A VERDADE NÃO É UMA QUESTÃO. A QUESTÃO É A VERDADE!





A VERDADE NÃO É UMA QUESTÃO. A QUESTÃO É A VERDADE!

 

“O que é a verdade?” – era a questão de Pilatos!

 

O discípulo sabe que a Verdade não merece uma resposta, pois a verdade é o caminho e a vida.

 

Ora, se o discípulo já sabe isto, que dirá a Verdade de si mesma?

 

A verdade não pode ser encontrada num laboratório, num seminário, num livro ou numa bela reflexão.

 

Na realidade, a verdade é no caminho e na vida, e não há outro meio de acessá-la. Portanto, seu caminho é duro, e nos remete para a presença da morte, da dor, da perda e do sofrimento.

 

É pura ilusão pensar que alguém pode chegar à verdade assim como ele chega a uma “conclusão lógica”.

 

Não há lógica para se chegar à verdade. Ela acontece pelos caminhos da não-lógica, e não poupa ninguém de fazer a viagem se o objetivo é encontrá-la.

 

“O que é a verdade?” — foi a questão de Pilatos para Jesus.

 

Essa questão ficou não respondida; aliás, Jesus jamais responderia tal questão com uma fórmula. Não há uma equação para a verdade. Muito menos um pacote de doutrinas lhe serviria de embalagem.

 

Jesus não ensinou a verdade. Ele é a Verdade. Portanto, conhecer a Verdade é ter uma revelação acerca de quem Ele é. E isso só é possível se os olhos se abrirem para vermos os olhos dEle.

 

A pergunta de Pilatos é tola. Sofisticadamente tola. E da parte de Jesus tal questão é equivalente à uma outra: “Quem é meu próximo?”

 

A resposta de Jesus à segunda questão, “Quem é o meu próximo?”, nos leva para onde não queremos, visto que a resposta é uma história. E pior: nela, o próximo do próximo é alguém em quem não aceitamos a presença da verdade: um samaritano herético, como todo bom samaritano seria aos olhos de todo bom judeu.

 

“O que é a verdade?”

 

Para Jesus soava como se a Ele fosse perguntado: “Tu existes?”

 

“…vem isto de ti mesmo ou disseram-no outros a meu respeito?” — já havia sido a provocação de Jesus acerca de se Ele era rei ou não. Mas essa questão de Jesus traz a resposta acerca de tudo, sobretudo da Verdade.

 

Se Ele é a Verdade, a verdade existe; se Ele é a verdade, ela não se instala como uma informação de outros, mas tão somente como algo que “…vem de ti mesmo”.

 

Se honestamente alguém pergunta a Jesus “O que é verdade?”, só lhe resta ouvir “…vem de ti mesmo esta questão?”, ou ainda “…para isto nasci, para dar testemunho da verdade… quem é da verdade ouve a minha voz”.

 

Os ensinos de Jesus não são a verdade sem Jesus. Os ensinos de Jesus só são verdade por causa de Jesus, e não Jesus é a Verdade por causa dos ensinos verdadeiros.

 

Os ensinos de Jesus jamais me levarão à verdade se a Jesus eu não tiver sido apresentado e o tiver conhecido antes de tudo.

 

Sem Jesus, os ensinos de Jesus como ensino da verdade cegam e embrutecem na mesma medida em que são esmagadoramente insuportáveis.

 

Assim, para não enxergarmos que o Sermão do Monte não é um Sermão do Monte, temos que, em nós mesmos, reconhecê-lo, antes, como o Sermão do Abismo. Pois, sem Jesus, é para o abismo que ele me envia.

 

Ah, eu não quero os ensinos de Jesus sem Jesus! Eu apenas ficaria mais cego e mais perdido! Além disso, eles me serviriam apenas para me revelar minha própria mentira acerca de ser cristão, visto que sem Jesus, Seus ensinos me provam é que não sou cristão.

 

Jesus não chamou ninguém para ter aulas acerca da Verdade, mas sim para “segui-lo”… com todas as mentiras.

