E CONHECEREIS A VERDADE, E ELA VOS LIBERTARÁ





E CONHECEREIS A VERDADE, E ELA VOS LIBERTARÁ

 

JOÃO 8


Só se experimenta a verdade como exercício de uma vida que caminha em crescente liberdade, e que sempre acontece como risco, até mesmo o risco de conhecer a verdade quando ela desmascara o nosso próprio engano na vida mostrando que nossa liberdade ainda é disfarce da escravidão.


A verdade liberta, mas é a liberdade que provoca o crescimento da verdade na vida.


Sem liberdade a verdade é no máximo uma aula de anatomia; o corpo, porém, estará morto. Pois assim como a fé sem obras é morta, também a verdade sem liberdade é apenas a presunção das doutrinas.


Os pregadores da verdade, em geral nada sabem sobre ela, visto que se é a verdade que produz a liberdade, é também a liberdade que faz a verdade ser vida. E ninguém conhece a verdade sem ser na vida, e nas entranhas da experiência do existir e em meio a todas as contradições. Por isto, conhecer a verdade sempre dói, e muito. De fato, esgarça você completamente. E como os pregadores da verdade não querem ser esgarçados, falam do que não conhecem.


É na existência que se conhece a verdade não como um reconhecimento dela no intelecto, mas nas vísceras do ser.


Pregadores da verdade que não a conhecem como liberdade, continuam escravos de todo pecado, especialmente do pecado de afirmar conhecerem aquilo que nunca provaram, visto que nunca correram riscos como experiência da liberdade. Pois a verdade tem na liberdade como vida seu principal produto existencial, e sua única prova experimental.


Gente presa ao medo de existir jamais conhecerá a verdade, visto que a verdade acontece como risco, como vertigem da liberdade, e como consequência da pessoa se haver entregado à vida, à existência, e sem medo de ser, e muito menos de se assustar com a própria face desmascarada pela luz do que é.


Se a verdade não se instalar no interior mais profundo do ser, o que ela produz não é liberdade, mas ansiedade e ambiguidade crescente.


E quando falo de verdade, certamente não falo de doutrinas, mas de uma certeza que não precisa ser explicada. A verdade, para o homem, é existencialidade.


Daí aqueles que conhecem a verdade jamais poderem fazer discursos de persuasão acerca dela. A verdadeira persuasão da verdade é a ação libertadora que ela provoca no ser, mesmo quando o dilacera. Por isso, quem foi alvejado e rasgado por ela, acerca dela não tem muitas palavras, mas tem coragem de ser por causa dela, e apesar dela.


Não é a falta de bons conteúdos o que torna ridículo o discurso sobre a verdade, mas a falta de confiança em sua real promessa de libertação, e que só se expressa como tal se existir liberdade como expressão de vida na existência desse que diz conhecer a verdade.


É a ansiedade como expressão da existência aquilo que mais revela se a verdade entrou nas vísceras de um ser humano, ou se apenas o atingiu como “acordo intelectual”, e não como aliança visceral.


A ansiedade se disfarça de ortodoxia e convicção, mas de fato nada mais é que insegurança acerca da verdade, visto que nenhuma verdade que não gere libertação do medo, não é ainda libertação, pois ainda não se tornou parte essencial do ser, e isto torna o “proclamador da verdade” um sacerdote da ansiedade e do medo. Daí ele precisar ser intolerante. Na religião ansiedade gera incerteza, e a incerteza produz a ortodoxia do medo.


Assim, quanto mais se fala acerca da verdade, mas se a nega, posto que o que proclama a verdade como discurso, nada mais faz que tentar salvar-se de sua própria incerteza.


É por essa razão que os religiosos são tão inseguros, e é por tal insegurança que são tão arbitrários. Gente da verdade não tem que provar nada, pois a vida em liberdade é a prova de sua própria convicção e fé.


Assim, para mim, os que fazem “apologia da verdade” são as pessoas mais inseguras, pois passam a vida tentando provar para outros justamente aquilo que constitui suas próprias incertezas e dúvidas. Daí o serem tão frágeis, e daí o serem tão ortodoxas, intolerantes e fanatizadas pela insegurança.


Gente da verdade nada tem a provar a ninguém, pois só teriam que provar alguma coisa se suas vidas não fossem a própria prova, e, por vezes, a contraprova, ainda que em processo de rendição a ela.


A única coisa que prova que alguém conhece a verdade é a liberdade, pois quando se conhece a verdade na vida, ela nos liberta para a liberdade, ainda que seja a liberdade de errar a fim de conhecer a verdade como dor, para depois conhecê-la como paz.


Desse modo, eu digo: mostra-me a tua verdade com tuas doutrinas, e eu, sem nenhuma doutrina, te mostrarei a verdade pela minha coragem de viver livre e apesar de mim.


Afinal, a Verdade não é nada além de Tudo. E esse tudo nada é se não Jesus.


Pense nisto!


Caio

Escrito em 4/06/04