PAPO DE MADRUGADA

Hoje foi um dia no qual eu não pude trabalhar muito. Desde ontem que minha netinha está aqui. Ela demanda atenção completa. E eu dou. Hoje a noite eu fiquei meio que de banzo. Fiquei vendo ela dormindo na caminha ao lado da minha, e pensei: Ela está aqui, com o mundo todo aparentemente aberto para ela. Mas ela não vai ser todas as alguéns que ela poderia ser, ela será apenas ela, e viverá sua única vida e chamado na terra. Desse ponto em diante eu divaguei. Lembrei de meu próprio chamado para a vida e para a Palavra da Vida. E vi como desde muito cedo aquela realidade já latejava dentro de mim, até que explodiu—e nunca cessou de se manifestar, crescendo como vocação e se ramificando, porém sem poder jamais deixar de ser manifestação da Palavra. Esta consciência de que eu nasci para ser quem eu sou—por mais complexa que seja para uns; aparentemente orgulhosa para outros ouvidos; ainda que soe trágica para muitos—, deveria ser a consciência de todos os cristãos. Se há um bem na fé, este é o de dar um significado eterno a cada existência individual; e tal significado não aguarda para ser apreendido apenas no céu. Este bem quer se existencializar no dia chamado Hoje. Quanto maior essa consciência seja, mais seguro você se sente. Sua existência cumpre um desígnio único! Então me lembrei de como eu havia me sentido magoado e ofendido quando um dia um pastor e psicanalista, que eu julgava como irmão-amigo, me chamou ao seu consultório, no início do ano 2000, e discursivamente, me disse o seguinte: 1. Que eu era um homem acima da média. 2. Que minha influencia até então devera-se a isso. 3. Que eu tinha uma grande capacidade de processar e expor pensamentos. 4. Que eu fazia isto enquanto deixava vazar uma energia sedutora. 5. E que definitivamente eu não deveria nunca mais voltar a pregar o Evangelho, antes ocupar-me de outra tarefa na vida e trabalhar em alguma outra área. Eu conhecera o irmão uns 20 anos antes… Nos últimos 10 anos ele estivera sempre em muitas coisas que aconteciam em meu ministério. Falava no meu programa de televisão, e gostava. Falava em seminários nos congressos que eu organizava, e nunca recusava os convites. Usou minha editora quando foi de seu interesse, e apreciou. Comentava, quase que invariavelmente, após me ouvir que ficava admirado como minhas mensagens trabalhavam sempre construções e desconstruções de natureza psicodinâmicas, e como isso o encantava. Agora ele estava ali, me recomendando o oposto, com um certo descaso, e a mudança toda era porque em 1998 eu me divorciará e assumira um outro relacionamento—sendo que eu mesmo, voluntariamente, dei tudo a conhecer, a começar da mãe de meus filhos, no dia 28 de abril de 1998. Eu disse a ele coisas que não gostaria de ter dito. E não disse e nem fiz nada se comparado ai nível de indignação que aquele teatro gerou em mim. Depois que saí de lá fiquei pensando: Meu Deus! quem brincou? será que esse cara pensa que eu estava de brincadeira todos aqueles anos? ou ele é que estava de brincadeira comigo e eu não sabia? Em fim me acalmei com uma certeza: Eu nascera para pregar a Palavra. E nunca o fiz com nenhuma persuasão que não tenha sido do Espírito. E os doentes eram aqueles que queriam agora esquecer a persuasão do Espírito e dar glória à carne. E eles mal sabiam que o que acontecia entre eu e Deus neste particular, nem no inferno haveria alguém para questionar. E por que estou escrevendo isto? Bem, são 3:30 da manhã e eu não estava conseguindo dormir sem dizer isto: Eu amo anunciar a Palavra do Evangelho. Este é meu maior prazer. Esta é minha única e essencial vocação como homem sobre a terra. Nele, que nos chama, Caio