VIAJANDO EM CASQUINHO…
Chamamos, muitas vezes, de “busca da verdade” aquilo que nos é uma compulsão. Desejo de imaginar tudo o que se pode imaginar é esse tal desejo. Desse modo essa obsessão é tentar imaginar a tudo como coisas imagináveis, mas ainda assim é preciso que o resultado dessa imaginação seja que tudo fique em estado de rendição ao nosso desejo. Assim, esforçamo-nos para que aquilo que imaginamos se pregue ao nosso ser como se fosse a sua própria imagem. Daí ser impossível não concluir que essa vontade e esse tal desejo são de fato vontade de poder—ainda que disfarcemos essa compulsão básica falando de bem e de mal; ou seja: de valores. Estranhamente toda a nossa imaginação acaba se dirigindo para a construção de um mundo ao qual venhamos a render nossa homenagem e submissão. Os poderosos desse mundo tornam-se cidadãos, membros ou diretores. Temos que admitir que esse é o porre essencial que embebedou toda a nossa natureza, até como expressão daquilo que chamamos de “o melhor de nós”. Tudo isto, no entanto, não é maior que aqueles casquinhos amazônicos que transportam os caboclos pelos rios, conforme você pode ver na sessão de fotos deste site. É em algo tão frágil quanto os “casquinhos” que viajam nossas presunções, desejos e suas transmutações, às quais chamamos, muitas vezes, de valores. Elas viajam de casquinho! Nossos desejos estão embarcados no casquinho do futuro. E não sabemos que abaixo no mesmo rio nos aguarda a tempestade. O rio corre dentro de nós! Nesses casquinhos viajam sábios e gente de nomes imponentes, mas também vai nele grande multidão de povo: todos os que seguem sem pensar. Assim, vai-se rio abaixo no casquinho, mas não é do rio que vem o perigo verdadeiro. Esse vem de nós mesmos, pois, de fato, o nome de nossa tempestade chama-se poder. Dinheiro, carisma, sedução, competência, generosidade ativa, cultura, força, beleza, feiúra, careta, antipatia, simpatia, fraqueza e até a sabedoria—sim! tudo isso é poder. O coração somente começa a encontrar paz quando esses desejos são admitidos como “criadores” e também como os “escravizadores” do ser. Afinal, tudo aquilo que nós mesmos criamos é sempre aquilo a que também nos submetemos. Somos, assim, os senhores e os escravos de nós mesmos! Por isto, é que confesso: Aquele que comete pecado é escravo do pecado! Todos pecaram e igualmente carecem da glória de Deus! Pela Graça sois salvos… Isto não vem de vós… É dom de Deus… E não vem de obras para que ninguém se glorie! Caio Escrito em 17/09/03