O CAMINHO DA GRAÇA PARA TODOS – PARTE II



(CONTINUAÇÂO : O CAMINHO DA GRAÇA PARA TODOS _ PARTE II )


A DOCE REVOLUÇÃO DO EVANGELHO: UMA DESCONTRUÇÃO!

Diferente de uma reforma, cremos numa Revolução do Evangelho, a qual, só incluirá os cristãos se eles tiverem a coragem de desistir do Cristianismo e abraçar o supremo, porém, seguro risco de apenas andar conforme a revelação da Graça de Deus em Cristo, pela Fé.

A Revolução do Evangelho não se atém a nenhuma preocupação com construção de nada. De fato, o grande problema sempre teve a ver com a necessidade de segurança que as pessoas dizem precisar — o que a religião ficticiamente oferece —; e que as impede de apenas andarem pela fé no que Jesus já fez e consumou por todos os homens.

Assim, o que se exige é coragem para a desconstrução, visto que a promessa é que o próprio Espírito sempre haverá de nos conduzir a toda a verdade.

Se queremos algo de verdade e sério, temos que saber que isso demandará de nós uma volta humilde e sem tradições para a Palavra, isso a fim de sermos completamente lavados das tinturas com as quais o Cristianismo pintou a fé para nós.

Sei que o que digo é verdade segundo o Evangelho, mas também sei que tal fé é incompreensível pelas mentes viciadas no Cristianismo como Religião; e sei que é desinstaladora demais para aqueles que vivem do negócio clerical cristão.

O que creio, portanto, é que há um Basta de Deus em processo de eco no ar… O reino é Dele. A Igreja é Dele. O Povo é Dele. E Ele mesmo haverá de nos surpreender.

Quem, porém, desejar o Novo, então, se quiser ajudar, que não faça mais nenhuma barganha com a religião cristã, e, em contrapartida, que se entregue de coração ao Evangelho de Jesus, e que viva conforme a simplicidade da fé que confia que ‘tudo está feito’, e que não sobrou tarefa complementar e vicária a ser realizada por mais ninguém, nem pela igreja.

Desse modo, sei que sou uma voz solitária no deserto. Aliás, no que diz respeito a dizer o que digo, outros também o dizem, a diferença é que esses tais, em sua maioria, nada fazem.

Mas, na hora em que milhares e milhões que assim crerem passarem a viver livres conforme o Evangelho, então, sem pai, sem mãe e sem fundador, a revolução se estabelecerá: Sem sede, sem geografia, sem dono, sem tutor, e sem reguladores da fé. Isso, todavia, só será real e genuíno se Jesus for tudo, e o espírito do Evangelho da Graça for a única lei da vida.


O ENCONTRO NO CAMINHO

O que estou dizendo? Que nada valeu a pena? É claro que não! O que estou dizendo é que o mundo ainda não acabou, e que a cada nova geração os discípulos de Jesus têm, outra vez, a chance de viver o Evangelho, simples e puro, leve e livre, dissolvido em sabores sentidos, mas sem sede física de poder, sem qualquer mandão entre nós.
O mundo não acabou e a luz do mundo pode brilhar no mundo, não como uma ação oficial da igreja, mas como fruto da bondade misericordiosa de cada discípulo que não queira ser um agente especial da igreja, mas apenas um filho do amor de Deus solto nesta terra.

E não nos reuniremos mais?—é a pergunta angustiada de alguns. É claro que nos reuniremos sempre. Mas tais encontros não visam centralizar as forças, organizar as ações de poder, coordenar a produção dos ‘frutos’ e ‘divinizar’ a visão e a pregação do ‘método’; mas apenas renovar as alegrias da fé e da esperança, fortalecer o amor, e devolver as pessoas à vida com a simplicidade do sal e da luz. Ou seja: com sabor e boas obras.

De minha parte quero apenas ver os discípulos de Jesus crescendo em vida com Deus, em amizade clara e respeito uns para com os outros, em saúde relacional na vida. Gente descomplicada e desviciada de ‘igreja’, e com liberdade de escolhas pessoais, conforme a consciência de cada um e segundo a Verdade Absoluta que nos molda a mente conforme Sua vontade.

O ‘ajuntamento’ que chamamos igreja deve ser esse encontro, essa estação, esse lugar de bom ânimo e adoração. O ideal é que tais encontros gerem amizade, e que pela amizade as pessoas se ajudem; mas não apenas em razão de um certo espírito maçônico-comunitário, conforme se vê… ou porque se deu alguma contribuição financeira no lugar.

