UMA CARTA ÀS MULHERES…E AOS HOMENS TAMBÉM



Acredito que vivo de modo bastante identificado com o que acontece na alma humana. Com isto afirmo que tudo quanto me alcança como experiência possível da alma humana (nesse caso, não a minha própria como sujeito da experiência), me interessa no mínimo como percepção do que pode ser um outro modo de ver e sentir as coisas: o modo do outro. Digo isto ainda que sabendo que a verdade da realidade e a realidade da verdade existencial-individual, só pode ser discernida como tal por aquele que vive a experiência, posto que esta nunca foi e nem será a mesma, apenas porque aquele que a experimenta é um ser-lugar-de-percepção-e-obervação-única-na-existência: um indivíduo. Somente Deus pode ver de onde cada indivíduo é e está. Por isso, também, só Ele pode julgar—ninguém mais—; podendo nós, observadores exteriores, apenas tentar entender e discernir as almas, mas não para julga-las, posto que nós não sabemos o que é ser o outro. Ora, muitas vezes não sabemos nem mesmo como é ser a gente mesmo. Estou dizendo isto como intróito apenas porque gostaria de dar algumas impressões minhas às mulheres—e também aos homens—, posto que as mulheres são a maioria das pessoas que acessam este site. Leio milhares de cartas por ano. Talvez 70% delas de mulheres. Além disso, a maior parte dos que procuram ajuda pastoral ou psicológica, também são mulheres. Ou seja: as mulheres carregam uma preocupação maior com a alma, e com as coisas do coração. E também têm mais coragem de abrir o coração. No entanto, são elas também as maiores vítimas afetivas e emocionais da terra, sem falar nas demais áreas nas quais a mulher ainda experimenta muito tratamento sutilmente desigual—isso nas nossas sociedades ocidentais—; ou explícito, como acontece em muitos lugares do planeta. Nos últimos 35 anos, eu, pessoalmente e como observador, vi muitas mudanças acontecerem na vida das mulheres. Ganhos, progressos, conquistas, acesso, liberdade, direito, educação, cultura, e coragem transformada em decisão—são realidades que se pode facilmente perceber como patrimônio conquistado pelas mulheres contra a tirania da cultura dos machos inseguros. Há muito que me agrada muito mais conversar com mulheres do que com homens quando a assunto tem a ver com percepções da vida. Aqui e ali encontro homens que são como picos de sensibilidade, mas, no geral, os homens são muito básicos e trogloditas, afetiva e emocionalmente. As mulheres, todavia, na média, são muito mais perceptivas para as coisas do coração, e levam mais a sério a existência de suas almas. No entanto, nos últimos dois ou três anos, tenho ouvido muitos homens se queixando de que não há mulheres na praça… que vivem cheios de meninas dando mole, mas acham difícil encontrar uma legal para namorar mesmo. Ora, se você diz que o mundo está tomado por um enxame de mulheres, e que elas estão ávidas e disponíveis, não raramente ouve os caras dizerem que é justamente esse o problema. “Elas estão dando muito moles… dão fácil… é só chegar e pegar… só tem cachorra… dá pra correr uma milha com ela, mas não dá pra tirar uma cria… são boas para uma noitada, mas não dá pra levar pra casa…”—e assim segue. Também vejo moços de 20 anos querendo namorar sem conseguir… enquanto, ao mesmo tempo, não sabem onde enfiar tantas meninas que atrás deles correm… querendo “ficar.”…“dar”… “fazer qualquer coisa”… ansiosas por emoções e por histórias pra contar. Isso sem falar nas meninas que dizem que “pagaram o menino”, que “ficaram com 9 numa noite”; ou mesmo que “comeram o carinha”; ou que “traçaram o namorado da fulaninha”. Ora, a angustia desses machos que também são homens é patrocinada por eles próprios, como espécie; posto que o ideal dos homens é ter um monte de mulheres, e as têm cada vez com mais facilidade. Entretanto, paradoxalmente, quanto mais as têm, menos mulheres sobram a contento masculino. Isto, é claro, quando chega a hora do cara desejar escolher alguém para tentar passar a vida