EU QUERO VIVER COMO HEBREU
Eu estava vendo um documentário no Discovery sobre a entrada dos hebreus em Canaã. Como sempre a tentativa é a de reescrever, bobamente, a história, contando uma versão mais politicamente correta, do ponto de vista científico.
Fico cansado com a infantilidade de certos “estudiosos da Bíblia”, especialmente os que aparecem dando bobas respostas ou fazendo infantis ilações sobre o que “de fato” teria acontecido nas histórias que a Bíblia conta.
Aqui e ali há algo preciso, mas na maior parte das vezes, apenas me cansa; e o melhor que aprendo, nesses casos, é como a mente desta geração pensa; e discirno cada vez mais as construções mentais de tais pessoas, a ponto de antemão saber qual será a conclusão, quase desde o princípio. Às vezes, faço isto até para me divertir.
De repente eu me vi como um hebreu. Fiz toda a viagem…de Ur dos Caldeus à Jerusalém.
A seguir me veio a mente o culto à cidade de Jerusalém…
De súbito me vem ao coração o salmo 137, especialmente na parte que diz: “…que se resseque a minha mão direita, e que a língua se me apegue ao céu da boca se eu me esquecer de ti, Jerusalém; se eu não ti puser sobre a minha maior alegria”.
Então lembrei que a razão pela qual os judeus pisam na taça e a quebram no rito do casamento, também tem a ver com essa promessa de botar Jerusalém antes da maior alegria, no caso, o próprio casamento, e a própria alegria.
Lembrei a seguir que Paulo disse que a “Jerusalém terrestre gera para a escravidão”.
Ora, a seguir, me veio a lembrança das origens daquele povo. Hebreus…da raiz da palavra apirú…aquele que cruza, que é o atravessador de limites, que está no caminho, sempre.
E, então, me lembrei que Davi foi apirú apenas enquanto não foi para Jerusalém. O texto hebraico o põe como “andarilho” o tempo todo. Mas quando ele conquista Jerusalém, então Davi não é mais “hebreu”, cruzador de fronteiras.
Ele só volta a ser apirú quando é forçado a deixar Jerusalém em razão da insurreição de seu filho Absalão. Só então a palavra hebraica aparece outra vez, quando ele andando e chorando “cruzou o ribeiro de Cedron”.
Depois me veio a visão do Templo, construído já por Salomão. Então, de vez, os hebreus viraram judeus.
O Templo determinou um “centro de poder” à volta do qual todos gravitavam. A vida agora acontecia em círculos. Eles já não andavam… O mundo é que vinha a eles, como veio a Rainha de Sabá.
Foi nesse mesmo período que o sacerdócio começou a ter importância política de legitimação da Monarquia Davidica. Logo o Templo era um centro de poder, e o sacerdócio virou uma espécie de Senado.
Surgem os profetas…
É justamente neste tempo que o ministério profético aparece, e, assim, o Templo é relativizado, visto que nele há cultos, mas a Palavra anda solta, livre, pelos montes, antros, cavernas, boiadas, rebanhos de ovelhas, ou padarias; sendo que a própria Palavra, muitas vezes, ou em quase todas elas, também se manifesta tendo no profeta o mensageiro e a mensagem, como foi com Oséias, Jeremias, Ezequiel, e outros, que tiveram suas vidas usadas por Deus—quase sempre de modo caótico e catastrófico—, a fim de “ilustrar” a própria mensagem que pregavam.
Então, o Templo e a Palavra entram em conflito!
O Templo passa a ser o lugar onde a Palavra não estava, mas tão somente o Livro, a Escritura!
Os profetas ouviam a Palavra e faziam a vontade de Deus fora e longe do Templo. Isaías é um “diferente”, mas que que apenas confirma a regra.
Então, o Templo é destruído…
Vem o Exílio em Babilônia. Lá eles aprendem que nem só de templos vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus.
No exílio a Escritura começa a ser mais estudada do que nunca. Surge a sinagoga.
Então eles voltam, bem devagar, sendo que muitos jamais retornaram a Jerusalém.
Para muitos o comercio venceu o Jerusalém. Mas como “Jerusalém” é apenas a geografia terrena do significado de “ser judeu”, os que não voltaram, seguiram declarando seu amor a Jerusalém, que, de fato, era amor por eles mesmos, os Judeus.
Mais tarde Jesus declararia a eles que de fato eles haviam caído na síndrome de lúcifer, quando lhes disse “o diabo é o vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos…”
A discussão inteira era sobre a supremacia de ser descendente de Abraão sobre qualquer outro valor ou importância na vida. Ou seja: eles diziam que cultuavam a si mesmos; daí o forte “vós sois filhos do diabo”.
A lição para a “igreja” está dada. Se aconteceu com Israel, por que não aconteceria com um outro fenômeno histórico, a “igreja”?
Em Romanos 9 e 10 Paulo faz a advertência!
Salvação da Igreja é o Caminho. É não deixar de andar na Verdade. É não deixar de ser o povo da Vida. E isto significa não parar, não se conformar, permanecendo sempre sensível e convertível à Verdade; a fim de jamais chamar poder, força, domínio, e conquista terrena, de Vida.
Hebreu é todo aquele que não pára, que não deixa de transformar a mente pela Graça de Deus. Hebreu é aquele que anda na fé, e que não deixa de ousar. Hebreu é aquele que cruza novas fronteiras, e que faz isto sem vacilar, pois sabe que seu lugar de repouso não é na Terra, visto que aguarda a cidade da qual o próprio Deus é o Arquiteto e o Construtor. Hebreu é todo aquele que sabe que sua pátria está nos céus, e não na Palestina, nem em Jerusalém.
“Vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade”, não em Jerusalém, também lá; não no monte dos palestinos, o Gerezin, também lá; e nem nos Templos, apenas também neles.
Afinal, na Nova Jerusalém não há santuário!
Caio