CIÚME COMO SINTOMA, SÍNDROME DE ONIPOTÊNCIA COMO CAUSA! – meu caso em particular!…

 

CIÚME COMO SINTOMA, SÍNDROME DE ONIPOTÊNCIA COMO CAUSA!meu caso em particular!…

 

Referente às cartas acháveis no link: O CIÚME DE NATHÁLIA POR ROBERTO!… É COMO O SEU CIÚME?… [1 E 2]

 

Quando respondi à carta do Beto, o marido da Nathália, ambas as cartas no link acima, senti o desejo de, pela primeira vez, escrever sobre a minha experiência com o sentimento de ciúme; algo que para mim também era uma primeira vez na minha vida… — portanto, algo novo psicologicamente para mim; embora eu tivesse lidado com o tema, ajudando pessoas, e vendo que as ajudava durante toda a minha vida adulta, que começou com minha conversão, aos 18 anos, conforme exaustivamente tenho dito e repetido…

Era algo novo para mim, apesar de minha vasta experiência teórica sobre o tema, porque, segundo Jesus, somente a experiência ensina o real significado das coisas, para o bem e para o mal; e isto em razão do modo como nosso ser passou a operar depois que caímos para os píncaros de nossa arrogância, ao desejarmos ser como Deus, mesmo que a morte fosse o risco/certeza…

Então se estabeleceu a experiência como o fator epistemológico essencial na apreensão da verdade; ainda que com o risco da morte…

Quero, no entanto, creio eu para o bem de muitos, não apenas repetir o que disse na 2ª carta, ao Beto, bem como expandir a noção um pouco mais; sempre a partir de mim mesmo.

Eis um trecho do que eu disse [embora seja fundamental que se leia as duas cartas que estão no link acima, a fim de que se entenda melhor o todo pelo contexto]:

                                            

 

Eu havia vivido sem nunca sentir ciúmes… A vida toda…

Entretanto, depois de “velho” [Rsrsrs], quando conheci minha mulher, Adriana, dado ao fato de que eu não a “criara” como minha mulher, posto que ela já tinha três filhos, tinha sido casada, e tinha tido uma vida longa sem mim, com milhões de pessoas, fatos, histórias, conhecidos, amigos, viagens, e uma vida toda da qual eu nada sabia como agente histórico nos momentos…, e, portanto, não participara — de súbito me vi sentindo coisas que eu jamais sentira, e que decorriam da minha Síndrome de Onipotência Marital, e que se manifestava como raiva de não ter tido a ela como minha esposa, na minha vida e história, desde sempre e o tempo todo… 

Então, me vi com ciúmes de todo o passado dela, que fora sem homens, sem namoros, sem histórias macabras, sem nenhum concorrente para mim…, mas que, assim mesmo, dado ao fato de que eu passara a vida toda tendo todos ao meu lado como “criação” de minha história…, o simples fato de que ela tivera uma vida dela mesma, por tantos anos, e sem mim, me gerava um sentimento novo, desconhecido para mim…

Sim, para mim que casara a primeira vez com 19 anos e com uma menina que esperara fazer 18 para casar no mês seguinte…, tudo aquilo era tão novo como difícil de digerir…

Ou seja: descobri que meu ciúme era de ninguém, mas de mim sem ela e dela sem mim por tantos anos…

E mais: o fato de que eu sou um ser com forte perspectiva histórica em tudo o que faço…, parecia que ter amado uma mulher que tinha tido [teoricamente] mais da metade da vida sem mim, dava-me a impressão de me dizer que era possível uma vida feliz sem mim…; o que expressava o fato/emoção de minha alma […] como estando profundamente adoecida pela minha Síndrome de Onipotência Conjugal; a qual não queria controle, mas apenas o impossível: que o passado não tivesse sido como foi…; que o presente trouxesse uma amnésia de qualquer passado sem mim; que tudo o mais antes fosse relegado à categoria da inexistência…

Para mim era como se eu estivesse ficando louco… Sim, pois, em minha mente, tudo era repudiável e sem sentido, mas as emoções não obedeciam a minha razão…

Até que chegou o dia em que, diante de Deus, eu chamei aquilo de “doença minha”…

Sim, e ao fazer isso, ao não me dar razão, ao discernir aquilo como um mimo de um homem macho acostumado a que as mulheres em minha vida não tivessem tido uma existência sem mim… — logo vi que a “estrutura” daquele mal sem causa começou a ruir; e a ruir de tal modo que eu me assustei com a rapidez do fenômeno…

Estou contando esta história, história minha, a fim de demonstrar a sutiliza de tal doença das emoções; e mais: a fim de também demonstrar a irracionalidade do processo todo…

Portanto, ciúme que não tem causa só pode ser vencido com verdade e fé…

No meu caso a verdade era a minha relatividade…

Ora, o problema é que ela, a minha mulher, entrou na minha vida com um poder avassalador justamente na hora em que eu me sentia mais relativizado em toda a minha vida…; sim, por todas as ocorrências dos anos de 98/99; ocorrências que além de me deixarem “morto”, também me puseram em um ambiente coletivo no qual eu era tratado como bandido pelos meus irmãos…