A verdadeira igreja não tem sócios ou associados… Tem apenas gente que se reúne e ajuda a manter a tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.

Portanto, não se trata de um movimento ‘sacerdotal’, intimista e fechado; mas sim de um andar profético, aberto e contínuo…

E a escolha que se tem que fazer é essa: ou se quer uma ‘comunidade’ que existe em função de si mesma, e para dentro; ou se tem um ‘caminho de discípulos’, e que se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida.

Ao meu ver, no dia em que prevalecer o modelo do ‘caminho’, conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nós e no mundo a nossa volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas e sadias.

Mas se continuar a prevalecer o modelo de igreja tal qual aqui tem sido denunciado, não se terá jamais nada além do que se teve nesses últimos dois mil anos… Nada diferente disso!

E para isto… para esta coisa… não tenho mais nenhuma energia para doar. Mas para a vida como caminho, ofereço meu coração mais jovem do que nunca.


PARA ONDE CAMINHA O CAMINHO DA GRAÇA?

“O vento sopra onde quer, não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim, é todo o que é nascido do Espírito”

Essas palavras de Jesus parecem nos apavorar! E por quê? Porque ninguém quer ficar sem saber para onde vai… e ninguém quer confiar a vida a Deus, de fato. Por que você acha que videntes, profetizas futuristas, bruxos, astrólogos, e agoureiros têm tanto poder? Ora, é porque todo mundo quer saber o futuro! O justo, porém, viverá, a cada dia, apenas pela Fé!
A questão, no entanto, não é saber para onde se vai. A única coisa que interessa é a Quem estou seguindo. Ora, nesse caso, não se trata nem mesmo de buscar seguir algo visível, mas de se deixar levar pela leveza do intangível, sem medo, e com total confiança.

Hoje em dia ninguém quer seguir mais o Vento, se é que algum dia já se aceitou isto. Uma mente religiosamente estruturada acaba por tentar ‘sistematizar” o Vento, o Espírito, e a Vida.
O interessante é que Jesus é o Caminho, e seguí-lo é a própria certeza de para onde se está indo. No entanto, Ele chamou para Si mesmo o direito soberano de nos conduzir com o mistério do Vento; e cumpre a nós apenas seguir em verdade, pois o alvo da jornada é Vida no Pai.

“Vós sabeis o caminho…”— disse Jesus. Eles responderam: “Como saber para onde vais, sem saber caminho?” A resposta todos conhecem: “Eu sou o Caminho…ninguém ‘vem’ ao Pai se não por mim”.
Ora, é aqui que mora a angústia da alma religiosa. Depois de milênios de treinamento para pensar no Caminho como Conduta, em Verdade como Doutrina, e em Vida como Performance, quem ainda sabe intuir a simplicidade das palavras de Jesus?

E pior: depois de pensar o Caminho como um “projeto”, na Verdade como um “sistema”, e na Vida como um “modo de ser” conforme a religião, quem pode ainda entender o significado do chamado de Jesus?

E mais desgraçadamente ainda, eu pergunto: Depois de pensar no Caminho como o “Pacote da Salvação”, na Verdade como a “Certeza dos Crentes”, e na Vida como uma “Longínqua Eternidade”, quem consegue ainda discernir a concreta subjetividade do chamado de Jesus Hoje?

E só para concluir: Depois de anos confundindo o Caminho com uma “Estrada Institucional”, a Verdade com a “Teologia”, e a Vida com a “Disciplina da Igreja”, quem ainda pode apenas de leve perceber o convite de Jesus para seguí-Lo no Caminho, sendo levado pelo vento, andando em Verdade no ser, e experimentando a Vida na vida?

Não! A gente quer um mapa, um sistema, uma estratégia, um planejamento de curto, médio e longo prazos. A gente quer saber como acontecerá: Qual a estrutura que nos governará? Quais os sistemas que nos conduzirão? E quais os objetivos concretos a serem declarados?

E que organização terá?