junto. Assim, os homens adoram ser “matadores” até a hora de buscarem uma mulher não para “ficar”, mas, sim, para de fato ficar. Sim, adoram a fartura até que chega a hora de quererem levar apenas “uma” para casa, em paz. Provavelmente tenha chegado a hora em que o homem mais buscado seja o mais difícil, do mesmo modo como as mulheres mais desejáveis para um homem são as mais inacessíveis. Talvez seja um movimento de homens que “não dão mole” e nem aceitam uma mulher só porque “ela quer”, aquilo que, quem sabe, restaure nas mulheres a antiga ambição de se preservarem mais, e se verem outra vez como tesouros preciosos. O fato é que a situação se assemelha a um cachorro correndo atrás do próprio rabo, posto que o comportamento dos homens é a Causa, o das mulheres o Efeito do fenômeno que aqui descrevo. Mas, dado o presente volume do “efeito”, o próprio “efeito” está se tornando a “causa” de um efeito muito pior, e que se voltará, logo, sobre as próprias mulheres: a escassez de homens de verdade. Somente as palavras de Jesus nos fazem entender o que acabei de dizer, e, assim, espiritualmente, definirem para nós o significado do que seja um cachorro que corre atrás do próprio rabo. “Aquele que tenta ganhar a sua vida, a perde; e aquele que a perde, esse a ganha”—este é o diagnóstico. “Aquilo que quereis que os outros vos façam, fazei vós antes a eles”—é a proposta para quebrar o ciclo. No entanto, sendo simples e prático, desejo dizer às amigas e irmãs, mulheres, jovens, virgens ou experientes… que ainda é tempo de todas as mulheres deixarem de se espelhar na palhaçada dos homens, e, assim, deixarem de repeti-los em sua estupidez de garanhões. Mulher garanhôa acaba velha e só… Acho trágico quando sinto numa mulher o espírito “matador” de um homem. Lamento quando vejo que a beleza não é mais apenas vista, ela tem que ser tocada, provada por muitos, a fim de que a própria bela seja, de fato, provada como bela para si mesma e para os outros. Sinto muito quando vejo mulheres se submeterem ao conselho de que um verdadeiro amor só se cura na galinhagam. Lamento, como disse, ver que um moço de 20 anos, bonito e perseguido por meninas, já esteja cansado, e, não encontre nenhuma menina para quem um relacionamento não seja um jogo, uma trama; ou que só encontre meninas que já chegam tão rodadas que o menino tem medo de encarar. Ou seja: lamento que as mulheres estejam fazendo o mesmo jogo feio que os machos fizeram tanto tempo; aliás, o tempo todo. Digo isto porque me parece que nas mulheres o buraco existencial fica maior do que nos homens quando a variedade se instala como brincadeira. Por essa razão também me parece que muitas mulheres acabam por se tornar “grandes carentes”. Realidade essa que as leva, cada vez mais, a darem-se aos homens “da hora”, sem qualquer critério. Ora, tal fato parece esburaca-las ainda mais, psicológica e existencialmente. E, tragicamente, as deixa correndo atrás daquilo que elas mesmas estão espantando pelo ato de correr as atrás: os homens! Lamento ver tantas jóias sendo usadas como bijuteria descartável! Não há nada de especial e analítico nestas minhas palavras. Não tento aqui olhar a questão por muitos ângulos. Não há aqui qualquer interesse de tornar essa analise em algo técnico ou exaustivo. Não há aqui qualquer julgamento. Nem tampouco qualquer defesa. O que há aqui é apenas o espasmo de um sentimento, e que é fruto de solidariedade para com as mulheres, e não uma critica a elas. Ao contrário, se aqui há uma crítica, é aos homens, que são a causa primal desse mal que hoje se tornou algo “em-si”, à menos que tanto homens quanto mulheres comecem a ser mais sóbrios em relação ao valor de si próprios. Ora, tudo o que aqui digo em nada se relaciona à “moral” e nem na ética das “etiquetas sociais”, mas sim em saúde humana e psicológica, e, sobretudo, tem a ver com uma sugestão para a vida, e que, julgo eu, tem tudo a ver com o espírito do Evangelho de Jesus. Um beijo carinhoso em todos! Nele, Caio