MORRO, MAS MORRO MAGRA
“Morro, mas morro magra” — é o nome da página no Orkut que vende anfetaminas com a finalidade de emagrecer, denunciaram os telejornais. O que essa frase significa? Certamente não significa que os consumidores das anfetaminas, a maioria mulheres, estejam tratando a vida com carinho, apesar de a morte ser uma certeza para todos. Ao contrário, o que ela sugere é que a estética vem antes de qualquer coisa. É o triunfo do plástico sobre a vida. Por que, nós, humanos, somos capazes de privilegiar certas coisas à própria vida, ou ao seu eventual prolongamento estatístico? Todos nós dizemos que nosso sonho é viver. Por “viver”, na maioria das vezes, se quer dizer provar o amor, a felicidade; porém, com muita excitação no processo. É por isto que muitas vezes se diz que alguém morreu jovem, mas viveu muito. Às vezes leva a vida toda para que a pessoa descubra que o maior e melhor bem da vida é amor e paz. Disse “é” antes de “amor e paz” por que ambos não se separam jamais. Enquanto isto, almas enfraquecidas pelos demônios da alienação — a propaganda, o marketing, o culto ao estético, a política, e a moda existencial — vão dizendo que preferem morrer, mas não perder a estética dos tempos; ainda que o preço seja a morte. E o interessante é que há muitas alternativas saudáveis para cada coisa nesta vida, mas a escolha “natural” é sempre a mesma: a via mais curta e mais rápida… mesmo que se morra antecipadamente. Talvez a mais chocante conclusão seja mesmo que a inteligência humana é suicida, visto que por qualquer que seja a via, sempre sua inteligência abrirá ali uma cova para a morte. Nada mata como a fobia da morte. O ensino da Palavra diz que Jesus veio para livrar aqueles que pela fobia da morte estavam sujeitos à escravidão por toda a vida. Só se deixa de morrer de medo da morte e só se para de andar no caminho da morte, quando se passa da morte para a vida, ou quando se nasce de novo, ou quando se entra no reino de Deus, ou quando somos libertos do império das trevas, e transportados para o reino do filho do amor de Deus —; todas elas expressões com o mesmo significado, entre tantas outras. Do contrário, não é possível competir com o poder dos Novos Demônios e seus “espíritos” de indução à morte; pois eles propõem na mesma medida em que fabricam necessidades na alma; e por cujas produções, o mundo é preso pelo “mundo”. E o espírito do “mundo” é morte! Esses novos demônios são novos mesmo na experiência humana, especialmente a propaganda e todas as manifestações do marketing, que foi assim batizado depois da explosão dos novos meios de comunicação massiva. Sim, somos invadidos todos os dias, queiramos ou não, por forças de indução explícita e implícita, por meio de manipulações populistas ou subliminares. E não há mais via de retorno. Definitivamente nos tornamos os pioradores de nós mesmos, pela força de instintos que em nós operam de modo intrínseco. No passado as Eras eram longas porque levava tempo para que qualquer coisa circulasse pela terra. Hoje tudo é instantâneo. Ver e ler os jornais; é compartilhar angustias universais; além daquela que nos é vizinha ou mesmo que já habita a nossa própria carne. Isto ao mesmo tempo em que se é perseguido por padrões de comportamento e com sugestões de existências a serem ambicionadas o tempo todo. Ou seja: é um trabalho permanente de modelagem do ser humano à imagem e semelhança do que, no próprio homem, há de mais banal, vil, superficial, equivocado, perverso e até inumano. Jesus disse que á vida é mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes. Entretanto, muito pouca gente crê emocionalmente desse modo. Nosso mundo preso pelo “mundo” crê que o homem é o que veste e também que o alimento é a própria vida. O que cabe entre o prato e o vestido melhor, a isso chamamos vida. Para quem a vida é esse existir amestrado pelos novos e velhos demônios, o que resta mesmo é dizer: “Morro, mas morro magra”; ou ainda: “Me ferro, mas pego todas…”; ou, quem sabe: “Morro trabalhando, mas não vai faltar nada lá em casa”; conforme diz o homem honesto, esquecido de que só vai faltar ele, que existe para cavar a própria cova. Foi por esta razão que Paulo disse que se a esperança humana se limita apenas a esta existência, nós nos tornamos os mais infelizes de todos os homens. Nele, em Quem não mais morro, nem em masmorra, e nem em nada que mate, pois, Nele, já passei da morte para a vida, Caio