que fazem aos céus, à terra, ao mar, e às fontes da águas.

 

No fim, tudo será como começou. Amazonas e África se tornarão a mesma coisa. Mas apenas depois que o Amazonas virar África. Depois disso, chegará o dia quando o mar já não existirá. Naquela dia Amazonas e África serão a mesma coisa, não porque o Amazonas tenha se tornado desértico como a África, mas porque a África terá se tornado como um dia o Amazonas foi: o jardim de Deus.

 

 

Caio

 

01/06/07

Torre do Monte Sião

Km 180 da Manaus – Itacoatiara

Amazonas

Terra