 

Ou não foi assim que Ele fez nos evangelhos?

 

“Siga-me” é o chamado de Jesus, que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

 

Assim, eu vou… como Pedro e os demais foram… cheios de dúvidas, mentiras, vaidades, porfias, disputas, entendimentos diferentes, expectativas distintas e muita tolice.

 

Sim, eles seguiram e tropeçaram… assim como nós.

 

Quem foi que nos convenceu de que somos melhores do que eles?

 

Pedro continuou a jornada… E mesmo depois de ter traído três vezes, traiu muitas outras vezes mais…

 

Algum deles se “desviou” da verdade?

 

Sim, mas apenas aquele que traiu o Caminho.

 

Todos os que ficaram no Caminho, mesmo andando e tropeçando em suas próprias mentiras e ilusões, conheceram a Verdade, visto que ela só acontece como experiência de “seguir”.

 

Não há um curso sobre a Verdade. O curso da Verdade é a Vida.

 

“O que é a Verdade?” — perguntou Pilatos.

 

A resposta que Jesus não deu foi dada na sutileza do “…vem isto de ti mesmo ou dizem outros a meu respeito?”

 

É como que dizer: “Se me vês e ainda perguntas, que tenho eu a dizer-te? Pois que o que eu teria a te dizer seria ‘segue-me’, mas isto não queres. Mas somente andando comigo poderias me enxergar, visto que estar em pé diante de ti não te revelou nada, mas apenas o que tu não sabes”.

 

Sim, meus irmãos, a Verdade não pode ser oferecida em pacote, e nem pode caber num credo, nem nos nossos dogmas.

 

A Verdade é Jesus, mas Ele determinou que o conhecimento da Verdade é revelação no Caminho, e o método é a Vida. Visto que a Verdade é Pessoa.

 

Só acredita que a verdade é um pacote quem crê que o amor também cabe num embrulho de definições.

 

Tudo o que concerne a Deus, a fim de ser meu, tem que ser vivido, e, primeiramente, como absoluta contradição e impotência até que eu siga as leis do Caminho, que, de fato são uma só: “Siga-me”.

 

Assim, sigo a Jesus mesmo, como fizeram os primeiros discípulos; ouço tudo o que eles ouviram, e ainda assim não cumpro tudo o que já sei. Sim, tropeço no Caminho para poder conhecer a Verdade como Vida.

 

Não adianta. Se Jesus é a Verdade — como de fato é —, então não posso pensar em conhecer a Verdade antes de conhecê-lO.

 

E assim, conheci Jesus; e Seus ensinamentos me serviram apenas para transgredir com mais dor ainda, pois logo vi que minha única verdade era ter chegado à armadilha da Verdade: “Para quem iremos nós? Só tu tens as palavras da vida eterna”.

 

Desse modo, o homem verdadeiro é aquele que segue a Jesus, mesmo tropeçando nas palavras, mas sabendo que a Verdade é Ele, o Verbo Encarnado.

 

O Cristianismo é que tentou responder a Pilatos, e, à moda grega, desenvolveu Credos, Dogmas, Teologias, Doutrinas e uma Sistemática para a Verdade — o que não é nada além de um pacote vazio.

 

Assim, somos da verdade se recitamos o credo certo, e se compramos o pacote de doutrinas corretas, enquanto nos assentamos, e dizemos: “Agora nós conhecemos a verdade!”

 

Pobres homens somos nós!

 

Jesus não tem doutrinas e nem credos. Por isso o samaritano é bom, apesar de seu credo errado.

 

Para Jesus, Perdão É perdão; Misericórdia É misericórdia

 

Assim, Ele não nos chama para saber, mas para ser e experimentar.

 

“O que é a Verdade?”

 

“Ande comigo no Caminho que a Vida vai contar a Verdade a você!” — ouço Jesus me dizer. “Enquanto isso, siga-me, visto que é andando comigo que você conhecerá a Verdade, pois esta é a jornada da Vida.”

 

Caio

 

(Escrito em 2004)