Foi em meio a toda essa relativização pública de minha vida e história [algo que eu não sabia e não conhecia como experiência na vida], que ela chegou; e a chegada dela, ante tudo o que em mim se passava […], relativizava ainda mais o meu significado para mim mesmo; posto que o que eu experimentasse naquele tempo da vida fosse a sensação de que eu me tornara um fantasma de mim mesmo solto na terra…; e, naquele estado, teoricamente, tudo o que a minha alma não precisava era de uma poderosa sensação de relatividade relacionada à mulher que eu agora amava…

                                      […]

Jesus disse que somente a verdade liberta!…

Ora, se eu não tivesse tido a coragem de ver que meu problema não era ciúme, mas sim Síndrome de Onipotência Conjugal, jamais teria ficado curado, e, possivelmente, nem teria continuado a relação que desembocou em um casamento feliz e maravilhoso.

 

                                                

 

O que eu de fato quero dizer, numa verdadeira continuidade das “Confissões de um Pastor” — as quais [as confissões], mais do que no meu livro por todos conhecido, e disponível aqui no site para Download gratuito, acontecem aqui no ambiente deste site, e que se espalham em quase tudo o que nele digo, escrevo, afirmo ou respondo — é que, não fora a experiência de ciúme por mim descrita acima, muita coisa não teria sido resolvida na minha alma; coisas essas que nada tinham a ver com ciúme, mas sim com minha Síndrome de Onipotência; a qual teve no tema conjugal e na nova cultura do meu novo casamento [com as realidades por mim antes descritas], o fator que deflagrou um processo de cura mais profunda; posto que até ali eu nunca fora apresentado a mim mesmo como sendo capaz de tamanha possessividade; visto que, tanto em relação aos relacionamentos que eu antes tivera, como com respeito aos meus filhos, pais, irmãos e amigos, eu jamais tivesse tido qualquer surto de insegurança enciumada; como até hoje não tive.

Sempre me senti uma montanha de segurança em todas as áreas, até que a Adriana, ou seja, o nosso encontro criou uma situação inteiramente nova para mim; posto que eu tivesse conhecido e amado uma mulher livre, inteligente, cheia de entendimento do Evangelho, e que se confessava minha discípula na Palavra desde sua conversão, mas que vivera uma vida na qual eu olhava e não me via como essencial… — loucura; pois era algo que viajava na busca de que eu fizesse uma falta essencial antes mesmo de ter chegado…

Foi somente quando eu tive a coragem de olhar para mim mesmo, diante de Deus, no chão do Evangelho, empunhando a verdade e a realidade, a razão e o entendimento — que verifiquei que aquele ciúme não era ciúme, mas orgulho; e, pior que orgulho: … era o fruto sutil de uma educada e até então bem disfarçada Síndrome de Onipotência.

Então, a partir dali, não apenas a questão do ciúme do Nada acabou… — tendo eu depois disso tido poucas recaídas, até que elas de todo cessaram… —, mas, sobretudo, me foi facultada a possibilidade de aprofundar a viagem, e ver que “aquilo” era sintoma, e ainda bem distante da causa epicentrica do poder inconsciente que deflagrava o ciúme como sintoma…

Em meio tudo aquilo…, nós tínhamos também deixado a “minha geografia”, Niterói, e mudado para Copacabana, lugar que em mim trazia apenas lembranças muito traumáticas.

Mudamos por uma questão de economia, pois eu não tinha dinheiro para continuar nos sustendo em Niterói; e, também, porque estávamos começando o “Café com Graça”, em Copacabana, que veio a ser, historicamente, a pedra fundamental do movimento “Caminho da Graça”.   

Ora, tal fato me colocou dentro de um contexto familiar diferente, num ambiente que me era traumático desde a infância: Copacabana [no livro “Confissões de um Pastor” você fica sabendo as razões]; e sentindo algo que eu nunca antes conhecera: profunda impotência; e mais: um existir na periferia de uma história familiar que agora era minha, mas que eu não tinha tido tempo de absorver; especialmente porque eu nunca antes tinha tido que absorver nada do gênero, em razão de que eu sempre me sentira no ambiente familiar como um forjador do que tinha sido, estava sendo, e, segundo minha presunção, continuaria a ser pelo meu forjar…

Na realidade o amor de Deus por mim vinha me despindo de tudo, me tirando tudo, me esvaziando de tudo: de qualquer poder; de qualquer reputação ou honra como glória; de qualquer capacidade de olhar para frente e imaginar um futuro; do convívio direto com todos os filhos; com as novas rotinas de uma existência que nem em pesadelo eu imaginara; com Natais divididos [naquele tempo; hoje não é assim; e, graças a Deus também não é de hoje…]; com amigos que já não eram e não deixavam de ser…; com antes servos no amor “grato” e que agora tornavam-se os abutres à espera do despojo; com a súbita mudança de “presente de Deus à Igreja” [como dissera meu amigo Manfred Grellert], à anticristo, Belzebu e falso profeta, do dia para a noite; sem falar em um bilhão de pequeninas coisas que antes eram naturais como realidades simples em minha vida, e que agora eram impossibilidades totais; coisas essas que tiram da alma o sossego e geram imenso desconforto… Até que se entre no estado de Confiança.

