AO ENCONTRO DA PEDRINHA BRANCA
Acabo de pregar em uma igreja.
Era uma reunião para jovens. O tema era Crescer. Como fui para lá às pressas —eu estava aqui no site até quase a horinha—, saí naquela de quem sabe que Deus dá: já deu!
Fui…
Acabou que quando eu ia chegando lá… me veio aquela pedrinha branca, que ninguém nunca viu, e que tem o nome do cara que venceu em Cristo.
Eu estava dentro do táxi…
“Darei uma pedrinha branca, com um nome novo, que ninguém conhece, exceto aquele que o recebe”—veio aquela pedrinha, quicando pra dentro do meu coração.
Já sei Senhor!—exclamei. Vou falar sobre a desgraça que é subordinar a identidade da gente ao instinto animal, ao dever psicológico da adaptação, e vaidade de ser—que é o espírito sem espiritualidade, sem vida.
Então, tentei não pensar em mais nada. Nem naquilo. Busquei ficar com a mente livre até da obrigação de como dizer.
Fiquei leve e livre!
Então falei com eles sobre como a gente vai dando nomes às coisas, chamando-as sempre por outros nomes, e atribuindo os resultados e as causas sempre a outros elementos—coisas que são nossas, e outras que acontecem à nós—; mas nunca vendo que a verdade é outra.
E, mais ainda: que todas as nossas doenças são fobias do medo do ser humano que não sabe seu verdadeiro nome.
Esta é a crise essencial de identidade da qual todo ser humano sofre.
Isto é ser e estar perdido…
O cara, de fato, não sabe quem é.
Então, faz como Adão: veste-se com folhas de figueira.
Pode ser o que for: o durão, o sedutor, o gênio, o artista, o pastor, a mulher insaciável, o homem garanhão, o santo de bondades escravas da obrigação, o correto, o contábil, o ajuizado, o fraco, o carente, o animal, o intelectual, o ladrão, o intercessor, o juiz, o advogado de defesa—qualquer um!
O problema dele, todavia, é um só: insegurança, que é a outra face do medo.
A outra face do medo não é fé. A outra face da fé são as obras. Mas a outra face da insegurança é o medo.
Medo. Pecado. Pecado é medo. Medo é pecado.
Não estou falando de medo natural, com causa, efeito e sistema lógico apresentável.
Estou falando é do medo essencial, que gera ansiedade, que produz insegurança, e que daí em diante ganhas muitas faces, algumas até antagonizando com o seu pai-mãe-interior.
Afinal, tem muito valentão que só bate nos outros porque o medo dele, advêm da burrice.
And so on…
O fato que é que tem gente que brincava de carrinho e, quarenta anos depois, ainda brinca de carrinho…
Nada contra brincar de carrinho. Vale como hobbie, mas não vale como vida.
Nós estamos todos aqui para andar até aquela pedrinha branca…
Esse é o vencedor!
Aquela pedrinha branca está no meu caminho. No meu caminho está aquela pedrinha branca.
A promessa é que o galardão é a mais absoluta individuação. Você conhecerá aquele nome que você ouviu quando Deus o chamou, e você atendeu, mesmo enquanto Ele teve toda a paciência de ver você tentar cumprir outros papeis, submetendo-se a tantos scripts, tantos roteiros alheios, tantas performances—sempre postergando você à você mesmo, e, portanto, sendo um ser salvamente perdido, que o Pai faz tudo para ver se consegue fazer ele —o carinha— se enxergar, antes de chegar lá.
Essa é a cegueira humana mais essencial.
Nossa perdição esta nessa busca de achar.
Aquele que perde, é o que acha. Aquele que acha que achou, é quem perde.
E quem o contestará?
A gente está a caminho da pedrinha branca. Vou kikando na direção dela. Ela vai quicando em mim. E eu penso que estou indo para ela… Ela olha para mim, e diz de mim para mim: “Seu bobo, eu é que estou indo em ti; pena que a gente só vá se conhecer quando você me enxergar totalmente em ti mesmo na presença do Pai”.
O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua pedrinha branca?
Que santo amor!
Perder a si mesmo é achar a si mesmo…
Então, só é perda para aquele que acha que ganhar o mundo vale alguma coisa; e só é ganho para aquele que sabe que a pedrinha branca é ser em plenitude.
Portanto, que gire o mundo para onde quiser—siga seu curso—, mas minha pedrinha branca, que já é em mim, quer ser apresentada a mim e eu, a ela.
Então, eu serei eu…
Quanto mais achado, mais perdido.
Quanto mais perdido, mais achado.
Quanto mais, menos.
Quanto menos, mais.
Quando sou fraco, então é que sou forte.
Quando sou forte, então é que sou fraco.
Quando não sou, envergonho as coisas que são.
Quando não sou, eu sou o que sou, todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.
Quem lê, entenda!
Beijão,
Caio
(Escrito em 4 de julho de 2003)