O REINADO DO ESPINHEIRO SOBRE NÓS



O texto que segue aqui transcrito é chamado de Apólogo de Jotão. Quem desejar pode lê-lo no livro de Juízes, na Bíblia. O espírito do texto é claro. Tão claro que prescinde da própria história que o antecede. Ou seja: em si mesmo é uma parábola de aplicação universal, sempre que as circunstâncias se repetem. Ele fala de como os seres qualificados, quase sempre, evadem-se de suas responsabilidades, de tal modo que é o espinheiro quem domina sobre a vida. Leia o Apólogo de Jotão.

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Ouvi-me a mim, cidadãos de Siquém, para que Deus vos ouça a vós outros. Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei; e disseram à Oliveira: Reina tu sobre nós. Mas a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu azeite, que Deus e os homens em mim prezam, para ir balouçar sobre as árvores? Então disseram as árvores à Figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Mas a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, para ir balouçar sobre as árvores? Disseram então as árvores à Videira: Vem tu, e reina sobre nós. Mas a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, para ir balouçar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao Espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós.

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O Espinheiro aceitou a tarefa, pois ele nunca perde tal oportunidade. Afinal, se não houver “limpeza”, a vocação dos espinheiros é abraçar a terra toda, e engolir as plantas, as quais passarão a existir contidas pelo abraço vegetal e pontiagudo do Espinheiro. A Oliveira, a Figueira e a Videira não reclamaram desse reino na hora da decisão. As demais árvores da floresta também não. Porém, a tirania do Espinheiro se manifestou pela sua própria natureza. O Espinheiro machuca mesmo quando não quer machucar: ele abraça com espinhos. Pode-se colher uvas de Espinheiros e figos de Abrolhos? No meio cristão encontro muitos pastores frustrados. Sentem-se mal com a dominação da fé que hoje é determinada pelo Espinheiro. Mas lembro de quando os que se angustiavam pelo destino das Árvores da Floresta procuraram a Oliveira, com sua unção de azeite; buscaram a Figueira, com sua unção de doçura; e pediram o socorro da Videira, com sua unção de alegria — mas todas elas acharam que o povo saberia a diferença entre o Espinheiro e as árvores frutíferas. Engano deles. O povo só sabe a diferença quando o abraço do Espinheiro já se fez poder e controle. Era o ano de 1994. Mas a Oliveira, a Figueira e a Videira dos pastores do Brasil disseram ao povo: Nós não! Deixemos que o Espinheiro reine sobre nós! Eu vi. Eu estava lá. Fiquei quase que sozinho. Então, o povo seguiu o Espinheiro… E, por desígnio divino, eu sei que fui pisado no lagar da ira de meus irmãos logo depois! Resultado: sem saber me fizeram bem; e não troco o vinho produzido pelas suas pisaduras pelo vinho gerado por suas adulações! E os espinhos que hoje nos ferem — e que incomodam as Oliveiras, as Figueiras e as Videiras — são os mesmos que já existiam antes. Quem tem memória lembra. Quem viu e esqueceu, só posso pensar que é mal-intencionado. Eu vi como seria… Profetizei e, para minha tristeza, acertei… Hoje o Espinheiro é o nosso líder. E seus espinhos são o nosso contato. Quem encosta, sai ferido. Quem reclama, que reclame para si mesmo. Por que será que apenas 11 anos depois eles estão vendo o que já sabiam? Sim, ante tanta evidência, tantos testemunhos internos que revelavam as “malas” e os “malas”, tantas demonstrações públicas e televisivas, tanto despudor na prática do engano, tantas criações de um “evangelho-emacumbado”, tantas brincadeiras com o nome de Deus, tanto dinheiro lavado, tanta gente que sabia, tanta demonstração de que se nos calássemos, nunca mais seríamos os mesmos — por que somente agora é que dizem ver? Essas “malas de dinheiro” são mais velhas que o tempo. Essa besteirinha agora é o “trocado”. Os jornais da época estão aí, acessíveis, e já falavam no assunto. Eu próprio, “pra dentro”, desde 92 que mencionava o assunto aos “irmãos”; e lhes dizia como aquilo ali iria acabar com a “Floresta dos Evangélicos”. Tomo Ariovaldo Ramos, Luiz Wesley, Paulo Leite, e Luciano Vilaça como testemunhas de se foi ou não assim como digo. Isso sem falar em todos os jornais da época, nos quais há farta documentação de minha certeza de que aceitar o reinado do Espinheiro e de seus cardos e abrolhos haveria de acabar com os “Evangélicos”. Agora, para os “evangélicos”, honestamente, ficou tarde. O Espinheiro e seus filhotes são os “donos da sigla”. Foi-lhes entregue pelos “Esaús” (uma espécie daninha que faz ‘trocas circunstanciais’), que por dinheiro, chances na televisão, medo, “excitamento fenomenológico”, ou simplesmente porque já estavam contaminados pelas mesmas práticas e pelo mesmo espírito, entregaram tudo ao Espinheiro. Então, que ninguém me moleste! Meu caminho é apenas pregar o Evangelho da Graça. Quem achar que ando no caminho do Evangelho, venha…; ou faça a jornada conforme a Palavra. Mas que ninguém mais me pergunte: “Onde está o protesto?” Deixo para os “profetas do atraso” a tarefa de se ocuparem com essa obviedade! Meu Deus! Às vezes me dá a impressão de estar lidando com aqueles meninos da praça, acerca dos quais Jesus falou; pois, quando cantamos, eles choraram; e quando choramos, eles cantaram. Ou seja: ninguém pode atender aos caprichos de seu humor cronicamente retardado! Quanto a mim, fica apenas minha oração de sempre: Que o Senhor nos livre da tirania do Espinheiro. Que o Senhor desperte as Oliveiras de sua arrogância, as Figueiras de seu narcisismo, e as Videiras de sua alegria auto-centrada. Que reinem sobre nós os frutos da unção, da doçura e da alegria. Que o Espinheiro volte para o seu lugar. Salva o teu povo, ó Senhor! Nele, em Quem sei que na hora o Espinheiro será de todo removido pela Sua própria mão,

Caio

Escrito em 2004 e atualizado hoje, 23 de julho de 04