Para mim, se discirno com alguma correção o Evangelho, o espírito é um outro. Jesus nunca organizou nada; a não ser chamar 12 para estarem mais próximos Dele; a multidão em grupos, a fim de repartir o pão; e enviou alguns antes Dele a fim de fazerem preparativos específicos. No mais, nada mais.
“Não andeis ansiosos”… quanto ao vosso ministério, pois a vida é mais que o ministério.
“Não vos preocupeis com o que haveis de falar, pois o Espírito vos concederá…”
“Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos”…
E lhes deu NADA como armadura, exceto a simplicidade do poder que vem da Graça.
O que creio é que tudo o que diz respeito ao Evangelho que já surge com a pretensão de ser uma organização, já nasce moribundo. A vitalidade do Evangelho está em se deixar conduzir pelo Espírito, conforme a verdade da vida e a vida na verdade.
Portanto, para mim, o melhor governo é o menor possível; o melhor modo, é o mais simples; a melhor forma, é aquela que serve a vida; e melhor meio é aquele que vai sendo, com a leveza do vento.
Eu creio que a sabedoria do caminho é deixar que o vinho designe o odre; e deixar que o pano determine a melhor veste para ele. E mais: é saber que o vinho novo sempre haverá de demandar, a cada momento ou geração, o odre apropriado; e que a veste nova haverá de ser combinada com o feitio que lhe for próprio.
Assim, formas servem às essências, e não o contrário! Para andar no Caminho tem-se que desistir do modelo industrial, ou da montagem em série, ou da franquia, ou do modelo pré-fabricado, ou de toda fixidez de formas, com suas Constituições e Regimentos, sejam escritos ou subentendidos, que só servem para agarrar-se às paredes do visível, para aplicar fórmulas de sucesso ministerial conforme o Mundo, para instituir hierarquias engessadas e para nos proteger uns dos outros.

E não haverá formas e governos eclesiais?

Ora, ninguém que vive no tempo e no espaço pode crer que as formas sejam evitáveis. Nossa dimensão demanda alguma forma: tempo e espaço produzem formas.

Porém, quem deu forma aos mares, às montanhas, aos rios, às florestas, aos desertos, aos vales, e à vida?
Por que não se pode confiar que Quem fez isto em rocha, pedra, areia, poeira, vegetação, e todas as demais coisas, também pode dar forma ao que é também Sua criação no coração humano, conforme cada geração?

No que depender de mim o Caminho da Graça continuará a caminhar conforme a água. Alguém já viu a água ter algum problema com a forma? Não! A água se serve de todas as formas. As formas servem à água, não a água às formas!
O espírito da caminhada é a simplicidade. Há um só Pastor. Há um só Guia. Há um só Mestre. E a Ele, conforme os princípios do Evangelho, nós todos seguiremos.

Nossa segurança não está nas formas, mas na essência do Evangelho. Onde quer que esse espírito do Evangelho tenha prevalência, todas as boas formas lhe prestarão serviço; mas jamais se tornarão um fim em si mesmo. Serviu, serve; não serviu, então, já não serve. A única coisa que não serve mesmo é atrofiar a Palavra para que ela fique conforme a forma e a fôrma.

Por outro lado, quem precisa de uma forma apenas para garantir que ali as coisas sejam sérias? Será que o que é verdadeiro se faz verdadeiro pela forma? Quem escolhe se fica ou não com o filho pela cara? Ou não será que ficamos com o filho pela vida?
Ora, se um dia tivermos presbíteros, saiba: eles não serão fiscais da vida e nem senhores da doutrina, mas gente da misericórdia e da paz; se tivermos diáconos, saiba: eles não serão porteiros de reunião, mas pessoas que só serão servos se servos forem na vida. No entanto, muitas vezes, a melhor maneira de não matar a vida espontânea é não batizá-la de modo oficial.

Ora, poderíamos criar muitas e muitas formas de governo. Isto é simples. É obvio. E há muitas roupas de grife se oferecendo como modelo para a vestimenta do pano novo. Mas é disso que fujo. No que nos diz respeito, o Espírito conduzirá as coisas conforme a pertinência. E nisto, também, o justo terá que se alegrar na aventura da fé.
A questão do Caminho como lugar é simples: Por que a gente apenas não se reúne com alegria singela, não experimenta o amor que liberta, não goza o privilégio da simplicidade, não se alimenta da Palavra, e não volta à vida cheio das Boas Novas para contar ao mundo?

O fato é que a mentalidade da “igreja” sempre foi a de criar uma “sociedade paralela”, com todas as formas de governo secular (e hoje empresarial), a fim de que alguns sejam os donos do processo, os controladores do povo, os governadores de Deus, e os xerifes da santidade.

