FORÇADOS A EXISTIR…E, QUEM SABE, MUDAR E VIVER!
Eclesiastes 3 nos diz que há tempo para todas as coisas debaixo do sol…
E nos faz ir desde o nascimento à morte, entre alegrias e tristezas, aniversários e funerais, amigos e inimigos, tranqüilidades e muitas angustias, levantando e, outras vezes, derrubando o que se havia levantado; plantando e arrancando, costurando e rasgando, amando e aborrecendo, conhecendo guerra e paz.
Assim a vida acontece e se constrói: enquanto se desconstroi…a fim de que apareça um terceiro termo: você maior, mais amadurecido, mais sábio, mais humano, mais humilde, mais felizmente desenganado.
E isto nada tem a ver com Hegel. Tem a ver com a vida. Não é teoria, é realidade. Não é filosofia, é existência. Quem pode negar?
Mas também pode gerar o oposto, ainda como um terceiro termo: você menor, mais revoltado, mais insensato, mais arrogante e cheio de certezas, mais endurecido, e mais hostil a qualquer mudança.
Não é à toa que o caminho da vida, em Jesus, nasce de seu oposto: a morte.
É como a semente de trigo, que se não morrer, jamais dará os frutos de si à vida.
Não há dúvida que a nossa existência acontece assim, para o bem ou para o mal.
Tragédias idênticas geram resultados opostos, dependendo da atitude de cada um.
O mesmo se pode dizer de qualquer outra forma de experiência.
Mas todos nós haveremos de experimentar os opostos, tão certo como nascemos e morreremos.
E essa realidade é tão implacável que as pessoas a “experimentam”, conforme o Eclesiastes, até depois de mortas…elas não experimentam…mas suas histórias contarão para os vivos os resultados finais da vida e das experiências daquelas pessoas: e é aí que os opostos aparecem também: nas conclusões!
Há também aqueles que parece que vivem para fugir de todo e qualquer contraditório na vida; isto porque são defensores de causas de grande coerência…questão vital para certas formas de exercício de poder: a total correção, e a mais absoluta previsibilidade.
Então, nasce-lhe um filho ou filha, ou todos os filhos e netos…; e o forçam a ter que lidar com aquilo que ele confessa abominar.
Essa pessoa poderá crescer e viver para discernir que seu mundo era feito de uma fixidez incompatível com a vida, e se adocicará; ou se tornará cheia de ódio, odiando até os seus, os que dizia amar, apenas porque eles não se fizeram conforme a sua imagem e semelhança…e desconstruiram o seu ideal de mundo.
É abraçando a imagem de Deus no meu próximo, mesmo o mais diferente de mim em idéias e até em comportamentos pessoais, que eu encontro a imagem de Deus crescendo em mim.
E é se fechando para o próximo que não é conforme a minha imagem e semelhança, que eu perco a imagem de Deus em mim.
Pois aquele que quiser ganhar a sua vida, perde-a; aquele, porém, que a perder, esse a ganhará.
É sabendo ganhar e perder, celebrar o nascimento e chorar a morte, propor paz e enfrentar a guerra…e todas as demais contradições e choques da existência…em suas antíteses…que a gente vai se arrependendo…se construindo e descontruindo, se transformando pela renovação da mente, e assim apresentando um culto racional; que é a consciência de que nesse movimento todo…de mais e de menos…de ter ou não ter…de perder e ganhar…é que aparece sempre você-mais-você…sempre saindo das cinzas…
Afinal, bem que o resultado poderia ser a fatalização do contraditório, instituído na vida como amargura.
Mas para os que crêem…será sempre o caminho para a reconstrução…até o dia em que o mortal será absorvido pela vida.
Ora, isto digo eu, não o “pregador” no Eclesiastes. Afinal, há de haver alguma visão a mais que eu tenho, e que ele não teve, visto que para ele a morte ainda era a última palavra na existência; mas para mim, a última palavra é “Ele não está aqui…Ressuscitou como havia dito”.
Ora, é também nesse crescendo que se vai derrubando e soerguendo…em novas percepções…enquanto se vai…é que a própria Bíblia foi escrita; e quem não a ler também assim, não deixará jamais de viver apenas das vaidades e das viadades que se fazem debaixo do sol…e de seus encantos mortais nunca se livrará…mesmo quando anda de colarinho clerical, ou vestido de sacerdote ou monge.
Caio