Então, na ausência de tudo, o que vi foi que meu Inconsciente Despido de todas as suas seguranças, poderes e satisfações anteriores, agora, na perda de tudo, ainda que amando em estado de paixão, projetava todas as expectativas de recompensa para a tragédia anterior…, no meu encontro com minha mulher, Adriana.

Assim, primeiro entendi isso… Mas sabia que “isso” não era tudo…

Havia mais…

O “mais” que faltava era decidir abraçar o contentamento em todas as coisas; especialmente pelas fraquezas…

Então, o amor de Deus providenciou muitas fraquezas e quebras… Sim, me deu muitos sustos… Sim, revelou a minha impotência…

Mas Sanção teve que aprender a cantar enquanto movia o moinho…

No Café com Graça, que acontecia em suas reuniões no Jardim de Inverno do próprio Café, e que, sendo jardim, não tinha telhado… — passei a ouvir gritos de “Cala a boca Caio!” todas as vezes que eu pregava [e pregava umas três a quatro vezes por semana]; gritos que eu sabia vinham de crentes que moravam nos prédios que cercavam o jardim; e, de cujos prédios, eles também jogavam ácido para nos queimar, fezes humanas sobre nossas cabeças, urina, e todo tipo de lixo, inclusive lotes de absorventes menstruais ensopados de sangue…      

Ora, foi antes deste contexto que os ciúmes se manifestaram, e, depois, um pouco mais de tempo…, mas não muito tempo mais…; sim, durante aquele primeiro período morando em Copacabana, o que para mim parecia uma gozação de Deus como terapia e cura para mim… — os ciúmes tanto se manifestaram como foram acabando na medida em que eu aceitava que jogassem ácido para nos queimar, fezes humanas sobre nossas cabeças, urina, e todo tipo de lixo, inclusive lotes de absorventes menstruais ensopados de sangue…

Sim, quando comecei a ver glória em tal fraqueza tudo o que antes tivera a ver com Síndrome de Poder…, pela graça foi minguando… Sim, foi morrendo… E morre a cada dia mais…

Voltando ao tópico ciúme, eu diria que quando a consciência de que o ciúme era um sintoma de um sentimento de onipotência, e, além disso, quando entendi a necessidade emocional e psicológica que eu tinha de aprender aquela vereda de fraqueza…, e quando comecei a agradecer por ela, a fraqueza, tudo foi sumindo como desconforto; e um sentido de pertencimento à vida [e não às suas circunstancias] começou a dar a toada do meu sentir e do meu poder de praticar.

A morte do meu filho Lukas foi o golpe final no que antes fora um poder que eu pedia a Deus que eu tivesse: o de proteger os meus filhos de todo mal…

Que pretensão!…

Um ano depois eu praticamente morri… E fiquei entre a vida e a morte num hospital por três ou quatro dias…

Quando saí daquele estado…, e era levado para casa no carro pela Adriana e alguns dos nossos filhos, disse a eles que não sabia o que havia acontecido, mas era como se eu tivesse saído daquilo com o olhar lavado… [Já escrevi no site sobre isso].

Viemos para Brasília enlutadamente mais curados em todas as áreas de nossas vidas!…

Agora os temas relacionados à Síndrome de Onipotência… haviam cessado… Começava outra fase. Sim, e nessa nova fase o que nela me foi mais marcante sem dúvida foi a morte do meu papai.

Viver com ele aqueles milagres e perplexidades nos quase 40 dias de UTI, me encheram do Espírito Santo como fazia tempo eu não discernia em mim…

Era como se o espírito dele, em muitas das melhores coisas, me estivesse sendo passado como herança e legado…

O mais difícil acerca do meu auto-conhecimento em relação à Síndrome de Onipotência que me habitava, era a sutileza dela, no meu auto-engano, visto que como eu não era ciumento de ninguém em lugar nenhum, e como fosse generoso sempre com todos, buscando sempre abrir espaço para todos, não me era possível perceber que a minha própria generosidade era parte da Síndrome de Onipotência, que se misturava com sinceros sentimentos de ajuda, mas que, nem por isto, deixam de ser também algo que funciona como capacidade de praticar a generosidade como poder.

Graças a Deus pelo dom inefável. Graças a Deus pela broca do Espírito. Graça a Deus pelo trabalho do Espírito em quem não tema as conseqüências da verdade. Graças a Deus pela benção de me sentir em continuo processo de cura, e, hoje, cada vez mais consciente de que isso acontecerá até aquele Dia, quando, enfim, serei então a Cara Dele, por dentro e por fora; e mais: em tudo.

Até lá me ofereço ao Senhor para usar todos os Seus instrumentos para fazer de mim não a imagem de um homem, mas um homem segundo o coração de Deus.

 

Nele, que trabalha em mim até agora, porque Ele é bom, e porque a Sua misericórdia dura para sempre,

 

 

Caio

5 de outubro de 2009

Lago Norte

Brasília

DF