A “igreja” quer tirar as pessoas da vida e do mundo, criando um viveiro de doentes e arrogantes.
O Caminho do Evangelho, porém, não é assim! Não é! Nele as pessoas não fogem do mundo e nem da vida. Nele não tem que haver governadores e nem príncipes. Nele confia-se na Soberania de Jesus, e na efetividade de Seu poder. Nele, cada pessoa é uma testemunha no mundo, não um militante de um partido eclesiástico. É dessa mentalidade que quero estar longe!

E quanto ao futuro?

Ora, amigos de caminhada, se já não temo a morte, por que haverei de temer o futuro? O Senhor nos guiará se nós não tentarmos guiar o Senhor!
Onde vai dar esse caminho? Já deu no Pai. E nos conduzirá a cada dia no caminho da pacificação!
Pensem em Abraão, que saiu, e foi, sem saber para onde ia. Daí Deus ter considerado que ele era um amigo. A grande recompensa da confiança é a amizade de Deus.


O CAMINHO X A INSTITUIÇÃO


Esse capítulo foi incluído aqui para desfazer a impressão que carregamos alguma espécie de fobia institucional, como se o simples fato de desviar-se da instituição promovesse o Evangelho. Não é esse o caso.
Toda instituição que existe para servir aos homens é boa e útil. Muitos ‘anônimos de Deus’ realizam o Caminho da Fé, mesmo dentro das instituições, conforme lhes é possível, atuando com toda boa consciência.
Porém, quando ela demanda que os homens existam para mantê-la e servi-la, então, ela se torna demoníaca e instrumento do congelamento das almas humanas.

Penso que uma instituição é sempre algo como o Sábado nas narrativas do Evangelho: pode ser dia de descanso ou pode ser dia de prisão e dia de juízo e morte. Tudo depende de como se vê as coisas. Assim como o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado, assim também a instituição existe para servir o homem, e não o homem à instituição.
Ou seja: uma instituição só tem poder maléfico se os homens a servirem como algo que é superior à vida e a existência das pessoas. Quando é assim, até o Templo de Jerusalém vira morada de demônios.

Parece tudo muito simples de entender, mas a história mostra como o poder de perversão humana é facilmente exposto quando a instituição se instala em nós com I maiúsculo. É assim em todos os níveis sociológicos e, naquilo que nos interessa aqui, também é assim no cristianismo protestante do qual descendemos. Ora, isto vai das formalidades e das politicagens dos concílios, das convenções denominacionais e ministeriais, até as mais cretinas formas de perversidade, praticadas em nome de Jesus, e feitas de intrigas, tiranias, perseguições neuróticas, e invenções mirabolantes, que tiram a simplicidade do Evangelho, e pervertem o sentido de ser Evangélico.

Saibam todos: E por ter entregue a alma à “Instituição” e as instituições à gente sem alma, que a igreja carrega mazelas próprias desse estado de ser. A lei, o orgulho, a vaidade, o mercado, a vanglória, a fama, o culto à imagem, o comportamentalismo, a superficialidade, o formalismo, os ciúmes, a picaretagem, a fixação no controle das pessoas, as jogadas políticas, a venda de votos, as negociatas e a grotesca hipocrisia, tornaram os evangélicos insuportáveis até para os evangélicos mais sensíveis, mesmo os que não tiveram um encontro com Jesus, que é usado para seduzir as almas aflitas; mas substituído pela “cartilha da igreja”, tão logo aquele que Nele creu entre para o seus registros de membresia.

Portanto, duas coisas devem ficar claras:

que não é a instituição que tem o poder de matar as coisas, mas sim o coração que se deixar fixar pela instituição, fazendo da existência dela um fim em si mesmo.
Deus não tem compromisso com a manutenção de instituições que se entendem representantes de seus interesses na Terra. Não. Ele não veste as camisas de nossos times eclesiásticos e nem carrega o orgulho besta de pertencer a qualquer estrutura denominacional.

O evangelho de João registra a profundidade do problema com as seguintes palavras:

“Veio para os seus, mas os seus não o receberam, mas a todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber: os que crêem no seu Nome.”

