Pai Bom e Bom Pai
Minha netinha não sabe de nada a meu respeito.
Para ela eu nasci faz três anos e seis meses.
Ela me viu crescer.
Estou crescendo para ela o tempo todo, tanto mais…quanto nos vamos conhecendo…ela e eu.
Ela é só minha neta.
Temos que nos conhecer.
Ela me “sabe” desde que começou a “abrir os olhos”…já me buscava em toda dificuldade…já sentia que o peito sobre o qual o paizinho dela reclinava a cabeça….só podia ser dela também.
Ela tem que me conhecer e eu a ela…
Temos a vida toda…e espero que seja longa.
Como é doce o olhar do avô.
Foi o olhar do avô que me revelou que eu fui um pai muito bom, mas não fui tanto um bom pai.
Poucos pais foram tão beijoqueiros, afetivos, atenciosos e apaixonados como eu sei que fui.
E não sou mais?
Sim e não!
Parte do chamego era culpa de não poder dar toda a atenção que eu queria.
Se eu falo nesse assunto com eles…sou imediatamente contradito.
Eles negam que eu não tenha sido também um bom pai.
Mas os padrões são meus…não deles!
Hoje…eu amo os meus filhos como nunca. Mas sem culpa, apenas com vontade de ser melhor…mas também sem culpa.
Creio que é por essa razão que estou me tornando um bom pai a cada dia ao invés de ser apenas um pai bom.
Foi o olhar bem mais amadurecido do avô o que me fez ver como eu viajei pouco pelas casinhas da alma de meus filhos.
Hoje eu passeio no parque da alminha da netinha…
Meus Deus! Como é vaidosa!
Opiniãonizada…seria também outra palavra que o português não possui…mas que definiria bem.
Só que agora eu “saco” ela.
Viajo junto…sinto o “baratinho” que rola na cabecinha dela.
Foi isto também que faltou entre eu e meus filhos…faltou para mim.
Eu corria muito…
Era muito beijo e afeto e afago…mas as mãos que afagavam a cabecinha deles tinham os olhos e os ouvidos alugados por alguém que falava, perguntava e aguardava uma “solução”.
Sempre havia alguém…
Bem, os tempos mudaram.
Ela…a netinha…não permite isto…
A atenção tem que ser só para ela.
Os outros que esperem.
Ela tem o direito acumulado do pai dela e três tios…que sempre esperaram tudo acabar para chegar a vez deles.
Com ela…a netinha…nada é assim.
Então, tenho que não só parar, mas também “entrar” no problema, na proposta, na brincadeira ou na solução—tudo isto não “para” ela, mas “com” ela…e sem distrações!
Com ela estou aprendendo que ainda posso, além de ser um pai que eles dizem ser muito bom, tornar-me, para mim mesmo, um bom pai.
Tudo contribui e tudo contribuiu…
Naquela correria sobraria tempo apenas para o pai bom, não para o bom pai.
O pai bom precisa ser bom.
O bom pai…além de ser bom…precisa de tempo…e, sobretudo, de disposição para viajar junto…brincar nas casinhas da alma de cada um dos filhos.
E isso tudo começa como brincadeira na casinha de meu própriocoração.
O pai bom pode ser um homem.
O bom pai…tem que, além de homem…ser também criança.
Assim, o vovô pode crescer como pai.
A netinha trouxe a pedagogia…e o Pai trouxe o tempo.
Há redenção em tudo!
Caio