A LIBERDADE DE DEUS
Quando encontrei Aquele que me separou para Ele mesmo antes da fundação do mundo—delírio de quem crê e não duvida!—, uma das primeiras questões que me vieram foi sobre o destino daqueles que nunca haviam recebido a “informação” histórica acerca do Evangelho.
Li todos os comentaristas bíblicos que estavam disponíveis na biblioteca de meu pai e de muitos amigos teólogos e pastores.
Eu tinha entre 18 e 19 anos.
Sentia-me como um potro no cio pelas experiências do saber e do conhecimento.
Mas ninguém falava do assunto.
O Tema era Tabu!
Então, resolvi fazer o que sempre faço até hoje: ler a Palavra, mesmo que sem “acompanhante”, e pedir a Deus o discernimento do assunto.
Minha “tese” de ordenação ao ministério presbiteriano foi acerca disso.
Nunca a publiquei em razão de ter visto o alvoroço que ela causou no presbitério que se reuniu para “examiná-la”.
Foram quase três dias de debate!
A maioria me julgava “liberal” por ter o entendimento que ali expressei.
O que eles não podiam entender era que apesar de crer daquele modo, meu compromisso com o anúncio das Boas Novas era mais intenso do que eles conseguiam imaginar ser possível em alguém que afirmasse o que eu afirmava.
Meus eixos para o discernimento da questão eram simples:
1. Deus não condenaria à danação quem nunca soube nada além do que soube.
2. Cada um seria, portanto, julgado pela luz que teve, não pela luz que não teve.
3. A Cruz de Cristo é o centro de tudo. Portanto, a salvação é sempre em Cristo, mesmo que o salvo nunca tenha ouvido falar nEle como “nome próprio”.
4. O personagem Melquisedeque era a resposta para a Graça da Revelação que acontece “fora” do contexto geográfico, histórico, político, cultural da “informação” salvadora.
5. Os filhos de Abraão eram os condutores históricos da “informação salvadora”, não o limite da Graça salvadora.
6. A Queda em Adão não poderia ser mais esmagadora que a Salvação no Segundo Adão: Jesus!
7. Uma infinidade de textos do Antigo e do Novo Testamento me davam essa certeza: Deus nunca se confinou às fronteiras de nenhuma geografia; e não se tratava apenas de “Graça Comum”, mas, para mim, o Comum era a Graça. Nada poderia e pode ser “mais especial”.
8. A observação humana do fenômeno humano me mostrava, desde criança—talvez em razão da educação humana e aberta que vinham de meu avô, João Fábio, e de meu pai—, que Deus não manifestava a Sua “imagem” apenas nos “crentes”, mas em todos os homens— sem falar que meu avô nunca foi “evangélico”, mas poderia ensinar a todos os pastores que eu conheço o que é possuir uma consciência cristã, em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo, mesmo sem ter tido a informação histórica acerca do benefício da Graça que nos alcançou em Jesus Cristo.
9. Sempre cri no inferno, mas nunca achei que ele fosse um lugar, e nem que pudesse ser aferido com categorias humanas de “tempo”. Para os “cristãos” o tempo é uma das coisas mais mal compreendidas; daí nosso conceito de “eternidade” ser tão vinculado ao tempo —a lgo que não acaba nunca; que a gente assiste como um dia depois do outro… Bobagem!
10. Minha motivação para pregar a Palavra não era o inferno, nem o juízo, mas o privilégio de anunciar tão grande salvação a todos homens; sem falar que sempre preguei a Graça como uma Graça para quem a anuncia como expressão da gratidão de haver sido iluminado pela maravilhosa e única salvação, que está em Cristo.
Bem, quase trinta anos depois, preparo-me para re-escrever a minha “tese”, que não é minha e nem é original, pois está explicitada na Palavra — isso para quem não tem medo de “somar” e dizer o “resultado”.
Não há nada novo debaixo do sol.
A novidade é apenas a coragem de expressar o que está “revelado”.
O problema é que há os “pregadores de etiqueta”, que sempre tentam colar em você os mais diferentes “rótulos”.
Eu, no entanto, estou livre; nunca estive tão livre, e essa liberdade não avança para além do que sempre cri e expressei, conforme a Palavra.
A diferença é que hoje digo da varanda muitas coisa que antes eu dizia no “interior” da casa.
Para quem desejar, tanto neste site, como em muitos outros livros meus, o assunto está posto sem titubeio. Sem falar que no meu livro O Enigma da Graça o tema está mais que aberto!
Deus não é judeu!
Deus não é cristão!
Deus não é protestante!
Deus não é evangélico!
Deus não é neopentecostal!
Deus é!
Nós é que somos essas “coisinhas” pequenas, e queremos que o Senhor caiba nessas caixinhas de pequenas convicções, e que calce Seus santos pés com sapatinhos de japonesa!
Agora, enquanto escrevo isto, sei que o Espírito está se revelando nas ilhas remotas, nas selvas esquecidas, nos montes inatingíveis, nas tribos perdidas, nos guetos impenetráveis e nos ambientes inalcançáveis dos corações de milhões de seres humanos!
Ora, isto sem que nenhum “missionário” lá tenha chegado!
O Espírito sopra onde quer, ou não?
Mas como eu não sei o que Deus está fazendo, eu faço o que Jesus mandou: eu prego a Boa Nova!
O meu privilégio e anunciar isso do modo como Jesus fez, e que no Evangelho é tão claro: sem religião!
Jesus não nos chamou para uma religião. Ele nos chamou para a Vida!
Quem ouvir a voz de Deus no Evangelho pregado e confirmado pelo Espírito será salvo. Quem teve a mesma chance e decidiu não crer já está condenado!
Quem nunca ouviu nada de homem algum, será ouvido por Deus e julgado por Ele —e somente por Ele— conforme a consciência que teve e de acordo com a iluminação que possuiu.
Mas ninguém é salvo sem que tenha sido por causa da Cruz e do Sangue conhecido antes da fundação do mundo: o sangue do Cordeiro!
E saibam: este Sangue tem Poder!
NEle, que é livre,
Caio
(Escrito em outubro de 2003 – Manaus)