Pensemos: Se quando Ele veio para os que eram naturalmente “os Seus” na Terra (os judeus, descendentes da Promessa feita a Abraão), esses tais nem sequer o reconheceram, por acaso Deus manteve-se limitado a eles na manifestação histórica do Seu amor? Não. Aqueles que “O receberam” — os quais também Dele “receberam o poder de serem feitos filhos de Deus” — são vistos por João como sendo todo e qualquer ser humano que acolhe Jesus com a gratidão de quem “foi feito”, posto que “não era”. Assim esses são porque sabem que não mereciam terem se tornado.
Ou seja: quando quem era, creu que era tanto, que não poderia deixar de ser (o Israel histórico), então, não O reconheceu. E quando aqueles que não eram, passaram a ser, assim foi porque aceitaram a oferta da Graça como os que recebem aquilo que não merecem, porém crêem no poder da promessa a eles feita por Aquele que os chamou de filhos, por Sua livre vontade, e os tornou em pagãos que são feitos filhos de Abraão, e gentios que se tornam o Israel de Deus. Paulo trata disso chamando de um “enxerto” do galho da “oliveira brava” no caule da “oliveira natural”.
Desse modo, a Igreja de Jesus Cristo é feita dos que “O receberam” (não sendo naturalmente “os Seus”), os quais, por esta razão, não apenas receberam “o poder de serem feitos filhos de Deus”, mas também se tornaram “o Israel de Deus”, e contra Ela, as portas do inferno não resistirão.
Ora, o verdadeiro “Israel de Deus” é feito de gente que se vê como aqueles que não deveriam ser, pois, no momento em que julgam que são, e crêem que esse é um estado cristalizado, nesse mesmo momento, deixam de ser.
De modo que, fazendo um paralelo com o princípio do texto, os cristãos, supostamente “Seus”, – sejam católicos, ortodoxos, protestantes ou o que for – podem assumir, no tempo presente, a correspondência exata daquilo que os judeus significaram para o Evangelho no primeiro século.

Veja se não é assim: A religião prega que “os Seus” que não O recebem, são todos aqueles que ouvem a mensagem da “igreja” acerca de Jesus, e não O aceitam como Salvador; portanto, não aceitando também serem membros da “igreja”; decisão essa que se tornou na única prova real de que alguém pertence a Jesus (!?). De acordo com esse ponto de vista, fora da religião ninguém é feito filho de Deus! E quem não é membro está ‘desviado’ dos ‘caminhos do Senhor; posto que tais caminhos devem passar inevitavelmente pelo grupo religioso que julga ‘possuir’ a Deus!

É assim que a igreja pensa! Não é de outro modo!

E por carregar a pretensão orgulhosa de possuir um pedigree genético, tal instituição, sem saber, passa a fazer parte do grupo com potencial para “não o reconhecer” Hoje.

No Caminho da Graça, todavia, sabemos que Deus não é evangélico (e nem qualquer outra coisa) e que Seu compromisso no mundo não é com a religião. No Caminho da Graça, ninguém vai simplesmente virar ‘evangélico’ e todos serão estimulados a serem ‘Evangélicos’ naquilo que de mais simples e profundo tal definição possa incluir: Ser Evangélico é ser do Evangelho. É conhecer a Jesus no espírito, e conhecer o espírito do Evangelho, e, no poder e na liberdade no Espírito Santo, experimentar o Evangelho como supremo benefício para a vida.
Quem busca a renovação do entendimento conforme o Evangelho, esse é evangélico. Mas quem busca a conformação da mente à “igreja”, esse não é Evangélico.

Assim, sou evangélico porque sou do Evangelho. E não sou “evangélico” pela mesma razão.



CONCLUSÃO: A ESPERANÇA COMO CAMINHO

Tendo dito tudo o que disse, eu sei que pareço insano para alguns, pretensioso para outros, ou ambas as coisas e mais algumas. Não nasci ontem. Conheço os mecanismos de poder dos quais a “igreja” se alimenta. E também sei que apenas um punhado mínimo de pessoas têm a coragem que o Evangelho do reino requer, que é a coragem para abrir mão do poder, e para liderar pela simplicidade, sem trono a nos acolher em honras.

Quem, no entanto, tiver tal coragem da simplicidade, esse conhecerá o significado de ser discípulo de Jesus no reino deste mundo, e que é o poder que nasce da fraqueza—que, aliás, é o único poder que Jesus quer ver sendo vivido pelos Seus discípulos.

Esse é o meu convite. Minha esperança é que pelo menos alguns poucos entendam e creiam.

E, assim, como Paulo, eu também me ponho de joelhos pelo futuro de nossas consciências e na esperança de que o Espírito ainda “converta os cristãos” à consciência da Graça, a fim de que, o que hoje chamamos de Cristianismo, seja ainda liberto do poder diabólico que o invadiu. Do contrário, talvez, o Senhor chame por outro nome o Seu povo; ou, mais provavelmente, por nome nenhum.

Com Paulo, todavia, também me ponho de joelhos, pois, em meu coração, amo a mesma realidade-humana-redimida que ele chamava de família de Deus:

“Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus”.


“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”.



Bem-vindo ao Caminho da Graça












APÊNDICE

O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho


Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos nossos pais, pelo profetas, nestes ULTIMOS DIAS, nos falou pelo FILHO, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
Hebreus 1.1-2

Durante todo o texto deste trabalho a expressão ‘espírito do Evangelho’ é freqüentemente utilizada. Porém, sem uma compreensão clara do que isso significa, todo o entendimento do que foi exposto pode ficar comprometido.

Jesus, a Chave que abre as Escrituras

Os evangelhos são narrativas históricas das ações e acontecimentos relacionados a Jesus, bem como de Suas Palavras. O Evangelho, todavia, é um espírito. Os evangelhos são o corpo. O Evangelho é o espírito no corpo.

Para muitos, os evangelhos são apenas narrativas. Para outros, eles são palavras inspiradas. Para muito mais gente ainda eles são apenas palavras mágicas. E para a maioria, eles são somente os quatro primeiros livros do Novo Testamento, sendo, portanto, parte da Bíblia Sagrada.

Todavia, o Evangelho é espírito e vida. Deus é espírito, e, portanto, Suas palavras são espírito e vida, pois carregam o poder da Verdade Absoluta e produz vida onde quer que chegue.

Para melhor entender, suponha que os evangelhos não tivessem sido escritos. Decerto, sabemos que ainda assim, haveria um Evangelho a ser anunciado até os confins da Terra como Boa Notícia, visto ser o Evangelho um espírito, e não um livro.

Assim, o espírito do Evangelho é só uma forma de expressar-se acerca da Essência da Palavra. É a Plenitude da Revelação. Trata-se da forma de interpretação bíblica que olha para Jesus Cristo como a Chave Hermenêutica dessa Revelação.

De modo algum se está dizendo aqui que só Jesus interessa na Bíblia, mas, por outro lado, nada interessa senão a partir Dele e nada é Palavra de Deus se não for compatível com Ele, por mais ‘bíblico’ que seja!

Portanto, Jesus – que é Deus Manifesto entre nós – abre as Escrituras para nós. Cristo é a síntese das Escrituras e o Espírito da Graça é o agente hermenêutico que me aproxima do texto com a fé de que encontrarei a Palavra.

É a partir daí, então, que se interpreta a Antiga Aliança, os Profetas e todo o Novo Testamento. Isso porque Ele é a Palavra! A Encarnação Absoluta Dela, o Verbo Vivo de Deus, cheio de Graça e Verdade! E as próprias palavras de Jesus só podem ser entendidas se tiverem sua concreção no Evangelho vivido por Jesus de Nazaré.

Veja o livro de Atos dos Apóstolos: é um livro de atos, de ações. Mas sabemos que os únicos atos absolutos e irretocáveis feitos na Terra são os Atos de Jesus. Portanto, há Evangelho em Atos, mas o Atos não é o Evangelho. Digo isto porque se os critérios de Jesus forem aplicados aos atos dos apóstolos, os próprios apóstolos seriam sempre relativizados. Quando lemos o Atos, não se lê o Evangelho da Graça — esse só está plenificado em Jesus —, mas a tentativa humana de começar a viver conforme a fé em Jesus. E, em tal processo, há acertos, erros, equívocos, ação do Espírito, infantilidades, ambigüidades, milagres, diferenças, medos, ousadias, coragem maravilhosas, dúvidas atrozes, e todas as demais coisas concernentes aos homens que vivem no Caminho. Assim, o livro dos Atos Apostólicos, é um livro de história, e não quer ser visto como o Evangelho.

A tentativa infantil de dizer que a igreja é o Corpo de Cristo – e logo, Cristo estava agindo como antes agira, só que agora em Seu Corpo Comunitário – é bela, mas não é verdadeira como valor absoluto. O Pedro que recebeu a revelação é o mesmo que recebeu a repreensão: Arreda Satanás (Mt 16).

Em Jesus está toda a revelação e toda a referência para se julgar e entender o que quer que pretenda ser canônico. Onde o ‘espírito do Evangelho’ está presente, aí há o que levar para a alma e para a vida. No mais, vejo registros históricos da infância da fé e da consciência permeando toda a Escritura.

O exercício não é difícil: Basta olhar para Jesus. Veja como Ele tratou a vida, as pessoas, a religião, os políticos, os pobres, os ricos, os doentes, os párias, os segregados, os esquecidos, os seres proibidos, os publicanos, as meretrizes, os santarrões, e tudo e todos.

Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e Nele estão TODOS os tesouros da sabedoria e do conhecimento.

Ele é o resplendor da glória do Pai e a expressão EXATA do Seu Ser, sustentando todas as coisas pela Palavra de Seu poder!
Olhe para Ele, e tudo fica interpretado!

Jesus, a chave que abre o coração

“Perguntou-Lhe Pilatos: O que é a verdade?”

Ora, conquanto Jesus seja também uma informação histórica — afinal Ele existiu, e nós não estávamos lá quando isto aconteceu; razão pela qual dependemos completamente das descrições que os evangelhos fazem de Jesus a fim de melhor discernir seu espírito —, no entanto, o discernimento de Quem Ele era, só acontece como revelação de Deus no coração.

Não se enganem: a pessoa pode até confessar a Jesus como Senhor, mas fazer isto como crença religiosa, e não como o fruto de uma relação pessoal com Jesus.

A Verdade não existe como Explicação, mas tão somente como Encarnação. A Verdade se fez carne! É Alguém. A Verdade é uma Pessoa!
Por isso, a Verdade só pode ser vivida, não pensada. Todo pensamento acerca dela decorre da experiência. A Verdade não é objeto de prosa… O Jesus do Evangelho não é para ser aceito, mas para ser conhecido. A Verdade que vejo em Jesus–Encarnada Nele — eu mesmo tenho que conhecer na minha própria encarnação, que é o único estado de existência que eu tive até hoje.

Portanto, é preciso que cada um conheça Jesus e Sua Palavra, para si mesmo. É preciso de cada um aprenda a Ter sua própria consciência em fé, a fim de viver a Palavra por si mesmo.

Em resumo, a Encarnação é a chave hermenêutica do conhecimento bíblico, mas essa chave tem que abrir antes o meu coração. E isto só acontece no encontro entre a Verdade e a Vida. Ora, tal encontro só se dá no Caminho, e é a isso que chamamos Consciência do Evangelho.
Por isso, aproveito-me deste trabalho para propor um exercício pessoal libertador:

1) Quero convidá-lo a pegar os Evangelhos e relê-los. Leia-os como se fosse a primeira vez, e faça-o como se você nunca tivesse ouvido nenhuma interpretação deles.

A necessidade de escrever a mensagem de Jesus veio do afastamento cada vez maior da sua fonte histórica – o próprio Jesus de Nazaré (Lc 1,1-4; Jo 20,30-31). Em meados da década de 70, já não vivia a quase totalidade das “testemunhas oculares” que tinham visto o Senhor ressuscitado (Lc 1,2; 1 Cor 15,3-8). Esse distanciamento cronológico entre Jesus e as comunidades só poderia ser vencido pela palavra escrita. E assim se formaram as duas grandes coleções ou “corpus” das Cartas de Paulo e dos Evangelhos.

2) Depois, eu gostaria de enfatizar a necessidade de ler o Novo Testamento na ordem cronológica da mais provável seqüência de sua produção: 1 e 2 Tessalonicenses; Gálatas, 1 e 2 Coríntios, e Romanos; Colossenses, Filemom; Filipenses, 1 e 2 Timóteo e Tito; 1 Pedro; Marcos; Mateus; Hebreus; Lucas; Atos; as Cartas Universais; João 1,2 e 3 o evangelho de João, 2 Pedro; e Apocalipse.

Como alerta, devo dizer que o primeiro inimigo a ser vencido no estudo bíblico é o pré-condicionamento na interpretação.

Então, meu querido: Soda Cáustica na cabeça, uma boa chacoalhada, limpeza, e início de leitura pessoal e aberta para a Palavra e para o Espírito. Então você verá que começará a surgir o Jesus real das páginas do Evangelhos! Experimente!

Que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos.

Caio